CONHECENDO O ORFANATO POR DENTRO!!!

ORFANATO MIGUEL ARCANJO-

GRAMADO, RIO GRANDE DO SUL -

INT. - QUINTA-FEIRA - 01/06/2017 -

MANHÃ - 11:00

Um ano antes ...

Conrado passa em frente a um prédio de cores neutras em Gramado.

É um dia muito frio e com muita neve nas montanhas do Rio Grande do Sul. Kurt tem um sobretudo preto que cobre todo o seu corpo, além de luvas pretas e uma boina igualmente preta. Caminhando sem pressa e sem rumo, Conrado para e começa a analisar o prédio.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

(pensativo)

Que edifício enfadonho!

(pausa)

Grande valor arquitetônico, mas sem nenhum traço de alegria.

(pausa)

Deve ser algum escritório do governo. Deixe-me ver o sinal. Está em português, inglês, espanhol e alemão.

(lendo o quadro)

MIGUEL ARCHANGEL ORPHANATE

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

(incrédulo)

Eu não posso acreditar, é um orfanato. Eu vou bater na porta. Vou testar o sino primeiro.

(pausa)

Quem sabe eu posso conhecer o prédio por dentro. Alguém vem?

NADYA HOSS

Bom dia, senhor. Bem-vindo ao orfanato do Arcanjo Miguel. Posso te ajudar, senhor?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Bom dia, senhorita. Sou um empresário curitibano e fiquei impressionado com a arquitetura desse prédio. Você poderia me dizer há quanto tempo ele existe?

NADYA HOSS

Este é o orfanato mais antigo da cidade. Por isso possui cores neutras.

(sorridente)

Mas não podemos nos concentrar apenas na aparência de um lugar, certo?

(passagem de abertura)

Você gostaria de entrar e ver o orfanato lá dentro? Você ficará agradavelmente surpreso.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

(entrando no orfanato)

Claro que sim. Por que não?

(pausa)

Eu adoraria conhecer esse lugar.

NADYA HOSS

Entre, por favor. Vou acompanhá-lo nesta visita.

(pausa)

A propósito, sou Nadya Hoss, natural de Nova Petrópolis.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Conrado Albernaz Tigre-Falcão, investidor e ex-empresário curitibano, em visita a Gramado.

NADYA HOSS

Prazer em conhecê-lo, senhor.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

O prazer é todo meu, senhorita.

Ao entrar, Kurt percebe a ausência de crianças nas diversas instalações do local.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Quantas crianças há neste orfanato, Srta. Hoss?

NADYA HOSS

Somos o maior orfanato da Serra Gaúcha e temos 256 crianças.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

(pasmo)

Duzentas e cinquenta e seis?

NADYA HOSS

Sim. Existem duzentas e cinquenta e seis. De zero a 12 anos. Meninos e meninas.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Não parece haver.

(pausa)

Não ouço vozes de crianças.

NADYA HOSS

(sorridente)

Nem poderia. Todas as crianças estão no refeitório almoçando ou sendo alimentadas pelos demais funcionários.

(pausa)

Estamos indo para lá agora.

(pausa)

Você poderá ver todas as crianças por uma janela.

(pausa)

Não quero abrir a porta para não distraí-los.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

(seguindo a moça)

Está tudo bem.

(pausa)

É compreensível.

Conrado é levado para um enorme corredor. No final deste corredor, há uma grande janela de vidro transparente. Ele olhou para duas centenas e meia de meninos e meninas de todas as idades.

Crianças e adolescentes que comiam e conversavam entre si. Os monitores e assistentes tentavam manter a ordem.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Todas essas crianças estão disponíveis para adoção nacional e internacional?

NADYA HOSS

Sim, claro.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Eu ouvi bem?

(pausa)

Eles estão prontos para serem adotados por estrangeiros?

NADYA HOSS

Sim, senhor.

(pausa)

Mas no caso dos estrangeiros o processo é mais complicado... demorado... letárgico.

(pausa)

Você deve entender os motivos.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Sim, eu entendo. A nação quer que essas crianças permaneçam em solo brasileiro.

NADYA HOSS

Perfeitamente.

(pausa)

Você é estrangeiro?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Eu tenho dupla cidadania. Eu tenho cidadania brasileira e austríaca, miss.

NADYA HOSS

Você está pensando em adotar uma criança do sul?

(pausa)

Eles são maravilhosos.

(pausa)

Seria uma bênção para você e também para elas.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Nunca pensei realmente sobre essa possibilidade.

(pausa)

Tenho tempo e dinheiro, é verdade.

(pausa)

Mas ser pai solteiro deve ser uma grande responsabilidade.

NADYA HOSS

Deus escreve bem em linhas tortas, senhor.

(pausa)

Você sabe disso, não é?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Senhorita, sei que em muitas ocasiões não entendemos os desígnios de Deus.

(pausa)

Mas ser pai é um risco que, por enquanto, não tenho certeza se quero correr.

(pausa)

Tive muitas decepções nesta vida e, francamente, não quero arriscar que outra pessoa leve uma criança comigo.

NADYA HOSS

Você pode me dizer do que realmente tem medo?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Para ser sincero, tenho medo da rejeição...

NADYA HOSS

A criança fala em ser rejeitada por seus familiares?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Não, esse seria o menor dos meus problemas.

NADYA HOSS

Sério mesmo?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Sim, senhora. Meus pais estão sempre viajando. Tenho pouco contato com eles. E minha irmã mais nova adoraria ter um sobrinho ou uma sobrinha.

(pausa)

Não haveria problema ...

NADYA HOSS

Então, de que rejeição você está falando?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Tenho medo de ser rejeitado pela criança que adotaria.

NADYA HOSS

Monsieur, nossas crianças costumam amar as pessoas que trabalham aqui.

(pausa)

Mas você deve levar em conta que todos eles foram abandonados ou, em muitos casos, negligenciados.

(pausa)

Mais cedo ou mais tarde, com alguns intervalos curtos, o medo de uma nova rejeição surge neles.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Que consequências isso pode ter na criança?

NADYA HOSS

Talvez uma dose extra de frustração, intolerância e raiva desenfreada que pode ser canalizada em torno do adotante.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Você não está me ajudando, Srta. Hoss.

NADYA HOSS

(balançando a cabeça negativamente)

Não estou aqui para ajudá-lo, senhor.

(pausa)

Estou preocupado apenas com a felicidade da criança e de você.

(pausa)

Agora estou sendo realista.

(pausa)

Temos tendência à fúria quando somos rejeitados. E essas crianças não são diferentes.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

E o que você espera que eu faça se tal situação ocorrer?

NADYA HOSS

Diga-me, senhor...

(pausa)

Pense: o que você faria se sua filha ou filho biológico tivesse raiva?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

(pensativo)

Eu o levaria a um lugar silencioso até que ele ou ela se acalmasse.

(pausa)

Então, eu tentaria pacientemente entender o motivo dessa raiva.

NADYA HOSS

E por que você não pode fazer isso com seu filho adotivo, Sr. Tigre-Falcão?

(pausa)

Eu quero que você a ame, senhor. Ame a criança que deseja adotar como se fosse sua filha ou filho.

(pausa)

Tudo o que essas crianças precisam é de muito amor, carinho, desprendimento, muito carinho e atenção.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Você tem certeza?

NADYA HOSS

Boa. Eles certamente precisam dessas coisas mais do que dinheiro e bens materiais.

(pausa)

Eles precisam de ambos, mas precisam mais do primeiro.

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Você está completamente certo no que diz.

NADYA HOSS

Eu tenho outra coisa para te contar ...

(pausa)

Quanto tempo temos para ser pacientes com um animal de estimação que compramos?

CONRADO ALBERNAZ TIGRE-FALCÃO

Presumo que a vida inteira.

NADYA HOSS

E não podemos ser pacientes por alguns meses com uma criança traumatizada?

(Fim da cena)

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