Flores é um jovem que usa de sua rica imaginação para transformar cada uma das dificuldades de sua difícil vida em momentos grandiosos. Tudo isso acontece no alto, acima das nuvens.
Leer másEntre conversas, começaram a se conhecer melhor.- Eu fiquei impressionada como vocês são inteligentes, parecem tão preparados, tão estudados.- Eu e Vagner já nos conhecíamos. Fomos amigos na escola. Eu cheguei a estudar, me alfabetizar. E eu gostava muito de ler. Quando eu falava que gostava de ler, as pessoas me davam livros e muitas vezes, enquanto eu lia, recebia comida. Eu lia porque gostava, mas Vagner descobriu que se lesse podia ter as mesmas vantagens. Mas se antes ele não gostava de ler, depois, com a prática, passou a ficar viciado na leitura. Um bom vício, não é? O restaurante público também era do lado de uma biblioteca. Quando ela estava vazia, o segurança e a bibliotecária deixavam a gente entrar. Demorou um tempo para que eles acreditassem que o que queríamos era realmente ler. Mas, com o tempo, não dava pra ficar muito mais. O tempo
Estavam cada vez mais próximos da capital. Agora, faltava muito pouco. Porém, esse era talvez o trecho mais difícil do caminho para se fazer caminhando. A construção da cidade havia sido feita justamente, de forma planejada, para evitar que aquele tipo de mobilização acontecesse.Os políticos da época, com medo de um dia sofrerem com alguma revolta, analisando os riscos disso acontecer, mais dia, menos dia, resolveram construir uma cidade do zero, no centro do país, para se tornar capital. Tirar o patamar de capital de uma das maiores cidades do país, super populosa, que fazia parte de sua maior região econômica, só tinha vantagem para os políticos.Além de deixar a imprensa um pouco mais distante, dificultando a chegada de informações para os outros locais, gerando custos de viagens e estadias para os órgãos de notícias, trazia
- Vocês precisam fazer alguma coisa! Até quando vai ficar assistindo esse garoto conseguir mais e mais seguidores, sem nem sequer ter rede social? Ele já passou da metade do caminho. Quando ele chegar aqui na capital, vocês vão fazer o que? Entregar as chaves do Palácio e sair? Ou abrir as portas e chamar pra tomar um café? Chega! Eu não aguento mais ser abordado por essa corja de sanguessugas, que são esses vagabundos que se dizem jornalistas, bando de desocupado. Vocês vão ou não vão fazer alguma coisa? - O chefe máximo da nação falava sobre a situação que tinha se criado ao redor de Flores com os chefes dos poderes militares.- Senhor Presidente, não temos o que fazer. Mesmo perante a lei, ele sendo maior de idade, ainda é visto como praticamente uma criança. Ele tem muita empatia com as pessoas, carisma. Ele atrai a todos e a mídia ainda ajuda. Qualquer coisa que fossemos fazer contra eles, seríamos retaliados veementemente - um deles respondeu.- Não tem o que fazer? Você
Flores não queria que aquele local do acidente fosse também um lugar de parada para o descanso, mas não havia muito o que fazer.Percebendo a constatação dele e seu consequente descontentamento e excitação em começar a se preparar para dormirem ali, um grupo, que até então ainda não havia se apresentado, se aproxima de Flores.- Boa noite, desculpe chegar assim, somos seus fãs e te acompanhamos quiser que do início, nós já contratamos um serviço de guincho para os carros que não tem seguro e vamos ajudar as pessoas, que tiveram prejuízo, a se recuperar. Mas se estiver pensando em anunciar uma parada noturna por aqui, o que parece uma boa ideia, fique tranquilo que em no máximo trinta minutos não terá mais nenhum carro aqui, para causar essa impressão ruim do acidente.- Já tivemos notícias, também, e nenhum dos feridos, que foram levados para serem hospitalizados, correm risco de morte.Flores ouviu essa notícia deles e ficou mais aliviado. Tanto que sentou ali mesmo, na
- O que você acharia se eu estacionasse o carro nessa parada e seguíssimos a pé? Até porque, ir atrás dessa história é ficar de longe, seguindo a carreata, sem saber o que está acontecendo, não parece ser o objetivo, não é mesmo? - Romeu perguntou para Cecília.- Você acha que conseguimos seguir caminhando? Eles passam muitas horas assim. E se acontece alguma coisa? - Cecília ficou temerosa.- Se acontece algo, a gente pede ajuda e volta. - Romeu respondeu.- Não sei. Parece uma aglomeração tão grande. E se roubam ou quebram seu carro, estacionado nesse lugar? Parece tão perigoso! - Cecília não parecia a vontade para sai de sua zona de conforto, se arriscar perder o que ainda a mantinha segura, de alguma forma.Ainda estava pensativa, depois que falou com sua mãe, sobre a decisão intempestiva que tomou. Não havia se arrependido, de forma alguma, mas viu-se responsável por pelo menos tentar ser cuidadosa. Agora que tinha criado coragem de se declarar, queria ao menos apro
-... E era assim que permaneciamos nas Nuvens. - Foi o final da explicação que Flores escutou ao sair da acomodação onde estava, após acordar.Vagner estava contando para um grupo enorme de pessoas, como eram as histórias que Flores criava para transformar a realidade deles em algo grandioso, magnífico. Os jornalistas pareciam assombrados. Nunca tinham escutado uma história assim e ela dava contornos épicos para o que estava acontecendo naquele exato momento.- Vagner, não é nossa intenção transformar nossa história em uma autopromoção. - Flores falou diante de todos pela primeira vez, assim, abertamente.- Todos estão muito cientes de sua humildade e de preocupação em não transformar isso em uma promoção pessoal, Flores. E isso já faz de você alguém mais especial ainda. Já entendemos que não é esse o objetivo - disse aquela jornalista que o ajudou, programando a parada feita no dia anterior.- Que bom que pensam assim - Flores respondeu, recebendo um copo de leite com c
Anoiteceu e Flores não gostava de ir muito mais adiante nessa circunstância, ainda mais agora que sabia a quantidade de pessoas que o seguia.Provavelmente, essa romaria que estava se fazendo tornava-se perigosa e aquela região era pouco iluminada. Por sorte a quantidade de carros ajudava na luminosidade, com seus faróis e, mesmo sem serem solicitados, os seus donos ajudavam a criar um ambiente um pouco mais seguro, quando paravam.Apesar da grande maioria estar de carro, e pararem para o descanso dentro dos próprios veículos, a quantidade de pessoas que seguia a pé era extremamente grande e Flores se via obrigado em analisar se aquele local abrigaria a todos sem que houvesse uma chance de serem expulsos no meio da noite por seguranças violentos, como da outra vez.- Flores! - chamou a mulher que estava em um dos carros de reportagem. - Flores! - ela insistiu e desceu do carro em movimento.Ele olhou para ela, estranhando a conversa.- Escuta, eu te observo a vários d
Voltaram a caminhada, no dia seguinte, após a promessa cumprida de café da manhã e mantimentos. Flores continuava misterioso e os outros rapazes e garotas não tinham coragem ou mesmo, sequer queriam perguntar se havia um plano, apesar de curiosos. Todos continuaram agindo da mesma forma, apesar do sentimento inicial de segui-lo para onde fosse, já ter passado.Ainda assim, ele começou a demonstrar que seguiria viagem, sem falar uma só palavra com ninguém, e todos já correram para se preparar.Não era só os adolescentes, os Cavaleiros das Nuvens iniciais, batizados pela mídia, mas também os grupos de seguidores, as equipes de reportagens, os assistentes sociais e outros grupos ligados à ONGs e ao próprio governo, além de policiais que receberam ordens para seguir a multidão e garantir a segurança, mas que acabaram ficando com a imagem de fiscais, mesmo. Estimavasse, àquela altura, que já tinha se formado quase 15.000 pessoas seguindo a pé e em carretas. O acostamento e uma pist