3 Risco

Depois da conversa, trocamos mais algumas palavras e então, ambos seguimos nossos rumos. Quando finalmente me vi dentro do meu carro, sentei no banco do motorista e fechei os olhos enquanto jogava a cabeça para trás. Eu não conseguia parar de pensar nas palavras daquele homem grosseiro, tentava encontrar algum sentindo a mais nelas, mas somente chegava à conclusão de que vivi uma mentira todo aquele tempo.

De repente, lembrei do monopólio que havia saldado a nossa dívida, e resolvi pesquisar sobre eles na internet. Era óbvio que toda a informação contida naqueles artigos passava por uma espécie de censura, que escolhia o que era ou não útil para eles na mídia, como de praxe para famílias tão ricas. Depois de ler um pouco, encontrei uma entrevista recente com o diretor executivo, e quando ouvi sua voz, o reconheci como a pessoa que me ligou antes.

E para a minha surpresa, era o mesmo homem que vi no hospital. Chegava a ser ridícula a semelhança entre ele e meu marido, com certeza eram irmãos. Eles eram tão parecidos que poderiam ser confundidos com facilidade, se não fosse pelos cabelos e olhos que tinham um tom levemente diferente.

Além disso, as personalidades eram diferentes, ou pelo menos era o que Wolfgang havia transparecido nos anos que passamos juntos, pois, sempre foi muito gentil mesmo com os funcionários. Mas, se ele estava fingindo, era a troco de que? Não havia resposta.

Enquanto dirigia de volta para casa, ainda com a cabeça longe, fui tirada dos meus devaneios quando percebi que um carro preto atrás de mim parecia estar me seguindo, olhei pelo retrovisor e imaginei que ele quisesse ultrapassar, então, resmungando um: "pode ir", diminui um pouco a velocidade e dei sinal de luz para que ele seguisse, porém, o motorista não o fez. Na verdade, agora que estávamos quase na mesma velocidade, o carro praticamente colou na parte traseira do meu.

Foi quando percebi que ele estava me seguindo, não havia percebido antes por que estava distraída, mas agora que quase não havia outros carros na pista, tive certeza. Com medo de suas intenções, apertei o pé no acelerador, tentando ganhar alguma distância dele, mas só consegui, aparentemente, deixar a situação mais divertida para aquele lunático, pois, logo, ele estava acelerando também, além disso, buzinava colocando pressão em mim.

Estava difícil manter o controle, e como uma tempestade começava a se formar sobre nós, a pista ficava úmida, me fazendo derrapar. Eu prendia a respiração e apertava o volante com força a cada freada brusca que eu era obrigada a fazer, depois de um tempo, resolvi buzinar também para mostrar a ele que aquela brincadeira já estava indo longe demais, mas não pareceu surtir efeito.

No fim, o que eu mais temia acabou acontecendo, a chuva forte e o repentino breu na estrada escureceram a minha visão, e quando o carro derrapou outra vez, acabei saindo da pista, entrando em um terreno arenoso. Havia algum tipo de desnível no chão, não deveria ser muito grande, mas foi o suficiente para o carro virar, capotando algumas vezes antes de ser parado pelo que imaginei ser uma árvore.

Fiquei desorientada por uns dois ou três minutos, e quando recuperei os sentidos, estava de cabeça para baixo, presa pelo cinto de segurança. Algo estava pingando do meu rosto para o chão, presumi que fosse sangue pois, minha cabeça doía muito. Um de meus braços parecia preso em algo, eu não conseguia movê-lo, então precisei me virar com uma única mão para tentar sair daquela situação.

De repente, ouvi passos de alguém se aproximando. Havia alguma fonte de luz próximo, os faróis de um carro talvez, então consegui vê-lo, ou melhor, seus sapatos, eram escuros e de aparência cara, como os usados por empresários e advogados. Ele parou ao lado da porta, há centímetros da minha cabeça e então, ouvi um 'clic', uma foto talvez, depois disso, continuou parado, parecendo estar analisando a situação.

E então, seus pés giraram nos calcanhares, indo embora em seguida.

– Socorro! Eu estou viva! Gritei apavorada ao vê-lo se afastando. – Por favor, não me deixe aqui... por favor.

Quando percebi que ele realmente havia ido embora, me deixado para morrer sozinha naquela rodovia, comecei a gritar cada vez mais alto por socorro, gritei tanto que senti minha garganta se ferir e o gosto de sangue inundou a minha boca.

De repente, lembrei do meu celular, tateei à minha volta e quando o encontrei, meus olhos se encheram de lágrimas de alegria. Fiz um esforço para desbloquear a tela quebrada e percebi que não havia mais do que 5% de carga na bateria. Tentei discar o número da emergência, mas eles estavam escurecendo, a tela estava prestes a queimar, então, apenas retornei para o último número que havia ligado, e pedi por socorro, antes de desmaiar de exaustão.

No meu estado de semiconsciência, as coisas pareciam estar apenas no campo dos sentidos, havia luzes coloridas e vozes exaltadas ao meu redor. Não senti quando o meu corpo foi retirado do carro, mas gritei alto de dor ao ter meu braço movido, olhei para cima, havia dois homens jovens se entreolhando, presumi que fosse paramédicos.

Quando acordei novamente, pensei ter visto o rosto de Wolfang enquanto era levada na maca, pelo clarão branco, provavelmente já dentro do hospital.

– Preparem a sala de cirurgia... - Alguém gritava exaltado.

– Christine, meu amor... seja forte, por favor... - A voz chorosa de Wolfgang pediu e senti o toque conhecido de suas mãos apertando as minhas, mostrando que ele era real, não uma alucinação. – Por favor, Deus, não tire-a de mim.

– Preparar avental plumbífero para tomografia! Outra voz gritou, e ouvi o som de portas metálicas se abrindo. – Chamem a doutora Sullivan também.

– Gestante doutora? Outra voz perguntou.

Nesse momento, uma máscara de oxigênio foi colocada sobre o meu rosto, provavelmente contendo algum sonífero também, pois, logo em seguida, o sono me tomou e acabei desmaiando, mas não antes de ouvir a resposta positiva da médica.

– Sim. – Ela disse. – E está em risco.

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