Cap 2 - Primeiro Encontro - Thaynara

            Quando a recepcionista me indica que direção tomar, me encaminho rapidamente para o local e ao adentrar, sinto como se tivesse levado um golpe invisível, pois meu corpo inteiro sente um tipo de descarga, como se houvesse levado um choque. Levanto a cabeça e antes que a hostess fale alguma coisa, me deparo com dois olhos penetrantes que fazem a descarga ficar ainda mais forte. O que será isso, será que estou a ponto de ficar gripada?

- Posso ajudá-la? – Uma loira estonteante e bem-vestida para a minha frente, quebrando a hipnose que ele colocou em mim.

- Vim me encontrar com o senhor Pedro Alcântara.

- A sim, ele a aguarda, siga-me por favor. – Vira-se e anda com desenvoltura por entre as mesas, quase todas ocupadas e eu a sigo.

            Sem me conter olho na direção do homem misterioso e seu olhar é duro e sério em minha direção, como se eu tivesse feito algo de muito errado. Sinto-me como uma criança que foi pega em flagrante e não sei nem o motivo, o que me deixa extremamente desconfortável.

            A hostess chega a uma mesa afastada das outras, onde um senhor gordinho e um pouco calvo se levanta para nos receber. Sua postura é invasiva para com a moça, quase invadindo seu espaço pessoal e praticamente a comendo com os olhos diretamente em seu decote.

- Sua mesa moça. – Fala virando-se em minha direção e se esquivando do homem que então ele me enxerga e no mesmo instante me sinto desconfortável com o que vejo em seus olhos.

            Mantendo a postura profissional, aproximo-me apenas o suficiente para um aperto de mãos e me apresento.

- Sou Thaynara Clemente Cardoso, representante do escritório E.A.U. construções. – Dou a mão para ele que a aperta todo entusiasmado e discretamente desfaço o contato antes que ele tenha oportunidade para qualquer movimento.

- Pedro Alcântara ao seu dispor. – Aponta a mesa e sem que eu peça, ajuda-me a sentar, deixando sua mão roçar na minha pele, já que estou com uma blusa de alcinha, devido ao calor que faz na capital.

            Mais uma vez, de forma contida e imperceptível para quem olha de fora, desvencilho-me do contato e aguardo-o se sentar para dar início a reunião, que agora pretendo que seja o mais breve possível.

- Aceita algo? – Pergunta solícito.

- Apenas um café expresso, por favor. – Afinal sou viciada em café, então não perco a oportunidade.

            Enquanto ele chama o garçom e faz nossos pedidos, presto atenção ao nosso redor, reparando no luxo que é o lugar, bem como o bom gosto da decoração e mais uma vez sou surpreendida pelo moreno de olhos escuros, fixos em mim.

            Meu corpo ganha vida, o sangue corre mais forte, denso, um calor, como se o ar-condicionado não estivesse ligado e então percebo que uma parte do meu corpo, até então considerada morta, conhecida apenas por minha mão, começa a pulsar na mesma batida que o meu coração, que neste momento está acelerado.

            Aperto minhas pernas uma na outra, desviando meu olhar, porém, posso ver um leve erguer de seus lábios, como se soubesse o que acontece comigo, internamente, como se tivesse o poder de diminuir o desconforto e só o fizesse por benevolência.

- A senhorita o conhece? – O senhor Pedro pergunta com um vinco na testa.

- Quem? – Fico perdida, sem noção do que ele fala.

- O homem no bar, que a está encarando. – Arregalo os olhos e percebo minha falta de profissionalismo.

            Arrumo-me na cadeira, levantando os ombros e encarando o senhor a minha frente, respiro fundo e solto o ar devagar pela boca, conseguindo obter novamente o controle dos meus pensamentos e corpo.

- Não sei, penso que talvez sim. – O garçom nos serve, a mim o café e ao senhor uma dose de algo com cor âmbar, que acredito ser whisky. – Mas, o senhor marcou essa reunião para...? – Mudo de assunto e vejo sua postura mudar para a de homem de negócios.

- Tive boas recomendações das arquitetas que trabalham com a senhorita, bem como da engenheira civil. – Toma um gole de sua bebida e eu do café. – Quero construir uma sede na fazenda que comprei recentemente, é próximo a capital, coisa de  minutos de carro.

- Entendo, o senhor tem algo em mente, ou gostaria que elas tomassem a responsabilidade de apresentar algo que acreditam que vá chamar sua atenção?

- Eu não tinha nada em mente, más, na semana passada fui até o local novamente, fazendo uma nova análise detalhada e gostei da atual sede. É simples e pequena, possui apenas 6 quartos, com apenas 2 suítes. – Tomo outro gole para disfarçar meu desgosto. Como que pode, uma casa com 6 quartos ser pequena? – Mas, possui potencial. – Sorri contido agora, gostei mais do seu lado profissional. – Penso que quero algo que tenda para o rústico, porém com um toque de modernidade.

            Enquanto ele fala, vou fazendo as anotações pertinentes para as meninas, afinal, adotamos um questionário pronto para que eu pudesse avaliar os clientes antes de encaminhá-los a elas e assim ganhar tempo, não as fazendo perder o delas e muito menos o do cliente.

- O senhor tem em mente a quantidade de cômodos? Quer apenas o térreo ou mais andares?

- Para que fique espaçosa, sem ocupar tanto espaço, acredito que terá que ser com 2 ou mais andares. Quero ter lá a comodidade que possuo aqui, então, um total de 10 suítes, e os demais ambientes de uma casa, está bom.

- Qual o prazo que tem em mente?

- Gostaria que estivesse pronto até o início do primeiro mês do próximo ano.

- Considerando que estamos no início de junho, bem como, todas as empreiteiras estão trabalhando com o limite de pessoal. – Analiso meus arquivos no tablete, faço algumas alterações em datas e algumas correções e levanto os olhos para ele que me olha agora com algum tipo de respeito. – Posso agendar com o senhor um horário com as arquitetas e a engenheira, na próxima semana, porém, devo alertar que o mínimo que vamos conseguir entregar o projeto pronto é em meados do próximo mês e se o senhor o aprovar, as obras se iniciarão em agosto.

- É um prazo até razoável, qual o problema? Pois estou sentindo que vem um más, por aí.

- O problema, senhor Alcântara...

- Me chame Pedro, por favor. – Limpo a garganta e recomeço.

- O problema, senhor Pedro, – não renuncio ao substantivo, para permanecer com o distanciamento profissional. – é que pelo tamanho de sua obra, acrescentando o paisagismo, só será possível entregá-la no próximo mês de março.

            Termino o meu café, ao mesmo tempo em que ele me analisa e toma o restante de sua bebida. Seu olhar deixou de ser invasivo e passou a ser astuto, tentando enxergar em mim, qualquer resquício de mentira, mas eu realmente falo a verdade.

- Muito bem Senhorita... – faz uma pausa e quando percebe que não darei a liberdade pedida, sorri de lado e continua – vou dar uma chance para vocês. Foram muito bem recomendadas e sua postura além de muito profissional é direta, então acredito que posso confiar.

- Então, na próxima semana, na terça-feira – falo já me levantando – o senhor pode comparecer ao escritório – olho novamente para o meu tablete – às 15 horas? – Estendo a mão para ele.

- Pode confirmar minha presença – pega minha mão e segura-a mais do que o necessário e para não fazer uma cena, tenho que permitir, mas fecho o semblante e ele percebendo sorri e a solta.

- Enviarei para o senhor a localização e endereço do escritório e a confirmação da reunião na segunda pela manhã.

- Você parece estar com muita pressa mocinha. – Fala de modo despretensioso.

- Estou sim, tenho mais reuniões. Tenha um ótimo dia, senhor. – Sem dar chance para ele continuar com os galanteios fajutos ou me responder, viro-me e saio.

            Do lado de fora, procuro por um banheiro, pois, devido a tensão com o moreno de olhos intensos, sei que vou precisar trocar a calcinha. Entro no banheiro feminino, onde todas as cabines estão vazias, escolho uma, faço o que preciso e quando estou lavando a minha mão, a porta se abre e por ela passa o moreno.

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