Prostituta do Morro do Alemão
Prostituta do Morro do Alemão
Por: J. C. Rodrigues Alves
Prólogo

               Meses antes

       Apesar de entender os riscos da vida que levo, nunca me imaginei indo em um presídio.

       Poderia ser eu presa? Não. Não sou burra o bastante para deixarem me pegar. Já fui um dia, hoje não sou mais.

       Era humilhante ficar em uma fila por mais de uma hora, em baixo do sol ou da chuva, para ter alguns minutos na visita.

       É domingo, dia de visita no Presídio Federal do Rio de Janeiro.

       Mães, esposas, filhas...esperam para entrar aos poucos na construção gélida.

       Até aquele dia, nunca tinha ido antes em um presídio, sabia o que já tinha ouvido por aí.

       Quem tivesse a mente fraca, sucumbiria logo.

       A cadeia mexia com o psicológico.

       Me levam para uma sala, quando chega minha vez, onde preciso me despir completamente e inclusive ficar agachada sobre um espelho, para terem certeza de que não estava levando nada no meu útero.

       Depois da revista, assino um papel com diversos outros nomes e sou guiada até um pátio com diversas cadeiras e mesas de plásticos.

       Alguns presos choravam baixo ao ver suas mães. Outros escondiam bem a emoção, ao ver os filhos.

       A maioria ali estava por tráfico, roubo e delitos mais graves.

       Sento em uma mesa vazia num canto, olhando com atenção o movimento, até que nossos olhos se cruzam e vejo a surpresa e incredulidade se misturarem em seu rosto.

–  O que tu tá fazendo aqui, Antônia? – pergunta com o maxilar tenso ao se aproximar.

–  Não vai sentar?

–  Tenho nada pra falar contigo não – diz com os punhos cerrados – Não era nem pra tá aqui.

       Inspiro profundamente, mantendo meus olhos fixos nele.

       O conhecia bem o suficiente, para saber que nunca conseguiria dar as costas para mim.

–  Vai me deixar falar ou não?

–  Manda o papo reto.

–  Preciso da tua ajuda.

       Ele ri sarcástico.

–  Tu já viu onde estou? Tô engaiolado. Não tô podendo ajudar ninguém não – vocifera irritado – Tô dependendo da Doutora Gabriela para me tirar daqui.

       Pressiono os lábios, meus olhos vagando pela mesa com alguns riscos.

–  Se tu não me ajudar, ele vai me matar.

       Ele nega com a cabeça incrédulo.

–  O que tu fez dessa vez?

       Ergo os olhos, o encarando novamente sem demonstrar qualquer emoção.

–  Tô grávida – Ele ergue as sobrancelhas, fingindo que não ligava. Apesar de ter certeza, que sentia o contrário – E tirei o morro dele – Ele franze o cenho, puxando a cadeira para se sentar.

 

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