03

Sai do colégio e resolvi dar uma volta pela cidade.

No meio da cidade havia uma ponte muito bonita que dava para o mar, fiquei olhando as águas calmas até ouvir alguém me chamar.

- Fátima?  - Era o homem que me comprou o cigarro.  - Achei que nunca mais iria lhe ver novamente.

Eu estava com um pouco de medo do homem, não sabia direito suas intenções comigo e nem queria saber.

- Eu nem sei seu nome, acho que não quero ser sua amiga. . .  - Virei para o mar e o ignorei.

- Calma moça, você é sempre tão gentil.  - Ele riu.  - Meu nome é Johnny, mas pode me chamar de John!

Ele estendeu a mão mas eu o ignorei novamente.

- Não me importo com quem você seja. Não gosto de homens mais velhos.

- Não acredito que você pensa isso de mim.  - Ele parecia mesmo ofendido.  - Só acho que você deveria ser mais gentil com as pessoas.

- Eu não preciso da sua opinião!  

 Eu estava sendo grosseira mas mesmo assim ele não desistia.

Ele debruçou-se na ponte e sorriu.

- Você tem quantos anos?

- Porque lhe interessa?  - Ri de seu espanto.

- Eu tenho 34 anos.  - Ele insistia.

- Velho demais para uma garota de 15 anos.  

Ele riu de minha ignorância.

- Quer um cigarro?

Ele ofereceu seu maço de cigarro e eu aceitei, ele acendeu e sorriu.

- Você é tão jovem e ao mesmo tempo tão madura.  - Ele ria.

- Como assim?  - Perguntei.

- As garotas que eu conheço da sua idade não pensam que sou muito velho para elas.

Eu ri e suspirei. Quando me dei conta já estava conversando com aquele homem.

O céu estava escurecendo e dando preliminares de chuva.

- Eu preciso ir para casa, vai chover e minha mãe vai se preocupar.  - Me despedi e segui meu caminho para casa.

Acabei chegando encharcada em casa. Meus pais não estavam o que me deixou aliviada.

Já eram 19:38 e eu tinha que me arrumar para ir para a tal festa que Marie havia me convidado.

Meu banho ia tranquilo até começar a água virar sangue, esfreguei meu olhos e o sangue continuavam a sair do chuveiro. Olhei para as paredes e elas deixavam peles caírem ao chão. Eu tinha certeza de que aquilo eram só coisas de minha cabeça mas eu não pude conter o grito.

De repente meu pai abriu a porta do banheiro e tudo voltou ao normal.

- Pai saia daqui!  - Gritei me cobrindo com a toalha de banho e ele obedeceu.

Eu não poderia deixar aquilo me abater, então continuei a me vestir. Eu não costumava ter roupas extravagantes e bonitas mas eu coloquei a “melhor” que pude encontrar.

Sai do quarto com cuidado para que meus pais não acordassem, desci as escadas nas pontas dos pés e sai pela porta vitoriosa.

As ruas estavam desertas, sem carros e nem pessoas, mas o atalho estavam lindo como sempre, as estrelas

deixavam o lugar muito mais agradável, o céu estavam limpo e a lua estava deslumbrante.

Chegando na escola logo avistei Marie sorrindo, ela estava linda, seus cabelos azuis combinavam com o céu.

- Oi moçinha, achei que havia desistido de ir a festa.  - Ela sorriu e me deu um beijo na bochecha.

Ela me deu um capacete e me deu um sorriso.

- Já andou de moto?

- Não.  - Fui sincera.

- Então essa vai ser a sua primeira vez!  - Ela me deu outro sorriso e deu partida. Subi em sua traseira e seguimos.

Não pude deixar de desgrudar de suas costas e abrir os braços para sentir o vento possuir o meu corpo. Foi a melhor sensação que pude ter.

Nós chegamos numa casa grande, carros parados e pessoas bebendo, outras dançando.

Marie segurou minha mão e me puxou para dentro da casa, estava tão cheia que tive que me espremer entre as pessoas.

Marie me jogou num sofá e saiu dizendo que iria pegar uma bebida. Fiquei observando as pessoas que passavam e percebi que estava tão solitária quanto antes.

Marie voltou depois de um tempo com duas bebidas na mão, um cigarro nos lábios e um sorriso amigável.

- Vem, vou te apresentar a alguns amigos!  - Ela me puxou pela mão.

Marie me levou até uma parte da casa onde estava mais vazia, um grupo de garotos usavam narguilé.

- Fátima, esses são meus amigos!  - Todos me cumprimentaram.

Eu estava ficando com um pouco de insegurança.

Marie me ofereceu um cigarro “diferente”.

- Marie você usa drogas?  - Eu realmente estava surpresa.

- Não é nada Fátima.  - Ela se aproximou de meu ouvido.  - Acho melhor você usa-lo, ele é um amigo para quem tem a cabeça muito cheia de pensamentos mal agradáveis.

Eu aceitei o cigarro e eles comemoraram.

Eu aspirei a fumaça e de repente já estava feliz. Depois de um tempo eu já estava fora de mim e fazendo coisas que não faria se estivesse sóbria.

 - Fátima, você gosta de. . . garotas?  - Marie me perguntou.

- Não, eu gosto só de uma.

Eu não fui grossa por querer mas mesmo assim eles riram de minha resposta.

- Sei. . . acho que você deveria falar com ela, seja lá quem for.  - Ela agora falava comigo com cautela.

- Você não entende, ela tem namorado e com certeza ela é hétero.

Ela sorria para mim me fazendo pensar um pouco.

De repente a festa começou a ficar lenta, meus olhos começaram a desfocar, eu não conseguia abrir a boca nem para suspirar.

Levantei-me e fui para o meio da pista de dança, não conseguia ouvir a musica e isso estava me incomodando.

De repente ouvi uma voz muito familiar, era ele, Robert, o professor. Ele chorava e olhava em meus olhos.

- Fall, porque me abandonou?  - Ele chegava perto de mim.

- Não foi minha culpa!  - Comecei a me afastar até ouvir a voz de Marie me chamar.

- Fátima, Fátima, fale comigo. . .  

Eu acordei em seus braços, seus amigo estaticos me olhavam assustados. Percebi que a festa ja havia acabado.

- O que foi isso?  - Ela me largou.

A impedi de me soltar e lhe dei um forte abraço sendo correspondida.

- Vem vamos para casa.  - Ela me puxou para fora.  - Quantas vezes isso ja te aconteceu? Foi a primeira?

- Bem. . .  - eu não queria contar a ela sobre isso.

- Você pode me contar depois, já são 05:35 da manhã.  - Ela me colocou em sua traseira e me levou para casa.

Pelo caminho ainda pudia ouvir os grito de Robert. Ele me culpava por ter sido preso.

- Durma bem!

Quando pude voltar a mim mesma já havia entrado em casa e deitado na cama.

Fiquei pensando no incidente o tempo todo até amanhecer.

Ouvi meu pais conversando, gritando, berrando, eles estavam brigando novamente.

Desci as escadas ara ir para o colegio e olhares se voltaram a mim.

- Querida. . . Fátima. . . vá para o colegio ta bom?  - Meu pai beijou minha testa e forçou o riso.

Minha mãe apenas acenou com a mão.

Andei por aquela mata que já havia ficado monótona.

Cheguei no colegio e logo fui recebida com um forte abraço de Marie.

- Olá mocinha, como vai?  

Ela era tão gentil que eu estava certa que deveria lhe contar meu segredo.

- Marie, eu quero conversar com você. Me encontre no intervalo mais tarde.  - Soltei-a e segui para minha classe.

Não prestei atenção em volta mas creio que o verme do James estava me “secando”.

Colo quei meus fones de ouvido muito alto para não ouvir o professor, colo quei o capuz da jaqueta para disfarça-los.

Percebi que alguem bateu na porta, como de costume era a Melissa que me deu um sorriso. . . de costume.

Eu realmente não entendia o porque daquele sorriso todos os dias, talvez ela já soubesse que eu a admiro e só quer me provocar, ou talvez ela me ache. . . interessante.

A aula acabou e eu não tinha feito absolutamente NADA.

O intervalo chegou e eu fui guardar minhas coisas no meu armario. James e seus VERMES se aproximavam, eu quase adentrei meu armario mas mesmo assim eles conseguiram tropeçar em mim, todos envolta riam do ato.

Desci as escada furiosa, Marie estava sentada no chão com seus amigos fumando Tabaco.

- Marie, podemos conversa?

- Claro Feh!  

Ela me deu um apelido carinhoso?

Ela se levantou e chegou num canto comigo.

Suspirei mas fui impedida de falar, pois Marie socou um cigarro na minha boca.

- Olha, tem que me prometer que vai guardar esse segredo para sempre!  - Eu estava insegura de contar aquilo.

- Esta bem, se você me contar seus segredos contarei os meus!  - Ela sorria gentimente me confortando.

- Eu tenho aqueles apagões desde quando tinha 9 anos. . . Mas quando um incidente aconteceu eu fiquei pior.

- Incidente? Que incidente?  - Ela chegou mais perto.

- Por favor não conte isso nem para seu travesseiro.  - Eu realmente estava implorando.

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