Capítulo Três

Parte 1

Quase meio-dia. Já estava um pouco atrasado para a reunião, mas não queria sair antes de acalmar seu coração para o encontro.

Sua barriga estava incomodando como se estivesse com fome, mas não estava. Era ansiedade. Ficou tão ansioso que nem voltou para casa e dormiu no antigo apartamento que tinha antes de se casar com Lyane. O dividia com Paul até ele se mudar para outro maior e acabou comprando sua parte.

Gostava dali por ser mais perto do centro e era bom para quando precisava resolver algo rápido. A casa era seu refúgio, seu lar onde pretendia morar com sua nova mulher e seus futuros filhos.

Pegou a chave da Ferrari e desceu. O dia estava nublado, nada de novo em Londres. O dia anterior estava até com um calorzinho gostoso, mas hoje amanhecera cinza. Esperava que isso não fosse um anúncio do que estava por vir. Ligou o carro e saiu devagar da garagem.

Uma coisa que todo londrino deveria ter em seu carro era um guarda-chuva. Nunca se sabia se o dia iria segurar o sol ou a chuva cairia de repente. Se sabia que iria chover, isso sim.

Adorava chuva, mas em um dia como o de hoje que pretendia dar um passo adiante com Amanda, queria que o sol estivesse brilhando alto e forte para lhe dar mais ânimo.

Nem acreditava que iria mesmo dar esse passo. Já não sabia se era perseverante ou masoquista de verdade. Sempre tinha sido insistente quando queria algo, mas geralmente era algo que ele sabia que iria conseguir.

Com Amanda a única certeza era a dúvida. Poucas vezes em sua vida havia desistido de algo, geralmente quando se mostrava ser impossível de conseguir e isso se tratando de coisas e trabalho.

Amanda era a primeira pessoa em que investia sem saber se haveria retorno e era assustador.

Seria direto com ela e exigiria que fosse também. Queria o não definitivo ou pelo menos um talvez. O não o colocaria no chão, mas um talvez poderia representar uma possível mudança futura e com isso ele poderia suportar mais um tempo.

Tinha que se manter positivo até encontrar com ela e poder lhe falar. Se mantivesse o espírito calmo, talvez desse sorte dela o ouvir sem o questionar antes.

Ela nunca era vista com ninguém, então deveria ser sozinha. Pelo menos nunca soube de outro homem que não fosse seu falecido marido e que soubesse, ela não gosta de mulheres para relacionamento, então teria aí uma brecha.

Talvez tivesse um amante escondido de todos. Viajava bastante e às vezes ficava fora por mais de uma semana. Quem sabe nessas viagens ela levasse alguém com ela ou fosse ao encontro de um homem secreto.

Não dava pra saber, porque com relação à vida pessoal ela era muito reservada. Sobre negócios era falante, sobre o que fazia em seu tempo livre, pouco se sabia. Nem acreditava que ele estava indo em mais um encontro com ela. Já começava a ficar ansioso.

Ela não devia ser uma freira também e com certeza tinha seus amantes escondidos da mídia e de todos para que não falassem mal dela como sempre acontece. Estava viúva tempo demais para ficar em casa sozinha sem um corpo quente para aquecer suas noites frias.

Não gostava de pensar que ela pudesse ter um amante, mas não poderia ser tolo pra acreditar que era celibatária. Tinha tido outros namorados antes de se casar e com certeza o marido deveria exigir de volta o que ele lhe dava.

Ela deveria ter algum tipo de arranjo, talvez até o amante fosse comprometido e não podia se revelar. Vai saber o que ela gostava nesse quesito. Se conseguiu ficar casada com um homem muito mais velho que ela quando ainda era tão jovem, vai ver que tinha estômago para ter casos com homens casados.

Pena que ele não foi um deles. Mesmo casado com Lyane, se ela tivesse lhe dado atenção esqueceria os votos de fidelidade e teria caído em seus braços.

De repente talvez ela gostasse de aproveitar a liberdade com homens mais jovens para compensar o tempo que ficou casada e dormia com os modelos que conhecia, ficava um tempo com eles e depois os dispensava.

Ela era muito segura do que queria, não deixaria de ter um caso só porque alguém poderia achar errado.

Só gostaria de ter tido a sorte de ser um dos escolhidos, ainda que não gostasse da ideia de dividí-la. Aceitaria dividir sua paixão se ela ficasse com ele tempo suficiente para fazer com que enjoasse de seu cheiro e de seu corpo.

Só de pensar em estar com ela em uma cama seu corpo ficava aceso. Era de impressionar o tanto de tesão que sentia por Amanda. E isso nunca aconteceu antes com outra, nem mesmo por Lyane, a quem ele chegou a amar. Com Amanda era diferente.

Só de pensar nela por baixo dele, se embolando em uma cama ou em qualquer outro lugar já ficava excitado. Ajeitou o volume dentro da calça antes que chegasse de forma vergonhosa ao local marcado. Só faltava essa para completar a humilhação.

Já estava pensando que teria que fazer um pacto com o diabo em pessoa para poder convencer Amanda a sair com ele e aplacar essa sede que sentia por seu corpo.

Entrou na rua de acesso ao estábulo de Gilbert e viu de cara o carro dela. Estava com o Porsche azul e não com a Ferrari. Eram seus dois carros preferidos.

Soube que ela tinha se desfeito da coleção do marido e ficado com apenas esses dois para uso pessoal. Poderia aproveitar e usar como desculpa que não havia local para estacionar, mas a ideia se perdeu quando viu que ainda havia três vagas.

Parou a Ferrari e ficou pensando um pouco no que diria para que ela aceitasse sua investida. Ele não era covarde, mas as palavras dela as vezes o deixavam desconfortável e isso minava sua confiança. O que ele tinha com relação às outras, perdia quando era com ela.

E já estava lá, chegando no horário como sempre. Amanda era muito organizada com seus compromissos, uma coisa que a ajudou bastante no tempo de modelo porque todos comentavam como era fácil trabalhar com ela e como era correta com sua agenda.

Sobre seu trabalho nunca houve uma única pessoa que comentasse algo diferente. Suspirou e saiu do carro.

Deu uma olhada no visual e ajeitou o cabelo com os dedos para se recompor. Tinha que entrar como se fosse um encontro normal, pelo menos para ela, tinha que fingir que não sentia nada.

Não gostava dessa sensação de parecer um menino envergonhado diante da menina mais bonita do colégio.

Infelizmente, ele ficou tão ansioso por ter esse encontro decisivo que acabou esquecendo de fazer a barba e uma sombra se mostrava no rosto seguindo o contorno do queixo. Agora era tarde, tinha que ser assim mesmo. Ela que falasse o que quisesse, desde que dormisse com ele naquela noite.

Tinha tempo para fazer com que aceitasse. O dia era hoje.

Parecia um idiota que vai pedir a mão da mulher que ama em casamento, mas ele era só idiota, não apaixonado de verdade. Isso tudo era só desejo não correspondido. Tinha certeza de que algumas horas de sexo com ela acabariam de vez com sua psicose.

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