Eu, Você e as Estrelas
Eu, Você e as Estrelas
Por: Nayla Quill
01

Subi e me sentei na janela do sótão, era ali meu quarto. Elevei meu olhar ao céu, abraçando meus joelhos e debruçando minha cabeça nele.

Desde pequena eu adorava olhar as estrelas. Gostava de procurar constelações e gerar histórias. Gostava de imaginar que há centena de anos outras pessoas viam as mesmas estrelas que eu.

Os fones em meus ouvidos tocavam Wonderwall em volume máximo, apesar de eu não estar prestando muita atenção a música, e sim na vista à minha frente.

Logo minha vista começou a embaçar e tentei reprimir um soluço. Enxuguei meu rosto molhado pelas lágrimas, e mais uma vez pedi aos pontos brilhantes no negrume escuro do céu que tudo ficasse bem.

(…)

Aos 15 anos de idade, eu tinha cabelos loiros e irritantes, olhos grandes e claros. Agora, falando em moda, look e essas babaquices, era uma coisa que eu não conhecia. Futilidade. Padrão. Odiava isso.

Basicamente eu usava jeans surrados, camisetas de banda ou algo mais puxado para o preto. Nos pés, All Star, forever.

Em passos lentos, caminhei até a escola com os olhos pesados. Eu mal tinha dormido direito a noite e acordar todo santo dia às 5:30 da manhã não era mole.

Ao chegar, os portões estavam para fechar e mais uma vez entrei atrasada na sala de aula. Me dirigi rapidamente para o fundo da sala, onde ouvi risadinhas do idiota do Mattias e seus amigos babacas. Patético.

Sentei ao lado de minha melhor amiga, Emma.

– Atrasada de novo — falou ela, fazendo barulho enquanto mascava chiclete —, vai chegar uma hora em que não vão te deixar entrar.

– Acredite, esse é o meu sonho — falei, pegando meu celular, encaixando os fones e os enfiando nos ouvidos.

Aula de matemática, ninguém merecia. Eu odiava matemática.

Me debrucei na carteira e dormi a aula inteira.

(…)

– Ei, Samira… Acorda, bela adormecida —- escutei de um lugar que com certeza não era dali. De outra dimensão, talvez.

Ergui a cabeça rapidamente, e meus olhos arderam por causa da luz forte. Mattias me encarava com um sorriso de deboche. Suas covinhas apareciam e seu cabelo parecia ainda mais loiro e macio na luz do sol que entrava pela janela.

Eu ainda iria tocar naquele cabelo sedoso.

Ai meu Deus, o que eu estava pensando?

– O que foi? — perguntei estupidamente – Nada, ué. Mas quer realmente passar o intervalo na sala? – perguntou.

Olhei para a frente e vi Emma saindo da sala com um sorriso zombeteiro no rosto, desejei que um raio caísse na cabeça dela naquele momento, mas espera… nem chuva tinha e a escola tinha para-raios… ah esquece.

– É melhor do que ficar perto de você — falei e me levantei.

– Eu sei o quanto você me quer, e querendo ou não vai ficar perto de mim – falou

– Ah! Pago pra ver — falei sorrindo com ironia.

– Tudo bem, então pague e veja — falou ele.

Eu já ia saindo da sala, mas ele segurou meu braço.

Que droga, por que ele não podia ficar um segundo longe de mim? É muito difícil?

– O que você quer? — perguntei enraivecida, virando-me para ele.

– Queria saber por que você me despreza tanto.

– Impressão sua, amor — falei, dando de ombros.

Ele me segurou de novo, e eu me virei, suspirando.

– O que é? — falei, tentando conter o nervosismo.

– Sua mãe não te contou? — disse ele, com um sorriso impresso nos lábios.

– Contou o quê? — perguntei com impaciência.

– Dã… Semana que vem. Férias. — falou — Digamos que você vai ter que me aguentar.

– Ah, é? — falei, contendo uma gargalhada — Me obrigue.

– Eu não vou te obrigar, mas sua mãe vai. O porquê? Você vai ter que perguntar pra ela.

E ele saiu, mordendo o lábio inferior e arqueando uma das sobrancelhas. Sua marca registrada para fazer meus pensamentos broxarem. E o de dezenas de outras garotas.

Por uns instantes eu fiquei ali, incrédula, então acelerei o passo, e fui atrás dele.

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