Capitulo 4

Mara não dormiu, pensando em Alfredo, em como poderia avisá-lo de sua ausência na escola; por fim chegou à conclusão que não tinha outra saída, principalmente porque ela sairia bem cedo, viajaria no mesmo circular com sua mãe e seu pai. O jeito era esperar que Alfredo, ao perceber sua falta, apenas esperasse a sua volta à escola no dia seguinte. Caso ele viesse à sua casa, ela tentaria explicar para a mãe que eram apenas amigos do mesmo grupo de trabalho escolares. Mesmo assim o sono não veio, até que sua mãe a chamou na porta do quarto, dizendo que se levantasse e se aprontasse para saírem.

Ainda estava muito escuro, ao ponto de não se ver outra pessoa. Próximo na calçada, seu pai com uma bolsa a tiracolo, caminhava à frente, e sua mãe, após fechar o portão, apressara o passo procurando se aparelhar a ele, e Mara andava pensativa logo atrás. Entraram no circular que saiu logo em seguida, passando rua por rua, parando em diversos lugares, deixando a impressão que ganhavam por quilômetro rodado e por parada efetuada. Depois de uma hora, sacolejando como se estivesse em um pequeno barco em alto mar, sentindo que tudo dentro da barriga estava como que solto, chegaram ao centro. Seu pai havia descido há uns dois pontos.

Mara desceu do ônibus seguindo de perto sua mãe, depois de andar mais alguns quarteirões avistou o enorme hospital estadual, tomando todo o quarteirão. Era longe na verdade, mas sua mãe dizia que a pessoa chegando ali, saía curada ou no caixão. Referia-se ao fato de o hospital ter também laboratórios, e conforme a solicitação dos médicos em caso de urgência, os resultados dos exames pedidos de manhã, ficavam prontos no início da tarde. A pessoa voltava ao consultório médico, saia com o diagnóstico e a receita para aquisição dos remédios, coisa que em outros lugares poderia demorar semanas ou até meses.

Mara acompanhou sua mãe até um balcão, onde foi marcada uma consulta com o clínico geral. Passaram por uma sala, onde uma enfermeira mediu sua pressão, anotando em uma ficha. Saíram para um corredor enorme onde havia bancos de madeira por toda extensão, sentaram-se. Ao longo de todo o corredor havia também diversas portas de acesso aos consultórios. Já havia diversas pessoas sentadas, e sua mãe logo iniciou um diálogo com uma senhora ao seu lado. Mara ficou olhando a parede sua frente, seu pensamento apenas em Alfredo, em como ele agiria ao perceber sua falta, no fundo sabia que aquele barraco que seu pai havia armado; fazendo sua mãe sair de madrugada para levá-la ao hospital como se ela tivesse uma doença grave era pura perda de tempo, ela sabia que aquilo não teria resultado nenhum, ela não sentia nada, apenas a ânsia de vômito, mas isto talvez por estar com certa sensibilidade no nariz.

Logo se abriu uma porta e uma voz masculina e bem grave vinda de dentro da sala chamou um nome feminino, uma mulher entrou, a porta se fechou e um silêncio terrível reinou no corredor. Depois de um tempo a porta se abriu, a mulher saiu, a voz chamou outro nome, foi assim até que a voz chamou o nome de Mara. Ela e sua mãe entraram no consultório e um homem de meia idade, cabelos grisalhos, vestido com um jaleco branco, estava sentado em uma cadeira por trás de uma mesa. Assim que elas entraram, ele pediu gentilmente que se sentassem, escreveu alguma coisa em um papel sobre a mesa, e por fim levantou os olhos e indagou o que estava acontecendo. Mara já ia dizer que não estava sentindo nada; mas sua mãe tomou a frente relatando as duas vezes que Mara havia vomitado. O médico balançou a cabeça como que concordando, levantou-se, veio em direção a Mara, acomodando em seus ouvidos um aparelho semelhante ao fone para se ouvir música, pousou a extremidade do aparelho semelhante a uma moeda nas costas de Mara, ouviu por um tempo, depois com seu dedo indicador pressionou a pele por baixo do olho fazendo com que Mara arregalasse mesmo sem querer o olho. Ele clareou a pupila do olho de Mara com uma pequena lanterna, enfiou a mão no bolso do jaleco tirou um palito de sorvete, pediu que Mara abrisse a boca, pressionou a língua, clareou a garganta e ficou olhando lá dentro como que desejasse ver o estômago de Mara; depois voltou para sua mesa e disse:

– Vou pedir um exame de sangue com urgência, passa lá no balcão e marca o retorno à tarde, quero ver este exame ainda hoje!

Saíram do consultório, passaram no balcão e marcaram o retorno à tarde; seguiram por um extenso corredor até chegar a outro balcão, onde sua mãe apresentou o pedido do médico. Elas aguardaram até que uma enfermeira a chamou. Mara entrou em uma sala, onde uma enfermeira retirou o seu sangue e, depois de algumas anotações, a enfermeira disse:

– Volte no início da tarde, para retirar o exame!

Mara saiu, seguindo sua mãe pelo corredor, ao final, já vendo o movimento na rua, sua mãe lhe perguntou:

– Quer um lanche? – Ela sabia que Mara adorava o cachorro-quente com batata palha.

Depois de lancharem, e terminado o refrigerante gelado, ficaram sentadas em cadeiras plásticas por um bom tempo olhando o intenso movimento dos pedestres se atropelando pelas calçadas, Mara só pensava em Alfredo, como estaria ele.

Abigail se levantou e Mara imitou-a. Seguiu-a novamente hospital adentro até o balcão onde a enfermeira entregou à sua mãe um envelope branco selado. Por outro corredor, seguiram até o consultório onde passariam novamente pelo médico. Sentaram-se novamente no mesmo banco de madeira e aguardaram até que, depois de algumas chamadas, chegou novamente a vez de Mara. Elas entraram no consultório e o mesmo médico, sentado atrás da mesma mesa, esticou a mão e sua mãe lhe entregou o envelope. Ele abriu e leu sem nenhuma emoção aparente no rosto, depois disse:

– Mara, aguarde lá fora um minutinho, eu já libero sua mãe!

Mara saiu ao virar-se para sentar-se no banco de madeira viu sua mãe fechando a porta do consultório, pelo jeito o médico não desejava que ela ouvisse a conversa que ele teria com sua mãe. Foram os cinco minutos mais angustiantes que Mara passou em toda sua vida. A princípio ela pensou, será que estou com alguma doença grave, mas neste caso, teria que ser eu a primeira a ser informada, afinal de contas, ano que vem serei maior de idade.

Ela não imaginava que as estrelas do seu céu naquele momento estavam caindo uma por uma, e que por fim cairia a sua lua, e, quando amanhecesse, até mesmo o sol teria caído do firmamento, e sua vida entraria em espiral.

Depois de uns cinco minutos a porta do consultório se abriu lentamente, sua mãe apareceu branca como uma vela, ficando emoldurada pelo batente da porta por alguns segundos. A muito custo se arrastou até onde estava Mara, que, assustada, indagou:

– Mãe, a senhora está bem?

Houve um resfolegar por sua mãe, ao acomodar-se no banco de madeira, depois ela passou a palma da mão pela testa como a tirar todo o pensamento negativo de sua mente. Os minutos se passaram sem que ela conseguisse falar, até que por fim ela disse:

– Mara, sou sua mãe, e preciso que você seja muito sincera comigo agora! Vou lhe fazer uma pergunta, por favor, me responda a verdade! – Procurando olhar bem dentro dos olhos de Mara, ela sabia que quando sua mãe agia assim a coisa era muito seria, mas, contudo, era melhor falar a verdade.

– Mara, você tem um namorado, ou tem saído com vários moços?

– Oh, mãe, o que a senhora quer dizer com isso?

– Eu disse para me responder a verdade! Seja qual for, quero a verdade!

– Por que a mãe está perguntando essas coisas?

– Mara, um namorado, ou vários?

– Tá bom mãe; tenho um namorado! Por quê?

– Menos, mal! – Afirmou Abigail.

– O que a senhora quer dizer com isso?

Abigail estendeu para Mara a folha de papel aberta que o médico acabara de ler, e disse:

– Você está grávida Mara!

Mara deu um pulo no banco e, apesar de ter a pele vermelha de índia, ela ficou branca como um fantasma. A boca aberta, os olhos arregalados olhando sua mãe, como a ver um ser de outro planeta. Depois exclamou ainda espantada:

– Não pode ser mãe, o médico está errado!

– Pega seu exame de sangue e mostra a outro médico e ouça o que ele diz! Eu disse o mesmo no consultório, e o doutor chamou outro doutor que passava no corredor de trás, entregou o exame e pediu que dissesse o que estava indicando o exame de sangue, e resposta foi a mesma! Mara, como é este rapaz? É boa pessoa? Pertence a uma boa família? É trabalhador?

– É mãe!

– Onde você o conheceu?

– Na escola!

– Mara, me diga a verdade! Você acredita que ele assumirá a responsabilidade?

– Creio que sim, mãe!

– Então vamos fazer assim, não vou dizer nada a seu pai ainda; direi a ele que o resultado do exame sairá semana que vem. Amanhã você procura o moço, ele assumindo, precisará vir falar com seu pai!

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