Pecado

— Neeeeeeeeee... Kitsuneeeeeeee!... 

O Deus do Sake estava bêbado: grande novidade. Mas também, depois de secar toda a garrafa de licor de ameixa com Kitsune, não se podia esperar menos. 

— Diga. 

— O Tenshi está bravo comigo, agora! — Reclamou, fazendo cara de choro. — De quê adianta recuperar meus poderes se meus amigos ficarem bravos comigo? 

— Está realmente preocupado com isso? 

— Estou! Estou! — Ele bateu a mão na mesa fracamente. — Não quero que ninguém fique bravo comigo! E ele está bravo comigo!

— Eu não estou bravo com você. 

— É claro que não está. — Virou o copo na boca, na esperança de beber mais uma gotinha que fosse do licor doce. — Né, Kitsune... hic. — Soluçou. — Você me beijou daquele jeito de propósito?

— De que jeito...? — Kitsune sorriu, brincando de girar o seu copo na mesa com o indicador batendo nas bordas. 

— Daquele jeito...hm... — Shu tocou na têmpora com a ponta dos dedos, pensando. — ...hm... impróprio.

— Eu não fiz nada de impróprio. — Retrucou, rindo. — Não ainda.

— Você… hic! É casca grossa, né, Kitsune... — Apontou pra ele, piscando as pálpebras pesadas. — ...não está nem vermelho depois...hic!...de beber tanto. 

— Por que será, né? — Tirou o copo das mãos do Deus quando ele tentou beber de novo de onde não tinha nada. 

— Konkon...

— Hm? — Olhou pra ele: agora Shu o estava encarando com insistência, como que analisando. — Não, não tem dois de mim...ou você já está vendo elefantes? 

— Né...Konkon... — Disse, letárgico. — Você é tão lindo...

— Hu... — Segurou o riso. — Você acha?

— E quem não acha? Você é perfeito... — Ele se escorou sobre a mesa de repente, alcançando seu rosto nas mãos, chegando mais perto. — ...por que não me mostrou sua verdadeira forma antes, mh? — Deslizou os polegares pelas suas bochechas. — Era assim que você estava quando me guiou pra cá quando cheguei, não é? Era você, não é? — Maneou a cabeça pro lado, fazendo as mechas douradas lhe cobrirem a testa. — Você é tão lindo... e gentil também... 

— Shu... — Kitsune pegou nos seus pulsos, respirando fundo: quando desviou dos olhos estreitos acabou vendo seu peito branco, exposto pela roupa larga, por causa daquela posição. 

— E forte, e inteligente... — Piscou os cílios dourados, chegando perigosamente perto demais: um dos joelhos já em cima da mesa. — ...não era pra um demônio ser assim tão desejável, sabia? Mh! — Kitsune não se segurou mais, puxando seu pulso e o fazendo mergulhar com os lábios na sua boca. — Mmhh!... 

— Hm... — Ajeitou Shu no seu colo, passando um braço pela sua cintura e espalmando uma mão nas suas costas; sua boca estava ainda com o sabor forte de ameixa, mas sabia muito bem que o Deus ficaria sóbrio quando bem entendesse. — Shu... — Ele separou o beijo, ainda segurando seu rosto nas mãos; o hálito alcoólico na sua pele fazendo os cabelos da nuca arrepiarem de leve. 

— Você é um rei demônio, Kitsune... — Escorregou a ponta do indicador no seu lábio. — ...ainda assim se entregou ao contrato divino por livre e espontânea vontade.

— Uhm. — Concordou, sem desviar o olhar dos olhos cintilantes ali tão perto dos seus.

— O que você quer de mim? — Então ele foi direto ao ponto. — Se foi meu devoto um dia, que prece sua eu não atendi, ou a quantas oferendas não dei a devida atenção? — Escorregou as mãos pelo seu pescoço. — Por favor...você pode me dizer? Para eu poder me redimir?

— Hu... Shu... — Sorriu, pegando-lhe as mãos que caíram no seu colo. — O Deus da Despreocupação não deveria ser tão duro consigo mesmo. — Aproximou-as do rosto, levando os dedos pequenos aos lábios. — Eu sou um demônio porque nunca rezei pra deus nenhum, e as oferendas, eu só ia aos templos pra roubá-las. — Beijou-lhe os nós dos dedos, um por um. — Sobre você, é que eu...

— Você...? — Shu apertou as mãos que seguravam as suas, procurando os olhos que desviaram dos seus. 

— Eu quero você. — Falou, levantando os olhos; seus dedos ainda perto dos lábios. — Eu quero você...pra mim. 

— Né...Kitsune... — Não conseguiu segurar um sorriso. — Isso é ambicioso demais até pra um demônio como você, não acha? 

— Não acho. — Mas a raposa estava séria: seus olhos amendoados abertos numa confissão sincera. — Nunca te pedi nada além de você mesmo... e nunca pedirei mais que isso. 

Shu ficou um tempo estático, deixando Kitsune beijar-lhe as mãos e braços numa devoção e cuidado que em nada tinha a ver com seu discurso de rebeldia de a pouco. "Ainda estou muito bêbado e então estou ouvindo coisas?", pensou. "Não, não, estou sóbrio, então como...?... Isso é mesmo verdade?"

— Kitsune... então o que você está me dizendo é que...

— Que me apaixonar por um Deus. — Encarou-o com aqueles olhos cinza por baixo dos cílios brancos, profundamente. — Foi o pecado que eu cometi, e pelo qual não me arrependo.

— Ele era um Deus... Eu pequei em amá-lo?

— Amar um Deus não é exatamente errado... Mas um Deus costuma ser amado apenas nas adversidades, e então é esquecido. 

— Pois eu o amo a cada segundo... Foi aí que eu errei?

— Por que diz isso?

— Porque ele foi embora.

— Konkon!... — Shu suspirou mais uma vez: aqueles beijos no seu pescoço o deixando sem ar, suas contorções fazendo as vestes escorregarem pelos seus ombros. — Eu...ãh!...

— "Cabelos dourados como o fermentado do mais novo trigo..." — Kitsune passou uma mecha loira para trás da sua orelha. — "...lábios de suco de romã, e a pele pálida e macia como o leite de castanhas mais fino..." — Escorregou o indicador pela marca da sua mandíbula. — "...assim é o Deus do licor divino, que cura as feridas da alma, alivia a mente e faz companhia a quem está sozinho."

— Esse poema... — Ofegou, ao que o familiar já estava com os lábios no seu pescoço de novo. "Céus...nem eu me lembrava do quanto é bom ser beijado aí.."— É...

— Uma ode ao Deus da Boa Sorte. — Desceu os beijos da clavícula pro peito exposto, puxando ainda mais as roupas pra baixo. — Faz tempo que ninguém recita pra você? — Beijou-lhe o torso emagrecido, fervorosamente. — Mh?

— Konkon...eu... — Segurou nos ombros largos, sem motivo em particular, já que estava seguramente sentado sobre a mesa na qual estavam bebendo antes. — Eu me esqueci de você? — A raposa parou por um instante: Shu sentindo as unhas compridas enterrando fundo na carne das suas coxas por baixo das vestes. — Então é isso, nós já nos vimos antes, pra saber de um poema antigo como esse... — "E pra saber bem assim aonde eu gosto..." — Eu deveria saber sobre você… tanto quanto você sabe sobre mim? — Pousou uma mão entre as orelhas felpudas. — Kitsune?

— Eu não me importo que você tenha esquecido. — Continuou traçando-lhe a pele a beijos, descendo até as vestes cor de rosa estarem caídas entre o chão e a mesa. — Se não te fizer se lembrar... — Shu cobriu o rosto corado, vendo Kitsune pressionar os lábios na sua virilha, com o rosto encostado no membro teso, já todo melado. — ...vou fazer com que nunca mais se esqueça. 

— Konkon- mh! — Apertou os olhos, expelindo um pouco de água que acumulou ali. — Nã-não é hora disso...pa-para, a gente tem que conversar agora. — Fechou as pernas atrás das costas largas, sentindo a língua quente deslizar sobre a sua glande em círculos insistentes. — Ah! — Apertou os cabelos da franja branca. "Ele sabe mesmo fazer, socorro." — Kitsune!...Kitsune!...Va-vamos conversar, s-sim? Pa-pare...

— Eu paro. — Apertou suas coxas mais uma vez, certamente querendo deixar a marca dos seus dedos ali. — Quando você gozar na minha boca.

— ÃH?!! — Encolheu as pernas, se arrependendo imediatamente por ter olhado pra baixo e visto os olhos cinzas olhando-o ali de baixo, enquanto passava a língua pela sua extensão. — N-na sua bo-

— Vamos, você não está longe. — Tocou-lhe a ponta da glande com o indicador, puxando um fio viscoso de pré-gozo. — Ou eu não mereço essa graça da "vossa alteza"? 

— Mgh! — Mesmo naquela situação ele corou ainda mais; por que justo ele falando aquilo era tão…?

— Não se afaste, mh? — O deixou escorregar pela sua língua, até fechar os lábios em torno.

— Ah...ha...ah... — "Céus, há quantos... há quantos séculos eu não sou tocado assim?" — Am!...ah!... — Apertou os ombros largos novamente, trêmulo. "Tão bom...tão bom..." — Aahh!...

— Mh... — Kitsune olhou pra cima, indo e voltando com sua boca lentamente, subindo as mãos pela cintura fina da divindade, sentindo a pele arrepiar e suar, quente. — Hm... — Suspirou.

— Ah!...Ah!...Am!... — Tinha saliva escorrendo da sua boca, seus cabelos estavam grudando na testa e os sons que Kitsune estava fazendo eram molhados demais. — Konkon, eu vou...eu... Ah!

— Mh. — Kitsune finalmente sentiu Shu derreter na sua boca. — Mh... — Engoliu tudo, satisfeito, puxando o Deus pro seu colo antes que ele caísse de costas na mesa. 

— ...Ha!... — Shu abraçou seu pescoço, cansado. — Konkon, eu… 

— Mh? — Limpou os lábios nas costas da mão, acariciando os cabelos dourados na outra. — O que foi?

— Po- por que eu não consigo me lembrar de você…? — Respirava fundo, ofegante. — E- eu deveria, não é? 

— Isso não importa. — O apertou no abraço. — Você está aqui agora, pra mim isso basta. 

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