CAPÍTULO 2

O primeiro amor platônico — 1984

Em um fim de semana de 1984, Maria levou as filhas ao teatro para assistir ao musical infantil “Sapatinho de Cristal”, dirigido por Claudio Tovar, com músicas originais de Ivan Lins. Era a primeira montagem grandiosa que Isabela iria ver e a menina não poderia estar mais ansiosa. A peça, baseada na história da Cinderela, era estrelada por Lucinha Lins e pelo seu filho Cláudio Lins.

Com apenas 11 anos, o ator-mirim estreava na profissão, no papel do príncipe da historinha. Ao colocar os olhos nele, envolto pelas luzes brilhantes do palco, Bela soube que era amor: uma paixão instantânea e irremediável, que a faria sonhar acordada por anos a fio.

A conexão à primeira vista ficou ainda mais forte quando Cláudio cantou uma canção romântica, escrita pelo pai, intitulada “Aquela que eu quero”:

“Eu quero aquela

Dentre as belas

A mais bela

E dentre elas

Ela

Ela

Ela

Ela”

Não bastasse o seu apelido, Bela, ser entoado em alto e bom som, o pequeno príncipe foi até o seu assento e experimentou o sapatinho no seu pé miúdo. Pronto, era oficial: Isabela acabava de se certificar de que era a princesa perdida, para quem Cláudio jurava amor eterno.

O fato de o calçado não ter servido no seu pé e de o príncipe ter casado com outra bem na sua frente não significou nada para a menina. Ela estava entorpecida, extasiada, completamente hipnotizada pelo que acabara de vivenciar.

E a paixão por Cláudio Lins, apesar da pouca idade, não foi efêmera. Quando Bela tinha quinze anos, “reencontrou” o artista em uma novela de Manoel Carlos e reviveu todo aquele apreço pueril que, por tanto tempo, dominou o seu coração inocente.

A partir daí, virou uma daquelas fãs embevecidas, que acompanham cada passo do ídolo. Compareceu a todos os musicais, shows e peças de teatro em que Cláudio atuava, sem se importar quando eram voltados ao público infantil. Nessas ocasiões, nem se dava ao trabalho de levar uma criancinha para disfarçar.

Até que uma vez, em um evento no Jockey Club da Gávea, teve a oportunidade de conversar com o artista. Um amigo foi parabenizá-lo pelo show que tinha acabado de fazer e aproveitou para apresentá-lo à Bela. Simpático, Cláudio tentou puxar assunto:

— E aí, gostou da apresentação? — indagou, sorridente.

Segundos de completo silêncio inundaram o ambiente. Isabela ficou amortecida pelo nervosismo: esqueceu as palavras e desaprendeu a se comunicar.

Ele tentou uma vez mais:

— Já conhecia o meu trabalho? — questionou, sendo novamente respondido pela total ausência de palavras.

Entre um silêncio e outro, Cláudio a olhava de forma fixa. Ela procurava respostas no chão, nos lados opostos, nas pessoas que dançavam alegremente. Sem conseguir estabelecer conversa alguma, o artista disse adeus e saiu. Isabela ficou ali, atônita, muda, inerte. Em silêncio.

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