3- Millena

Chego na boate no meu horário habitual de sempre e vou direto para o camarim e Luna chega exatamente junto comigo.

— Oi amiga, eu já estava com saudades de você. — Abraço-a e rapidamente ela me aperta em seus braços.

— Ai amiga, eu também estava morrendo de saudades de você. — Diz em um tom desanimado.

— Eu posso saber o porquê desse desânimo todo? O seu passeio foi assim tão ruim? — Questiono incrédula e ela me arrasta para o nosso cantinho.

— O passeio foi ótimo Safira, o problema é que eu estou preocupada com essa história de me passar por namorada do Ryan, eu não sei o que está acontecendo comigo amiga, eu estou muito confusa. — Luna me abraça tão forte que eu me preocupo com isso.

— Não adianta negar Luna, você está sim atraída por esse cara e passar duas semanas ao lado dele, não vai te ajudar em nada você sabe disso. — Alerto sendo sincera.

— Eu sei Safira mas não tem como voltar a traz agora, ele já pagou ao Raul e ele não vai aceitar devolver o dinheiro, além disso ele também já depositou a minha parte na minha conta... Já tem dois dias que a gente não se fala por causa daquela confusão que eu te contei, e amanhã é o dia de ir para casa dos pais dele em São Paulo, eu não sei se ele vai querer desistir de me levar porque ele não fez contato nenhum comigo depois que me viu dançando com o tal amigo dele. — Diz pensativa ao se lembrar de tal fato e eu fico realmente preocupada com ela.

— Relaxa Luna, se ele não ligou pra falar nada e amanhã já é o dia da viagem, então quer dizer que ele não desistiu... Fica tranquila e faz tudo exatamente como foi combinado e não se esqueça do que você não pode fazer, ok? — Alerto me referindo ao beijo e ela sabe muito bem que é disso que estou falando.

— Tudo bem amiga, obrigada... Agora vamos nos arrumar porque a invejosa da verônica está de olho em nós para depois ir fazer fofoca com o Raul. — Diz se levantando, me puxando junto.

Fomos nós arrumar e em vinte minutos já estávamos prontas, saímos para o salão juntas com as outras meninas e começamos a circular pela boate, nos separamos e cada uma vai para um canto atrás da sua primeira vítima...

Depois de alguns minutos circulando aparece o primeiro cliente e ele já havia falado com Raul, o mesmo me entrega a guia vistoriada com a assinatura do Raul e assim fomos para um dos quartos da área de cima.

A minha noite foi bem movimentada e eu atendi três cliente e fiz um bom dinheiro hoje, e amanhã já vou poder deixar para minha mãe o dinheiro do mercado. Procuro a minha melhor amiga e me despeço dela já que vamos ficar duas semanas sem nos ver.

— Por favor Luna! Me liga sempre que você precisar conversar ou precisar de um concelho, e também de um sermão ouviu? — Peço divertida e ela sorrir me abraçando.

— Obrigada minha irmãzinha, você também pode me ligar se precisar de qualquer coisa está bem? Pode ligar a hora que for não tem problema. — Alerta enquanto me solta.

— Não se preocupe tanto comigo está bem? Amanhã você vai lá e faz o que tem que fazer, e não se deixe levar por aquela tentação de homem ou isso te trará problemas com Raul, você sabe que ele não aceita que a gente tenha namorados para não atrapalhar os negócios dele. — Falo meio triste por saber que não podemos ter vida própria por causa desse maldito do Raul.

— Não se preocupe, eu vou me cuidar e você também se cuida ouviu...? Agora vai lá para não deixar a minha tia mais tempo sozinha, já já eu também estou indo pra casa. — Ela se despede e vai falar com Raul.

Vou para o camarim tomar um banho e me trocar pra ir embora, passo também para falar com Raul e acertar a noite de hoje, depois disso finalmente eu vou pra casa pois preciso muito descansar... É impressionante, na minha vida não acontece nada de bom, nada de novo, só o de sempre, de casa para a boate e da boate para casa, aff! Já estou cansada disso e sei que minha mãe se envergonha de mim por isso, mas o que eu posso fazer? Não consigo sair desse inferno que eu entrei e sei que ninguém será capaz de me tirar daqui, assim como a maioria das garotas da boate eu também queria que alguém se interesse por mim e me tirasse dessa vida, mas não vou ficar criando um conto de fadas na minha mente, se não apareceu ninguém até agora não aparecerá mais.

DUAS SEMANAS DEPOIS...

— Não vai adiantar eu dizer que você não deveria ter beijado ele, até porque você já estava apaixonada por ele e não se deu conta disso, você só o beijou porque se deixou levar pela paixão Luna. — A encaro perplexa e ela me encara atenta as minha palavras.

— Mais uma vez você tem razão Safira, eu só não sei explicar como isso aconteceu, eu não sei como pude me apaixonar por ele sem nem ao menos tê-lo beijado. — Ela suspira pensativa.

— E agora o que você pretende fazer em relação a isso? Você sabe que o Raul não vai gostar nada quando descobrir sobre isso não sabe? — Pergunto preocupada com a confusão que isso pode causar a ela.

— Não vou fazer nada, vou deixar as coisas exatamente como estão, mesmo o Ryan se declarando pra mim isso não vai me fazer mudar de idéia... Eu vou me afastar dele Safira, eu preciso fazer isso para o bem dele e o meu também. — Diz andando de um lado para o outro nervosa.

— Eu sei que você não quer fazer isso, e também sei o quanto você merece ser feliz amiga, mas esse não é o momento para arrumarmos confusão com o Raul, ele não anda com o humor muito bom esses dias. — Falo me lembrando da grosseria que ele fez com uma das meninas só por ela ter se atrasado meia hora pra chegar na boate.

— Eu sei disso, dever ter acontecido algo muito sério pra tê-lo deixado tão azedo desse jeito... Mas vamos falar de coisas boas, você se lembra que eu te falei do Maurício o amigo do Ryan? O que agora também é meu amigo? — Pergunta um pouco mais animada.

— Sim, me lembro, o que tem ele? É bonitinho? Tem grana pra perder? — Questiono divertida e ela gargalha.

— Sim, ele é muito bonito e também tem uma boa condição de vida, ele trabalha na empresa do Ryan, parece que ele é vice presidente na empresa ou algo assim, mas enfim, a questão é que eu falei muito de você pra ele e agora ele quer te conhecer. — Diz empolgada e eu respiro fundo desanimada.

— Eu não sei se ele vai gostar de mim, não sou tão bonita como você, eu só tenho sorte com velhos, aff! — Alerto frustrada e ela me encara seria.

— Para de falar besteiras Millena! Você é linda e só não teve sorte de encontrar alguém que realmente te mereça e te faça feliz, por isso fica vendo defeito em todo mundo... Mas vamos concordar que nós estamos querendo muito achando que vamos encontrar esse alguém dentro de uma boate né? — Diz ainda me encarando séria.

— Mas você encontrou Elisa, o que significa que isso não é totalmente impossível. — Rebato um pouco mais animada.

Conversamos um pouco mais e ela vai terminar de se arrumar para a sua apresentação, e como sempre sei que ela vai ficar linda. Dou algumas voltas pelo boate e até agora não apareceu nenhum cliente pra mim, me sento um pouco no bar e fico assistindo a apresentação da Elisa que como sempre está arrasando e enlouquecendo todos os homens.

— Boa noite gatinha, posso te pagar uma bebida? — Pergunta um moreno se sentando ao meu lado e até que ele é bonitinho.

— Claro bonitão, você pode me pagar o que você quiser. — Sorrio para ele que logo chama o bartender.

Por sorte o bartender se dá muito bem com todas as garotas e sabe que nós não consumimos bebidas alcoólicas durante o trabalho e toda vez que um cliente nos oferece bebidas, ele prepara algo sem álcool para nós.

— Gostei muito de você sabia? Vamos dar uma volta depois que você sair daqui? — Pergunta mexendo no cabelo e isso já me irritou.

— Me desculpe mas se quiser ficar comigo vai ter que ser aqui dentro da boate, porque lá fora eu não atendo ninguém a menos que esteja agendado com Raul. — Falo séria fazendo o seu sorriso sumir aos poucos.

— Fala sério gatinha! Você é uma prostituta e tem que me atender onde eu quiser. — Diz irritado me segurando pelo braço.

— ME SOLTA! VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO! — Grito tentando me solta e logo aparece um dos seguranças ao meu lado me tirando do aperto desse homem.

— Se você agir dessa maneira com a garota de novo, você será retirado da boate, ouviu? — Repreende Marcos me tirando dali e eu agradeci mentalmente por isso. — Você está bem Safira? Ele te machucou? — Pergunta preocupado me levando para outra área me surpreendendo com isso, os seguranças daqui nunca se preocupam dessa maneira conosco a menos que tenham algum interesse atrás disso.

— Eu estou bem Marcos muito obrigada por me ajudar, tenho certeza de que aquele infeliz tinha outras intenções comigo além do sexo. — Me lembro pensativa e Marcos parece inquieto depois do que eu acabei de falar.

— Se eu ver aquele cretino perto de você de novo, eu quebro o pescoço dele! — Esbraveja irritado e eu me assusto com a sua reação, mas no fundo foi ótimo saber que eu teria um homem para me defender aqui dentro, mesmo que esse homem seja apenas o segurança.

— Obrigada Marcos, mas não vai precisar você fazer nada porque eu não pretendo sair com ele... Bom, agora eu preciso voltar ao trabalho, com licença. — Sorrio para ele e saio andando pela boate mesmo com receio de encontrar aquele cara novamente.

Durante toda a noite eu só consegui um cliente e apesar de precisar muito do dinheiro, eu adorei não ter que transar com mais de um cliente.

No final da noite eu fui falar com o Raul e depois voltei pra me despedir das meninas, falo com todas elas e pego as minhas coisas para ir embora.

Já na saída da boate eu fico com receio de sair sozinha e fiquei ali parada por alguns minutos para ver se passava algum táxi, mas até agora nada.

— O que faz aqui fora sozinha Safira? Já era pra você estar em casa a essa hora gatinha. — Marcos se aproxima me encarando surpreso.

— Eu estou esperando um táxi, mas pra falar a verdade eu estou com medo de ir embora sozinha. — Revelo envergonhada por admitir isso, eu fiquei muito assustada com aquele homem mais cedo mesmo não sendo a primeira vez que aquilo acontece.

— Eu posso te levar em casa se você quiser, o meu turno já terminou mesmo. — Diz com um sorriso de orelha a orelha e mais uma vez me surpreendo cm isso.

— Sério? Você faria isso por mim? - Pergunto animada e por impulso o abraço empolgada. — Obrigada Marcos, você é um amor. — Retribuo ao seu sorriso envergonhada.

Ele abre ainda mais o seu sorriso mas em seguida me leva até o seu carro no estacionamento ao lado, talvez eu não devesse ter aceitado a carona dele mas eu não queria correr o risco de ir embora sozinha depois do que aconteceu com aquele cliente, a algumas semanas atrás a Luna quase foi raptada aqui na porta da boate e eu não quero correr o mesmo risco que ela, que por sorte foi salva pelo bonitão do Ryan.

Assim que chegamos na porta da pensão onde moro eu me despeço do Marcos e saio do seu carro fechando a porta.

— Espera Safira? — Pede Marcos saindo do carro e eu paro para ouvi-lo. — Posso te trazer em casa todos os dias se você quiser, e permitir é claro, quero conhecer você melhor... Você é uma garota incrível. — Diz já bem próximo a mim e eu o encaro boquiaberta.

— Marcos... Eu não sei o que dizer, eu não esperava por isso... Você sabe que tanto eu quanto as outras garotas não podemos ter nenhum tipo de envolvimento afetivo com ninguém, além disso eu não quero e não posso me envolver com alguém agora além do profissional. — Digo meio sem graça e ele me encara triste. — Se você quiser me conhecer e me ter como sua amiga eu vou adorar Marcos, mas eu não posso te oferecer mais do que a minha amizade, me desculpe. — O encaro atenta deixando-o ainda mais triste com essas palavras.

— Tudo bem, eu entendo... Não se preocupe, eu quero ser seu amigo e você sempre pode contar comigo, mas se você mudar idéia e quiser mais de mim, eu vou estar sempre a sua espera. — Diz suavizando um pouco mais a sua expressão e me dá um beijo no rosto, saindo em seguida.

Fico aqui parada sem entender nada do que aconteceu agora, eu que pensei que nenhum homem me veria além de uma prostituta e de repente aparece o Marcos me pegando totalmente de surpresa com essa declaração, bem que eu queria corresponder aos seus sentimentos mas eu não sinto o mesmo por ele, e nem poderia, eu não quero arrumar problemas pra mim e para ele, o Raul nunca permitiria um envolvimento entre os funcionários, se é que posso colocar assim.

Entro em casa com os pensamentos em Marcos, confesso que além de surpresa eu também fiquei mexida com o interesse dele por mim, se fosse antes de eu entrar na boate com certeza eu tentaria algo com ele, ou talvez não, ah sei lá.

Deixo os meus pensamentos de lado e vou dar um beijo na minha mãe antes de ir dormir, graças a Deus e aos remédios ela não está tossindo mais.

Na manhã seguinte acordamos assustadas com alguém esmurrando a porta e achamos que estavam tentando arrombar a nossa casa, mas então ouvimos a voz do Sr. Castilho, o dono da pensão, vou até a porta ver o que ele quer e assim que abro a porta ele já entra gritando e me mandando sair da casa, fico tentando entender o que estava acontecendo mas nada me vem na mente.

— Saiam já dá minha casa! Eu não quero mais vocês aqui porque eu avisei que essa pensão é um ambiente de família, e vocês mentiram pra mim se passando por pessoas decentes! — Ele grita apontando o dedo na minha cara e eu continuo sem entender.

— Pelo amor de Deus Sr. Castilho se acalme, vamos conversar pra gent... — Tento conversar mas ele me interrompe.

— Cala a boca sua impura! Eu avisei que não aceito prostitutas na minha pensão e vocês são... — O interrompo antes que insulte a minha mãe.

— OLHA BEM COMO SENHOR FALA DA MINHA MÃE! ELA NÃO TEM NADA A VER COM O QUE EU FAÇO ENTÃO É COMIGO QUE O SENHOR TEM QUE RESOLVER! — Grito ainda mais alto que ele que me encara assustado. — Se o senhor faz tanta questão eu saio da sua pensão, mas a minha mãe vai ficar porque ela não tem nada a ver com o que eu faço! O senhor sabe que ela está doente e não tem para onde ir, nós sempre pagamos o aluguel em dia, nunca devemos nada ao senhor então por favor deixa ela ficar até eu encontrar outro lugar pra ela, e eu saio agora mesmo. — Falo um pouco mais calma e com lágrimas nos olhos, eu não queria ter que deixar a minha mãe ainda mais sozinha que antes.

— Não filha! Se você sair eu saio com você! Não vou te deixar sozinha Millena eu vou com você! — Minha mãe se mete onde eu não chamei, ela não pode sair daqui e eu não vou permitir isso, não agora.

— Pelo amor de Deus mamãe não complique ainda mais as coisas, você vai ficar aqui sim! Eu vou dar um jeito de conseguir logo um outro lugar pra nós não se preocupe. — Abraço-a forte e nós duas choramos.

— A sua mãe pode ficar! Mas eu quero você fora da minha pensão imediatamente! — Diz ele passando por mim e para na porta me olhando feio.

— Não se preocupe! Eu vou sair, só vou pegar as minhas coisas! — Rebato indo para o quarto com a minha mãe e ele sai batendo a porta.

— Pra onde você vai minha filha...? Onde você vai dormir meu anjo...? Eu não queria ver você passando por isso minha filha... — Me questiona chorando.

— Mamãe não se preocupe comigo, hoje eu vou dormir em um hotel mas amanhã eu vou correr atrás de um lugar melhor pra nós duas não se preocupe. — Falo enquanto pego as minhas coisas. — Eu já vou mamãe, me liga se precisar está bem? E por favor fique calma e não se altere está me ouvindo? — Abraço-a novamente sentindo o meu coração doer por deixá-la.

— Vai com Deus minha filha... E que ele te abençoe, se você não conseguir um lugar pra ficar você me avisa por favor Millena, eu dou um jeito de você entrar aqui sem ser vista está bem? — Diz ainda chorando se soltando de mim.

— Está bem mamãe, obrigada... Eu te amo, você é a minha vida. — Beijo e abraço ela forte mas logo me solto dela, saindo da casa deixando ela chorando e isso me corta o coração.

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