Capítulo VI

Eleanore quase engasgou com o leite, processando a informação que recebera do fantasma. Ainda estava digerindo o fato de que estava mesmo na presença de um fantasma, mas agora, estava mais nervosa com a chegada do anfitrião da casa.

Por alguma razão que ainda desconhecia, estava nervosa com a ideia de conhecê-lo.

 – Mas está dormindo. – June se apressou em completar a frase de Sam – E eu, se fosse você, não iria acorda-lo agora. Vince fica de mal humor quando é acordado.

 – Ele também fica de mal humor por vários outros motivos. – acrescentou Bash.

 – Você é um deles – murmurou Sam, olhando para o gato Sebastian.

 – Entendi. E o que eu faço até ele acordar? – ela perguntou, inquieta, não querendo demonstrar toda a ansiedade que sentia, mas as mãos se torciam uma contra a outra sobre seu colo.

 – Por que não ajuda June a colher ervas no jardim? – sugeriu Bash, entre lambidas que estava dando em sua patinha de gato. Ele lançou um olhar cheio de malícia para June com um significado íntimo que Eleanore desconhecia.

June lançou à ele um olhar raivoso.

Eleanore tinha a leve sensação de que June não gostava dela. Embora tivesse visto a irritação no rosto dela, Eleanore tinha ido ajudá-la a colher as ervas. Verdade que tudo o que fizera fora ficar agachada perto de June, segurando uma cesta, enquanto June arrancava e separava as ervas.

June a explicou, com um tom irritado, o que cada erva fazia e para que era usada. Ela disse que as usava para fazer poções e que, uma delas, foi usada para curar a perna de Eleanore. Ela ficou realmente fascinada com as habilidade de June, queria ter esse tipo de conhecimento e não apenas saber como se portar e como ser adorável.

Por alguma razão, June parecia ter raiva de Eleanore e não gostava da presença dela naquele castelo, embora Eleanore não soubesse dizer o porquê. Talvez ela realmente não devesse ter entrado naquele lugar e provavelmente o Mestre deles a expulsaria, assim que a visse.

Ela ficou surpresa em perceber que não queria ir embora. Tinha ficado apenas um dia naquele castelo, mas tinha certeza de que jamais veria um lugar como aquele novamente. Nunca tinha pensando que algo como magia pudesse existir, mas, agora que sabia de sua existência, estava avida para saber mais sobre tudo aquilo, embora ainda a amedrontasse um pouco. Ela não queria voltar para sua realidade deveras comum e infeliz.

O sol já estava se pondo quando June terminou com as ervas. Ela foi em direção a uma escada espiralada, que ficava na outra extremidade do corredor, onde estava o quarto de Eleanore. Ela fez menção de seguir June, mas a garota a impediu, dizendo para que Eleanore esperasse em seu quarto para o jantar. Ela ficou ligeiramente desapontada, queria saber o que tinha lá em cima e o que como June fazia as tais poções.

O jantar foi quase tão caótico quanto o café da manhã. Foi servido um grande leitão, embora apenas June, Eleanore e Bash comessem.

Eleanore percebeu que eles não tinham muita etiqueta à mesa, se tratavam de forma bastante informal, falando alto e quase ao mesmo tempo. E, toda vez que aquele corvo falava, todos mandavam ele se calar. Além disso, todos pareciam ter um forte laço afetivo, uma ligação, como Sam dissera. Mesmo June, que parecia ser mais indiferente. Eles eram uma família de verdade e Eleanore gostava de observar a estranha interação entre eles.

Aquilo era completamente diferente dos jantares quietos de sua antiga casa, com todas as normas de etiqueta e certamente sem nenhum objeto voando por forças magicas.

O tal do Mestre não aparecera para jantar, o que deixou Eleanore ainda mais inquieta.

Ela chegou a perguntar se ele não chegaria a acordar aquele dia, mas todos responderam de forma vaga, o que acabou fazendo Eleanore se perguntar se ele de fato existia.

Quando voltou para seu quarto, Eleanore ficou observando a floresta pela janela, esperando ver a besta novamente, mas ela não apareceu àquela noite. Ela não sabia dizer porque exatamente queria vê-la, já que lhe daria pesadelos pelo resto da vida.  

Eleanore ficou andando de um lado a outro, imaginando que tipo de pessoa o tal de Vince seria e se consideraria deixa-la ficar, ao menos temporariamente, para que ela pudesse pensar em alguma solução mais definitiva para sua vida.

Era estranho pensar que ela se sentiria tão bem em um castelo assombrado, cujos moradores eram uma menina emburrada, um garoto fantasma, um gato homem espírito familiar, uma elemental do fogo e um corvo falante.

 Como estava com insônia, Eleanore decidiu ir até a cozinha, talvez encontrasse Amber e pudesse conversar com ela, convence-la a influenciar seu Mestre a deixa-la ficar por algum tempo. Ela parecia ser a mais gentil entre todos.

Assim que chegou no andar térreo, congelou. Havia alguém sentado em uma das poltronas perto das estantes de livros, mas não era ninguém que Eleanore já tivesse visto no castelo. Ele tinha um livro de capa de couro bem grosso na mão e uma vela pairava no ar bem perto de seu rosto.

Ele ergueu o olhar assim que ela estagnou no lugar. Estava usando calças folgadas e camisa larga de dormir. Seu cabelo tinha um tom branco estranho, feito neve, caindo por sobre o ombro, preso em um baixo rabo-de-cavalo. Mas, apesar do tom de seu cabelo, ele estava longe de ser um homem velho, tinha um rosto jovial, não podia ser muito mais velho que ela própria. Seus olhos tinham o brilho dourado da vela e Eleanore não conseguiu definir qual era a cor deles.

 – Quem é você? – ela questionou, engolindo em seco, sentindo-se repentinamente apreensiva.

Lentamente, ele fechou o livro e o apoiou no braço da poltrona, entrelaçando os dedos sobre seu colo. Seu olhar vasculhou Eleanore, como se pudesse ver tudo dentro dela, o que a fez se sentir absurdamente exposta e vulnerável.

 – Sou Vincent Maddox e essa é minha casa. A verdadeira pergunta é: quem é você?

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