Trégua

                      Mark Fletcher

Depois de toda a esperança que floresceu dentro de mim, não pude simplesmente voltar para o trabalho, e deixar Alison aqui, sem me resolver primeiramente com ela, então depois de falar com ela, liguei no escritório, pedi pra minha secretária reservar um quarto para mim em um hotel da cidade, pedi que informasse ao John, para que me trouxesse algumas mudas de roupas, e o meu carro. Assim como pedi para que cancelasse meus compromisso de hoje, pois não voltarei para a cidade este fim de semana. Preciso estar aqui, pronto e disponível pra poder resolver essas questões com ela.

Já passa das 16h, e até agora, Alison não retomou contato comigo. Estou começando a ficar impaciente, e isso não é bom. Ficar andando para um lado e outro desse quarto, vai acabar me deixando paranóico. Mas eu não posso fazer nada, a não ser, esperar. O que custa muito de mim, pois não sou um homem que costuma esperar pelas coisas.

Resolvo, por fim, tomar um banho, para quem sabe, conseguir ficar um pouco menos ansioso.

                  

                       Alison Pines

- Nick, estou indo.

- Tudo bem, Ali, te vejo na segunda.

- Até segunda, Nick!

- Tchau.

Arrumar esse emprego de meio período durante a semana, foi ótimo pra mim. Além de me ajudar financeiramente, tem dado um bom resultado psicológico também. Não sei o que eu teria feito, todo esse tempo, trancada em casa, pensando no Mark. Provavelmente estaria deprimida a essa altura.

Mark... Foi tão bom vê-lo hoje. Havia dias que eu não sentia meu coração bater tão rápido, quanto bateu hoje. Eu senti tanto a falta dele, da presença que ele tem, de como me olhava, e como me tocava. Tudo o que precisava era sentir o toque de sua mão em mim, como era sentir sua mão sobre o meu rosto quando eu dormia, cada deslise suave que ele traçava sobre meu rosto. Nossa, isso pode mesmo ser possível? Sentir falta assim de alguém?

Hoje notei seu olhar diferente em mim. Costumava ser de uma intensidade avassaladora, de me arrepiar todo o corpo. Mas hoje, estava diferente, como se seu olhar estivesse perdido, sem o brilho habitual, sem a intensidade que me fazia perder o jeito. O que será que houve, para ele ter mudado assim? Eu poderia obter as respostas com uma simples mensagem.

Eu tenho que admitir, fiquei muito feliz de vê-lo, e mais ainda dele vir falar comigo. E me gerou uma certa ansiedade, ele querer me encontrar depois da cerimônia. Eu não podia faltar no trabalho, então tive que aguentar o máximo que pude dessa ansiedade dentro de mim.

Eu poderia agora, correr e me encontrar com ele, mas será que isso seria seguro? Não dá pra negar que ainda sinto certo receio com relação a ele. O fato que eu ter sentido a falta dele, não anula o jeito como me senti quando descobri aquele quarto. Precisava mesmo ter sido daquele jeito, me causando tamanho receio por ele?

Fico dividida entre o receio, e a ansiedade de poder vê-lo. Como é possível ficar tão dividida assim?

Mas eu posso escolher onde vê-lo, facilitando muito as coisas. Eu poderia escolher o lugar mais público possível, garantindo assim, minha total segurança.

Porém, se formos flagrados juntos em algum lugar público, o inferno volta para a minha porta, e isso eu realmente não quero. Agora não sei o que fazer.

Coloco meus fones de ouvindo, e ponho uma música suave para me ajudar pensar melhor sobre isso, enquanto caminho até a minha casa.

Para o meu azar, a primeira que toca meus ouvidos, não é nada do que eu esperava. Ao som de Abril Lavigne, wish you were here, sou tomada pela extrema necessidade de estar com Mark.

🎶 "Todas aquelas coisas malucas que fizemos

Não pensamos a respeito, apenas fomos na onda

Você sempre estava lá, você estava em toda parte

Mas agora eu queria que você estivesse aqui...

...Eu amo o jeito que você é, e quem eu sou, não tenho que me esforçar

Nós sempre dizemos "diga como isso é"

E a verdade é que eu realmente sinto sua falta..." 🎶

- Merda! Porque tinha que ser logo essa música? Assim fica difícil pensar nos prós e contras.

E por mais louca que eu possa parecer, coloco a música no repeat, pois pensar nele agora, está me deixando bem. Pensar em como ele estava lindo naquele terno, e em como seu cabelo estava bem arrumado, e o perfume que ele exalava, tudo isso me faz sorrir feito boba.

Sinto uma brisa fria tocar meu rosto, e resolvo fechar meu casaco e colocar a touca sobre minha cabeça.

Trabalhando na loja, sou obrigada a usar calça jeans, o que por sinal, parece ótimo agora, já que se estivesse com um dos meus vestidos, passaria frio.

Continuo minha caminhada para casa, e decido enviar a mensagem para o Mark.

" Boa noite, Sr Fletcher!

Já que você insiste em querer conversar comigo, então me encontre em frente a minha casa, em uma hora."

Envio a mensagem.

- Seja o que Deus quiser.

Quando estou na calçada de casa, percebo de longe, uma silhueta bastante conhecida pra mim.

Meu sorriso se abre de forma espontânea. Difícil seria segura-lo, assim como controlar as batidas do meu coração.

Um calor sobe por todo o meu corpo, e meu estômago parece infestado de borboletas.

Ai meu Deus, ele está aqui! À minha espera. A vontade que tenho, é de correr até ele, e grudar nele em um abraço sem limite de tempo para acabar. Sentir seu cheiro próximo a mim, e beijar incessantemente a sua boca, acabando de vez, com toda a saudade que sinto dele.

Mas não posso fazer isso, tenho que controlar meus impulsos, e obter o máximo de informações possíveis, para saber se é seguro me sentir assim com a presença dele.

Quando me aproximo mais, vejo que ele olha para a janela do meu apartamento, e ainda não notou a minha proximidade.

Parece mesmo uma visão do pecado. Ele recostado no carro, com uma perna cruzada sobre a outra, com as mãos nos bolsos, e olhos atentos a minha janela. E suas roupas casuais, calça de moletom, e uma camisa de manga longa, dão um toque bem relaxado nele. Sem falar em seus cabelos levemente bagunçados.

Ele fica muito atraente trajando seus ternos, mas casual, fixa tão sexy.

- O que faz aqui? - o surpreendo.

- Alison! - eu o encaro curiosa. - Eu... Bom, recebi sua mensagem, e eu estava por perto, então resolvi esperar aqui.

- Hmm. - me parece suspeito. - Estava rondando meu bairro?

- Não! Eu realmente só estava por perto. Mais específicamente, em um café aqui próximo.

- E resolveu vir ficar aqui, esperando pela próxima hora? - o encaro com olhos semicerrados.

- Sim. Não vejo problema em esperar. - ele pigarreia, e parece desconcertado. - Você não estava em casa?

Será mesmo que ele não sabe mais o tenho feito nos meus últimos dias? Será que está mesmo, longe de ser um louco que gosta de me vigiar? Vamos fazer um teste.

- Ah, eu estava com o Nick, o meu...

Percebo ele ficar confuso, e o fato de prolongar a última palavra, o deixa apreensivo. Pelo menos isso, me deu a entender que ele não sabe de quem estou falando.

- ...deixa pra lá. Isso não importa agora.

Ele parece mesmo sem jeito, como se não soubesse onde colocar a cara.

- Você deixou o SEU Nick, para poder me ver? - ele encara o chão. 

Bingo, era tudo o que eu precisa, para saber que ele não estava mais me vigiando. E o fato dele não saber do Nick, me deixa muito aliviada.

- Eu não o deixei para ver você, apenas precisava vir para casa. - sorrio.

- Acho que o seu Nick, não vai ficar muito feliz em saber que você está de conversa com outro homem. - ele parece enciumado.

- Meu gerente não se importa com quem eu converso, fora do horário de trabalho.

Percebo seus olhos se arregalarem ao ouvir minhas palavras, e ele parece ficar envergonhado. Olha para um lado e outro da rua, e coça a cabeça.

- Seu gerente? Você está trabalhando?

Ótimo, ele não parece fingir estar desinformado.

- Sim. Precisei me manter ocupada.

Seus olhos param nos meus, e por alguns segundos, nenhum de nós deseja desvia-los, ou dizer alguma coisa. Como se compartilhassemos, da mesma necessidade de nos manter em sã consciência.

- Entendo. - ele diz por fim.

- Você quer subir?

- Sim! - ele se apressa em responder. - Digo... Eu realmente gostaria de poder conversar com você, mas fica a seu critério onde isso seria feito.

- Tudo bem. - me viro para ir até o portão, mas me volto para ele de novo. - Mas... ainda está de pé, a sua palavra de que não me machucaria, certo? - seu espanto chega a ser doloroso. - Calma, eu tô brincando. - lanço um sorrisinho.

Eu tô me sentindo tão aliviada de saber que ele está se portando como alguém normal, que não sente mais a necessidade de estar demarcando meus passos, e nem vigiando em torno da minha vida, que até consigo fazer piada.

Quando subimos as escadas, ele permanece calado, e apenas encara os degraus. E eu não sei se ele está pensando no que vai me dizer durante a conversa, ou se apenas está reticente pela minha piada de extremo mal gosto. Mas agora é só esperar para ver.

Entramos no apartamento, e uma música bem agitada está tocando. Jane está em casa, e deve estar aproveitando sua sexta à noite.

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