Alfa Gray
Alfa Gray
Por: C.J. Primer
Capítulo 1
FALLON

Eu mal dormi ontem à noite. Os últimos dias foram cansativos, com a graduação do ensino médio e todas as celebrações que acompanham esse feito, mas eu estava muito concentrada para descansar. De muitas maneiras, sinto que esperei por hoje por toda a minha vida.

"Brooke!", eu chamei, jogando um travesseiro do outro lado da sala. Caiu na minha irmã que estava dormindo e eu a ouço resmungar.

Eu atravessei o quarto até o banheiro da suíte, chutando a cama dela enquanto passava.

Ligo a luz no banheiro, bocejando enquanto estudo meu reflexo no espelho. Meu cabelo loiro liso é uma bagunça emaranhada, então a primeira coisa que faço é escová-lo suavemente até que eu possa prendê-lo em um longo rabo de cavalo. Depois troco meus óculos fundo de garrafa por lentes de contato e escovo meus dentes. Quando saio do banheiro, Brooke está sentada na cama, piscando os olhos de sono.

Brooke chega à mesa de cabeceira para pegar seus óculos, pousando as grandes armações pretas na ponta de seu nariz. Temos os mesmos óculos, e mesmo sendo gêmeas idênticas, juro que ela combina muito mais com o look de nerd do que eu. "Que horas são?", ela pergunta, sonolenta, deslizando a manta para fora de seu corpo.

Eu jogo um sorriso sobre o meu ombro e balanço as minhas sobrancelhas. "Está na hora de ir embora desse lugar."

Brooke e eu moramos em Summervale a vida toda. Nossa cidadezinha monótona localizada no deserto do Colorado provavelmente não pareceria algo especial para um turista, mas todos os residentes têm algo em comum, um segredo bem guardado: nos transformamos em lobos.

A maioria das pessoas pensam que lobisomens são coisas de contos de fadas, mas há alcateias de lobisomens em todo o mundo, escondidos à vista de todos. Como espécie, tendemos a nos manter em segredo para nos proteger. A maioria das alcateias tem seus próprios territórios, cidades e escolas, para que possamos ficar separados da população geral e viver sem o medo de sermos descobertos. Somos geralmente cautelosos com selvagens, porque desde pequenos foi enraizado em nós que revelar nosso segredo para um humano pode levar à nossa extinção.

Quando criança, lembro-me de muitas conversas silenciosas sobre a segurança da nossa alcateia em nossa cidadezinha. As alcateias de lobisomens geralmente se mantêm atentas umas às outras e não têm muito conflito, mas cerca de seis anos atrás, um alfa forte e faminto do noroeste do Pacífico começou a lançar ataques a outras alcateias, derrotando seus líderes e anexando seus territórios. Ao fazer isso, começou a formar uma alcateia massiva, que ele chamou de "Alcateia de Sombras", e parecia empenhado em continuar seu reinado de terror até conseguir usurpar o poder de todas as outras alcateias na América do Norte. Quando tudo começou, vivíamos em um estado constante de apreensão, de que a Alcateia de Sombras viria atrás de nós. Brooke e eu ainda éramos novos, então não tínhamos conhecimento de muitos detalhes, mas lembro que nossos pais nos ensinavam planos de fuga caso nossa alcateia fosse atacada.

Tudo mudou para nós há cerca de cinco anos, quando nossa alcateia formou uma aliança com outras cinco. Eles se mudaram para os territórios ao redor e nós formamos uma espécie de "super alcateia", onde cada grupo individual permaneceu autônomo, mas trabalhávamos juntos e dávamos apoio um ao outro. Todas as alcateias se uniram pela necessidade de nos proteger da crescente Alcateia de Sombras, mas a cooperação realmente deu certo, e nosso pequeno cantinho não era mais tão pequeno. Com o afluxo da população, vieram mais oportunidades, e o lugar se construiu muito rápido. Em nossos territórios, agora temos uma cervejaria de sucesso, loja de ski e inúmeros negócios. O turismo na periferia traz muito dinheiro, e nós somos capazes de manter essa área turística separada do resto do território da alcateia para que não tragamos selvagens para dentro do território. Formamos uma aliança para sobreviver, mas agora estamos prosperando.

Como nossa aliança é composta por seis alcateias, algumas pessoas, brincando, começaram a se referir ao coletivo como a "alcateia de seis" e o nome ficou. Mesmo que nos chamemos de alcateia de seis e nossos interesses estejam alinhados, permanecemos seis alcateias muito separadas, cada uma com seu próprio alfa. Cada um de nós vive em nossos próprios territórios e tem nossos próprios modos de vida. Os seis alfas formam uma espécie de conselho quando tratam de assuntos que afetam os territórios como um todo e sua segurança, e o grupo de seis tem um esquadrão de segurança coletiva. O esquadrão é composto pelos melhores lutadores de cada uma das seis alcateias e trata de tudo, desde grandes ameaças até rotineiras patrulhas de fronteira. A partir do momento que o esquadrão foi formado, eu sabia que queria fazer parte disso. Eu tinha que fazer parte disso.

Nunca fui uma ótima aluna. Enquanto minha irmã gêmea tirava facilmente notas excelentes na escola, eu estava faltando às aulas e fumando cigarros atrás das arquibancadas. Eu sei que é clichê, mas mesmo compartilhando um útero, Brooke e eu realmente não poderíamos ser mais diferentes. Ela é atenciosa, cautelosa e brilhante, enquanto eu sou imprudente, descuidada e teimosa. Eu sempre fui desleixada, e uma viagem de campo ao centro de treinamento do esquadrão quando eu tinha 14 anos foi um grande ponto de virada para mim. Eu nunca tinha pensado muito no futuro, mas ver os lutadores naquele dia despertou meu interesse em algo pela primeira vez. Eu sabia que queria ser um deles, e daquele dia em diante, eu me dediquei a treinar.

O esquadrão de segurança não é algo que você pode se inscrever depois da graduação do Ensino Médio, você tem que passar por um verão cansativo de treinamento e ser selecionado. O esquadrão é muito importante para a alcateia de seis, então eles recrutam em massa. Quando eu ainda estava na escola, alguns lutadores do esquadrão vinham ao colégio uma vez por semana para fazer um curso de treinamento, e aqueles que tinham aspirações de fazer parte do esquadrão continuariam a treinar uns com os outros durante a semana. Tentei convencer Brooke a treinar comigo, mas ela estava mais interessada em seu computador do que sujar as mãos de sangue. Mas isso funcionou para ela, porque o esquadrão de segurança não é só composto de músculo. Há um pequeno grupo de pessoas experientes em tecnologia que trabalham na unidade de TI do esquadrão de segurança, rastreando os movimentos da Alcateia de sombras e qualquer outra potencial ameaça. Brooke é uma pequena gênia hacker, então ela foi convidada para participar. Ela nem precisou competir ou provar suas capacidades. Vadia sortuda.

Eu costumo deixar as coisas para o último minuto, então é claro que eu ainda estou arrumando minha mala para o acampamento de treinamento de verão com quase nenhum tempo de sobra. A mala na minha cama está cheia, e eu me inclino sobre ela para tentar a forçar a fechar. Posso ouvir Brooke rindo do outro lado da sala enquanto me vê sofrendo.

"Que tal uma ajudinha aqui?", resmungo, transferindo mais do meu peso para o topo da mala. Eu levanto minha cabeça para ver Brooke deslizar para fora de sua cama, cruzando o quarto em minha direção. Ela acena para eu ficar fora do caminho e se vira para sentar na minha mala.

"Aqui", diz Brooke, balançando em uma posição para que todo o seu peso esteja diretamente em cima da minha bagagem. "Você fecha. Você é mais forte do que eu.

É verdade, é verdade. Enquanto somos geneticamente idênticas, os mesmos olhos azuis, cabelos loiros longos, pele bronzeada, e corpo alto e magro, eu ganhei muito mais músculos durante meu treinamento nos últimos quatro anos. Eu luto com o zíper por alguns minutos, e com o peso da Brooke por cima, eu sou milagrosamente capaz de fazer a mala super cheia fechar.

Enquanto Brooke vai ao banheiro escovar os dentes e se preparar, eu tiro meu pijama e visto um par de leggings de cintura alta, um sutiã esportivo branco, e uma camiseta branca curta. Ela surge alguns minutos depois de jeans preto e camisa xadrez, pegando sua mala que estava no canto. Claro que ela já está pronta. Não posso deixar de revirar os olhos.

Nós descemos para tomar café da manhã rápido com nossos pais e nos despedir, mamãe está especialmente emocionada por suas filhas estarem adultas e estarem prestes a sair de casa. Eu dou-lhe um abraço e ela acaricia minha bochecha, embalando meu rosto em suas mãos.

"Vocês vão pelo menos voltar para a corrida da lua cheia?", ela pergunta, e eu tenho que evitar a minha resposta sarcástica habitual. Eu sei que ela vai sentir nossa falta, mas também sei que ela tem motivos escondidos em perguntar se voltaremos para a corrida. Brooke e eu fizemos 18 anos no mês passado, o que significa que agora temos uma chance de encontrar nossos companheiros. O vínculo de companheiro é algo único para os lobisomens e só pode ser acionado em luas cheias. Se estivermos perto de nosso companheiro na lua cheia, nossos lobos nos levarão um ao outro e o vínculo de companheiro vai se estabelecer. Meus pais descreveram a experiência do vínculo com o companheiro como uma coisa incrível, mas acho que sou um pouco cínica. Eu acho que é um pouco injusto que não possamos escolher quem amar sozinhos. Eu só tenho que aceitar isso? Todo esse conceito parece antiquado para mim.

Brooke não compartilha do meu cinismo. No fundo, ela é romântica. No entanto, ela disse que não está pronta para encontrar seu companheiro ainda porque ela não quer que nada tire seu foco de seus estudos ou suas coisas de computador. É por isso que ela não namorou no ensino médio. Eu não namorei porque não vi nenhum sentido em desenvolver sentimentos por alguém que provavelmente não vai acabar sendo meu companheiro destinado. As chances de escolher alguém que acaba sendo seu companheiro destinado são tão raras que eu não vejo como namorar vale o inevitável desgosto. Suponho que o destino escolherá para mim eventualmente, mas até lá, continuarei vivendo minha própria vida.

"Vamos ver se podemos ir", eu disse à minha mãe, embora eu realmente não planeje voltar para a corrida da lua cheia. Preciso que todo meu foco neste verão esteja no meu treinamento.

Mamãe sorri, me abraçando. Ela é muito mais baixa que nós, Brooke e eu definitivamente temos a altura do nosso pai, mas mesmo sendo baixinha, ela dá os melhores abraços de urso. Por mais ansiosa que eu esteja para finalmente sair de casa, tenho que admitir que sentirei falta dos abraços dela.

Papai nos leva à praça da cidade para pegar o ônibus para o campo de treinamento e é extraordinariamente falador na curta viagem. Ele nos diz o quanto está orgulhoso por nos juntarmos ao esquadrão, e isso começa a me fazer perceber o quanto vou sentir falta dos meus pais. Mas não posso pensar nisso. É o primeiro dia da minha vida independente.

Alfa Anders veio à praça da cidade para ver o grupo de recrutas da nossa alcateia, e papai parou para conversar com ele enquanto Brooke e eu fomos nos juntar aos nossos colegas de classe. Há quinze de pessoas da nossa alcateia que estão indo para o campo de treinamento de verão e os outros recrutas já estão colocando suas bagagens dentro do ônibus.

"Fallon! Brooke!”, ouço uma voz chamando, e Boyd levanta uma mão para acenar e mostrar onde ele e Davis estão, ao lado do ônibus. Boyd e Davis são meus amigos próximos, com quem treinei durante nos últimos anos. Boyd é alto e magro, com cabelos castanhos desgrenhados e pele bronzeada. Ele é convencionalmente atraente, com uma mandíbula quadrada e características bonitas. Acho que não me importaria se ele acabasse sendo meu companheiro, isso seria mais uma saída da friendzone. Tenho certeza que ele sempre teve uma queda por mim, ele é um pouco sem vergonha, mas nunca senti essa química entre nós. Talvez seja isso que o vínculo de companheiro acrescentaria.

"Ei, linda", Boyd murmurou quando nos aproximamos, lançando um piscar de olho na minha direção.

Eu rolo meus olhos, rindo baixinho. "Ei, Boyd. Vejo que você não levou muita coisa nas malas", eu brinco.

"Já guardei as minhas malas. Aqui, me deixe pegar a sua. Boyd estende a mão para a alça da minha mala antes que eu possa protestar, a puxando em direção ao ônibus.

"Eu posso levar a sua, Brooke", Davis oferece, se movendo em direção a ela. Para um cara que quer ser um lutador, Davis é um dos caras mais doces que eu já conheci. Nunca pensei que ele tivesse temperamento para o esquadrão de segurança, mas ele é realmente impressionante quando se trata de luta. Ele não é tão alto quanto Boyd, mas cresceu alguns centímetros no último ano. Enquanto ele carrega a mala de Brooke em direção ao ônibus, os músculos tonificados sob sua camiseta ondulam com seus movimentos. Davis tem cabelo loiro arenoso e olhos verdes, e como Boyd, ele é convencionalmente atraente, mas ao contrário de Boyd, eu realmente espero que ele não acabe sendo meu companheiro. Ele é muito doce. Eu acho que acabaria me aproveitando dele.

Alfa Anders diz algumas palavras de despedida, basicamente nos lembrando que nossas ações enquanto estamos fora refletirão sobre ele e toda a alcateia, e a próxima coisa que me dei conta foi que estou acenando para meu pai pela janela do ônibus enquanto ele sai da praça da cidade.

"É só por algumas semanas", diz Brooke, numa tentativa de se reconfortar.

"Você não está realmente pensando em voltar para a corrida da lua cheia, não é?", eu pergunto, mudando meu lugar para enfrentar minha irmã.

Brooke encolheu os ombros, empurrando os óculos pelo nariz. "Quero dizer, vai ser bom ver a mamãe e o papai..."

"Mas você realmente quer um companheiro? Já?”, eu zombo, balançando a cabeça. "Não deixe a mamãe te pressionar..."

"Eu não estou deixando", Brooke interrompe. Ela dobra os braços em seu peito indignada. "Eu só vou sentir falta deles, mais nada. E você sabe como é a minha loba, ela tem que correr na lua cheia.

"Bem, que assim seja", eu respondo, ceticismo escorrendo do meu tom.

É a vez da Brooke revirar os olhos agora. "Podemos decidir mais tarde", diz ela, efetivamente deixando de lado o tema da conversa.

Eu sei que Brooke não vai voltar para casa para a corrida de lua cheia se eu não quiser vir com ela, mas eu também sei que se ela realmente quiser, eu vou também. Podemos não ter mais muito em comum, mas ainda fazemos tudo juntas. Ela é minha melhor amiga. Não há ninguém no mundo em quem confie mais do que Brooke.

"Então, como você acha que vai ser?", Boyd pergunta, jogando o braço sobre o assento na nossa frente e esticando a cabeça em nossa direção. Davis está sentado ao lado dele e rapidamente segue o exemplo, olhando para mim e Brooke.

Eu encolhi os ombros. "As pessoas dizem que é o inferno, mas não posso imaginar que alguém esteja mais preparado do que nós." Estou tentando ser legal para não mostrar minha apreensão sobre o campo de treinamento. Treinamos tanto o ano todo, mas agora é quando vai realmente contar. E se eu não for bom o suficiente? E se eu for eliminada? Eu tento tirar esses pensamentos da minha cabeça, mas eles permanecem.

"Estou feliz que todos nós podemos fazer isso juntos", diz Davis, exibindo seu sorriso enorme. Isso imediatamente me faz sentir segura.

"Vamos ver se você vai continuar dizendo isso depois que eu derrubar você no treino", eu rio, cutucando seu braço com meu punho.

"Oooh, ela vai acabar com você lá!", Boyd ri, socando o braço de Davis brincando. Ele faz uma careta, revirando os olhos e mostrando a língua.

Eu me viro para Brooke, que está olhando pela janela, enquanto dirigimos na estrada sinuosa pela floresta. Posso ver o rosto dela na janela, mas não consigo ler sua expressão. Nervosa? Triste? Eu pego a mão dela, apertando um pouco. É o nosso sinal secreto de "você está bem?".

Brooke se vira para mim, dando um pequeno sorriso, embora eu possa dizer que ela está forçando. Ela aperta minha mão para me dizer que está bem, mas algo parece errado.

"Que foi?", eu pergunto, os meninos entendem a deixa da minha voz abafada para que voltassem para seus assentos, e nos dar um pouco de privacidade.

Brooke balança a cabeça: "Nada".

Levanto minhas sobrancelhas, fazendo pressão com meus olhos para ela falar.

Ela suspira. "Eu só... Vai ser estranho estar longe de casa. Longe de você. Isso é tudo.

"O que você quer dizer? Nós as duas vamos estar no campo de treinamento juntos..."

Brooke balança a cabeça. "Nós não sabemos o quanto vamos nos ver, nem ao menos sabemos se realmente iremos nos ver. Pelo menos você tem Davis e Boyd. Eu vou ficar sozinha..."

Eu pego a mão da Brooke de novo, lhe dando um aperto reconfortante. "Não, você não vai. Nós nem sabemos como vai ser ainda! Você não precisa se preocupar tanto.

Eu forço um sorriso, mas percebo que Brooke está certa. Não sabemos se nos veremos todos os dias neste verão ou não. Um nódulo começa a se formar na minha garganta enquanto eu considero como seria passar o verão inteiro sem minha gêmea.

"Sim", Brooke respira, relaxando um pouco os ombros. "Você está certa. Vamos ter que esperar para ver.

Acho que ela está tranquila, mas não posso dizer o mesmo de mim mesma.
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