PARTE II ::: CAPÍTULO 4

PARTE II

As 40 semanas

CAPÍTULO 4

Tinham poucas caixas para desempacotar. Uma vez que a mudança do casal tinha se resumido à livros, blu-rays, roupas e alguns poucos itens de decoração da residência que tinham no Brasil.

Adquiriram a casa já praticamente toda mobiliada, faltava um detalhe ou outro, uma estante aqui e ali, as mesas de escritório e cadeiras, além dos eletrônicos necessários em suas vidas: computadores, smart TVs e um ou dois consoles de videogames.

Trocaram o clima quente carioca pela temperatura amena para fria do estado de Illinois por conta do antigo sonho de Henrique de morar fora do país. Quando a oportunidade surgiu para Mack para gerenciar uma equipe de desenvolvimento na sede da empresa em New Casterside, os dois decidiram que era o momento de arriscar.

Mas não sem antes oficializar a união.

Maximus, nas férias do ano anterior, mudou os planos de viagem para Veneza sem avisar Henry:

Caminhavam despretensiosamente pelas vielas nas proximidades da icônica Ponte Rialto, desviando dos inúmeros turistas e banquinhas de vendas. Parando eventualmente para olhar uma vitrine ou outra das lojas da região.

O dia estava com algumas nuvens brancas no céu, pareciam até algodão doce.

Henrique usava uma bermuda cargo caqui e uma camisa de manga curta com listras verticais multicoloridas, e carregava sua câmera fotográfica semiprofissional em uma alça no pescoço. Mack também fazia uso de uma bermuda cargo, porém azul clara, uma camiseta tipo stringer branca e por cima uma camisa de abotoar de manga curta com uma estampa discreta.

Andavam de mãos dadas naturalmente. Subiram a ponte Rialto parando na varanda que ficava voltada para a Corte dei Conti, um prédio histórico que foi imediatamente reconhecido por Henrique por estar presente em um dos seus jogos de videogame favorito.

Pegou sua câmera, tirou várias fotos e selfies. Pediu até a um turista para tirar uma foto deles juntos com o prédio ao fundo. Depois ficou admirando a construção.

- Gabe?

- Oi, meu amor.

- Você não desconfia do motivo de eu ter mudado nossos planos de viagem tão repentinamente?

- Imaginei que pudesse ser para deixar nossa viagem mais romântica. Só pode ser, existe algum outro motivo?

Maximus se ajoelhou, fazendo as inúmeras pessoas que estavam próximas se afastarem.

- Existe sim. – retirou do bolso uma caixinha de veludo preta e dourada e a abriu revelando duas alianças douradas, um pouco mais largas que o tradicional. – Estamos juntos há tanto tempo. Já passamos por tanta coisa juntos e, sei que fui resistente quanto a isso aqui, a verdade é que nada me faria mais feliz do que tornar oficial o que já é real e inabalável.

Henrique notou que seus pais e os pais de Maximus estavam presentes ali, os quatro filmando ou tirando fotos em seus celulares.

- Queria que fosse especial esse momento, queria que fosse romântico, claro! Mas acima de tudo queria que fosse inesquecível porque esse lugar significa muito para você e para mim, e eu não estou dizendo isso apenas por causa de Ezio Auditore da Firenze. – ambos riram e poucos presentes entenderam a referência. Henry estava nervoso e com os olhos já cheios d’água. – Enfim... Eu te amei no primeiro instante que te vi e até hoje e, com certeza absoluta e do fundo da minha existência, prometo te amar cada vez mais daqui em diante.

Deu uma pausa dramática e para recuperar o fôlego, pois estava fazendo um esforço hercúleo para não se emocionar antes da hora.

- Como eu já tenho a bênção de seus pais, chegou a sua vez: Henrique Gabriel Lopes, você me daria a honra de ser seu marido para toda a eternidade?

Todas as atenções se voltaram para o jovem de cabelos escuros, que já estava aos soluços. Maximus permaneceu sobre um joelho, exibindo as simples, porém elegantes alianças para todos.

Henrique não conseguiu falar nada, a boca se mexeu, mas não saiu um som, então balançou a cabeça freneticamente em sinal positivo. Mack colocou a aliança no dedo do seu agora noivo e se beijaram apaixonadamente sob aplausos e assobios das pessoas em volta.

Tinha até um trio de violinistas tocando uma versão de cordas da música A Thousand Years perto.

Maximus estava sentado no deck do jardim dos fundos com Pan ronronado no seu colo e fazendo carinho atrás da orelha de Youko se lembrando do evento que os levaram até ali.

Pegou a caneca com capuccino e tomou um longo gole para se aquecer um pouco, a manhã estava fria. Não tinha conseguido dormir muito, estava muito animado com essa nova fase da vida deles e queria aproveitar os últimos dias de licença e férias ao máximo.

A campainha tocou. Mack atravessou a cozinha, viu a silhueta de duas pessoas através do vitral da porta e abriu.

- Bom dia, vizinho! – a mulher trazia uma travessa redonda de torta de maçã – Barbara Miller e esse é meu marido, Harry. Seja bem-vindo ao condomínio Golden Oak.

- Obrigado pelas boas-vindas, e... – Maximus aspirou o ar sentindo o ar ainda morno da torta. – que cheiro maravilhoso é esse?

- Oh! Torta de maçã. Uma das muitas especialidades da melhor pâtissier da cidade. – Mack notou uma nota discreta de orgulho na voz dela, possivelmente estava se referindo à ela mesma ou alguém próximo como filha, por exemplo. – Minha amada filhota Claire.

“Bingo!” – comemorou internamente. – Muito obrigado. Sou Maximus Fuller.

Ele e Harry apertaram as mãos, em seguida cumprimentou a vizinha.

- Entrem, por favor. Só desculpem a bagunça, ainda estamos arrumando as coisas, acabamos de chegar de lua-de-mel. – ainda haviam algumas caixas fechadas.

- E onde está...?

- Henrique, meu marido, ainda está dormindo. Está muito cansado ainda da viagem. – respondeu sorrindo.

- Nossos parabéns! Que vocês sejam muito felizes. – Harry parecia genuíno e isso deixou Mack totalmente à vontade.

- Pena nosso filho não estar na cidade, seria ótimo que se conhecessem.

- Gosta de futebol americano?

- Com certeza!

- Então você conhece Phil Miller.

- O Superman? Quarterback genial do Patriots? Aliás... o primeiro quarterback a ser contratado sendo abertamente gay?

- O próprio e único. – Harry falou com orgulho.

- Quem diria que eu iria morar no condomínio dos pais de um dos meus maiores ídolos. Só preciso me desculpar com vocês, porque eu mesmo não sou um torcedor dos Patriots.

- Só não pode torcer para o Indianapolis Colts. – zombou o pai do quarterback.

- Não, não... – Maximus riu. – NY Giants é meu time de criança, nasci e cresci em New York, mas depois que cresci um pouco mais me tornei um torcedor do 49ers. De qualquer forma, enquanto os Patriots não enfrentarem o meu time, torço muito por muitas vitórias do Superman, e que um dia ele venha se tornar um 49er.

- Quem sabe? Não vamos mais te perturbar, se precisar de alguma coisa, pode nos procurar a qualquer hora, ok? Moramos bem em frente. – Harry apontou para a casa do outro lado da rua.

- Imagina, são muito bem-vindos aqui, e não esqueçam de trazer seu filho da próxima vez! – riram. – Vou tietar mesmo.

Alguns minutos depois de ter retornado para o deck com uma caneca extra de chocolate quente. Escutou passos vindos de dentro de casa.

- Bom dia, marido. – Falou entre bocejo. Imediatamente Pan pulou do colo de Mack, na mesa próxima e em seguida no colo de Henrique sem qualquer cerimônia. – Estava com saudade, meu amor? Eu também.

- Olha quem deu o ar da graça! – Henrique se agachou e o beijou. – Conseguiu descansar melhor?

- Você não faz ideia. Não é nossa antiga cama, mas é nossa nova cama, acho que esse efeito psicológico realmente funciona. Estou me sentindo melhor um pouco, mas ainda com sono.

- Isso não é normal. Você com esse sono todo.

- Pois é. Mas também nunca tivemos umas férias tão agitadas.

- É... isso é verdade. E aí? Tenho certeza de que deve ter explorado a casa nos últimos trinta a quarenta minutos. O que achou do nosso novo lar?

- É sensacional. Sempre gostei muito do estilo de construção americano. A casa é linda, aconchegante. Amei a lareira e já estou cheio de ideias para o meu escritório e para o porão.

- Imaginei. Sala de jogos?

- Exatamente!

- Eu tinha pensado a mesma coisa quando vi as fotos dessa casa pela primeira vez na internet. – Youko se levantou ainda meio sonado por conta do carinho que recebia incessantemente e implorou pela atenção de Henrique, que se agachou para atender às súplicas. – Acha que tem pique para começar a ir nas lojas comprar as coisas que faltam?

 - Vamos sim. Vou só falar com meu pai, tomar um banho e colocar alguma coisa no estômago. – Maximus o acompanhou até o quarto e contou sobre o casal simpático da casa em frente e sobre o fato de serem pais do ilustre jogador do New England Patriots enquanto Henrique se arrumava.

Foram diversas idas e vindas durante a semana à lojas de eletrônicos, de móveis, e outras similares conseguiram resolver tudo com a ajuda de Kaito. Compraram os televisores para a sala e para a sala de jogos, as estantes, mesas e cadeiras para os escritórios e os tão desejados videogames.

Aproveitaram também para finalmente ter seus próprios meios de locomoção. Henrique escolheu um SUV compacto enquanto Maximus optou por um sedã grande.

Passaram o resto do último final de semana das férias colocando as coisas nos seus devidos lugares, enquanto Sora brincava sem parar com Youko.

- Vocês não fazem ideia de como Sora está adorando aqui. Já se acostumou com a escola, faz amiguinhos com mais facilidade até do que no Brasil.

- Me surpreendeu Yuriko permitir que você mudasse de país com ele.

- Ela até me encorajou! Sempre achou que seria melhor para nosso filho que tivesse essa vivência fora do país. No início pensei que fosse algum tipo de pegadinha, mas quando vi que até os pais dela também concordavam acreditei.

- Um dia eu vou entender a cabeça de vocês orientais. – brincou Mack. – Ela não pensou em vir também?

- Acho que é uma de suas intenções futuras, talvez tenha pensado que pudéssemos acabar nos casando com essa atitude tão liberal. Mas tanto eu quanto ela não suportamos a ideia de casamento. Amamos Sora e ele é tudo nas nossas vidas, e queremos o melhor para ele sempre.

- Mas... você ainda gosta dela?

- Ela é uma ótima pessoa. Uma mãe excepcional e uma amiga como poucas. Extremamente confiável. Além de ser um estouro na cama.

- Ok, informação desnecessária... mas se ela é isso tudo, porque não ficarem juntos? Aposto que Sora adoraria ter os dois pais por perto sempre.

- O que é isso?! O casamento te transformou em cupido ou santo casamenteiro, Mack?! Não estou te reconhecendo! Quem é você? O que você fez com o marido do meu melhor amigo?

- Será?! – Maximus viu Henrique chegar no deck vestindo um longo cobertor vestível de pelúcia e capuz de panda e pantufas do Stitch. – Você acha que eu fui abduzido, meu Gabe?

- Se isso aconteceu... – olhou para o céu e falou. – Não precisa devolver o original não, ok?

Mack o puxou para seu colo e fez cócegas nele.

- Finalmente. – sentou-se na cadeira ao lado e colocou as pernas cruzadas dentro do cobertor. Segurando a caneca de chocolate quente com as duas mãos para aquecê-las. – Está tudo no seu devido lugar, e para nossa sorte vamos emendar a licença com as festas de fim de ano.

- Nosso primeiro Natal e Réveillon na nossa nova casa.

- Que seja o primeiro de muitos. – Kaito ergeu sua caneca de cerveja quente, seguido pelo casal.

Henrique deu um bom gole no chocolate quente após o brinde. Sentiu-se estranho, um rebuliço no estômago.

- Você tá bem, Gabe?

- Acho que esse chocolate quente não caiu bem. – Mack provou.

- Está bom, aliás está perfeito! – Henrique sorriu.

- Fiz igual ao do café que tem no centro. Consegui arrancar a receita da dona.

- Dá um tempinho e tenta de novo, seria uma pena você deixar de beber seu chocolate quente.

Henrique provou novamente. O estômago reclamou quase instantaneamente.

- Não... realmente... - Se levantou tropeçando no cobertor, quase deixou a caneca cair, e correu para o banheiro mais próximo no térreo. Vomitou o pouco que havia comido naquele dia além dos dois únicos goles que deu no chocolate quente.

Maximus o seguiu. Assim como sua mãe, passou um de seus braços pela barriga de Henry e a outra segurou o rosto dele pela testa.

- Melhorou?!

- Muito enjoado. Vou tomar um remédio e já encontro com vocês no deck.

- Deixa que eu pego para você.

Optaram por se aconchegar na sala aquecida também pela lareira. Tanto Kurama quanto Pantalaimon se deitaram próximo do fogo e Sora usou o cachorro como travesseiro e os três adormeceram logo.

Henrique estava com a cabeça apoiada no ombro do marido e Kaito sentou-se em uma poltrona. Os três assistiam a um jogo de futebol americano qualquer.

- Meus caros amigos, acho que vou para casa. Já passou da hora de colocar esse molequinho na cama.

- Por que você não fica hoje aqui? Esse sofá vira cama. Deixa pra ir pra casa amanhã, vai acordar Sora, enfrentar esse frio danado pra ficar sozinho em casa? – Falou Henrique.

- Vocês se importam?

- Fala sério, K-San! – Mack respondeu indignado. – Você é de casa.

- Tudo bem então.

- Se importam se eu for pra cama? – Henrique se levantou. – Ficar enjoado aparentemente dá sono.

- Não, meu querido, o que dá sono é o remédio que você tomou para passar o enjoo.

- Boa noite, meu Gabe.

- Boa noite, meu Maxie. Boa noite, K.

- Durma bem, meu querido. – Henry foi até o pequenino e deu um beijo em sua testa.

Ao chegar no quarto, sentiu novamente vontade de vomitar, mas ficou apenas na iminência. Deitou-se com a cabeça um pouco mais elevada e colocou a lata de lixo do banheiro do seu lado em caso de emergência.

Os enjoos e vômitos perduraram por mais alguns dias sem relação direta com nada específico. Na véspera de Natal, Kaito havia indicado para os rapazes uma médica amiga dele que também trabalhava no Hospital Central de New Casterside, Dra. Jane Edwards, para que fosse a médica de família deles.

Maximus estava uma pilha de nervos, preocupado com a saúde de Henry, que insistia em dizer que não era nada demais, que tirando aquilo, não sentia mais nada. Depois de muita insistência concordou em ir se consultar só para garantir que não havia nada demais.

Kaito conseguiu marcar com ela um horário no consultório do hospital sem ter que passar por uma fila de espera. A médica não era muito alta, em seus sessenta e alguns anos, usava seu longo cabelo pintado de loiro morango solto e tinha olhos azuis bem clarinhos.

- Boa tarde, Sr. Fuller. Vamos? – Chamou a médica na sala de espera.

- Boa tarde, Dra. Edwards.

- Em que posso te ajudar?

- Tenho sentido muitos enjoos nos últimos dias.

- Chega a vomitar?

- Eventualmente sim. Estou tomando remédio para enjoo, faz efeito por um tempo, mas quando passa o efeito volta tudo novamente.

- Sei... algum outro sintoma? Febre? Cansaço? Dores pelo corpo? Dores de cabeça?

- Talvez um pouco de cansaço... acima do normal, acredito, mas como voltamos recentemente de viagem de lua-de-mel, foram vários voos, mais a mudança para cá e a organização da casa, acho que pode ser isso.

- Esse período de estresse pode realmente estar causando isso. Vamos fazer alguns exames de rotina só para garantir que não é nada demais, ok? Enquanto isso vou prescrever um anti-histamínico um pouco mais forte para esse enjoo, um antiemético em caso de vômitos persistentes e um calmante leve para tomar somente se perceber que esse estresse esteja afetando seu sono.

- Estresse?

- Acredite, muitos pacientes que me procuram com esses sintomas é por conta de situações bem parecidas: preparação com o casamento, tensão financeira por conta disso, tensão por tudo sair perfeito, principalmente quando é o casal que organiza tudo, fora documentação, lua-de-mel,... bem você acabou de passar por isso tudo, sabe bem o que acontece. Pode ser também uma gripe leve, essa alteração de um clima quente para um clima bem mais frio tão bruscamente pode ter causado essa reação também no seu corpo.

Henrique apenas concordou com a cabeça.

- Vamos dar uma olhada em você? – sorriu simpaticamente para ele e o chamou para ir atrás do biombo, onde ficava a maca para examiná-lo.

Depois de medir temperatura, auscultar os batimentos cardíacos e respiração. Chamou a enfermeira para fazer a coleta de sangue, e acompanhar Henry para realizar alguns raio-X, posteriormente retornou para o consultório.

- Não vou te passar nenhuma outra medicação no momento porque não sabemos exatamente o que está acontecendo, então vamos esperar os resultados dos exames, assim que estiverem prontos entro em contato.

- Certo.

- No mais, vá para casa e procure descansar o máximo possível.

- Obrigado, doutora.

- Imagina. Me procure imediatamente se piorar.

Depois da consulta, ao sair do hospital foi a primeira vez que efetivamente olhou para a sua nova cidade. Arquitetura vitoriana típica, não eram prédios com grandes variações de cor, mas havia muitos letreiros coloridos para compensar essa tendência monocromática.

Prédios mais modernos somente na parte leste da cidade, que era mais industrial / comercial. No entanto, a característica padrão eram construções com, no máximo, cinco andares contando com possíveis terraços.

Na parte à oeste do rio Aurora, era onde ficava a majoritariamente residências, comércio para consumo local.

Por ser uma cidade planejada, todos os serviços essenciais e centros culturais, os dois grandes shopping centers, clínicas e hospitais ficavam bem próximos das quatro pontes que ligavam a margens do rio que corta a cidade de norte a sul.

Aproveitou a oportunidade para passar no seu futuro local de trabalho, seu consultório de terapias holísticas e alternativas. Era um prédio de tijolinhos de três andares e seu espaço ficava no último andar, porém pegava toda a frente do prédio e a vista parcial da praça principal dessa parte da cidade.

O ambiente era dividido em 3 salas: uma recepção com cores suaves, tons pastéis e nada da monotonia branca, já estava totalmente decorada, praticamente idêntica à do consultório no Rio. O consultório de Kaito estava trancado.

Entrou em seu consultório, faltava instalar alguns aparelhos, mas no geral estava tudo praticamente pronto. Seria o primeiro consultório da cidade especializado em terapias holísticas.

Henrique teve que tirar sua certificação internacional para poder exercer sua paixão. Apesar de trabalhar com diversas técnicas diferentes, era especializado em florais, cromoterapia e reprogramação neurolinguística, e fornecia os florais preparados por ele mesmo para seus pacientes.

Gostou do que viu. Kaito o conhecia tão bem que sabia exatamente do tipo de mobília e decoração de sua preferência. Seguiu a mesma linha do seu antigo consultório: nada de mesa. Henrique gostava de uma aproximação maior com seus pacientes, sentava-se em uma confortável poltrona e usava um pufe gigante e um grande sofá bem confortáveis, muitas almofadas e, típico de consultório somente uma maca para massagens.

“Vai dar tudo certo.” – Sentiu-se bem para começar seus trabalhos e logo. Apesar de ter que retrabalhar toda sua base de pacientes, estava confiante. Passou na farmácia para pegar a medicação e retornou para o carro.

Chegou em casa e sentiu alguns cheiros interessantes das comidas típicas de Natal que mais gostava.

- Maxie! Cheguei! – Maximus foi correndo até ele e o abraçou. – Que cheiro maravilhoso é esse?

- Rabanadas e o tender. – mais beijos e carícias apaixonados. – Estava com saudade, você demorou.

- Passei no consultório para ver como estava. É impressionante e assustador como K-San me conhece.

- Ainda não sei como vocês dois não acabaram juntos, sorte minha que isso não aconteceu.

- Eu sou muito certinho pra ele.

- E a Dra. Edwards? Como foi a consulta?

- Está suspeitando que seja efeito do estresse dos últimos meses com a questão do casamento, mudança, viagem. Vai ligar para falar sobre os resultados dos exames quando estiverem prontos, mas não suspeita de nada demais.

- Não vai ser nada.

- Espero que não, porque não vou deixar de comer essa rabanada nem que eu tenha que me entupir de remédio depois.

Maximus acordou na manhã seguinte e estranhou a casa estar com a temperatura mais baixa que o de costume. Notou que Henrique não estava deitado ao seu lado na cama e foi checar o controle do termostato.

“18 Celsius?! Gabe tá maluco?” – desceu as escadas enrolado no cobertor e encontrou Henrique na cozinha colocando pedras de gelo no suco de laranja. – Meu amor?! Tá se sentindo bem?

Henrique estava suando, sem camisa.

- Acordei com um pouco de calor. – Foi então que ele notou que Mack estava todo enrolado no edredom. – Eu que deveria perguntar se você está bem!

- Gabe... – se aproximou dele e colocou as costas das mãos em sua testa e pescoço. – Você está um pouquinho quente.

Correu para o banheiro, pegou o termômetro eletrônico e verificou: 37,6oC.

- Você está febril.

- Que jeito ótimo de passar nossa primeira véspera de Natal aqui. – mostrou seu sarcasmo.

- A Dra. Edwards mandou que ficasse em repouso, se precisar de alguma coisa me chama que eu pego pra você. Enquanto isso toma isso aqui. – deu um comprimido de antitérmico para Henry que bebeu com o suco de laranja.

Como não conseguiria dormir de qualquer forma por conta do calorão que estava sentindo. Sentou-se na sala, ligou a TV e os dois se aninharam no sofá, Maximus com a cabeça em seu colo, virado contra a luz para dormir.

Assistiu ao amanhecer de inverno, caia um pouco de neve do lado de fora. Se levantou com cuidado para não acordar Maximus, deixando seu marido dormindo no sofá. Aproveitou para medir novamente a temperatura. Estava normalizada.

“Que meleca tá acontecendo comigo?” – pensou.

Maximus era superprotetor ao extremo, não deixou que Henrique o ajudasse em absolutamente nada dentro de casa. Só ele e Kaito terminavam de preparar a ceia e a mesa enquanto Henry ficava na sala, assistindo desenhos com Sora e acariciando Pan, que não saiu do seu colo um único instante, nem para comer.

O sono e o cansaço estavam se tornando uma constante.

- Pois é, pai. Acho que nunca me senti tão cansado. – fez uma videochamada com o pai e falava baixo para não acordar o sobrinho-afilhado e o gato que dormia de barriga para cima em seu colo.

[A medicação que a médica passou, estou de acordo. Está tomando o remédio para dormir?]

- Estou tão cansado e dormindo tanto, acha necessário?

[Provavelmente sua mente não está relaxando, hoje quando for dormir tome ao menos metade, vamos ver se isso te ajuda. E, por que não está aproveitando seu conhecimento dos florais?]

- Honestamente, com tanta coisa acontecendo até me esqueci disso. Vou fazer uma autoavaliação depois e fazer a fórmula.

[Faça isso.]

- Queria que vocês estivessem aqui. Vai ser estranho passar esse Natal tão longe.

[Estaremos com vocês na final do mês que vem. A gente compensa isso de alguma forma.]

- Estou com saudade de vocês. – sentiu os olhos se encherem d’água. – Acho que estou emocionalmente desestabilizado mesmo.

[Deu para perceber, meu filho.] – o pai sorriu docemente. – [Vai me mantendo informado, ok? Se continuar se sentindo muito cansado, procure logo a Dra. Edwards e me avise.]

- Pode deixar.

[Mande um beijo para Mack, pro Kaito e pro Mini-K.] – o pai de Henrique se referia à Sora como Mini-K por ser praticamente uma miniatura do amigo dele.

- Amanhã nos falamos mais. Amo você, papai.

[Também te amo, meu filho. E vai nos mantendo informados, ok?]

Henrique foi até a cozinha e vislumbrou toda a ceia praticamente pronta. Mack era um excepcional cozinheiro e acompanhado pelo Kaito que era um japonês também muito habilidoso nas artes da boa comida.

Mas no Natal, Henry era chato. Comidas tradicionais eram a sua preferência. E nada de criações mirabolantes, principalmente com um de seus pratos prediletos de festas de fim de ano: rabanadas. Tinham que seguir à risca a receita que tinha de sua família.

Roubou uma rabanada na geladeira e deu um beijo no marido.

- Isso está perfeito!

- Imaginei que iria gostar. – ficou observando por alguns instantes.

- Que foi?

- Nada de enjoo? – Henrique não tinha percebido isso, seu semblante suavizou.

- É mesmo! Que maravilha. Depois acabar que essa overdose de açúcar vai ser problemático.

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