*MATHEWS*

Após os votos procuro as crianças para entregar os brinquedos. Avisto eles de longe e chamo pelos dois. Não me demoro e entrego os presentes para eles que agradecem em seguida.

— Obrigado, tio Math, o senhor é o melhor tio do mundo.

— E você é o sobrinho mais incrível do mundo, ainda mais agora com esse super skate.

— Eu amei meu presente, tio, muito obrigada.

— Que bom que gostou, princesa do tio.

Nós três nos abraçamos, e as crianças num pulo saem correndo para aproveitar seus presentes. Fany chama todas as meninas da sua idade que estão ali para brincarem com a casinha e Lukinhas sai com todos os garotos correndo atrás dele para aproveitarem o skate. Fico os observando de longe e um sorriso enorme se forma em meu rosto cheio de orgulho daquelas crianças, a felicidade era nítida em seus rostos. Não tenho como explicar a felicidade em meu coração por fazê-los tão felizes com simples brinquedos. Percebo que quase todos já cumprimentaram Lukas e Jhoana e me aproximo deles para fazer o mesmo.

— Parabéns aos dois!

— Obrigada, amigo.

— Obrigado, irmão.

Jhoana enxerga Ju um pouco mais longe e a percebe aparentemente como um peixinho fora d'água, não demora muito com os rapazes e vai até ela.

— Juuu... — Elas se abraçam

— Parabéns, minha amiga, vocês merecem tudo isso e muito mais nessa vida. O amor de vocês é lindo. Quase não consegui conter as lágrimas aqui.

— Obrigada, amiga! E então, tenho que te apresentar a uma pessoa, vem!

Ela puxa Juliana pelo braço na direção em que deixou Lukas e Mathews conversando. Eles estão entretidos falando sobre a empresa e os contratos, quando Jhoana não perde tempo.

— Mathews, essa é a Juliana, Juliana, esse é o Mathews.

Eles se olham e falam ao mesmo tempo em choque...

— Você?

— Você?

— Espera, vocês já se conhecem? — Jhoana questiona surpresa

— Não! — ela responde num tom ríspido.

— Sim! — ele rebate.

— Calma, sim ou não? — Lukas fica na dúvida.

— Sim! Quer dizer, mais ou menos, ele quase me atropelou no shopping ontem.

— Falei que foi um momento de distração.

— E eu entendi seu lado, mas que foi um baita empurrão, foi!

O clima ficou tenso e o silêncio toma conta por alguns segundos, Lukas e Jhoana se entreolham e Math resolve a situação...

— Bom, deixemos o que aconteceu de lado, é um prazer conhecê-la!

Ele estende a mão para segurar a dela, Juliana demora um pouco, mas acaba repousando sua mão sobre a dele que se curva em seguida para beijá-la, então ela responde...

— O prazer é meu, pelo menos dessa vez não fiquei com meu braço dolorido.

Ele assente com a cabeça e todos riem, o climão de antes fica mais leve agora, e ao perceber isso, Lukas toma a palavra.

— Gente, fiquem à vontade, nós vamos continuar cumprimentando os convidados.

— É, já que os dois se resolveram, um pode fazer companhia para o outro — Jhoana reforça e pisca para Juliana, que ri sem graça. Eles se despedem e Juliana segue...

— Muito inusitado nos encontrarmos aqui, não acha?

— É, você nem parece aquela mulher super brava que veio para cima de mim com sete pedras na mão ontem.

— Ah, vai! Foi um choque e tanto, você pode não ter sentido muito como eu por causa desses músculos todos aí.

Juliana fala sem pensar, mas acabou de mostrar que notou os músculos bem definidos do Mathews... O que acaba deixando ambos com sorrisos tímidos um para o outro, mas para fugir da situação, ela rapidamente muda de assunto.

— E então? Há quanto tempo conhece o Lukas e a Jho?

— O Lukas conheço desde o ensino médio, tem uns quatorze anos. Ele conheceu a Jho na faculdade uns quatro anos depois e me apresentou, disse ser a mulher da sua vida e hoje vejo que era verdade.

— Legal, eles são lindos juntos, não é mesmo!?

— É! Os dois são a família que nunca tive e também a que ainda não consegui construir.

— Entendo!

— Lukas é meu sócio hoje em dia na empresa que construímos juntos.

— Qual o ramo?

— Edificações, praticamente construímos essa cidade.

— Uau! Sério? — ela pergunta surpresa.

— É sim, mas já temos um tempo de empresa, somos sempre os primeiros a procurarem quando o assunto é construção! E você? Faz tempo que conhece eles?

— Na verdade, pessoalmente só conhecia a Jho, somos amigas de trabalho, quando ela começou no DMH nos demos bem logo de cara. E o Lukas conhecia de ouvir ela falar dele, hoje foi a primeira vez que o vi pessoalmente.

— Então você é médica?

— Neurocirurgiã.

— Nossa, não imaginei!

— Pois é, as aparências enganam.

— Terminei a faculdade no Brasil com vinte e dois anos e vim direto para cá para fazer a residência que durou mais cinco anos... Já estou atuando no DMH têm três anos, e a essa altura você já conseguiu calcular a minha idade. — Risos.

— Não, na verdade, viajei em pensamentos quando falou que terminou a faculdade com vinte e dois anos... muito jovem!

— Sim! — respondo timidamente.

— E você é brasileira?

— Sim, carioca da gema.

— Legal! Sempre quis conhecer o Brasil, mas nunca me permiti ir lá.

— O Brasil é cheio de encantos, só não fiquei lá por motivos profissionais, aqui teria muito mais oportunidades, e não posso dizer que me arrependi!

— Entendo perfeitamente!

— Meus pais moram lá, pelo menos uma ou duas vezes por ano vou visitá-los.

— Muito bonito da sua parte, se eu ainda tivesse os meus também teria a mesma atitude se morasse tão longe.

— Você não tem mais seus pais?

— Infelizmente não, eles morreram em um acidente de carro quando eu tinha treze anos.

— Sinto muito!

— Não foi fácil na época, mas vai ficando menos difícil ao longo dos anos.

A conversa entre eles flui tão bem, ambos gostam de fazer amizade, e apesar de o contato inicial ter sido um desastre, eles se permitem iniciar uma amizade bem ali... No jantar de bodas de amigos em comum. Logo sentam na mesa que estava reservada para eles, e claro, estavam na mesma mesa, um arrumadinho do Lukas. Continuam conversando noite adentro e curtindo tudo o que acontecia durante o jantar, mas a noite vai chegando ao fim. Alguns convidados começam a ir embora e Juliana não viu a hora passar, quando olha para o relógio...

— Meia-noite? — ela fala surpresa.

— Já sim! — ele responde sorrindo.

— Minha nossa! Preciso ir, tenho que chegar cedo no hospital amanhã. Melhor dizendo, daqui a sete horas tenho que estar no hospital!

— Compreendo! — Ele sente certa tristeza por ela precisar ir embora, gostaria que ficasse mais tempo, mas entende a situação.

— Foi realmente um prazer conhecer você melhor, Mathews.

— Igualmente, Juliana!

Ela levanta e eles apertam as mãos trocando olhares, quando se despede dele ela vai ao encontro de Jhoana e Lukas para agradecer pelo jantar e também informar que já estava indo embora.

— Gente, preciso ir, tenho que estar daqui a sete horas no hospital e preciso dormir um pouco.

— Obrigado mais uma vez por ter vindo, Juliana.

— Obrigada por ter vindo, amiga!

— Eu que agradeço o convite, gente, estava tudo maravilhoso!

Elas se abraçam e Juliana vai às pressas pegar o carro. Nesse tempo Lukas chega na mesa de Mathews e pergunta...

— E aí cara, o que achou dela?

— Da Juliana?

— Claro, de quem mais?

— O que eu deveria achar? — Ele sempre faz de tudo para não entrar nesse tipo de conversa com o Lukas.

— Não se faz de bobo, percebi que gostou de conversar com ela.

— Claro, nossa conversa fluiu muito bem, bem até demais por sinal, mas você sabe que depois do que a Isabella me fez eu fechei meu coração, se é sobre isso que você está falando.

Math conhecia as estratégias de Lukas em relação a sua vida amorosa, e percebeu que o amigo estava novamente se esforçando para ele abrir seu coração. Ele continua...

— Não dá, cara, você sabe o que eu passei, e ainda é muito difícil para mim me relacionar com alguém de novo.

— Eu sei irmão, mas uma hora ou outra você tem que deixar esse capítulo da sua vida passar! — Lukas fala se levantando da mesa.

— Preciso ir, vou continuar me despedindo dos convidados com a Jho.

— Certo, também já estou indo para casa, vou falar com as crianças e daqui a pouco me despeço de vocês.

— Ok!

Ele se despede das crianças, depois dos amigos, e vai para casa pensando no que Lukas lhe disse. Mas ele sabe que seu coração não está totalmente curado, por isso ainda não pode se permitir amar e confiar em alguém novamente.

*JULIANA*

No dia seguinte acordo com o barulho do despertador, são 6:00 da manhã e só dormi quatro horas essa noite, contudo não me arrependo. Tive uma noite muito agradável, a Jho parecia estar extremamente feliz e isso me deixa feliz também. Sem contar o ótimo papo com o Mathews e aqueles músculos. — Risos

Levanto-me, faço minha higiene, tomo um café da manhã reforçado e saio para mais uma rotina de visitas, afirmando para mim mesma o meu mantra pessoal...

— Universo, eu estou pronta, me surpreenda!

*MATHEWS*

Tive uma noite excelente ao lado dos meus amigos, levanto da cama e já são quase 11:00 da manhã. Vou direto para o banheiro, faço minha higiene pessoal, visto uma roupa confortável e desço até a cozinha.

— Bom dia, Maria!

Coloco a mão em sua cabeça e deposito um beijo em sua têmpora. Maria cuida da minha casa desde antes dos meus pais falecerem. Então é alguém realmente especial para mim, como uma segunda mãe.

— Bom dia, meu rapaz, dormiu bem?

— Bem até demais! Umm... o cheiro está ótimo!

— Daqui a pouco vai estar pronto.

— Ok!

Preparo um shake para me dar energia e esperar o almoço ficar pronto. Pego uma banana na fruteira e decido ir à academia do condomínio para compensar os dias que fiquei sem me exercitar. Faço quarenta minutos de exercícios crossfit e volto para casa, quando chego o almoço já está servido na mesa, só me esperando, esses são os cuidados especiais da Maria. Subo no quarto, tomo um banho, me troco e desço para almoçar. É domingo, mas depois do almoço decido ir para o escritório e começo a preparar os afazeres da semana na empresa. Assim como todo o roteiro para darmos início ao projeto do empreendimento do Sr. Valles na cidade.

*JULIANA*

Começo a segunda ronda de visitas aos meus pacientes no pós-cirúrgico, e até agora estavam todos bem e se recuperando depressa. Vou ao quarto do seu William ver como ele está e a Emily está fazendo seu curativo...

— Olá... Bom dia a todos, como estamos?

— Bom dia, doutora, que bom revê-la! — ele logo responde.

— Bom dia, doutora, já estou finalizando o curativo.

— Bom dia, minha linda, acredito que estamos caminhando bem! — Sarah abre um grande sorriso em minha direção.

— Maravilha, vamos ver esse curativo. — Me aproximo e olho como está a região.

...

— Olha só, está aparentemente tudo certo! Hoje o senhor irá fazer uma ressonância magnética (RM), se tudo estiver bem no exame, amanhã ou terça já receberá alta, e poderá terminar seus dias de recuperação em casa.

— Que maravilha, ficamos aliviados em saber disso! — Sarah sorri de canto a canto com a notícia.

— A senhorita não sabe, mas isso é música para os meus ouvidos. — Ele demonstra estar aliviado com o que acabei de falar.

— Que bom, fico feliz! Preciso ir, mas assim que tiver seu exame em mãos, venho lhe dar alguma posição.

— Ok, doutora! Muito obrigado pela atenção comigo, sua equipe também é ótima, todos muito atenciosos.

— Eu que agradeço pela confiança de vocês, continuem com os cuidados e vamos esperar que esteja tudo certo no exame.

Digo me despedindo e indo em direção à porta. Quando termino as visitas vou almoçar e na volta começo a organizar a agenda de cirurgias da semana em minha sala.

*MATHEWS*

Estou ao telefone combinando o início do projeto do Sr. Valles com o mestre de obras...

— Ok, te espero amanhã na Enterprise para acertarmos todos os pontos para o início da construção e um deles é o terreno.

— Combinado, chefe, chegarei no horário marcado e amanhã mesmo vou verificar o terreno também.

— Ótimo, como prometi ao Sr. Valles, quero entregar essa construção em seis meses. Até amanhã!

— Até chefe.

Finalizo a ligação e me expresso em voz alta...

— Maravilha, está tudo caminhando bem!

E mais uma vez chego muito tarde em casa, percebo que Maria já foi para seu quarto, mas como sempre o jantar está pronto. Faço um prato e vou assistir algo na TV, acabo adormecendo ali mesmo no sofá.

*JULIANA*

Já está super tarde e ainda me encontro no hospital, mas finalmente terminei por hoje! Estou exausta e me organizo para ir embora, ao chegar em casa tomo um banho e procuro algo na cozinha para comer que seja fácil de preparar. Após jantar caio na cama, sei que estou de folga no dia seguinte, então nem ativo o alarme.

É perceptível que as vidas de Juliana e Mathews são voltadas ao trabalho. Me pergunto se essa não seria uma forma de quem sabe, fugir das outras partes de suas vidas, entre elas o coração.