Por Trás do Véu
Por Trás do Véu
Por: DmaspUmada
Prólogo

Houve um tempo onde os Deuses escolhiam belas mulheres e as desposavam, gerando assim os semi Deuses, com o tempo os reis começaram a enviar suas Rainhas para serem agraciadas com essa dadiva, e cada rei tinha um filho semi Deus por assim dizer, o que aumentava e muito seu poder de batalha, até surgir um clã dentro do reino do sol.

O clã do fogo tinha não um, mas sim dois semi Deuses, afinal como já havia dito no início os Deuses não escolhiam apenas rainhas, escolhiam as moças que lhe agradassem, o clã apesar de ser parte do reino do sol, ficava um pouco afastado e tinha outros interesses, interesses que não agradavam ao rei Digeon, que tinha por rainha uma mulher esplendida chamada Shiva 

Eles tinham dois filhos Patrick e Thomas, Thomas era um semi Deus, Patrick era filho apenas de Digeon fruto de seu primeiro casamento, e duas filhas fruto de seu casamento com Shiva, eram elas Lara e Inara.

Então pode se dizer que Thomas e Patrick não eram irmãos de verdade, apenas as meninas que eram irmãs de Thomas  por parte de mãe e irmãs de Patrick por parte de Pai, mas Patrick diferente dos outros teve um destino nada feliz, aos oito anos de idade quando as irmãs mais novas nasceram ele foi incumbido de cuidar delas e do semi Deus Thomas , disseram a ele que ninguém melhor do que o irmão mais velho para cuidar dos mais novos, entretanto para se cuidar de duas princesas segundo as regras do reino ele teria de ser eunuco, e isso foi um trauma muito grande a ele.

Ele se revoltou com isso, ele jamais quis o reino, ou qualquer coisa do tipo, agora era frio e calculista não se importava com nada, não falava com as princesas, apenas fazia seus afazeres e cuidava da segurança delas a distância.

Elas tentavam puxar assunto com o irmão mais velho, mas ele nunca as respondia, se sentia mutilado e destruído.

Ele era o único filho do rei, então o trono um dia seria dele por direito, contudo agora o faziam de escravo, ele tinha sido castrado aos oito anos, cuidava do semi Deus, que não era seu irmão, e de suas irmãs por parte de seu pai, um trabalho frustrante, a morte seria para ele algo muito agradável.

E essa morte se aproximava bem rápido, o reino dos guerreiros da morte tinha dois semi deuses, e esses tinham um acordo com Digeon, enviariam seus semi deuses para desposar suas princesas, em troca dariam a imortalidade para Digeon. 

Digeon sabia que as princesas seriam mortas em algum tipo de ritual, ele não se importou com isso e ofereceu suas filhas, Shiva, nada pode fazer com relação a decisão do seu rei, contudo em segredo ajudava as filhas.

As princesas não gostaram muito de seus pretendentes, mas quem menos gostou da ideia foi o clã do fogo, afinal eles tinham dois filhos semi deuses dentro do clã e poderiam vir a cortejar as princesas, então por que chamar semi deuses de outros reinos? Claro eles usariam isso como desculpa para planejar um ataque futuro, independente da decisão do rei.

Digeon conhecia o poder do clã e sabia que poderiam começar uma guerra, ainda mais que ele mesmo só tinha Thomas como semi Deus e diferente de todos os outros semi Deuses, Thomas foi criado com luxo e mordomia, não entendia absolutamente nada sobre o que era uma guerra.

Digeon tinha marcado um encontro com o líder do clã do fogo, mas a proposta do líder Matsunara  era uma que ele se sentia sem saída e que ele se recusava a aceitar.

O clã havia pedido que ele sacrificasse seu filho semi deus em praça pública no dia do casamento de suas filhas, ou que ele as enviasse para serem desposadas por semi deuses do clã do fogo, contudo ele queria ser imortal, não podia aceitar tal proposta.

Ele poderia m****r as duas princesas para o clã, e assim não teria a imortalidade, ou poderia deixar o clã vir pra cima do reino com uma guerra e ele já sendo imortal daria conta da situação, a resposta era bem óbvia.

A solução mais viável era sacrificar Thomas, ele tinha um ponto a seu favor, o príncipe Thomas nunca tinha sido visto em público, ele ficava geralmente escondido dentro do castelo com o rosto coberto, apenas Shiva e Patrick conheciam o seu rosto, é claro que pelo fato de ninguém conhecer o seu rosto ele se aproveitaria disso.

O rei ganhou de presente do Clã, uma semana para pensar no que fazer, e era muito pouco tempo para pensar em que decisão ele tomaria ( mesmo já sabendo o que faria) ao se consultar com os Deuses se sentiu ainda mais sem saída, ele não queria perder o semi deus, embora Thomas não soubesse nada sobre lutas e guerras somente sua presença ali fazia com que os campos dobrassem a colheita, que antes era uma vez a cada seis meses, contudo, agora eles colhiam todos os dias, o rei era poderoso e nada faltava a ele e sua família, porem seu povo era sofrido e a maioria vivia em situações miseráveis.

Não dá pra dizer que o rei estava se sentindo muito aflito, ele tinha um plano cruel em mente. 

Digeon assim que saiu do templo dos deuses, foi para o templo do Deus da colheita, lá ele daria a ele a notícia de que entregaria Thomas para o sacrifício, sua capacidade de ser cruel e infiel aquele Deus foi provado naquele dia, o Deus não o respondeu, apenas Digeon, falou sobre suas razões.

Assim que Digeon chegou no castelo quase foi atropelado por sua rainha, Shiva estava aflita, não queria entregar seu filho, ela diferente do marido amava os tres filhos, fingia concordar com os planos dele, mas em segredo sempre tentava os proteger dos absurdos do rei tirano.

  O que está pensando em fazer? — Inqueriu afoita e muito nervosa.

 Não temos forças para lutar contra o clã, e muito menos para lutar contra os deuses da morte, não seja tola Shiva, eu só vejo uma única solução. — Respondeu sua rainha de forma rude e autoritária, ele detestava que ela o barrasse daquela forma.

—  Peça uma orientação aos Deuses! — A mulher falou áspera e quase aos gritos.

—  Eu já fiz isso, o Deus da colheita se manteve em silencio, porem eu sei que qualquer outro Deus pode se deitar com você e te fazer conceber, é pra isso que vadias servem no final das contas. — Olhou para Shiva com desdém, fazendo a mulher se encolher diante daquelas palavras.

Patrick, estava atras do trono dos reis e escutou aquela conversa, ele se irritou, por mais que não gostasse muito de seus irmãos, aquilo chegava a ser um crime contra a coroa, um crime que o maldito tirano estaria cometendo.

Patrick caminhou pelos corredores do castelo, as paredes em pedra, as cortinas de seda enfeitando cada janela, porta e abertura, todas em branco e amarelo, o símbolo do sol em cada beiral, olhar para tudo aquilo lhe dava nojo e repulsa, ele não ligava nenhum pouco para o trono.

Sua caminhada o levou até a cozinha do castelo, no momento em que entrou, escutou risinhos abafados, e ele sabia o motivo, todos riam pelo fato de ele ser um eunuco, já tinham passado tantos anos que ele já não se importava mais com aquele detalhe, pegou uma bandeja com frutas, pães e o vinho. 

Seguindo sua rotina, agora ele iria para o pavilhão do semi Deus Thomas, lhe entregaria a bandeja e sairia em silencio, como fazia na maioria das vezes.

Assim que entrou sentiu o perfume do semi Deus, era aquele maldito cheiro, sempre o perturbando, sentia que aquilo impregnava em suas narinas, contudo o cheiro já era mais inoportuno para seu coração. 

Seu olhar correu o quarto enorme, viu o semi Deus adormecido, era também seu dever o acordar para tomar o café da tarde, seus olhos arderam e ele ainda brigava com seu interior sobre contar ou não sobre o que tinha escutado da boca dos reis. 

Gentilmente ele colocou a bandeja ao lado da cama toda de seda branca e detalhes dourados, se aproximou do semi Deus e o acordou, foi fitado por um par de olhos azuis, “malditos olhos” ele pensou, manteve o sorriso e a gentileza, porem em seu interior seu maior desejo era sair correndo daquele quarto.

—  Vim trazer seu lanche da tarde alteza. — Falou simples e risonho.

  Me chame apenas pelo meu nome! — falou sério e autoritário. — Os reis não estão por perto para julgar a maneira que se refere a mim.

Patrick nada disse, assentiu com a cabeça, sentiu que seus olhos arderiam, não adiantava nada ele seguir com sua rigidez, o príncipe seria entregue.

—  Me deixe cuidar do seu cabelo enquanto come, está com péssimo aspecto. — Falou pegando um pente de marfim.

—  Você está mais gentil hoje, o que houve? — Inqueriu olhando diretamente para os olhos cor de cobre. 

  Nada... — Murmurou, deixando sua voz morrer. 

Enquanto Patrick, ia penteando os cabelos do príncipe, usava de toda a calma e delicadeza, embora seu maior desejo fosse fugir do ambiente, a verdade é que ele tinha sentimentos pelo príncipe, e sabia que jamais seria correspondido, isso era doloroso demais. 

—  Isso me dá sono... — Thomas comentou fechando os olhos por breves segundos. 

—  Acabou de acordar alteza. — Patrick rebateu tentando não ser grosseiro.

  Mas ainda sinto sono, queria ir até a praça hoje à noite, tem umas barracas cheias de coisas suculentas e tem as tabernas, elas são um verdadeiro deleite. — Thomas falou distraído e tentando não se render ao sono que se aproximava cada vez mais. 

—  O lado bom de ninguém conhecer o seu rosto é esse, pode se disfarçar no meio da multidão e sair por aí, mas hoje não é um bom dia pra sair. — Patrick alertou no final de sua fala, ele não queria contar, contudo não tinha muitas escolhas.

—  Eu sabia que estava acontecendo algo de errado, me fala logo. — Ordenou deixando sua voz um pouco impiedosa.

  Seus pais. Vão te entregar como sacrifício no dia do casamento das suas irmãs, um pedido especial do clã do fogo.

—  É sério isso? — Questionou olhando diretamente para os olhos de Patrick

 Sim, eu os escutei enquanto ia para cozinha, depois do que me tornei sou invisível aqui dentro. —  Sua voz parecia tão melancólica quanto seus olhos.

O príncipe não parecia dar tanta atenção assim para a informação, vivia quase trancado naquele pavilhão, ninguém nunca tinha visto seu rosto, então ele sabia que iriam por outra pessoa em seu lugar.

—  Mais um motivo para curtir a noite... se vou morrer, então por que não fazer tudo que tenho vontade. — Falou malicioso e um pouco risonho. 

  Não é uma boa ideia alteza, ainda não sabemos se você vai mesmo ser o sacrifício, e tem outro detalhe, acha mesmo que o Digeon, vai te entregar para ser decapitado?   Patrick tinha a mesma linha de raciocínio que o semi Deus.   Ele vai manter escondido aqui e colocar outra pessoa em seu lugar e para não ser injusto com o povo essa pessoa seria eu.

—  Não fale coisas assim, ele não vai colocar a minha vida acima da tua. — Thomas rebateu, mas tinha logica nas palavras do outro e ele sabia disso.

—  Não foi você a ser mutilado, não foi você a ser arrastado a força para aquele lugar sujo e imundo, com sangue de outras pessoas ao redor, pessoas que iriam ser eunucos também. — Falou alterando sua voz. —  Eu fiquei sozinho lá, me recuperando no meio do mal cheiro, em meio a dor que havia sentido, e quando foram me buscar a ferida ainda sangrava, eu cheguei aqui e meu pai simplesmente se esqueceu que eu existia. — As palavras exaltadas eram quase jogadas na face do outro, ele nem se lembrava mais de seguir penteando os longos cabelos dourados do príncipe.

  Sinto muito irmão... não precisa repetir essa história toda, eu já conheço os detalhes dela...

  Mesmo não sendo meu irmão de sangue me chama de irmão.   Sorriu sarcástico.  Detesto ser visto dessa maneira por você.

  Não entendo o que diz, é meu irmão sim, os fatos não mudam. — Retrucou um pouco contrariado.

  E não precisa entender, eu sabendo o significado disso é o que importa, não deve pensar em nada alteza. — Patrick ainda usava o tom sarcástico em sua voz. 

—  Basicamente eu devo ser a única pessoa com quem ainda conversa, então não seja chato e me explique as coisas que você fala.

  Não quero ser visto como seu irmão, mas esse é um sentimento meu. — Falou calmo, ele não ia dar mais detalhes, mudou seu tom de voz vendo que estava falando demais sobre seus sentimentos. 

—  Você com essa voz calma e suave as vezes fala coisas muito duras, acho que é o contrário, quando diz que gosta.

  Não seja infantil.   Tentou manter a paz entre eles.   Eu vou sair agora, volte a cobrir o rosto ninguém pode te ver. — Falou entregando o véu nas mãos do príncipe.

  Deixe uma de suas vestes de eunuco aqui, eu vou sair sim. — Desafiou o loiro, ele nunca havia obedecido antes, agora não seria diferente.

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