Não É Tarde
Não É Tarde
Por: Pierre Wallace Thompson
01

Me chamo Carla Adriana de Vieira Martins, sou brasileira, mas faz anos que não vejo o meu país.

Fui bailarina profissional pela American Ballet Theatre que é uma das mais renomadas escolas de Ballet do mundo, fazia apresentações em diversas cidades e países diferentes, infelizmente o Brasil não foi um desses, mas hoje é o dia, o dia em que eu volto para o Brasil.

Ser uma bailarina profissional sempre foi o meu sonho, desde criança, e eu sempre me esforcei muito para isso, e posso me orgulhar em dizer que consegui alcançar o sucesso na carreira que escolhi.

A idade chegou e eu estou me aposentando, mas me aposento sendo um dos grandes nomes do mundo do ballet, com diversas medalhas e premiações em competições e festivais, eu fui muito feliz na minha profissão.

Hoje a minha volta ao Brasil marca um novo começo na minha história, um novo desafio, um novo trajeto, mas não tão diferente assim do meu caminho, porque o meu caminho sempre vai ser a dança, então estou voltando ao Brasil para abrir a minha própria escola de dança, a tão sonhada Vieira Dance Academy.

...

— Eu estava morrendo de saudades. — Fala Hernando me abraçando assim que desembarco do avião.

Hernando era o meu namorado, acho que há uns 2 anos já, entre idas e vindas.

Ele é produtor de tv, inclusive conheci ele um programa de tv, uma competição de dança na qual participei.

Como eu e ele viajávamos muito a gente não se via com frequência, esse quase sempre era o motivo das nossas brigas, mas agora comigo morando no Brasil acho que isso não será mais problema, Hernando atualmente mora no Brasil, ele é produtor de um programa chamado Perfect Kitchen.

Ele me explicou por alto que se tratava de um programa de culinária, uma competição também, inclusive hoje terá uma festa em comemoração à nova temporada que iniciara, e apesar deu estar exausta da viagem e querer descansar, Hernando fez questão que eu o acompanhasse, então eu fui.

...

O lugar da festa era enorme e também estava entupido de gente, principalmente na entrada, lembro que Hernando me puxava pela mão tentando entrar, mas realmente tinha muita gente, e por um segundo que me dispersei, acabei soltando a mão do Hernando e ficando sozinha ali no meio daquela multidão.

Resolvi continuar tentando entrar, o Hernando provavelmente faria o mesmo e lá dentro seria mais fácil de nos encontrar, e assim eu fiz.

Logo consegui entrar, mas assim que eu passo pela porta, esbarro em alguém que estava de costas para mim.

— Me desculpa. — Eu falo sem graça, mas a pessoa nada responde.

Ela vira para mim em silêncio, se tratava de uma mulher, uma mulher alta e elegantíssima, eu realmente fiquei impressionada com a beleza dela, ela era incrivelmente bonita, eu acho que nunca tinha reparado tanto em uma mulher.

Mas aquela mulher realmente me intrigou, a beleza dela era diferente, delicada; ela usava um vestido que valorizava todo o seu corpo, e tinha um olhar marcante, sensual; seus cabelos balançavam por conta do vento e aquilo a deixava... tenho até vergonha de dizer, mas era sexy.

Estávamos ali, uma de frente para a outra, em total silêncio; ela apenas abriu um sorriso para mim, e que sorriso, eu parecia hipnotizada por ele.

O que está acontecendo Carla Adriana? Eu mesma me perguntava e não tinha noção nem uma de resposta, meu coração estava disparado, a minha boca seca, minhas mãos começaram a soar e me faltou o ar, que diabos está acontecendo comigo?

— Carla? Carla estou aqui. — Escuto o Hernando me gritar.

Viro o rosto na direção da voz dele por um instante e quando volto a olhar para minha frente, a mulher não estava mais lá, ela desapareceu de repente dando fim aquela situação estranha.

Vou em direção ao Hernando e fico junto dele a maior parte do tempo, nesses eventos o Hernando sempre costumava sumir e me deixar sozinha, então minha condição para ir nessa festa, foi dele prometer não me largar só, e assim ele fez.

Mas o Hernando parecia conhecer todo mundo daquela festa, ele rodou o lugar inteiro, me apresentando a cada indivíduo que ali estava, eu não aguentava mais ficar em pé.

— Hernando eu preciso me sentar. — Peço.

— Mas eu queria te apresentar a...

— Não, por favor, vamos sentar. — O interrompo antes que ele me convencesse.

— Está bem, vamos subir então lá em cima está mais calmo. — Ele segura minha mão e vamos ao segundo andar.

Finalmente sentei, já não sentia mais as minhas pernas, só que na verdade a minha vontade mesmo era de ir embora, mas sei que o Hernando se recusaria e também não me deixaria ir sozinha, Poxa eu não conhecia ninguém naquele lugar, estava me sentindo deslocada, e ali eu era apenas a namorada do Hernando, eu odiava isso.

— Hernando já foi falar com o Cardoso? Ele acabou de chegar. — Um homem fala com Hernando.

— Ele está lá em baixo? — Hernando pergunta.

— É. — O homem responde.

— Vou ir lá já, vamos? — Ele fala e olha para mim.

— De jeito nem um Hernando, eu acabei de sentar, estou cansada. — Respondo.

— Mas eu queria te apresentar a ele.

— Não Hernando. — Falo firme, já estava sem paciência, para começar eu nem queria ter ido.

— Está bem, então eu vou lá falar com ele e já volto.

— Vai me deixar sozinha? Você me prometeu. — Reclamo.

— Raquel? — Ele para uma mulher que passava. — Aqui Raquel faz um favor para mim? Fica aqui fazendo companhia para a Carla por favor, eu já venho. — Ele fala e simplesmente saí.

— Não acredito. — Eu falo abaixando a cabeça.

— Prazer, Raquel Sánchez. — Ela abre um sorriso e estica a mão para mim.

Assim que eu levanto a cabeça para olhar para ela, entro em estado de choque, era ela, era ela novamente, a mulher que eu havia esbarrado e que tinha me deixado totalmente fora de mim, era aquele sorriso de novo, aquele lindo sorriso.

Ela ainda fica ali com a mão estendida para mim por um tempo, esperando que eu saísse do transe em que me encontrava, ou seja lá que nome dar para esse efeito que ela causa em mim.

— Prazer, Carla Adriana. — Finalmente consigo responder e aperto sua mão.

Foi estranho, foi realmente muito estranho, quando a gente se tocou, pareceu que uma corrente elétrica atravessou todo o meu corpo.

Foi mais que um simples aparto de mão, sei lá eu não sei explicar direito, mas foi algo diferente e incomum, algo que eu nunca tinha sentido, foi como se tivéssemos nos conectados.

Eu pareço uma louca falando essas coisas eu sei, mas foi isso que eu senti.

Ela continua olhando para mim e eu para ela, ainda com as nossas mãos unidas, até que ela puxa a mão e termina aquele momento.

Ela se senta na mesa comigo assim como o Hernando havia pedido, mas não fala nada, eu também mantenho o silêncio, e putz, que situação constrangedora, o silêncio que reinava era incomodo, até que ela o rompeu.

— A gente fala bastante, não é? — Ela fala e rir, me fazendo rir junto. — Vai, vamos conversar por favor me conta sobre você. — Ela puxa a cadeira para mais próximo de mim.

E aquilo me causa pânico, ela estava ali, tão próxima de mim, tudo o que eu havia sentido antes volta, e eu não sei porque, não sei porque aquilo estava acontecendo, não estava entendendo nada, mas resolvi então corresponder o que ela havia pedido e começamos a conversar.

Naquele curto período de tempo a gente conversou sobre tudo, foi incrível, o assunto rendeu de uma tal maneira, que parecia que nos conhecíamos a anos.

Quando eu falava ela parecia se concentrar em cada palavra que eu dizia, era uma excelente ouvinte, mas quando foi a vez dela falar confesso que me dispersava um pouco, me pegava olhando para o seu decote ou me embriagando do seu perfume.

Eu estava assustada e confusa com aquilo tudo que estava acontecendo comigo, mas ao mesmo tempo feliz demais, ela me fez me sentir tão bem.

Ela era uma mulher adorável, engraçada, divertida, simpática, e o sotaque dela era a coisa mais apaixonante do mundo, ela me contou que é Argentina, de família italiana, vocês podem imaginar, nós tínhamos tantas coisas em comum.

— E o Hernando? — Ela olha em volta como se o procurasse.

— É ele sumiu. — Eu ficava a admirando. — A me desculpas, Raquel você não precisa ficar aqui me fazendo companhia, nossa me desculpa, você pode ir.

— Não, não é nada disso. — Ela rir. — Estou adorando ficar aqui com você, é que eu realmente estou apertada para ir ao banheiro, — Ela faz uma cara engraçada. — E não queria deixa-la sozinha.

— Tudo bem eu vou com você então.

— Ok. — Ela fala alto se levantando, e eu a sigo.

No caminho do banheiro eu esbarro em um garçom que acaba derrubando bebida em mim, era a segunda pessoa que eu esbarrava aquela noite, acho que estava precisando usar óculos.

— Que droga. — Eu entro no banheiro reclamando e tirando a blusa que eu vestia para tentar me secar.

Eu não me importei com a presença da Raquel, até que eu reparei o olhar dela sobre mim.

O estilo da minha blusa me impedia de usar sutiã, então quando a tirei, fiquei com os seios completamente de fora, não maldei a situação, era um banheiro feminino, Raquel também era mulher, não tinha nada demais, pensei.

Mas a maneira que ela me olhava, sim, tinha algo a mais, eu não saberia explicar com precisão a forma que ela me olhava ou que significava aquele olhar, e pode até ser loucura da minha cabeça, mas eu me senti desejada.

Era um olhar que eu estava acostumada a receber dos homens, e o mais engraçado é que eu gostei, gostei do jeito que ela me olhou.

— Vou fazer xixi. — Ela correu um tanto quanto constrangida.

Enfim, assim que saímos do banheiro eu encontrei o Hernando, ele já queria ir embora.

— Foi um prazer te conhecer Raquel, muito obrigada pela companhia. — Eu falo me despedindo.

— Imagina, o prazer foi todo meu. — Ela responde e beija o meu rosto, aquilo causa arrepio em todo o meu corpo. — A gente se vê. — Ela fala no pé do meu ouvido.

— Tomara. — Eu falo e sorrio para ela.

Ainda ficamos nos olhando por uns instantes, e foi como se toda a festa desaparece, e só sobrasse eu e ela, igual quando nos esbarramos, quando nos apresentamos, ou outrora naquele banheiro, até que Hernando me chama.

— Então vamos?

— Vamos. — Respondo nervosa.

— Obrigada Raquel. — Ele se despede dela.

— Tchau.

— Tchau, boa noite. — Ela fala.

Fui embora com o Hernando, e eu não sei porque, mas não tirava ela da cabeça, abria um sorriso involuntário toda vez que me lembrava dela, e ainda naquela noite sonhei com ela, eu sonhei com a Raquel Sánchez, sonhei que nos beijávamos.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo