Capítulo 3

Clair Hale

A garota que conheci em minha nova escola me enviou seu endereço por mensagem, constatei que ela realmente mora bem perto da minha casa. No momento ja me encontro na porta de sua casa de dois andares, passo a mão pela minha blusa preta e larga em uma tentativa falha de parecer um pouco mais arrumada e me distrair da leve ansiedade que se aponderou do meu corpo. Toco o interfone após respirar fundo e criar coragem suficiente para tal ato e não demora para Melanie abrir na porta da entrada com um sorriso enorme na face. Ela veste um vestido soltinho amarelo que lhe trás um ar ainda mais vivo contrastando com sua animação ao me ver, os cachos balançam pelo vento de uma tarde em Londres conforme caminha ate o portão para me receber.

- Oii Clair! - Nos abraçamos brevemente.

- Oie Mel, vamos? Pensei em lhe mostrar o bairro, o que acha?

- Pode ser.

- Tem um parque que eu gosto muito de ir a duas quadras daqui, podemos ir lá.

- Ótimo, vamos! - Começamos a caminhar pelo bairro sem pressa e em silêncio, até Mel falar novamente.- Então, posso perguntar uma coisa?

- Pode sim. - Olho de relance pra ela. 

- Quem eram aqueles meninos parados na porta da nossa sala quando saímos? - Ela pergunta nitidamente curiosa e eu sorrio de canto.

- Meu irmão mais velho e os amigos dele. Não conheço alguns muito bem, só o Leon. - Ela ergue a sobrancelha pra mim com um sorrisinho nos lábios cobertos de gloss.

- Eles são bonitos. - Ela constata e nós rimos, não concordo e nem discordo. - Quantos anos você tem, Clair?

- Tenho quinze e você?

- Eu também!! Você mora com quem?

- Com meu irmão e meu pai. E você? 

- Ah, só com meu pai. Minha mãe se separou dele quando eu era pequena, nem a vejo com frequência. - Ela diz fazendo pouco caso, mas consegui sentir pelo tom da sua voz que ela se importa muito com esse fato. - Me desculpe se eu for invasiva demais, mas e a sua mãe? 

- Ela morreu. - Reprimo os lábios desconfortável com o assunto e por sorte a morena percebe e muda de assunto. Melanie e eu conversamos sobre outros assuntos superficiais para nos conhecer melhor e não deixo de fico surpresa ao perceber que tudo fluía muito bem entre nós duas. Chegamos no parque minutos depois e nos sentamos em um banco.

O parque não estava muito cheio, o sol ja não estava mais tão forte devido ao fim da estação de verão, algumas crianças brincavam animadas ao longe em um pequeno parquinho que eu, Caleb e Leon adorávamos brincar na nossa infância, uma brisa leve atingia nosso corpo nos refrescando.

Melanie me falou sobre suas atividades extra curriculares que gosta de fazer, tipo tocar piano. Falamos também sobre qual é nosso sonho pro futuro, e descobri que ela quer se tornar uma estilista. Quando mencionei meus livros ela ficou muito curiosa para lê-los, prometi deixar isso acontecer um dia.

- Obrigada por vir comigo Clair. Eu estava com receio de não fazer nenhuma amizade aqui em Londres, mas assim que eu te vi na sala de aula já te achei interessante.

- Eu também. - Um suspiro de total alivio escapa pelos meus lábios e ela olha pra mim de relance com seus olhos castanhos escuros. - Eu também não tinha amigas.

- Nenhuma? - Nego com a cabeça. - Mas... porque?

- Sempre fui introvertida e tímida demais, acabei sendo ignorada por todos. - Dou de ombros com o olhar perdido pelo parque arborizado.

- Então, agora somos oficialmente amigas. - Ela estende a mão pra mim com um sorriso enorme na face e eu sorrio verdadeiramente pegando em sua mão. - Estaremos sempre juntas nos apoiando, não importa quais dificuldades tenhamos que enfrentar, promete não me abandonar?

- Prometo, você promete?

- Óbvio que sim. - Ela sorri e nos abraçamos.

Uma barreira da minha vida foi quebrada, e ali eu soube que nascia uma grande e bela amizade que enfrentaria comigo os meus piores momentos, seria sempre eu e Melanie, a garota que é totalmente o meu oposto mas que completaria minha vida.

Acabamos indo embora para nossas casas um tempo depois quando começou a escurecer e combinamos de irmos juntas pra escola no dia seguinte junto com os meninos. 

Ao chegar em casa vou saltitante até o quarto de Caleb para lhe contar como foi meu passeio com minha nova amiga.

 - Conta tudo florzinha!

- Eu tenho uma amiga agora Cal! - Faço uma dancinha ridícula demonstrando ao meu irmão toda a minha felicidade interior com tal fato. 

- Aí Clair, que ótimo! Eu fui com a cara dela, ela parece ser bem legal. - Ele diz com um sorriso enorme no rosto.

- E ela é.  Amanhã ela vai pra escola com a gente.

- Ótimo. Assim vejo se ela é legal mesmo. - Nos sentamos em sua cama. - Fico feliz de te ver alegre assim irmã.

- Eu também. - Ele me envolve em um abraço apertado.

[...]

- Bom dia irmãos. - Leon diz ao nos ver na manhã seguinte prontos para ir pra escola e retribuímos o cumprimento seguindo o nosso percurso pra escola. Gregory e Zac se juntam a gente minutos depois e iniciam uma conversa animada com os outros dois garotos, não demoro a avistar Melanie nos aguardando na esquina de sua casa.

- Bom dia Clair. - Ela deixa um beijo em minha bochecha.

- Bom dia Mel. - Repito seu gesto e noto os meninos nos olhando minimamente curiosos.

- Aí gente, desculpa perdi a hora. - Louis chega ofegante da sua pequena corrida nos interrompendo e sorri pra mim - Bom dia Clair. 

- Bom dia Louis. Bom meninos, essa é a Melanie. Mel, esse é Zac, Louis, Gregory, Leon e Caleb meu irmão lindo. 

 Aponto pros meninos os apresentando para minha nova amiga e eles sorriem simpáticos. Melanie os deseja um bom dia levemente envergonhada antes de voltarmos a andar rumo ao colégio, eu e Mel ficamos mais atrás deles. 

- Você e seu irmão são muito parecidos Clair!!! O olho azul, o cabelo loiro, a pele... tudo.

- Somos um pouco mesmo. - Sorrio de canto.

Os horários na escola passaram rapidamente até o horário do intervalo, eu e Melanie saímos da sala de aula conversamos e encontramos os cinco garotos nos aguardando, não resisti e acabei por implicar com eles, o que fez Mel ter uma crise incontrolável de riso e os meninos fingirem estar bravos comigo.

- Você não ri muito né?! - Melanie pergunta quando consegue parar de rir um pouco.

- Não muito. - Dou de ombros com o olhar perdido pelo refeitório do colégio de estrutura antiga e sofisticada.

 Eu cresci tentando lidar com minha timidez, e sorrir demais não faz tanto parte da minha personalidade, não acho que tenho o direito de sorrir também. Foi por minha culpa que meu pai e meu irmão perderam o lindo e radiante sorriso da minha mãe todas as manhãs. Então eu cresci com isso na minha cabeça, uma culpa de que eu a matei mesmo sabendo que eu não poderia evitar o ocorrido... Eu tirei esse sorriso da vida deles, eu não tenho direito de sorrir e causar mais sofrimento em nossas vidas. Talvez seja por minha culpa que meu pai não é presente na vida de Caleb...

- Clair? Vamos pra sala? - Melanie me cutuca e eu assinto.

- Tchau rainha do deboche. Daqui a pouco estaremos na porta da sua sala novamente. - Desvio meu olhar de Melanie para Louis e ele sorri falsamente meigo. 

- Minha nossa, vamos Mel, Louis é esquisito demais pro meu bem. - Falo fazendo uma careta e reprimindo os lábios pra não rir da cara do garoto de lindos olhos azuis. Caleb e Leon não se aguentam e começam a rir.

- Vai logo pra sua sala mulher. - O dono dos olhos azuis diz e eu começo a caminhar até ele tentando não rir. O mesmo corre pra trás de Caleb. - Me protege Caleb! - Os meninos e Mel estão rindo de novo, e eu apenas chego perto dele reprimindo os lábios e o encaro olhando levemente pra cima. Seus olhos azuis perfuram os meus me causando um arrepio desconhecido por todo meu corpo.

Os poucos segundos se pareceram uma eternidade até eu me dar conta do que estava acontecendo e eu me viro de costas pra Louis engolindo em seco com as bochechas queimando e saio de perto dele indo pra minha sala em silêncio com Melanie atrás de mim.

- O que foi aquilo ali fora?- Seu questionamento me faz enrijecer o corpo na defensiva, nem eu mesma sei responder o que foi aquilo.

- Hum?

- Vocês e Louis. Meu Deus, se alguém entrasse no meio de vocês seria capaz de morrer com as fuziladas.

- Nem foi tanto assim, exagerada. - Desconverso arrumando meu material em cima da minha carteira.

- Ah, foi sim. Ele ficou te olhando o intervalo todo. - Olho pra ela como um gato pego no pulo assustada, mas disfarço no mesmo instante.

- Ele é maluco.

- Tem um clima entre vocês. - Ela diz como uma afirmação e eu fico calada sem saber o que dizer. Tem um clima entra nós?

- Qual deles você acha mais bonito? - Pergunto desviando o foco da conversa de mim.

- O Gregory. - Ela diz sem pensar e sorri envergonhada por ter admitido facilmente.

- Interessante isso. - Digo divertida e ela bate de leve em meu ombro rindo.

[...]

Caleb se manteve quieto até chegarmos em casa, mas eu sabia que ele iria me perguntar algo relacionado a Louis. Eu mal conseguia raciocinar direito, agora a pouco ele depositou um beijo em minha bochecha antes de ir pra sua casa e eu ainda consigo sentir a sensação de ter seus lábios contra minha pele. O que esta acontecendo comigo?

Para minha surpresa Caleb não perguntou nada, ele apenas me encarou por alguns segundos e constatou algo com total convicção. Ele não precisava me perguntar nada para saber o que estava acontecendo, mas sua confirmação me deixou recuada como uma presa diante do seu predador.

- Acho que você está se apaixonando por Louis.

- Caleb...

- Eu disse o que eu acho, florzinha. Saiba que pode falar comigo sempre que precisar, eu vou ficar do seu lado independentemente do acontecer. - Ele faz um carinho na minha bochecha e eu sorrio pra ele ainda confusa demais.

Após o almoço minha mente ainda permanecia cheia demais me impedindo de pensar com clareza sobre tudo e mal conseguia organizar meus sentimentos. Acabo tomando um banho rápido e trocando de roupa antes de decidir ir até o parque próximo da minha casa. Aviso Caleb antes de sair de casa.

Chego no parque e me sento em um banco afastado e vazio. Meus pensamentos estão uma confusão, não entendo o que esta acontecendo comigo em relação ao Louis, as crianças brincando aqui no parque com suas famílias também não me ajuda muito a pensar com clareza. 

A culpa me atinge em cheio quase me sufocando me impedindo de ver o parque a minha frente quando meus olhos são tomados por lágrimas dolorosas. Mamãe faleceu no parto quando eu nasci após uma complicação na cirurgia. Nunca vi seu sorriso, nunca tive seu carinho após um dia difícil, eu nem sei o que é sentir o amor de mãe. Sei que ela cuida de mim e de Niall de longe, lá do céu, mas eu sinto matei ela. Foi no meu parto que ela morreu para me salvar, mas eu queria que as coisas tivessem sido diferentes. Por esse motivo eu odeio a data do meu aniversário, porque é o dia da morte dela...

- Hey Clair?! - Olho pra frente assustada e vejo Louis com um olhar preocupado, nem de longe parecido com o garoto alegre e divertido de sempre. Passo as mãos pelos meus olhos secando as lágrimas.

- Oi Louis.

- O que houve? Quer conversar? - Nego com a cabeça impossibilitada de dizer algo sentindo o choro preso em minha garganta ainda. Louis se senta ao meu lado no banco sem saber o que fazer. Ficamos um tempo em silêncio até ele voltar a falar. - Sabe, eu também não gosto de falar com ninguém o que eu estou sentindo. Mas às vezes confiar em alguém e colocar pra fora o que você esta sentindo ajuda... 

No momento minha confusão pelos acontecimentos com Louis parecem insignificantes ao vê-lo ali ao meu lado. Acabo cedendo ao seu concelho numa tentativa de aliviar meu sufocamento interior.

- Eu matei minha mãe. - Ele se vira pra mim assustado pelo meu modo de falar. - No meu parto ela teve uma complicação e escolheu a minha vida para salvar e não a dela. O dia do meu aniversário é um lembrete que fazem tantos anos que eu à matei. - Deixo algumas lágrimas queimarem minha pele com pesar e Louis me envolve em um abraço caloroso e reconfortante, me senti segura ali em seus braços.

- Clair, não foi você quem matou ela, foram as complicações que ela teve no parto, foi uma decisão dela que não tinha como você interferir. Não se martirize por isso...

- Você não faz ideia de como é viver com esse peso nos ombros diariamente Louis, saber que pra mim estar aqui ela escolheu ir embora para sempre... - Afundo mais minha cabeça em seu peito soltando um soluço baixo sem conseguir controlar minhas lágrimas. - Meu pai não liga para mim e Caleb, Louis, ele mal aparece lá na nossa casa. Sabe quando eu vi ele pela última vez?! Domingo á noite. Sempre foi só eu e Caleb... É óbvio que eu o amo muito e o valorizo muito, Cal sempre cuidou de mim, mesmo sendo menos de dois anos mais velho que eu. Mas eu não sei o que é ter o amor de mãe e pai!  Eu só queria ser como aquelas crianças... felizes, com amigos e uma família completa.

Louis leva uma das mãos ate meu cabelo e começa a fazer um carinho no local, me apertando mais em seu abraço.

- Oh princesa, eu imagino que deve ser difícil conviver com tudo isso, mas não é culpa sua de forma alguma. Se o seu pai age assim é porque ele não sabe lidar com os filhos maravilhosos que têm... Eu acho linda a relação entre você e o Caleb, imagino que vocês tiveram que amadurecer muito rápido pra lidar com tudo.

- Sim...

- Então, mas não deixe de ver a cor do mundo por causa disso. Tenho certeza que sua mãe sempre sonhou em te ver feliz e sorrindo por aí...

- E que motivos eu tenho pra sorrir se fui eu quem tirou o sorriso mais lindo do mundo?! - Questiono com a voz baixa e embargada.

- Clair, não pense assim. Ela se foi por escolha própria não tem nada pra você se culpar, e tenho certeza que o seu sorriso deve ser parecido com o dela...

- O Caleb diz que é pelas fotos que já vimos. Eu me pareço tanto com ela... Os olhos azuis, o cabelo loiro, o sorriso, o corpo.

- Então honre a imagem da sua mãe Clair! Não fique se culpando, mas faça valer a pena essa oportunidade que ela lhe deu de viver. Coloque um sorriso no rosto, realize seus sonhos, e os que ela tinha pra você também. Faça ela ser lembrada! - Ele me aconchega ainda mais em seu peito e eu respiro fundo sentindo seu cheiro de banho recém tomado. Me sinto mais leve e confortável, como se uma carga pesada fosse tirada dos meus ombros.

- Obrigada Louis. - Olho em seus olhos quando nos afastamos um pouco do abraço, ele leva as mãos até minhas bochechas secando os restos de lágrimas da região enquanto me olha intensamente.

- Sempre que precisar conversar pode contar comigo princesa! - Ele sorri e eu me pego admirando seu lindo sorriso. - Vamos pra casa? Caleb deve estar preocupado com você.

- Vamos.- Nos levantamos do banco e começamos a caminhar lado a lado sem saber o que dizer. 

- Vou te levar até em casa.

- Não precisa Louis.

- Precisa, e não adianta discutir. - Não digo mais nada. A presença de Louis me acalma, assim como o abraço. Paramos em frente a minha casa minutos depois e Louis me envolve em um abraço novamente. - Olha, aqui está o número do meu celular, sempre que precisar de um amigo é só me m****r mensagem.

- Obrigada Louis. - Sorrio sincera pro garoto, envergonhada pela nossa proximidade, e pego meu celular da mão dele.

- Seu sorriso é realmente lindo! - Ele sorri também e eu o observo ir embora sem dizer mais nada. Talvez Caleb tenha razão, eu estou me apaixonando por Louis...

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo