3. O Plano

Adriano...

Eu estava tão maluco com a ideia de ter de me casar que quase não dormi e agora estava ainda mais aborrecido do que ontem. Isso era ótimo, para ser bem irônico.

Se Hank não fosse tão irritante com essas regras familiares eu poderia já ser o dono legal do castelo á essa hora. O tempo corria e eu precisava me organizar para não deixar Diogo passar na minha frente. Isso eu não iria admitir.

Diogo nem mesmo gostava desse tipo de coisa. Ele achava que propriedades assim antigas, deveriam ser reformuladas e modernizadas. Dizia que o passado deveria ficar para trás. Se ele ganhasse o castelo, eu poderia dizer adeus de vez á propriedade.

Não conseguia me concentrar no exercício e decidi parar. Achei melhor ir tomar um banho.

_ Só espero que o vizinho não venha me encher. Cara chato!

Liguei o som e deixei o Steve Tyler da banda Aerosmith gritando a plenos pulmões. Gosto de ouvir música alta quando estou ansioso como agora.

Meu vizinho de baixo é um velho chato que reclama de tudo. Quando comprei a cobertura achava que não teria problemas, mas me enganei. Mesmo estando no último andar, de vez em quando as pessoas reclamavam que eu fazia barulho.

Mas eu gostava de morar ali, comprei pela localização, só por isso não me mudara ainda. Talvez no futuro eu fosse para uma casa. Afastada, de preferência. Assim ninguém me encheria por causa de minhas músicas altas e nem das festas até tarde.

Pensei e repensei em tudo o que Alexandre havia dito sobre a herança e quando achava uma saída, logo depois via que não daria certo. Teria mesmo que existir uma mulher real usando meu sobrenome e vivendo comigo.

“Inferno, odeio precisar dos outros”.

A ideia dele de usar a boba da minha secretária era a única saída até o momento. O problema seria ela me ajudar. Eu não gosto dela, mas todos na empresa gostam e Alexandre sempre que aparece é todo gentil. Ele até a acha bonita.

“Como? Só eu que a vejo como é? Não é possível que eu seja o único errado nisso."

_ Ah, que frustração!

Minha cabeça está cheia. Os pensamentos em um turbilhão de ideias, se emaranhando todas e me confundindo mais.

Pensei em como ela seria se fosse mais arrumada. Deixei a água correr no meu corpo e me veio à ideia de xeretar a vida dela. Eu não sabia nada além de seu nome.

Saí do banho e me enxuguei rápido, indo atrás do notebook. Acessei o arquivo da empresa com minha senha pessoal e pesquisei o nome dela. Uma foto com detalhes apareceu.

_ Nossa, já são quase dois anos?

A foto não era das melhores, era pequena e parecia velha, mas dava para notar os grandes olhos castanhos, a boca carnuda, o nariz arrebitado e o cabelo loiro que estava solto. No trabalho ela sempre o deixava preso em um coque de velha.

Analisando bem, ela até que tinha potencial se usasse roupas melhores e se ajeitasse. Era magra demais, quase esquelética. Eu gosto de mulheres magras, mas não ossudas. Carne sempre é bom.

Só que isso não era importante agora. Ouvi o celular tocando no quarto, era Alexandre.

_ Liguei cedo para avisar que Álvaro vai te ligar para saber sobre sua noiva.

_ Noiva? – esfreguei a nuca _ Que papo é esse? Ficou doido, homem?

_ Ele me ligou. Diogo não gostou da mudança de data e reclamou sobre ser mentira que você tinha alguém sério e eu joguei essa de noiva. Se fosse deixar como estava, Diogo iria convencer Álvaro de que era mentira sua ter alguém em vista.

_ Filho da p**a! Eu sabia que ele estava de olho. Sacana - disse irritado.

_ Pois é... Quando ele ligar, crie algo, diga que era segredo... Sei lá! Só não me deixe como mentiroso. Eu joguei como não queria nada, no meio da conversa e me fiz de espantado por ele ainda não saber que você está quase morando com alguém.

_ Ok. Fazer o que? Estou metido em uma roubada, isso sim.

_ Já falou com a Bianca?

_ Ainda não – resmunguei.

_ Tem outra em vista?

_ Não.

_ Então espero que consiga convencê-la ou está perdido. Fodido é a palavra certa.

Quando ele desligou ainda fiquei de cabeça baixa um tempo, pensando no que faria e minutos depois Álvaro ligou mesmo. Consegui fingir surpresa por ele saber sobre meu romance secreto. Não iria deixar o Alexandre como mentiroso. E precisava usar a mentira ao meu favor.

_ Então é verdade? - Álvaro perguntou.

_ Sim – disse animado _ Já estamos com data marcada para o casamento.

_ Mesmo? Que surpresa. Eu nem sabia que estava namorando.

_ Não queremos que outros saibam. Pode guardar segredo? - aumentei a mentira _ Ela é tímida.

_ Claro. Entendo que sua fama de playboy possa atrapalhar, caso suas ex resolvam aparecer.

Senti vontade de mandá-lo á merda, mas me segurei.

_ Na verdade, não quero dividí-la com ninguém – menti de novo. Estou virando especialista.

_ Ah, então ela deve ser muito especial.

_ Com toda certeza. Uma garota muito especial.

_ Bem, voltarei na sexta pela manhã ou no início da noite.

_ Ótimo. O casamento será no sábado.

“Eu estou doido”.

Falamos um pouco e depois desliguei antes que me enrolasse mais. Minha agenda marcava duas reuniões em outras filiais, então eu só estaria de volta na sede no final da tarde, talvez. Respirei fundo e decidi ligar para senhorita santa que atendeu com voz de sono.

_ Sr. Mendez? O que quer?

Não sei se a assustei ou se não gosta de acordar tão cedo. Talvez as duas coisas.

_ Talvez eu não possa retornar á sede ou chegue tarde e preciso que faça algo muito importante pra mim, como sem falta.

_ E o que seria? M****r flores pra outra amante?

Eu até achei engraçado o resmungo dela. Parece que pela manhã ela era mais corajosa.

_ E desde quando eu faço isso?

_ Desde que comecei a trabalhar com o senhor. Várias vezes, aliás.

Verdade. Eu a mandava até mesmo dispensar a mulher quando estava de saco cheio. Flores e presentes era o mínimo.

_ Não é isso, é algo importante de verdade.

_ E o que é?

_ Preste atenção para não fazer besteira – ouvi seu suspiro _ Ao meio-dia você vai me ligar. Em ponto, sem falta. Vai me dizer que chega hoje e...

_ Quem chega?

_ Cala a boca e me escuta – mandei _ Vai falar comigo como se fôssemos namorados e...

_ O que? – ela se espantou.

_ Não me interrompa – bufei _ Você vai estar em viva voz e tem que parecer íntima. Vamos falar sobre o casamento hoje á noite e quando eu chegar ao escritório te ligo – eu sabia que ela estava confusa _ Te explico depois o que isso quer dizer. Você entendeu? Tem que parecer íntima. Me chame pelo nome.

_ Na verdade não entendi. O senhor está bem? Era comigo mesmo que queria falar agora?

_ Estou ótimo. A tonta é você.

_ Realmente está bem – torceu a boca.

_ Lembre-se de parecer íntima, como uma namorada – desliguei na cara dela.

*******

Comecei meu plano aparecendo na casa dos meus tios, coisa que há tempos não fazia, mas sabia que encontraria Diogo lá. Ele mora no mesmo condomínio. Usei a desculpa de estar por perto e resolvi almoçar com eles.

Era ridículo ver Diogo de mão dada com a esposa. Não sei se meus tios não sabiam que era gay ou se aprovavam a mentira para evitar fofocas com o nome da família. Dá pra saber só de olhar. Ele nem mesmo tem um jeito másculo.

Acho isso uma bobagem. Ele deveria assumir e ir atrás da vida que queria ter ao invés de ficar mentindo para agradar e esconder. É até pior na minha opinião. Cada um tem direito de procurar a vida que se sentir melhor, se sentir feliz de verdade.

No horário certo o celular tocou. A tonta era mesmo uma boa secretária. Eu estava sentado á mesa ao lado de minha tia e dei um sorriso de propósito antes de atender. A farsa começava. Atendi sorrindo olhando para Diogo.

_ Bianca – atendi animado. Ela ficou em silêncio e repeti _ Oi, Bianca?

_ Oi... Adriano – falou baixo.

_ Oi minha bonita, quando chega? – tive vontade de gargalhar. Ela deve ter ficado travada.

_ Já cheguei...

_ Que bom. Te ligo quando chegar ao escritório. Vamos acertar o casamento. Agora não posso falar, estou almoçando com meus tios.

Todos olharam para mim com cara de surpresa.

_ Ok – ela murmurou _ Te espero.

_ Se cuide bonita. Até mais – desliguei.

_ Casamento? Você? –Diogo perguntou _ Quem é a azarada? – riu de modo cínico.

Me inclinei para frente com um sorriso falso.

_ Minha secretária.

_ Nossa, que mudança – fez um gesto com a cabeça _ Pra quem vivia cheio de modelos, vai casar com a secretária.

_ E o que tem demais isso, filho? O importante é o amor. Tenho certeza de que ela é especial – minha tia sorriu para mim, seu sobrinho preferido.

Não sabia o que falar sobre Bianca, eu não me ligava em sua vida. E agora só inventando.

_ Ela é... Diferente – isso era verdade _ Avoada e desastrada – meu tio franziu o cenho _ Não gosto quando ela se machuca. Ela sempre se assusta com tudo.

_ Ah, sim – sorriu _ Quero conhecê-la.

_ Eu também, primo. Parece que está apressado. Por quê?

Entendi a indireta dele, mas fiquei na minha.

_ Quero me assegurar de que ela será só minha. Não é sempre que a gente conhece alguém assim como ela.

_ Ih, meu sobrinho se apaixonou. Demorou, mas ainda bem que aconteceu.

Ri do comentário de minha tia. Isso não seria possível, até porque eu não sabia absolutamente nada sobre ela. Teria que corrigir isso. Falei sobre o óbvio.

_ Todos gostam dela na empresa. Ela é educada e gentil, um pouco tímida, fala baixo, faz café e sanduíche para os funcionários, ouve o que eles têm a dizer. É ótima como secretária.

_ E ela é bonita? – Diogo perguntou.

_ Tem grandes olhos castanhos, cabelo loiro, nariz arrebitado, boca carnuda e me atura.

Tentei lembrar de mais detalhes, mas não consegui. Apenas sorri parecendo feliz.

_ Isso já a faz uma santa – Diogo completou.

Quase isso, já que eu a chamava assim.

_ Na verdade ela é boa demais pra mim – assumi.

Não dava para esticar mais a conversa ou ficaria estranho caso a senhorita santa não fosse me ajudar. Eu ia me meter em uma confusão. Mudei de assunto, aproveitei o almoço e me despedi da família, sabendo que deixara Diogo com uma pulga atrás da orelha.

Porém, ainda no caminho para minha segunda reunião minha tia ligou nos convidando para um jantar.

_ Não pode manter a garota só para você. Não seja egoísta. Somos sua família e quero conhecer a garota que conseguiu fazer você mudar de status.

_ Claro que não, tia. Falarei com ela e ligo para marcar – disfarcei.

_ Estarei esperando. Ansiosa.

Desliguei imaginando como faria para que a santinha me ajudasse nessa ou estaria mesmo fodido dessa vez.

Se eu soubesse como jogar as cartas poderia mostrar a ela que só teria vantagens me ajudando com esse plano. A questão é que talvez ela não tivesse mesmo jeito para isso, assim como Alexandre pensava.

Não sei de onde ele tirou a ideia de que ela é especial. Em que?

A garota parece lerda, vive calada, com cara de fome e de preocupação. Como alguém assim, pode ser especial?

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