Depois do enterro, todos os funcionários da Corporação Bertizzollo se reuniram.

Depois do enterro, todos os funcionários da Corporação Bertizzollo se reuniram. Pouco antes das cinco horas da tarde, todos estávamos na biblioteca que ficou totalmente cheia. Encontravam-se Todos os filhos (Chefes), os Capos, e todos os Soldados. Juntamente com as famílias associadas e o Consigliere, Antony.

Todos estavam diante de um homem, Don Salvatore.

Vincent

Eu fiquei em um canto. Meu pai, ainda muito abalado iniciou a reunião:

— Como todos sabem, estamos com um problema nas mãos. Renata deixou essa casa sem ser vista. Enzo e Enrico foram até a casa dela. O mordomo disse que a viu saindo com uma mala. Numa varredura da casa, encontramos o cofre vazio. Conclusão, Renata fugiu.

— Ela foi esperta! — Vitor disse baixo com ira nos olhos. — Ontem o detetive Madson a procurou. Ao contrário do que pensamos, ela logo quis falar com ele. Lógico que nossos rapazes ficaram por perto. Ela não disse nada que nos prejudicasse e passou para eles seu álibi. Com suas declarações colhidas, a polícia a retirou da lista de suspeitos. Ela fez isso tudo para fugir. Com certeza ela já estava planejando tudo. Seu desmaio foi proposital!

Lucas se manifestou.

— Pai, gostaria de cuidar desse caso. Irei investigar em detalhes tudo que aconteceu.

— Você é muito jovem para compreender este mundo. Vitor ficará responsável por esse caso — disse Don Salvatore num tom enérgico. — Todos saiam, e Vincent, fique! Quero falar com você.

A energia inundou as minhas veias com suas palavras. Quando todos saíram, eu me sentei na cadeira que meu pai me indicou.

— Me diga, Vincent. O que pretende fazer daqui por diante? Um dia, você jurou colocar esta família acima de tudo. Todos. No entanto, sumiu por mais de dois anos. Dando as costas para a sua família.

Eu cerrei os punhos.

— Não dei as costas, pai. O senhor conhece minha opinião.

— Dane-se sua opinião! — exclamou Don Salvatore furioso, descontrolado, e seu punho bateu violentamente sobre a mesa. — Foi com esse negócio que menospreza que comprei o cassino. Ou se esqueceu?

— Não pai. Não me esqueci. Mas fiz do cassino um negócio vantajoso. O senhor sabe disso.

— Sei. Mas lá não é o seu lugar. Você sabe o que penso sobre isso.

Meu coração deu uma batida terrivelmente dolorosa e eu não respondi suas afirmações. Ele continuou:

— No passado, eu respeitei seu desejo de sair dessa linha de fogo, mas agora, com a morte de seu irmão, não pretendo mais deixá-lo fora disso. Sabe quantas famílias mantemos com nosso dinheiro sujo? E então? Com a morte de Lorenzo, dará as costas à sua família novamente?

Com ele não adiantava argumentar. Eu senti um aperto no meu peito que reforçou que eu não tinha mais uma escolha:

— Não pai, não voltarei para Las Vegas.

— Ótimo. Quem cuidará do cassino daqui por diante, será Lucas.

— Ok! — respondi resignado, enfrentando seu olhar duro.

— Você é parte dessa família. Isso é o que somos.

— Eu sei, pai.

— Sabe?

Pensei no meu irmão naquele caixão. A pressão acumulou-se no meu peito até que eu não aguentei mais e disse:

— Sei que me culpa também pela morte de Lorenzo.

Desviei os olhos dos de meu pai. Minha respiração ficou pesada com várias emoções explodindo através de mim em uma rápida sucessão: raiva, culpa, tristeza e ojeriza por tudo. Baixei a cabeça sem conseguir olhar para ele. Ouvi seu movimento vindo em minha direção.

Senti sua mão no meu ombro:

— Não te culpo. Todas as famílias têm os seus infortúnios. Se culpar não trará seu irmão de volta. Precisamos apenas achar os culpados. Seremos como jogadores do cassino. As probabilidades estão contra nós, mas há sempre uma hipótese de bater as probabilidades. Eu quero vingança. Quero as pessoas responsáveis por tudo, mortos.

Eu olhei para o lado e vi seu rosto duro, crispado. Ele era uma força poderosa, e eu senti pena de quem pagasse por sua ira.

— Eu sei — suspirei pesadamente, lutando contra a depressão e cansaço.

— Tudo funcionava bem, como uma máquina. Faz mais de três anos que não entramos em uma guerra. Isso que aconteceu com seu irmão é algo a ser investigado. Por isso, eu preciso de você aqui!

— Lucas já sabe que cuidará do cassino?

— Não, ainda não falei com ele. Mas tenho certeza que ele não resistirá. — Você vai estar ao meu lado, afinal? — Meu pai me lançou um olhar perscrutador.

— Sim — repliquei energicamente.

— Ótimo. Ajude então Vitor a achar aquela vagabunda e foque nisso. Quero sua vida investigada. Todas as pessoas com quem ela manteve contato, quero que ela pague com preço de sangue. 

Miami Beach, Flórida 1991....

Um ano antes, quem visse Vincent, o veria sentado no luxuoso escritório do cassino que dirigia em Las Vegas, comandando os negócios como ninguém. Alto, magro, mas forte como um pugilista, graças aos anos na prática de exercícios em sua academia particular. O cabelo negro, que podia estar bem penteado ou desorganizado, era um charme. Os olhos verdes puxados para o azul, expressivos. Era o único da família que tinha aquela cor de olhos.

  A boca era sexy e cruel – fina e elástica – mas não era dada a demonstrar grandes expansões de vida: Vincent pouco sorria.  Dentre os irmãos Bertizzollo, contudo, Vincent sempre se destacou. Sempre atraiu muitas mulheres, que não ficavam desatentas ao seu charme e elegância.

 Tudo o que tocava transformava-se em dinheiro, que entrava a rodo.

Agora estava em Miami, ao lado do pai. Não fosse pela figura de seu pai, ele podia dizer-se independente. Tinha tanto poder, talvez mais do que tivera quando dirigia o cassino. Mulheres bonitas caíam em cima dele igualmente como antes.

Possuía o seu próprio avião, vivia até mais ostensivamente do que antes. Um verdadeiro homem de negócios. Agora tinha uma grande reputação. De homem violento, que era pavorosa.

 Sua devoção ao pai era um dos sustentáculos do poder da família.

Vincent

Eu me sentia mudado. Pensar nisso não ia me levar à lugar algum. Mas aquele rapaz conservador e antiquado se fora.  Eu me sentia como um homem que nasceu e viveu o tempo todo em sua cidadezinha, mas depois que começou a viver na cidade grande se tornou uma pessoa diferente.

Minha realidade tinha mudado.

Tudo que eu fazia agora era estar ao lado de meu pai e ajudá-lo. Eu, quando dizia que estava ao lado do meu pai, não queria dizer fisicamente, mas eu estava tomando conta dos negócios da família. Apesar de ser responsável por muitas mortes dos homens dos Sebastians que vieram, depois que meu irmão morreu, eu me tornei inabalável. Me tornei leal como um cão à família e ao meu pai, Don Salvatore.

Congelei todos os meus sentimentos. Não havia mais compaixão, não havia mais temor... mesmo assim, não me julgava capaz o suficiente para me tornar o novo Don. Sem meu pai, parecia que metade de minha força desaparecia. Eu precisava dele. Aos poucos, estávamos legalizando nossa vida. Eu queria sair das drogas, e investir em negócios lícitos. Foi uma das coisas que impus a ele, quando assumi os negócios da família. Mas uma coisa não tinha mudado. Ao longo da vida de meu pai, ele arranjara muitos inimigos, eu então fazia essa parte difícil. Eliminá-los ou afugentá-los.

Com raiva, me lembrei da esposa do meu irmão. Renata tinha sumido do mapa, desde o enterro do meu irmão. Desde esse tempo, estávamos a caçá-la. Fortes indícios mostravam que ela era culpada pela morte de Lorenzo. Um dos soldados reconheceu um homem que falava com ela no shopping. Ramon, filho do nosso arqui-inimigo. Eles não tiveram dúvidas em apontar isso, depois que viram as fotos de todos ligados a família dos Sebastians. Sua fuga também não deixava dúvidas sobre sua culpa.

E agora?

Ela estava quieta? Vivendo sua vida?

Ou estava unida aos remanescentes dos Sebastians?

         Ficamos na cola de Ramon por um bom tempo para ver se achávamos ela. Mas nada!

E ela? Estava tramando contra nossa família?

Depois disso, tínhamos tomado muitas providências. Mudanças nos pontos de entrega, na nossa rotina e no modo como pegávamos a droga com nossos fornecedores. Deu um trabalhão danado, mas foi uma das estratégias que encontramos para levantar nossas defesas.

Unido ao desejo de vingança pela traição dessa mulher, eu me apeguei a outro sentimento.  Eu acreditava que a encontrando, essa agonia da culpa que eu sentia por meu irmão estar morto se dissiparia. Os meus lamentos tinham se misturado aos da minha família, que a queria morta.

Morta?

Seria fácil demais.  Antes, queria fazê-la sofrer. Morrer era muito simples para ela. Queria fazer como ela fez com meu irmão. Conquistá-la, deixá-la caidinha por mim e, só então, mostrar quem realmente eu era.

Ela com certeza deveria usar o anonimato. Usando dinheiro vivo. Ou até teria mudado de nome. Tudo isso estava sendo investigado. Eu não perdia as esperanças de encontrá-la. Era questão de tempo.

Saí para o pátio e olhei para a piscina. O tempo estava perfeito para um mergulho, e as pessoas estavam na farra. A casa estava cheia. Eu caminhei ao redor da piscina com vista para o jardim bem cuidado e me sentei ao lado de meu pai e de minha mãe que estava com seu mais novo neto – filho de Vitor – no colo. Estávamos de frente a uma mesa com vários tipos de sucos, tira-gostos, sombreada por um grande guarda-sol.

Um nó no estômago indicava a frustração que me consumia, mas eu tentei não aparentar isso. Não queria pensar na impunidade que aquela mulher livre representava.

— Filho. Por que não se diverte um pouco? — perguntou minha mãe. — Assumir os negócios da família não significa não poder relaxar um pouco. Está sempre carrancudo. Não vejo um sorriso em seu rosto.

— Estou bem assim — respondi, me servindo de suco gelado.

— Vincent, você precisa se casar. Precisamos encontrar uma mulher forte para estar ao seu lado. Afinal, pretendo me aposentar e você será o novo Don. Sua solteirice precisa acabar. Tenho pensado em te arrumar um casamento consanguíneo. Te m****r para a Sicília. Com certeza encontrará uma bella ragazza entre suas primas. Acredito até que compreenda a sua responsabilidade conosco, e isso te assegurará a não se envolver com alguma mulher errada.

— Não enquanto tivermos assuntos pendentes. — Eu encarei meu pai significativamente.

— Eu sei que assuntos são esses. É aquela mulher, não é?

— Empenhei a minha palavra e a minha honra que eu a encontraria e a faria pagar por tudo.

Don acenou com a cabeça afirmativamente para mim.

— Nunca pensei que ela fosse nos trair. Eu a tratava como uma filha — disse mamãe, chorosa.

— Eu a encontrarei e a farei confessar tudo. É questão de tempo.

Sua mãe o olhava, pensando por que Vincent queria fazer a traidora confessar-se culpada? Tal culpa já estava tão provada. A resposta era evidente. Vincent ainda não tinha tanta confiança em sua razão, receava ser injusto, ainda se preocupava com aquela lasca de incerteza que Renata fosse realmente culpada.

— Vincent! Vem para a piscina, a água está uma delícia. — Vanessa — amiguinha de Lucas — ao lado de uma amiga que eu não sabia o nome, me chamou.

Lucas estava conosco, tinha chegado ontem de Las Vegas.

Como eu não respondi, meu irmão nadou até a borda perto delas e olhando para mim, disse:

— Você está brincando? Vincent não se diverte. Ele só pensa em trabalho, trabalho, trabalho... Ele adora essa reputação de homem indomável.

— Lucas, deixe seu irmão!

Antony surgiu do outro lado da piscina. Usava roupas descontraídas, mas seu rosto sério denotava trabalho.

— E aí, Antony? Está de folga hoje?

— Mais ou menos.

Lucas jogou água nele quando ele passou perto da borda onde ele estava:

— Não acredito que veio falar sobre trabalho?

— E fazer o quê? Mas vou sobreviver. Você conhece nossa rotina. O cassino perto disso aqui é moleza!

— Hah! Moleza? Vincent sabe o inferno que é administrar aquilo ali.

Antony se aproximou da nossa mesa.

— O carregamento que esperávamos não chegou.

— Mas que porra? Eu não acredito nisso! — Eu rosnei e minhas mãos correram pelos meus cabelos em exasperação.

Eu encarei meu pai, que fez que não ouviu e apenas olhava o copo. Aos poucos ele queria que eu assumisse os negócios da família. Estava cada vez mais se afastando dos negócios.

— Vamos até a biblioteca. — Eu me levantei. — Pai, o senhor não vem?

— Não, ficarei aqui. Eu confio nas suas ações.

Eu o fitei resignado por um tempo, e fitei Antony que sorria para o gesto de meu pai. Fiz sinal para Vitor que estava com a esposa dentro da piscina. Atendendo meu gesto, Vitor deu um impulso com o corpo e saiu dela. Colocando um robe branco, nos seguiu.

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