+ . • . Febre . • . +

Por Marina Allen.

As cinco e vinte da mesma madrugada. No corredor de meu condomínio com meu chefe.

— Você quer o quê? — Pouco me importou as formalidades.

Se ele estivesse brincando, me usando ou qualquer coisa do tipo, não sairia barato, mas meu chefe nunca foi do tipo que brinca.

Talvez naquele momento, saber que ele não brincava era o que mais me assustava.

— Preciso que finjamos um relacionamento até que a Sra. Moore feche a venda da casa. — E esse pedido me fez engasgar.

Ele já tinha um plano, ele até mesmo já havia dito à ela sobre "nós", um nós imaginário.

— Sr. D'Angelo, não está indo longe demais? 

Ele deu dois passos à frente, encurtando a distância entre nós.

— Como minha secretária, você mais do que ninguém deveria saber que aquela propriedade é a única coisa nos impedindo de colocar a construção do Resort Aurora em prática. — Ele falava sério. — Então sabe que devemos fazer com que ela nos venda a qualquer custo, não sabe?

Ele voltou a andar. Chegou até o elevador ao fim do corredor e disse:

— Têm duas horas para fazer as malas. 

— O quê? Não estou entendendo. Vamos aonde? — Encarei-o perdida.

— Marquei o almoço na casa da Sra. Moore. Vamos passar o dia com ela. 

— Mas senhor...

— Considere trabalho Srta. Allen. — Disse adentrando o elevador.

— Senhor, eu não...

O elevador se fechou levando o mais convencido homem que havia conhecido em minha vida.

— Eu não posso fazer isso... — Resmunguei sozinha.

Quase duas horas depois, lá estava eu, obrigada a estar de malas prontas e me perguntando o quão longa poderia ser a viagem.

Pelo que sabia, não havia voos para o local e ônibus não eram opção para uma pessoa como meu chefe. A única coisa que restava era viajar de carro.

Uma mensagem faz com que a tela do meu celular acenda, leio a ordem de meu chefe para descer e faço um desejo para que o carro quebre.

Ao descer do encontro esperando-me a frente do elevador. Facilmente se confundiria com um cão de guarda, mas para mim, Aaron era um carrasco que veio ao mundo para me torturar.

— Demorou. — Foi o cumprimento dele. — Vamos, chegaremos muito tarde neste seu ritmo. — E por fim me chamou de lenta.

Como ele conseguia ser tão detestável nas vinte e quatro horas do dia? 

— Se me der licença chefe. — Sorri para disfarçar a irritação. 

Se pudesse, teria passado com a mala sobre os pés dele, mas isso só pioraria as coisas entre nós.

O chofer fez questão de abrir a porta para mim, antes de colocar a mala no bagageiro. 

— Obrigada. — Disse ao chofer que me sorriu gentilmente.

— Já podemos ir? — D'Angelo me encarou.

— Claro senhor. — Respondi engolindo uma cápsula para enjoos.

Meia hora de viagem e já havia pedido para que parassemos. Coloquei tudo para fora no posto de combustível, depois de mais uma hora os fiz parar em uma mercearia, pois precisava usar o banheiro.

Minha bexiga não aguentava mais nada, não importava se estava em casa ou no trabalho, nas últimas semanas havia passado mais tempo fazendo xixi que qualquer outra coisa.

Se tivesse que chutar, devíamos ter chegado três horas mais cedo se não fosse por minhas inúmeras paradas.

— Srta. Allen, se sente bem? — O chofer perguntou ao abrir-me a porta.

Eu sabia que tantos enjoos não deviam ter me deixado com a aparência boa. Devia estar verde e podia confirmar isso ao ver a cara de meu chefe tão preocupado quanto o chofer.

— Meu Deus, ele tem emoções... — Murmurei achando engraçado as feições de D'Angelo.

— Senhora, posso carregá-la se não estiver bem. — O chofer me apoiava pelos cotovelos.

Minha cabeça já estava tão pesada que a tontura não me deixava focar em meus passos e se não fosse pelo amparo logo a frente, teria uma queda inesquecível.

— Pode deixar John, você pode voltar. — D'Angelo falou.

Tinha consciência de que meu chefe me tinha em seu colo, mas as forças que eu precisava para pedir que ele me colocasse de volta ao chão, não estavam presentes.

Meu estômago ardia e a ânsia persistia, mesmo sem ter o que mais eu colocar para fora.

— Sejam bem vindos. — A voz da que devia ser da Sra. Moore chegou até meus ouvidos, ela parecia longe, mas se aproximou logo depois. — Ela está bem?

A preocupação nítida em sua voz me fez querer dizer para quê não se preocupasse, mas meu chefe se entre pôs.

— Não queria chegar invadindo logo assim, mas poderia nos ceder um lugar para descansar? — As maneiras tão educadas de meu chefe pedir tal favor a senhora, me deixaram impressionada.

— É claro, entrem. Há um quarto de hóspedes na casa, pode deixá-la descansar lá. — A senhora nos mostrou o caminho, ou melhor, mostrou a meu chefe o caminho, já que eu parecia apenas ter consciência sem um corpo.

Nós entramos, ele me carregava tão fortemente perto dele, que comecei a senti-lo me apertar.

— Este é o quarto. — Ouvia ela dizer. — Tire o abrigo dela e deixe-a esfriar, parece uma febre alta.

— Não. — Disse eu, em um tom fraco, mas audível. 

Poderia apostar que todos me olhavam, mas naquela altura eu já não conseguia abrir os olhos, apenas os escutava.

— Deve estar delirando, pobrezinha. — A senhora seguiu, ignorando minha relutância.

Tentei dificultar para que não tirassem meu abrigo, pois a blusa de baixo era fina e deixava claramente expostas as curvas de meu ventre. 

— Não... deixem... — Consegui dizer e eles não seguiram.

Respirei aliviada, mas ainda estava preocupada. Como assim estava febril? E o bebê? Ficaríamos bem?

— Olha meu rapaz, ela tem que tirar esse excesso de roupa e precisa de um banho para baixar a febre. — Escutei a senhora dizer mais baixo, apenas para que ele ouvisse.

Meus ouvidos eram ótimos até quando dormia, ouvi-los era fácil, mas cada palavra me deixava mais preocupada. O medo em ser descoberta fez com que minha espinha se endurecesse, eu não precisava daquela pressão. 

Não queria que ele soubesse.

— Escute Marina, vamos ter que tirar, você pode piorar se continuar com este poncho.

Sem força para dizer mais nada, apaguei.

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