Oito

— Ah, sem essa! Olha pra só para você! — disse enquanto me arrastava até a frente de um espelho — Pernas definidas, cabelos loiros e lisos, olhos azuis, barriga chapada, quer mais o que? Uma Ferrari e uma casa em Paris? Você está feita na vida, garota. Se joga!

Sorri ao ouvir a resposta dele. É incrível, ele sempre tem algo motivador e alegre a dizer. Por isso eu pus um sorriso no rosto e virei novamente pra ele.

— É isso aí! — falei — Agora vem, vamos escolher uma roupa! — disse e o arrastei até o quarto, levando minha mala junto.

Joguei todas as roupas de uma vez, sem cuidado nenhum, na cama e olhei para Roger com cara de confusão. Ele riu e começou a analisar todas as peças com olhos de quem entende de moda. Eu só o observava calada enquanto ele separava algumas e fazia cara feia para outras.

Por fim, eram duas mudas de roupa separadas. Um vestido branco liso, que ficaria justo ao corpo e uma saia de cintura alta e levemente rodada escura com uma blusa de seda preta.

Experimentei as duas, mas não me senti bem com o vestido e a saia não casou muito bem com a blusa, então olhei cabisbaixa pra Roger e sentei na cama enquanto encarava os nós dos dedos.

— Já sei! — gritou e foi correndo até o quarto dele.

Fiquei confusa, mas continuei sentada ali, desolada, olhando para o nada. Quando ele voltou com uma de suas blusas na mão, me olhando animado.

— O que acha dessa blusa? — disse esticando-a com as duas mãos e mostrando uma blusa de um azul escuro quase preto com escritas em vermelho e branco na parte superior.

— Linda, mas no que isso vai me ajudar? — perguntei, confusa.

— Veste! — ordenou.

Tirei a blusa de seda preta e vesti sua blusa e o olhei com cara de tédio. Ele tirou um marcador permanente e alfinetes não sei de onde e começou a me rodear, marcando a blusa em vários lugares e pregando alguns dos alfinetes em outros.

— Tira! — mandou.

Enquanto eu tirava a blusa com cuidado pra não cair os alfinetes, ele me olhava animado. Depois pegou a blusa da minha mão e saiu correndo para seu quarto novamente.

Voltou uns dez minutos depois e eu já estava voltando a jogar as roupas dentro da mala quando ele me virou bruscamente e abriu a blusa novamente, mas dessa vez cortada como um cropped. De primeira achei estranho, mas vesti e combinou totalmente com a saia. Era o look perfeito.

— Eu sei, obrigado! — se gabou ao ver meu sorriso aberto enquanto me admirava no espelho.

— Você é mesmo incrível! Obrigada! — disse, enquanto o abraçava loucamente.

— Okay, okay. Agora vai tomar banho porque eu não gosto de pepeca, mas o Harry gosta! Então vá lavá-la. — gritou e me empurrou para o banheiro.

[...]

Cabelos devidamente escovados, maquiagem feita e impecável, roupas no corpo e só faltava o sapato.

— Você está incríveeeel! — escandalizou, Roger.

— Obrigada! — sorri.

— Põe esse daqui! — e me entregou o all-star.

E como não era novidade, ficou totalmente perfeito com a roupa.

Estava quase na hora de Harry chegar e eu estava cada vez mais nervosa com tudo. Não sabia que tipos de assuntos falar, como me sentar, como sorrir e muito menos como disfarçar o nervosismo.

Olhava o visor do meu celular pela milésima vez quando quase o deixei cair no chão com o susto que tomei quando ele começou a tocar junto com uma sincronia de buzinas do lado de fora do prédio.

É ele! Harry chegou!

Me despedi do Roger e ele retribuiu me dando um belo tapa na bunda acompanhado de um "boa sorte" sussurrado, enquanto eu abria a porta afoita e cada vez mais nervosa.

A cada andar que o elevador descia, mais frio na barriga eu sentia. Era um medo de fazer algo errado, de embolar os pés e cair de cara no chão ou apenas medo de ser eu mesma.

Saí do prédio e encontrei Harry escorado na porta do carona de seu carro, incrivelmente lindo em uma calça jeans escura e uma blusa de botões com a manga arregaçada, que deixava um ar mais casual e moderno.

Olhei para baixo assim que seus olhos encontraram os meus eu senti minhas bochechas arderem.

— Olá, Hope! — sussurrou, enquanto me cumprimentava com um demorado beijo na bochecha.

— Oi. — foi tudo o que consegui dizer, depois de um tempo.

— Uau! Você está linda. — disse, enquanto me girava ao seu redor.

— Obrigada. — sorri, tímida.

Ele abriu a porta do carona para mim e eu entrei, o observando rodear o carro até chegar à porta do motorista. Estava incrivelmente lindo.

— Para onde vamos? — perguntei assim que entrou no carro.

— Quando chegarmos você verá. — disse, em tom misterioso.

Assenti e não disse mais nada, apenas apreciei seu belo perfil enquanto ouvíamos alguma batida que tocava ao fundo do rádio.

Uns vinte inquietantes minutos depois, chegamos ao nosso destino. Um restaurante simples, mas lindo, de frente para o Hyde Park, um dos lugares que eu mais gosto nessa cidade.

Ele sorria pra mim com esperança e pude perceber um leve nervosismo em seu olhar, então o lancei um olhar confortante e sorri, fazendo-o abrir ainda mais o sorriso e o nervosismo sumir de seus olhos.

Entramos e ele mal olhou para o garçom, que nos conduziu até uma mesa mais ao fundo, reservada e livre de olhares curiosos.

— E então... — murmurou assim que nos sentamos.

— Então... — dei corda.

— O que gosta de fazer?

— Ah, gosto de ler, escrever e até me arrisco cantando. Faço faculdade e... É, só isso, minha vida não é muito interessante. — dei de ombros.

— Eu achei bem interessante, Hope.

Sorri sem graça, fiquei sem ação e sem ter o que dizer.

Nosso garçom chegou perto da mesa se apresentando como Albert. E nos entregando dois cardápios.

— E aí, Hope, o que vai pedir?

— Ainda não decidi. E você?

— Ainda não sei também.

— Eu acho que vou pedir esse linguini ao limão, esse molhinho deve ser ótimo.

— Boa escolha. Garota inteligente e de bom paladar.

— Ih... Ih... Isso não é nada de mais — digo sem jeito.

— Eu vou com esse chicken crispy mesmo, que vem com esse purê de batatas e o franguinho empanado em tiras.

— Boa escolha. Garoto inteligente e de bom paladar — digo, brincando com ele.

— Posso até ser, nesse sentido como você, mas sem dúvidas você é muito mais bonita

Minhas bochechas ficam vermelhas na hora e fico muito sem jeito, só consigo agradecer com um valeu entre dentes.

— E para beber, Hope?

— Suco de laranja.

Harry chama nosso garçom e faz o pedido, deixando-nos novamente sem assuntos. Passado uns minutos, ele então quebra o silêncio.

— Bom, você já sabe como e onde eu trabalho, mas e você?

— Então, como eu disse eu faço faculdade, faculdade de jornalismo. Antes de começar a faculdade já trabalhava em uma revista, que agora passou a contar como estágio. Eu faço coisas comuns lá, só mexo nas colunas dela, faço algumas revisões.

— Nossa! Que legal!

— Sim, sim. Eu gosto muito.

— Eu também gosto muito do meu emprego. Por mais que seja algo que é de família, e que normalmente as pessoas pensem que coisas desse tipo sejam forçadas, meus pais nunca me forçaram a nada. Eu trabalho na empresa porque gosto mesmo, sempre estive nesse meio. Talvez seja por isso.

— Que bom, melhor quando fazemos o que gostamos.

[...]

A conversa até que fluiu bem. Almoçamos e saímos do restaurante pouco depois de acabarmos. Optamos por dar uma caminhada por ali mesmo e depois de algum tempo, nos sentamos em um dos banquinhos que se encontram nas calçadas.

— Você já namorou antes, Hope? — perguntou.

— Sim, terminei recentemente e você?

— Ah, por isso não queria sair comigo, eu suponho.

Senti meu rosto arder.

— É. Foi um dos motivos.

— E qual o outro? — insistiu.

— Ah, não me sentia pronta pra sair com alguém novo.

— E agora está?

Que insistente!

— Ainda não sei.

— Você está vermelha. — afirmou.

Minhas mãos foram até meu rosto, em uma tentativa falha de esperar meu rosto se normalizar e poder agir como a mulher séria que quero transparecer, mas é impossível quando suas mãos se aproximam da minha e as tiram de meu rosto.

— Deixe-me ver esses olhos azuis.

Fiquei com mais vergonha ainda e não sabia onde me esconder à medida que ele chegava mais perto de mim.

— Acredita que está preparada para novas experiências?

Sinto um arrepio subir pelas minhas costas quando ele pronuncia as últimas palavras da frase e confirmo com a cabeça, imóvel e sem conseguir dizer algo.

— Então acho que...

Sua frase foi interrompida quando a distância entre nós foi rompida com seus lábios sob os meus, provocando uma sensação gostosa, diferente das coisas que já senti. Senti seus lábios se abrindo e sua língua adentrando a minha boca e procurando espaço, quando me afastei bruscamente e imediatamente me arrependi.

— Me desculpa, eu... — murmurou.

— Não, tudo bem, você não fez nada errado. Eu dei a deixa sem perceber e acabei me deixando levar.

— Tudo bem então. Quer que eu te leve pra casa? — sussurrou.

— Pode ser, está ficando tarde mesmo. — menti, sendo que ainda não eram nem quatro da tarde.

Ele deu de ombros e se levantou, estendendo a mão para que eu o acompanhasse. Passou a mão pela minha cintura e caminhamos em silêncio até o carro, que por sorte não estava longe.

Assim que entramos no carro, ele sorriu pra mim, e eu, mais tranquila depois daquele beijo de segundos, sorri de volta e o tranquilizei também. Seus olhos verdes estavam mais esverdeados naquele momento. Com um certo brilho no mesmo. E isso iluminava seu rosto.

O caminho até em casa foi tranquilo, brincamos e rimos um com o outro e realmente foi divertido como ele disse que seria.

Me despedi de Harry com um breve abraço e um longo beijo em seu rosto, que o fez olhar confuso pra mim, mas ainda assim feliz. Saí do carro e fui contente até o elevador, pensando que finalmente poderia seguir em frente e me jogar nos meus desejos.

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