6 - AMÉLIA

Amélia acordou de repente, com o corpo coberto de suor. Seus pesadelos estavam cada vez piores. Eles sempre a levavam para aquele terrível dia que sua irmã morrera. Mesmo sem querer admitir, Amélia amava sua meia-irmã. E sentia muita falta dela. Mary fazia falta na família. Seus pais nunca mais foram os mesmos depois da morte dela e do marido. Mesmo Mary não sendo filha legítima de seus pais, ela estava na família desde muito pequena. Mary era só um bebê quando se juntou aos Collins. Amélia nasceu um ano depois disso, as duas cresceram e se tornaram mulheres lindas, Mary com seus cabelos castanhos e Amélia com seus gloriosos cachos negros. As duas não eram apenas irmãs, eram melhores amigas, mas a vida as separou. Como tudo que começa tem que acabar.

Um barulho no elevador chamou a atenção de Amélia. Ela se levantou, colocou o hobby de seda preto e saiu do quarto.

A porta do elevador, que dava para o interior de seu apartamento, se abriu. Kiyamet estava com suas tradicionais roupas pretas, como a maioria dos instrutores e alunos usavam na Academia Nephilim.

- Eu estava dormindo. Fale logo o que veio fazer aqui - disse Amélia, como sempre que falava com Kiyamet sua voz saia forte, sem mostrar o quanto estava cansada, ela tentava não ser ríspida com Kiyamet, mas não dava para evitar. Kiyamet era uma feiticeira. Não como nos livros, mas muito parecida com as bruxas de filmes antigos, as bruxas de Salem.

Existiam poucas feiticeiras e uma delas trabalhava na Academia Nephilim como se fosse mais uma professora. Amélia a odiava, mas tentava não demostrar em suas palavras.

Kiyamet levantou a mão direita onde ela segurava um envelope de papel pardo. Amélia teve que deixa-la entrar.

- Encontrei algumas informações sobre a garota que você está procurando, como me pediu - começou Kiyamet. A porta do elevador se fechou, deixando as duas na escuridão até que Amélia acendesse a luz da sala. - Ela está morando em Sacramento, com a tia.

Kiyamet entregou os papéis à Amélia.

- Você tem o endereço?

- Está aí - respondeu a feiticeira apontando para as folhas cheias de informações nas mãos de Amélia. - Também tem o número do telefone da casa, e o número do celular dela e da tia. Tem o nome da escola onde ela estuda, o nome dos vizinhos, da melhor amiga... e eu até consegui uma cópia do horário de aulas dela e do boletim escolar.

- Tudo bem.

- Sabe, foi difícil conseguir essas informações sem usar magia. Se você quiser eu posso ir até ela para você.

- Eu mesma vou até lá. Obrigada.

Amélia apertou o botão do elevador, que se abriu segundos depois, esperando que a feiticeira saísse para ela poder ler o relatório da garota que ela estava procurando há meses, mas Kiyamet não saiu do lugar, em vez disso perguntou:

- O que ela é para você?

Amélia ergueu os olhos e a encarou.

- Não é da sua conta - dessa vez ela não tentou esconder a raiva da sua voz. Kiyamet não tinha que ficar se metendo na sua vida pessoal e ponto final. Mas todos sabiam como eram as feiticeiras, não podiam confiar e, mesmo assim, Amélia confiou um segredo a ela, um assunto que ninguém poderia ficar sabendo pois poderiam fazer algo para atacá-la e usar a garota como arma ou um meio de atingir Amélia.

- Só para saber. Caso alguém me torture no futuro querendo saber dos detalhes.

E lá estava ela. A feiticeira mostrando a cara sem se esconder por debaixo do tapete como geralmente fazia. Era assim que elas eram, traiçoeiras, mentirosas, manipuladoras, vigaristas e faziam tudo por dinheiro e Poder. Mesmo assim uma feiticeira conseguira um emprego na Academia Nephilim, como se fosse apenas mais uma professora lecionando. Os outros instrutores pareciam acreditar na história de que Kiyamet tinha mudado e queria recomeçar, que não praticava mais a Magia Negra. Mas Amélia sabia da verdade. Sabia o porquê Kiyamet estava ali: para ganhar mais Poder - como se já não tivesse o suficiente com seus sacrifícios de sangue.

- Volte para seus aposentos - ordenou Amélia.

Kiyamet balançou a cabeça e se aproximou do elevador, parando no batente para olhar nos olhos de Amélia.

- Como quiser Sra. Collins… - entrando no elevador Kiyamet acrescentou: - Eu descubro por mim mesma.

Amélia esperou até não conseguir mais ouvir o som do elevador descendo antes de voltar para o quarto.

Se Kiyamet pesquisasse mais a fundo sobre a vida da garota talvez ela descobrisse a verdade. Mas o que faria depois? Contar a garota? Estaria fazendo apenas um favor à Amélia. A não ser que ela distorcesse a história e fizesse Amélia parecer a vilã.

Como um instinto a dominando, Amélia sentiu a vontade de proteger os seus. A garota fazia parte da sua família, tinha que ser protegida, ficar em um lugar seguro até que tudo acabasse. Ainda faltava um mês para acontecer, mas Amélia sabia que os sonhos já deveriam estar atormentando-a, como aconteceu com ela e seus dois filhos. A garota precisaria de ajuda. Terapeuta, psicólogos ou mesmo a tia dela não dariam conta das mudanças que estavam para acontecer na vida dela, ninguém a entenderia, ninguém acreditaria nela depois que as alucinações começassem.

Amélia deveria estar lá para ajudá-la. E deveria levar seus filhos juntos. Talvez precisasse da ajuda deles.

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