3 - MEGAN

A dor invadia meu corpo e minha mente a registrou como consequência da queda. Eu mal sentia o meu corpo, mas sentia a dor. Os remédios que me deram não estavam fazendo tanto efeito quanto eu desejava que estivessem. Eu ouvia aquela máquina ao lado da cama hospitalar que registrava os batimentos do meu coração. Esse era o único som que eu ouvia, pelo menos até a porta do quarto ser aberta e uma mulher usando um jaleco branco entrar e sorrir para mim.

Minha cabeça parecia que tinha entrado em um redemoinho. Eu não estava conseguindo focar a visão na mulher, minha vista estava ficando embaçada e o quarto parecia girar. Pisquei várias vezes para tentar enxergar apenas uma pessoa ao invés de quatro.

- Oi, Megan - disse ela. A mulher que segurava uma prancheta nas mãos puxou uma cadeira que estava encostada na parede do quarto para perto da minha cama e se sentou. Voltou a sorrir pra mim e continuou:- Meu nome é Verônica Carter, sou assistente social.

Verônica era uma mulher jovem, com menos de trinta anos, era negra e tinha olhos verdes, mas estranhamente puxados, como se ela tivesse descendência asiática.

Engoli em seco e segurei as lágrimas de dor. Meu peito ardia, não pela queda, mas por outra coisa, um sentimento que se assemelhava com a perda.

- Oi - consegui dizer com a voz fraca e rouca.

- Você sabe por que estou aqui? - perguntou ela colocando a prancheta na cama ao lado das minhas pernas e se inclinando na minha direção.

“Pelo mesmo motivo que eu também estou aqui”, pensei. Fiquei em silêncio por um momento, sem querer responder nem ser estúpida com a mulher que estava ali com a intenção de me ajudar.

- Você sabe por que você está aqui, Megan? - continuou ela. - Você se lembra do que aconteceu na sua casa na noite passada?

- Lembro. Teve um incêndio - disse a ela.

Verônica pegou a prancheta e uma caneta no bolso do seu jaleco e começou a escrever enquanto me fazia perguntas.

- Você sabe me dizer o que causou o incêndio?

Balancei a cabeça negativamente e me arrependi, minha cabeça começou a doer nas têmporas e eu fiquei tonta.

- Do que você lembra?

- Dos gritos. Das batidas. E depois do fogo subindo pela escada - contei a ela.

Ela escreveu por um minuto em sua prancheta antes de voltar seu rosto sereno para mim novamente.

- Seus pais estavam brigando? De quem eram os gritos?

- Meus pais gritaram um com o outro por um momento na sala antes de eu ser levada para o quarto, mas não era uma briga. Minha mãe estava brigando com alguém na porta de trás da nossa casa, mas eu não sei quem era.

Me lembrar do que havia acontecido na noite anterior fazia meu coração se apertar com a dor que o invadia. Engoli em seco tentando tirar aquele nó da minha garganta.

- Você reconheceu a voz da pessoa que foi até a sua casa? Sabe se era homem ou mulher? - perguntou Verônica, ela estava com o cenho franzido e seus olhos verdes brilhavam de curiosidade.

- Uma mulher. Mas não reconheci a voz.

Tudo o que eu queria naquele momento era ir até o quarto onde meus pais estavam para garantir de que eles estavam bem, mas minha perna estava engessada e eu não podia andar. Queria também poder ver minha irmã. Queria poder abraçá-la naquele momento. Eu ficaria melhor se pudesse vê-la.

Enquanto Verônica escrevia na prancheta, seus cabelos castanhos saindo do coque que ela havia feito às pressas, aproveitei para perguntar:

- Como estão os meus pais?

Sua caneta parou de se movimentar no meio de uma palavra. Ela olhou para mim.

- Alguém virá aqui falar sobre isso depois, Megan. Agora você precisa descansar.

- Só vou conseguir descansar depois de saber como eles estão. Pode me dizer. É muito grave?

Verônica suspirou e soltou a caneta em seu colo.

- Eu sinto muito, Megan - disse ela, então meu coração rachou-se no meio.

- E minha irmã? - perguntei. Seu silêncio foi a minha resposta. Meu mundo foi destruído, meu coração despedaçado e arrancado de dentro do meu peito.

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