Insegurança - Parte 1

—Você devia comer mais, nem mexeu na comida – exclamara Sarah, a mãe de Lori à mesa do almoço – Na sua idade precisa se alimentar para repor todas as energias que gasta.

A menina agradeceu e disse que estava satisfeita. De certa forma sua mãe tinha razão, ela realmente gastava muita energia, por outro lado, comer mais não era a solução. Estavam apenas as duas como acontecia quase todos os dias. O pai de Lori trabalhava como Chefe de Cozinha em um famoso hotel na cidade de San Dimas, o Venatores et Luna e normalmente passava o dia fora, pegando apenas um dia por semana para folga. Sendo filha única, ela e a mãe eram a companhia uma da outra nos cafés da manhã e almoços.

—Posso lavar a louça mais tarde? Combinei de sair essa tarde com a Ash e umas amigas e pretendia dar uma olhada no guarda-roupa, ainda não me decidi sobre o que usar.

—Se prometer estar de volta até as cinco e deixar tudo pronto antes das seis tudo bem. Seu pai vai vir mais cedo hoje e trará um amigo do trabalho, preciso de tudo organizado para preparar o jantar – respondera a mãe – Não posso deixar que pensem que seu pai é o único nessa casa que tem talento para cozinhar.

As duas riram juntas e entraram em acordo. Sarah era uma mulher de quarenta anos, loira como a filha e aparentava ser bem mais jovem, a maioria das pessoas sempre lhe dava trinta anos quando perguntava. Era dona de casa por opção e amiga de toda a vizinhança.

A verdade era que havia se formado em economia e começara a trabalhar em um escritório na época em que engravidara da garota. De imediato decidira não mais trabalhar fora e dedicar-se a cuidar da menina. Com o tempo Lori crescera e ela acabara se adaptando à vida do lar, se tornando viciada em canais de seriados e culinária, por influência do marido. Estava pouco acima do peso, mas não se importava, o romance com David, pai da garota ainda era quente como na época de namoro e se sentia muito sortuda por isso.

Lori e sua mãe eram melhores amigas no quesito mãe e filha. A garota compartilhava com ela todas as aventuras vividas com Ash desde que as duas tinham entrado para o Ensino Médio. Agora as coisas eram diferentes, principalmente nos últimos meses, quando a melhor parte de sua vida era algo que não podia compartilhar com ninguém, principalmente a mãe.

♥♥♥

Alguns minutos depois a menina estava em seu quarto. Deitara na cama olhando para cima, encarando o teto vazio. Aquela posição sempre a lembrava de Ash, as duas tinham o costume de deitarem-se ali lado a lado e ficarem encarando o nada ao lado do lustre, refletindo sobre coisas corriqueiras, bobagens do dia a dia. Agora quando deitava sozinha se lembrava da outra e pensava no quanto ela lhe fazia falta.

Agarrara um urso de pelúcia que ganhara anos atrás como presente de aniversário da namorada secreta e o abraçara, sentindo o cheiro da amiga. Quantas noites as duas não tinham dormido juntas naquela mesma cama com aquele urso entre elas? Em uma época que sequer sonhavam com aquele sentimento que só crescia e se tornava mais forte.

Imaginando que logo seria a hora de sair, Lorena levantara-se e despira-se completamente, ficando em pé frente à um grande espelho que tinha em seu quarto. Lembrara-se de quando ela e a namorada, quando ainda não era sua namorada, brincavam de desfilar em frente aquele espelho, testando todas as roupas do guarda-roupa em todas as combinações possíveis.

Agora era diferente. Fitava a si mesma com outros olhos, não era mais uma criança. Tinha seios fartos, o dobro do tamanho das maçãs de Ashley, talvez um pouco mais. Girara no lugar se observando. Bumbum grande, coxas grossas, ela havia engordado? Pensara em apanhar a balança de chão no quarto de sua mãe, mas não tivera coragem. E se tivesse ganhado alguns novos quilinhos? Estava precisando fechar a boca, isso sim. Tinha de pesquisar por uma dieta mais balanceada, algo que a mantivesse satisfeita e fosse mais saudável.

Estendera diversas roupas sobre a cama. Nenhuma lhe parecia interessante para aquela tarde. Lembrara-se de que as novas amigas de Ash estariam com elas e que as garotas daquele colégio eram todas filhas de médicos, advogados e outras pessoas importantes. Não queria fazer feio ao lado da pessoa mais importante que tinha no mundo.

Aquela tarde estava nublada. San Dimas era esse tipo de cidade. O sol brilhava por pouco tempo no dia e então desaparecia dando lugar a nuvens negras. Nem sempre chovia, nem fazia muito frio, mas era sempre bom se prevenir. Vestira o soutien e calcinha de algodão cor de rosa e se espiara novamente no espelho. Precisava desencanar, não era uma baleia, ainda.

Em seguida escolhera uma camiseta verde limão bem clara de mangas longas. Deixaria as mangas encolhidas e se esfriasse era só soltá-las. Vestira um shortinho jeans que ficava dois dedos abaixo do bumbum. Felizmente para ela, seu pai e sua mãe não implicavam com suas roupas. Já havia tido diversas “reuniões de família” onde ouvira a mãe falar sobre tudo, de sexo a relacionamentos antes da faculdade, sempre com o pai ouvindo e aprovando. Roupas nunca eram a raiz dos problemas, dizia Sarah, os problemas eram consequências das atitudes de quem as usava.

Por fim colocara um coletinho jeans sem mangas sobre a camiseta. Gostava daquela peça, pois a usava com a frente aberta e vivia se enrolando na hora de escolher roupas fechadas que não destacassem seus seios. Sempre que ia a algum lugar e flagrava alguém lhe observando sentia que era por causa dos seios fazendo volume nas blusas e camisas que usava e não era preciso mais que um olhar para que ficasse completamente envergonhada. Vestira seu All-Star verde de cano baixo cheio de gatinhos estampados e pensara que estava ótima assim.

Se olhara no espelho e esboçara um sorriso enquanto penteava os cabelos. Se havia algo de que poderia se orgulhar era o fato de que era linda. Seus olhos castanhos eram claros e dependendo da luz no ambiente pareciam ter a cor do mel. Tinha cílios grandes que se destacam quando ela piscava e frequentemente recebia elogios de pessoas próximas lhe admirando esse detalhe. Os cabelos ondulados não eram muito longos e não precisavam de adornos, apenas os shampoos eram o suficiente para que continuasse brilhante e sedoso.

Mordera o lábio inferior. Nunca gostara de batom, aplicava brilho para que não ressecasse, o tom naturalmente rosado de seus lábios carnudos era mais que o suficiente. Ouvira sua mãe e Ash lhe dizerem por toda a infância enquanto crescia o quanto era linda. Bom, em seu tratando daquele rostinho ela tinha de concordar. E agora ouvir isso de Ash tinha um tom especial.

Sorriu encarando seu reflexo enquanto lambia os lábios. Precisava do beijo de Ash. Há dois dias não a via pessoalmente e aquilo para ela era como uma eternidade.

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