Capítulo 6


- Então existem outros mundos e realidades diferentes? - Jairo tentava entender as novas informações trazidas pelo anjo. Nada que parecia fazer sentido. Mas ele tentava entender. - E tu veio de uma delas?

- É isso meu caro, Jairo. Exatamente isso.

Gabriel era um arcanjo poderoso. Talvez um dos poucos que sempre esteve envolvido com os seres humanos. Para Gabriel, ajudar as pessoas era a sua grande missão.

Não que Jairo e a pequena Zoé poderiam entender. Todos ali e no mundo, além de várias realidades, estavam vivendo problemas diferentes com causas iguais. Gabriel era um só para bilhões de pessoas. E mesmo assim, nunca iria abandonar os seres humanos.

- E o que a Zoé tem a ver com isso?

Gabriel pegou uma maçã e começou a descascar. Tudo isso sem ter pedido uma fruta. Algo que Jairo poderia ter entendido como uma falta de educação, se não tivesse com a cabeça em outras situações.

- O mundo é complicado!

- Supernatural durar 15 temporadas que é complicado. Isso? Só não faz sentido.

Gabriel comeu um pedaço da maçã e ficou pensando no que diria. A pequena Zoé olharava curiosa para ele. No início sentirá medo, agora só curiosidade por tudo. Ao saber que um anjo necessitava da ajuda dela, ela ficou empolgada.

- Azrael, o arcanjo da morte desapareceu.

- Isso é mal. - Zoé falou finalmente.

- E eu com isso? - Jairo falou sem ter prestado atenção no que a filha disse.

- Ela é responsável pela morte, ué!

- Ela? - Zoé perguntou com curiosidade aumentada.

- O arcanjo da morte é uma mulher? - Jairo também queria saber.

- Esperavam o quê? Que a Morte fosse um homem.

- Em Supernatural é. - Jairo disse de forma envergonhada.

- E eu com Supernatural! Eles transformaram Castiel em um anjo maneiro, droga! Castiel verdadeiro é um babaca. Só fica chorando e observando os seres humanos... A única vez que fez algo de diferente foi quando aceitou brincar de lutinha comigo. Ele quebrou as minhas pernas! Já viu anjo andando de muletas? Não é engraçado. Mas como dizia... O arcanjo da morte desapareceu. E precisamos encontrar ela.

- Se ela desapareceu tem outros que fazem a função dela, não é? Você e Uriel? - Zoé perguntou quase sem respirar.

- Exatamente isso.

- Calma aí! Filha, como sabe disso?

- Amanda sabe. Ela me contava essas coisas.

- E como ela sabe? 

- Livros! Ela gosta deste negócio de sobrenatural.

- Amanda é inteligente. É por isso que precisamos dela também.

- Amanda também?

Os olhos da Zoé brilharam. Ela tinha um respeito e admiração pela amiga e saber que finalmente poderia reencontrar ela, alegrava o seu coração. Nos últimos meses mal tiveram notícias uma da outra. Com a praga ou agora a notícia de que o anjo da morte desapareceu, as pessoas preferiram se esconder em suas casas e sair apenas em busca de alimentos. Telefone, carros e afins, raramente eram usados. O medo tomava conta de todos e a humanidade era apenas um conceito sobre a condição humana enquanto ser e não em relação ao amor e amizade.

- Sim. Uriel foi até ela.

- Mas isso não explica o que Zoé tem a ver com isso.

- Anjos nem sempre foram anjos. Muitos de nós foram seres humanos normais. Para se tornar um anjo, é necessário merecer.

- Anjos foram seres humanos?

- Nem todos, Jairo. Existem bilhões de planetas no universo. Mas sabemos que Azrael foi uma humana. Quando alguém é transformado em anjo, é enviado até o começo da história do universo. Lá ele acompanha desde o início tudo que aconteceu. Tudo isso em primeira mão. Assim, todos os novos anjos crescem em conhecimento. Como Deus não é afetado pelo tempo, Ele pode escolher qualquer um em qualquer época da história. Como a Azrael, a nossa, sumiu. Resta descobrir a Azrael dessa época. Pois é nessa época e realidade onde ela nascerá. Com o nascimento dela tudo volta ao normal.

- E Deus não disse quem é?

- Primeiro: ela precisa fazer por merecer. Não é chegar e dizer: "olha, você tem uma missão e uma profecia sobre você." É bem mais complicado que isso. Ninguém é transformado em anjo porque foi treinado para isso. É necessário merecer sem merecer. Ou seja, a pessoa precisa querer. Ela precisa decidir fazer. Não ser forçada a fazer. E segundo, um professor dá o problema para o aluno resolver apenas depois de ensinar a matéria.

- E esse segundo significa o quê?

- Jairo, pensa em mim como o Dumbledore, ou como o Kenobi, ou mesmo o Morpheus. Ou seja, como aquele que vai ensinar o escolhido como derrotar o mal. Só que não faço a menor ideia de quem é o escolhido. O mal tá solto, a pressão batendo forte e não tenho nada. Tudo que me resta é o que aprendi. Eu uma vez fui o escolhido. No meu mundo, eu fiz tanto mal que o resultado não poderia ter sido outro além da destruição da humanidade. No final só restou eu vivo e a dor de ter destruído tudo. Eu não tinha o perfil do herói, não era para ser o herói, mas o vilão. Por que eu sendo mal, ao ponto de destruir toda a humanidade, Deus me escolheu como seu anjo? Por que Deus não escolheu um justo? Tenho acompanhado alguns nascimentos de anjos, e todos eles são de padrões contrário ao conceito de herói. 

Após eu me tornar anjo, Azrael foi a primeira a me receber. Ela tinha um sorriso doce e encantador. Sua beleza era incrível! Ela me deu um abraço apertado e disse o quanto era bom me ter ali. Ela tinha o poder de conhecer toda a nossa vida e sempre foi a mais poderosa de todos nós. Mas nunca foi arrogante. Ela colocou um braço sobre o meu ombro e disse que iria me apresentar ao mundo.

- Então deixa eu ver se entendi. Tu conhece no que Azrael se transformou. Mas não conhece quem ela era antes?

- Exatamente isso. - Nesse momento, Gabriel terminou a maçã que vinha comendo. Ele se sentia cansado desde que chegou naquele mundo. Mas isso era coisa para se pensar mais tarde. - Sabemos que a Zoé e a Amanda estão envolvidas com a história da Azrael ou nos levarão até Azrael. Seja como for, tanto Zoé, como Amanda, são extremamente importantes nesse momento.

- Suspeita que uma delas é a Azrael?

- Tenho essa teoria.

- Meu poder! Ele pode ter a ver com a morte? - Zoé falou olhando para as mãos.

- Não, filha, teu poder trás a vida. Eu já senti ele em mim. E não teve morte envolvida. - Jairo falou ao se baixar para ficar na altura da filha. - Não sei quem é Azrael. Mas minha filha não tem nada a ver com a morte.

- Como eu disse, é uma teoria. Uma teoria com furos. Mas mesmo assim, Zoé é importante nessa missão. Vocês dois indo juntos... Quê? Não esperava que ia separar pai e filha? - Gabriel falou em tom chocado ao ver a cara de surpresa de Jairo. - Continuando: vocês dois indo juntos, poderão inclusive salvar muitas vidas.

- Sinto muito, mas nós não vamos. - Jairo falou de forma decidida.

- Pai...

- Filha, eu sei o que vai dizer, mas não. Não é não.

- Pai, escuta! O senhor sempre me ensinou que todos nascemos com um dom. E que devemos usar esse dom para salvar vidas. "Todos nós podemos salvar vidas. Então salvamos." Não é o que o senhor diz? Eu quero salvar vidas com o meu dom. Sei que é isso que significa esse dom. Salvação.

Gabriel ouvia em silêncio tudo que a pequena Zoé dizia. Seu coração pulsava forte em cada segundo. Sabia que sua missão estava só no começo ainda. Por isso fechou os seus olhos e lembrou daquele dia.

Ele estava sentado no chão ao lado de Azrael, uma garota de longos cabelos castanhos. Ela sorria alegremente. Estavam em um planeta onde tinha sete luas. Sua flora e fauna era abundante. A natureza verde e predominante formava união heterogênea com a tecnologia. Estradas e rodovias aéreas eram vistas por todo o lado e mesmo assim a natureza não era afetada. Carros passavam a todo momento, mas nenhuma poluição saia dali. Prédios enormes e casas aos montes. Tudo em total união com a natureza. Ali havia espaço para todos.

- Por que essa cara triste? - Azrael perguntou olhando de canto.

- Por que Deus me escolheu? Tu sabe o que eu fiz. Então me responda o porquê. Ele não me respondeu essa pergunta.

Azrael sorriu. Ao ouvir o que Gabriel tanto ansiava saber, ela se levantou e estendeu a mão.

- Vem comigo.

Gabriel apenas deu a sua e os dois desapareceram. O cenário então mudou. Estavam em um planeta com uma floresta enorme. Gabriel olhou para o céu e viu o sol atrás das copas das árvores.

- Que planeta é esse? - ele perguntou ao acompanhar Azrael por um caminho aberto.

- A Terra. Só estamos em um lugar e época em que os seres humanos ainda não descobriram esse local. Sente o cheiro e a vida dos animais. Tudo tão belo. Mas mesmo sem seres humanos, até aqui o mal feito por nós, já que fui uma humana também, chegou. Engraçado como seres humanos não sabem o tanto a sua maldade pode afetar o universo!

Ela se aproximou de um belo passarinho caído no chão. Era um canário-da-terra, um pequeno pássaro agonizando de dor.

- Como o arcanjo da morte, sou a responsável pela toda a morte do universo. Desde a vida humana, até a vida animal, eu sou a responsável. - Ela pegou o canário-da-terra na mão. - Esse pássaro terá que morrer. Ele não fez nada de mal, apenas é uma vítima dos seres humanos. Fomos nós que demos essa condição para todos. Nós somos os culpados. Achar que merecemos algo além da condenação, é ignorar a nossa natureza. Deus escolhe pessoas ruins, porque não existe ninguém bom. A diferença é que algumas pessoas sentem a necessidade de mudar. Não porque são boas, mas porque precisam ser. Elas não querem mudar o mundo. Elas querem mudar a si. Se consideram tão ruins, que acham que antes de mudar os outros, precisam mudar eles mesmo. Devo matar esse pássaro. Esssa é a minha função. Ninguém merece viver sofrendo nesse mundo e a morte surge então como uma libertação. Mas a vida... Também liberta. 

Nesse momento, o passarinho se levanta totalmente curado. E sem pensar duas vezes, levanta vôo.

- Você pode...

- Conceder a vida? Parece estranho não é? A morte e a vida estão em minhas mãos... Eu não me lembro do meu passado. Sei que fui uma humana, mas não sei quem eu fui. Perguntei pra Ele o motivo. Ele me disse que um dia eu saberei. O que sei realmente são os sonhos que eu tenho. Nesses sonhos tem uma garotinha negra e seu pai. Eles discutem sobre a mesma partir em uma missão. A garotinha quer ir, mas o pai acha que não deve. Ele teme pela filha. Então a filha diz: "O senhor sempre me ensinou que todos nascemos com um dom. E que devemos usar esse dom para salvar vidas. "Todos nós podemos salvar vidas. Então salvamos." Não é o que o senhor diz? Eu quero salvar vidas com o meu dom. Sei que é isso que significa esse dom. Salvação." Concordo com ela. Por que Deus te escolheu? A resposta para essa pergunta tu deve achar.

Gabriel descobriu a resposta algum tempo depois. Ele queria lutar pelas pessoas. Estar junto aos seres humanos e ajudar quem quisesse a ser melhor. Ele amava o ser humano, porque viu dentro de si, todo o mal que um dia cometeu. Ele usaria todas as armas e dons pelos seres humanos. Não porque era bom. Mas que ninguém cometesse os mesmos erros que ele.

Agora ele tinha que ajudar uma pequena garota a se encontrar. O pai dela estava certo. O poder da Zoé não tinha nada com a morte. Ele já tinha sentido o poder de Azrael, e o poder de Zoé era diferente. Porém, todo anjo e ser humano emana aura. A aura é tipo a digital do ser. Não existem dois seres com a mesma aura e o mesmo dom. Apesar dos furos na teoria, até o momento Zoé e Azrael eram as mesmas pessoas.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo