EMILY
Entrei pelas portas giratórias de vidro e logo avistei um balcão de informações, com uma recepcionista que parecia estar gravando um comercial de creme dental, era como se o sorriso dela estivesse congelado no rosto. Ela estava impecavelmente bem-vestida, com um vestido social preto que destacava ainda mais sua pela branca e seus cabelos loiros claros, na altura dos ombros.
Fui aproximando-me dela, ouvindo meus saltos fazendo “tec-tec” pelo piso de porcelanato preto. Ela me acompanhou com o olhar.
—Bom dia, me chamo Emily Watson, e estou procurando pelo RH do escritório Williams & Simpson.
—Olá, Srta. Watson, seja bem-vinda ao One World Trade Center. O RH do escritório Williams & Simpson fica localizado no 102º Logo à esquerda, estão os elevadores. E aqui está o seu crachá de visitante para passar pelas catracas. Provavelmente, se for trabalhar lá, o RH irá providenciar um crachá permanente para você.
Peguei o crachá que ela me estendeu, ainda com o sorriso congelado no rosto.
—Muito obrigada.
Passei pela catraca e o elevador já estava de portas abertas. Eu nunca havia entrado em um elevador tão chique como aquele, se duvidasse, era maior que meu próprio quarto, com acabamentos dourados, um espelho gigante e botões que pareciam ser de diamante. Apertei o botão do 102º andar e me estiquei para manter a postura. Minhas mãos estavam geladas, apesar de sempre ter sido muito confiante, sonhei tanto com aquele momento que realmente o nervosismo me pegou. O elevador parou, pensei: Nossa, isso foi rápido. As portas se abriram e deparei-me com mais um balcão de informações e outra recepcionista com sorriso congelado:
acho que o pré-requisito para ser recepcionista por aqui é ter um sorriso modelo. Pensei novamente. A menina, assim como a outra, está muito bem-vestida, só que além do vestido social, estava com um terno preto por cima. Fui me aproximando:
—Bom dia, sou Emily Watson, e tenho um horário marcado com o RH.
—Bom dia, Srta. Watson, um instante por gentileza, que irei avisar que chegou. — Ela apertou um botão no teclado do computador de última geração e falou: — Bom dia, a Srta. Watson chegou. Certo. — Ela desligou e então me olhou: — Srta. Watson, por gentileza, me acompanhe. A Sra. Robin irá lhe atender.
Ela retirou o headset da cabeça, o colocando sobre a mesa, e saiu de trás do balcão. Segui-a. O prédio era realmente muito luxuoso, acho que precisaria comprar um guarda-roupa novo para conseguir trabalhar ali. Com que dinheiro faria isso, ainda não sabia, afinal, provavelmente o estágio não pagaria grande coisa. Ela então seguiu por um longo corredor e, ao final, abriu uma porta gigantesca de madeira maciça, fez reverência para que eu entrasse e, quando passei pela porta, encontrei uma sala grande em conceito aberto, com várias mesas e repartições. Havia pelo menos umas 30 pessoas trabalhando ali, ao fundo, à esquerda, avistei uma sala com porta e janelas de vidro, mas que possuía persianas para dar privacidade. A recepcionista, que agora notei em seu crachá que se chamava Lia, me informou, apontando para essa sala:
—Ali é a sala da Sra. Robin, pode ir até lá, que ela já aguarda.
—Muito obrigada, Lia.
Acho que ela ficou feliz por eu ter reparado no seu nome, pois abriu ainda mais o sorriso, se é que aquilo era possível. Ela saiu e fechou a porta atrás de mim. Notei que todos trabalhavam com tanta concentração naquele ambiente que nem notaram minha presença. Encaminhei-me até a sala, parando na porta e dando uma última respirada profunda antes de dar três batidas de leve nela. Logo ouvi uma voz feminina:
— Pode entrar.
—Bom dia, Robin? — Falei, abrindo a porta.
—Bom dia, Srta. Watson, entre e sente-se, fique à vontade. — Ela me apontou a poltrona à sua frente, sentei, colocando minha bolsa em meu Tentei ao máximo ficar com a postura ereta.
—Então, Emily, posso lhe chamar assim, não é? — Concordei com a cabeça. — Você foi indicada por uma grande amiga, e devo confessar que é uma surpresa. Scarlett nunca nos indicou nenhum de seus alunos, e olha que ela já dá aulas há pelo menos 30 anos. Então, quando ela ligou para o Dr. Williams e disse que queria indicar uma aluna, ele ficou surpreso, e pensou que seria alguém que já estivesse no último ano do E imagine sua reação quando Scarlett lhe informou que você é caloura e acabou de ingressar na faculdade. Ele me ligou na mesma hora e me pediu para lhe chamar o quanto antes, pois ficou realmente intrigado com sua indicação.
Eu fiquei sem palavras diante da declaração da Sra. Robin, agora entendia ainda menos por que minha professora, que mal me conhecia, havia me indicado para a empresa de seus amigos. A Sra. Robin continuou:
— Sendo assim, Emily, me conte, por que gostaria de trabalhar conosco? Quais são seus planos?
— Bom, eu sempre sonhei em ser a melhor advogada criminalista dos Estados Unidos, por isso estudo desde pequena. E trabalhar aqui é um sonho antigo. Vocês são o maior e mais conceituado escritório de Advocacia, então gostaria de aprender tudo o que puder com vocês, e se for possível, trilhar uma carreira de sucesso —falei sem pensar muito, pois era a verdade. Acho que minha postura e firmeza a impressionaram ainda mais.
—Que ótimo ouvir isso, a grande maioria dos jovens de hoje em dia demora praticamente a faculdade inteira tentando escolher o que fazer e qual caminho Acho que agora entendi o porquê da sua indicação. E fico mais do que satisfeita em lhe dar as boas-vindas a Williams & Simpson.
Eu abri um sorriso gigante com essas palavras, pois ainda estava com receios se realmente conseguiria a vaga.
—Muito obrigada pela oportunidade, Robin, dou minha palavra que farei o meu melhor.
— Ótimo, bom, agora vou lhe explicar um pouco sobre suas atribuições e remuneração. Você irá trabalhar diretamente com o senhor Williams, praticamente como sua assessora. Acredito que poderá aprender muito com ele. Seu horário de trabalho durante o estágio, para não atrapalhar seus estudos, será das 12:30h às 18:30h, de segunda a sexta. Você poderá almoçar no refeitório, caso queira, lá tem uma cozinha completa e muitos dos funcionários costumam utilizá-la. Também irá receber auxílio transporte, plano de saúde, plano odontológico, auxílio educação, mas, como você já possui bolsa integral na faculdade, poderá destinar o valor para adquirir seus livros no E, claro, o valor da bolsa do seu estágio. Tem alguma dúvida?
Eu estava em êxtase, nem nos meus melhores sonhos imaginava que iria receber tantos benefícios assim apenas por um estágio. Será que por conta de tantos benefícios receberia um valor baixo da bolsa de estágio? Resolvi tirar a dúvida.
—E qual seria o valor da bolsa de estágio?
— Ah, sim, perdão, quase me esqueci de repassar os valores. O auxílio transporte é no valor de $100,00, o plano de saúde e o odontológico não têm custo nenhum para você, o auxílio educação é no valor de $300,00 e, por fim, mas claro que não menos importante, o valor da sua bolsa de estágio é de $3 mil.
Acho que não havia escutado bem.
—Três mil dólares?
—Isso, claro que, após um tempo, o valor poderá ser reajustado, dependerá única e exclusivamente do seu desempenho. Você aceita?
— Se eu aceito? Nossa, claro, onde assino?
Ela sorriu com minha empolgação, eu não estava acreditando que isso realmente estava acontecendo. Era muito mais do que esperava ganhar. Muito mais do que pesquisei que os escritórios costumam pagar para estagiários e ainda, o melhor de tudo, iria ser assistente do maior advogado do país. O homem que eu admirava tanto. Nossa, tinha que comprar um belo presente para a professora Scarlett de agradecimento, pois apenas um “obrigado” seria muito pouco.
Após finalizarmos nossa conversa sobre os benefícios e detalhes do estágio, a Sra. Robin me informou que me levaria para conhecer a empresa e me apresentar para o meu futuro chefe. Mal via a hora de começar a trabalhar com ele.
JAMES— Sério, pai, além de ter que vir trabalhar obrigado, ainda vai me empurrar uma estagiária? Meu pai havia passado de todos os Desde a morte do Patrick, meu irmão mais velho, que ocorreu há 4 anos, dia após dia, meu pai fala que estava na hora de assumir meu lugar no escritório.Formei-me com honras no curso de Direito de Harvard, mas não queria advogar. Bem, na verdade, até queria, mas não ainda. Sabia que, a partir do momento que colocasse os pés no escritório, meu pai iria me deixar ali sozinho e com meus 27 anos, ainda me considero novo para ficar trancado dentro de um escritório e viajando por todo o país em audiências intermináveis. Claro que a parte de viajar não era ruim. Adorava jogar-me na estrada. Conhecer lugares e pessoas, principalmente mulheres. Meu pai, que estava sentando em sua mesa, respondeu-me, me fazendo voltar a convers
EMILYLiandra Robin foi muito atenciosa comigo e me mostrou todos os andares e cada setor do escritório W&S. Era muito maior do que eu achava, além do andar onde ficava o RH e o setor jurídico trabalhista, ainda havia 9 andares do mesmo tamanho que aquele, cada um para um ramo do direito, e, no último, o 104º, além do setor jurídico criminalista, havia a sala da presidência.— Chegamos a nossa última parada, é neste andar que você irá trabalhar.— Aqui? — perguntei espantada, mas me lembrei que ela falou que seria assistente do Dr. Williams, e era lógico que a sala dele era na presidência, aff, Emily, sua burra. Fiquei levemente corada por pensar que Liandra me acharia desatenta.—Sim, Wattson, esse é o setor da presidência, logo a sala do Sr. Williams está neste andar.Tentei parecer fi
JAMESO tempo passou voando, quando percebi, já passava das 13h e eu ainda estava contando as histórias dos maiores casos do nosso escritório para a Srta. Wattson. Desde que comecei a falar, ela não me interrompeu por nenhum segundo, mas escutava com muita atenção e a julgar por seus olhos brilhantes, estava realmente encantada com meu relato. Seu entusiasmo recordou-me meus primeiros dias de aula na faculdade, pois, apesar de ter crescido em um ambiente que respirava Direito, ao pisar em Harvard, fiquei fascinado. Eu sempre amei estudar e sempre sonhei em advogar. Mesmo que ainda me achasse novo para isso. E ver o entusiasmo da minha nova estagiária me fez feliz.A Srta. Wattson era uma beleza, não me recordava de ter visto uma mulher tão linda quanto ela. Alta, com a pele negra, corpo curvilíneo, os cabelos, não sabia dizer se eram compridos, pois estavam muito bem presos em um
EMILYJames era realmente um homem lindo, mas, pior, era incrivelmente inteligente. Não percebi que as horas passaram tão rápido desde que ele começou a falar sobre as histórias de sucesso do escritório. Eu fiquei completamente fascinada com sua postura. Ele falava com uma voz firme e seus olhos brilhavam ao me contar acerca de todos os grandes julgamentos. Ele sentia muito orgulho do pai e do Dr. Simpson, sócio do escritório, também o melhor advogado em sua área, que era Direito do Trabalho.Eu não emiti nenhum comentário, simplesmente fiquei ouvindo e guardando mentalmente todos os seus movimentos e gestos. Seus traços eram perfeitos, ele parecia uma pintura. Nossa, Emily, se segura garota, ele é o seu chefe. Eu nunca fiquei fascinada assim antes, eram emoções totalmente estranhas para mim, o que está acontecendo comigo?
JAMESO primeiro dia passou muito rápido, após o almoço e a excelente companhia da Srta. Wattson, retornamos para o escritório e ambos mergulhamos nos documentos, processos e agenda para as próximas semanas. Apesar de muito nova e de ser apenas seu primeiro dia, Emily demonstrou um excelente profissionalismo. Acabamos ficando no escritório até às 19h, e como já era tarde e não sabia se Emily tinha carona, resolvi me oferecer para levá-la em casa, mas ela disse que não precisava, pois seu pai já havia chegado para lhe buscar.Dessa forma, nos despedimos no lado de fora do prédio, a avistei entrando em um Dodge Durango antigo e vi de relance um senhor no banco do motorista, após entrar e fechar a porta, ela se inclinou, beijou a bochecha do senhor, que abriu um largo sorriso. Ali vi que existia um grande amor entre pai e filha. Ela deveria mesmo ser uma
EMILYOs dias estavam passando rápido, e eu estava cada vez mais encantada com meu estágio, mas principalmente com o meu chefe.James era simplesmente brilhante e não conseguia entender por que demorou tanto para começar a trabalhar no escritório. Diferentemente do que pensei a seu respeito no primeiro dia, ele não era festeiro, pelo contrário, era super comprometido e dedicado. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Às vezes, ficava até com vergonha, pois duas vezes nessa semana eu havia atrasado por conta de provas na faculdade e, como ia trabalhar de ônibus, era pior ainda.Amanhã iria com meu pai comprar o meu primeiro carro, afinal, com o meu novo salário, poderia me dar esse “luxo”, e isso iria facilitar e muito meus dias. Eu fiz algumas pesquisas e decidi comprar um Fiat, pois o custo de manutenção era baixo. E, por sorte,
JAMESAquela sexta-feira estava agitada, depois de passar horas ao telefone para conseguir confirmar se o julgamento do caso “Connor” seria ou não na segunda-feira seguinte, ainda tive que organizar as últimas questões para a viagem de última hora.Não tinha ainda certeza se fiz bem em chamar a Srta. Wattson para me acompanhar, ela era ainda muito nova e totalmente inexperiente no mundo dos tribunais, contudo, queria que ela fosse. Queria lhe mostrar a “magia” que envolve um julgamento dessa magnitude e, claro, queria que ela me visse em ação. Afinal, não havia me esquecido de sua cara de decepção ao saber que iria trabalhar comigo e não com meu pai.Mas não poderia me dar ao luxo de levar apenas ela como minha assistente, precisava de alguém com experiência, por isso chamei o Dr. Taylor, ele era o advogado criminalista mais anti
EMILYChegamos à garagem do edifício onde James morava, só pela fachada do prédio sabia que era simplesmente magnífico. Deveria ter uns 50 andares. E não seria de se admirar se ele fosse o dono da cobertura.Rick estacionou o carro e desceu para abrir minha porta. Nesse momento pensei que poderia me acostumar muito bem com essa mordomia. Mas talvez não fosse sempre assim, talvez ele estivesse só sendo muito educado por eu ser nova no escritório. Ele me pediu para segui-lo. Paramos em frente ao elevador, acredito que aquele fosse um privativo, pois digitou uma senha para que as portas abrissem. Assim que abriram, ele indicou para que eu entrasse. Entrou logo em seguida, digitou mais uma senha, agora no teclado do painel interno. As portas fecharam-se e, em questão de poucos segundos, abriram-se novamente. Ele saiu em minha frente, fez um gesto de “boas-vindas” e disse: