Capítulo II

AMBER

            Hoje encerra a minha primeira semana no meu novo emprego, e confesso que estou imensamente feliz em poder construir uma vida nova mas, principalmente, por estar ao lado da minha amiga novamente. Para comemorar, pretendo dar um rolê na cidade à noite para conhecer as boates e bares da cidade, ver gente e me distrair um pouco. Pensei em chamar a Alycia para comemorar minha primeira semana na cidade e no emprego. Então, sem pensar mais, levantoe bato na porta da sala da Aly, entrando logo após ouvir sua autorização.

            ─ Oi, Am. Algum problema? ─ Ela pergunta desviando a atenção do computador ao qual digita furiosamente.

            Acomodo-me na cadeira em frente a sua mesa e falo tudo de uma vez.

            ─ Amiga, estava pensando de nós duas sairmos hoje à noite para comemorar minha primeira semana de trabalho, o que me diz? ─ Convido subindo e descendo as sobrancelhas como forma de fazê-la se animar, antigamente sempre surtia efeito quando eu queria que ela fosse comigo a uma balada e ela não queria ir.

            Alycia e eu sempre fomos totalmente o oposto uma da outra, mas, por incrível que pareça, nos damos super bem desde o início e nunca, jamais brigamos. É como se a personalidade de uma complementasse a da outra.

            ─ Me desculpe, Am, mas infelizmente não vou poder sair com você, pois tenho um jantar marcado com o Harry. Sinto muito.

            ─ Tudo bem, amiga, eu compreendo, mas a senhorita fica me devendo. ─ Ela assente com um sorriso nos lábios.

            Percebo que minha amiga está tristonha, apesar de tentar aparentar estar bem, no entanto, é visível, para quem a conhece de verdade, que ela não está nada bem, apenas veste o disfarce de advogada para esconder seu sofrimento.

            ─ Então, o lance entre você e esse tal de Harry é sério mesmo? ─ Questiono querendo saber o nível de comprometimento da minha amiga.

            ─ Não diria isso, Am, mas posso dizer que estou tentando.

            ─ Já é um grande começo, amiga. Eu mais do que ninguém sei bem pelo que você passou por causa do amor. Desejo que realmente você consiga seguir em frente, por você e por esse anjinho lindo da Dinda que você carrega no ventre. ─ Ao me ouvir mencionar o seu filho, Alycia me retribui com um sorriso genuíno que nem se compara ao dado anteriormente.

            ─ Mas mudando de assunto... Você sabe me dizer qual a sala do Scott?

            ─ Pelo amor de Deus, Amber, o que você quer com o Scott? Já não basta quase ter castrado o pobre coitado no elevador, não? ─ A traidora de uma figa cai na gargalhada ao recordar do meu vexame com seu antigo admirador no elevador.

            ─ Justamente por isso que estava querendo saber aonde era a sala dele, eu queria pedir desculpas mais uma vez pela gafe que eu cometi. Coitado, Alycia, ele não conseguia andar direito quando saiu do elevador, fiquei morta de vergonha. ─ Minha amiga cai na gargalhada mais uma vez, igualzinho como ela fez quando lhe contei o que tinha acontecido comigo no elevador em meu primeiro dia de trabalho.─ Isso, Alycia ria mesmo da minha desgraça. ─ Faço-me de ofendida.

            ─ Só você mesmo, Amber, para fazer essas coisas. ─Ela balança a cabeça secando as lágrimas que escorreram nas laterais de seus olhos de tanto que riu.

            ─ Bom, respondendo a sua pergunta... pelo que sei, a sala do Scott fica ao lado da sala do Josh, neste mesmo corredor.

            ─ Hum... Melhor esperar esbarrar com ele pelos corredores, então, pois não estou a fim de dar de cara com o Josh, principalmente, em minha primeira semana no meu novo emprego. ─ Alycia assente com o olhar perdido, então decido que é hora de voltar ao meu posto de trabalho.

            ─ Vou voltar para minha mesa, chefinha. Se precisar de mim é só ligar. ─ Pisco para ela, que me devolve um olhar enviesado, já que odeia quando lhe chamo assim. Saio da sala com um sorriso de provocação nos lábios.

            No entanto, como nem tudo acontece da maneira que a gente quer, tive que ir à sala do carma da Alycia, Josh Kent, entregar uns papéis que o senhor Mackenzie me pediu para entregar para ele quando me viu de bobeira conversando com sua secretária. Como não poderia negar um pedido do poderoso chefão, lá fui eu, linda e ruiva, entrar na toca do lobo.

            Ao chegar à mesa da sua secretária, não a encontro em lugar algum, portanto, decido bater na porta.

            Após alguns minutos batendo insistentemente e sem obter resposta, resolvo testar a maçaneta e, ao ver que a porta está destrancada, enfio a cabeça para dentro da sala e encontro Josh olhando, distraidamente e sorrindo para um papel em suas mãos. Resolvo bater na porta novamente para chamar sua atenção.

            ─ Oi! Toc-toc. ─ Digo enquanto bato na madeira com o punho fechado.

            Ao olhar para cima, observo a confusão em sua mente ao me ver diante dele.

            ─ Oi. Pode entrar, Amber. ─ Ao receber sua permissão, entro no ambiente luxuoso, parando em frente a sua mesa.

            ─Desculpe interromper, Sr. Kent, e entrar em sua sala sem ser anunciada, mas sua secretária não estava em sua mesa. Bati várias vezes na porta, mas o senhor não me ouviu, então fui entrando.

            ─Tudo bem. Entre. Sente-se. ─ Acomodo-me na cadeira em frente a sua mesa. Confesso que estou bastante desconfortável e decido fazer o que me foi incumbido de fazer para sair o mais rápido possível, antes que meu gênio forte me faça abrir minha boca e dizer umas verdades para esse babaca.

            ─ O que deseja, senhorita Simpson? ─ Ele quebra o silêncio primeiro.

            ─Vim trazer estes documentos que o senhor Mackenzie me pediu que lhe entregasse com urgência.Como a secretária dele estava muito ocupada, ele me pediu para entregar ao senhor. ─ Observo sua mesa e meus olhos pousam sobre um porta-retrato com uma foto do Josh junto a uma menina linda, com jeitinho angelical e sorriso doce. Ao lado do porta-retrato, há também um desenho de um homem parecido com Josh e uma garotinha que lembra a menininha do porta-retrato.

            -Que menina linda! É da sua família? ─ Pergunto intrigada com a foto.

            -Não. Mas pretendo transformá-la em minha filha brevemente. ─ Confesso que as suas palavras me pegaram desprevenida.

            ─ Eu não entendo... ─ Tento assimilar o que acabo de ouvir e, quando a compreensão cai em mim, fico mais embasbacada ainda.

            ─Sei que para você é difícil acreditar que eu mudei, assim como é para sua amiga, mas eu estou mudado, não por Alycia, como foi inicialmente, mas mais por mim. Essa garotinha que você está vendo na foto é órfã e ela está me fazendo ser alguém que eu nem sabia que poderia ser.Por ela e por meu filho eu quero ser um homem melhor, mesmo sabendo que não terei mais a mulher que amo e nem verei meu filho crescer. ─ Mas é muita audácia desse playboyzinho vir falar sobre sofrimento na minha cara. Eu que acompanhei todo o desenrolar da história dele e Alycia.

            O amor platônico, a entrega e, por fim, a dor da traição. E agora ele vem me falar em sofrimento? Ah, faça-me o favor, né?

            Senhor, juro que tentei e o senhor é testemunha de que eu só queria fazer meu trabalho e nada mais, mas não engulo desaforo e o senhor sabe disso.

            Converso com Deus mentalmente, só para esclarecer que eu tentei não fazer barraco, mas as pessoas parecem que pedem.

            ─Josh, sendo sincera com você e cortando toda a merda da etiqueta no trabalho, você foi um baita de um canalha, filho da mãe, com minha amiga e eu quis, muitas vezes bater na Alycia, todas às vezes em que ela falou sobre você, nos anos em que a conheço. Eu não entendia como alguém poderia amar outra pessoa da forma como ela sempre te amou, com devoção, idolatria, sem nem sequer ter tido um relacionamento concreto com você. Minha amiga era louca por você e quando você reapareceu na vida dela eu, realmente, vi a Alycia desabrochar e ser feliz, de verdade, mas aí você vem e a trai da maneira que traiu e, então, ela caiu no mais fundo poço de tristeza e comiseração.Por isso, entenda que você não é minha pessoa favorita no mundo, no momento. A Aly sofreu demais na vida: primeiro com a morte da mãe; segundo, pelo amor não correspondido que sempre teve por você, aí quando eu penso que finalmente ela vai ser feliz, você vem e dá uma rasteira nela, da maneira que fez.Portanto, me perdoe se eu não estou tocada por todo sofrimento que diz estar sentindo, na verdade, se estiver realmente sentido, nada mais é do que a vida dando o seu troco. Então, se só estiver tentando enganar minha amiga novamente, vou logo avisando que eu não permitirei, muito menos o namorado dela deixará que você se aproxime dela, pode ter certeza.

            Após esfregar umas verdades na cara do escroto filho da mãe, jogo a merda dos papéis sobre a mesa e viro-me caminhando para a porta, mas como eu não consigo ter um momento de glamour sem pagar mico, assim que abro a porta esbarro numa parede de músculos cheirosa e que conheço bem: Scott.

            Fico paralisada com o choque, mas me recomponho, murmuro um pedido de desculpas e marcho para fora da sala.

            Ao cruzar a sala da recepção do seu escritório, aceno com a cabeça para sua secretária que já está em seu posto, mas assusto-me com o barulho de um objeto colidindo contra a parede.

─Bem feito, babaca! ─ Sorrio internamente e caminho rebolando até minha mesa.

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