Capítulo VII

Nicolas

Depois de deixar a Laila em sua residência, fui para a minha casa, e apesar de a gente ter apenas conversado, para mim foi o suficiente, pelo menos por enquanto, e eu estava me sentindo bastante satisfeito com a noite.

Depois de tomar uma ducha rápida, entrei em meu quarto e percebi que o celular estava tocando com uma chamada. Era a Natasha e atendi rapidamente. Fazia dias que tentava falar com ela e estava ficando frustrado já, com a forma como ela estava fugindo de mim nos últimos dias.

- Onde você estava? Já te liguei mais de dez vezes! – Ela foi logo reclamando, o que me deixou ainda mais chateado com ela.

- Boa noite, Natasha. Como você está? – Falei, não tomando conhecimento de sua atitude tão autoritária.

- Estava bem, até o meu namorado desprezar a minha companhia para estar com suas funcionárias!

Fiquei imediatamente em alerta ao ouvir suas palavras. Como ela ficara sabendo que eu estava com a Laila?

- Eu não desprezei a sua companhia em momento algum. Inclusive, venho tentando falar com você há dias, sem sucesso.

- Quero que venha me pegar para jantar. – Ela falou sem dar nenhuma explicação sobre o motivo de não estar retornando as minhas ligações e as mensagens eram ignoradas totalmente.

- Acredito que já passou do horário do jantar, concorda? – Eu disse apenas, pois mesmo com sua atitude tão desagradável, eu ainda precisava falar com ela pessoalmente.

- Estou aguardando você aqui, no meu apartamento, em meia hora. – Ela falou e desligou.

Fiquei olhando para o celular, sem acreditar que ela havia agido daquela forma comigo. Eu já havia presenciado esse tipo de atitude sua, mas para com outras pessoas, o que já tinha me desagradado bastante. Era a primeira vez que ela me tratava dessa forma e eu estava simplesmente furioso. Não iria tolerar esse tipo de tratamento para comigo de forma alguma, pois nenhuma relação poderia dar certo com esse desrespeito que a Natasha estava mostrando.

Me arrumei rapidamente e saí para ir até o seu apartamento, mas não para ter um encontro amoroso, ou o que quer que seja que ela pretendia, quando me intimou a ir até ela. Eu iria terminar aquilo que eu ainda estava chamando de relacionamento, mas agora eu via que era qualquer coisa, menos isso.

- Aonde você vai, meu filho? – Mamãe perguntou, quando eu ia passando pelo hall de entrada e ela estava chegando em casa, junto ao meu pai.

- Vou me encontrar com a Natasha. – Contei, beijando a face da minha mãe.

- Mas você havia dito que iria terminar esse relacionamento, Nicolas. Mudou de ideia? – Meu pai perguntou com desagrado.

- Farei isso ainda hoje, não precisam se preocupar. – Falei aos dois, e saí em busca do meu carro na garagem.

Meus pais não gostaram da Natasha desde o primeiro momento em que a conheceram, mas não se pronunciaram contra a minha relação, pois eles não se metiam nas escolhas que eu ou o Henrique fazíamos, mas quando contei há alguns dias que pretendia terminar tudo com ela, eles ficaram muito felizes e não esconderam o fato.

Estacionei o carro na rua em frente ao elegante prédio em que a Natasha morava e já saindo do carro quando a vejo saindo do edifício, olhando para os lados, acredito que a procura do meu carro. Ela estava belíssima, em um deslumbrante vestido da cor vinho de alças, mas eu não senti nada, como o que acontecia em todas as vezes em que eu via a Laila, mesmo ela estando em uma roupa formal e que mais escondia do que mostrava o seu corpo. 

- Vamos, meu amor. Estava morrendo de saudades do meu noivo. - A Natasha falou ao me encontrar, jogando os braços em meu pescoço e me beijando na boca, e seus lábios gelados só fez com que eu sentisse aquele gesto como algo extremamente desagradável. 

Retirei os seus braços de mim e já estava pronto para colocar um ponto final naquela encenação, quando vi que havia alguém ao seu lado. Estava tão irritado com tudo, que nem percebi o senhor que estava ao seu lado.  

- Querido, quero que conheça meu pai, Rômulo Brito – Ela falou, virando-se em direção ao senhor distinto, bem vestido e com cara de poucos amigos. – Papai, esse é o Nicolas Alcântara, meu noivo. 

A olhei imediatamente e já ia desfazer a sua mentira, quando ela se jogou novamente em cima de mim, me beijando e impedindo que eu falasse. Tenho certeza que fez aquilo exatamente para que eu me calasse diante de tamanha mentira.

- Minha filha, gostaria que você deixasse essas cenas apenas para o quarto, ou para os repórteres. – O seu pai falou, em um tom de voz duro. – É um grande prazer enfim conhecê-lo, jovem. – Ele falou, estendendo a mão para um aperto firme. 

Eu segurei sua mão e já ia corrigir a informação que a Natasha disse ao pai, quando ele simplesmente soltou minha mão do aperto e saiu andando, sem nos esperar. 

- Por que você mentiu para o seu pai, Natasha? – A questionei. 

- Vamos deixar essa conversa para depois, querido. – Ela falou e saiu andando na mesma direção do pai, me deixando sem conseguir entender o que havia acontecido. 

Eu precisava acabar com aquele circo hoje mesmo, pois eu não iria continuar uma relação apenas para satisfazer uma pessoa que estava se mostrando tão fútil e mesquinha como a Natasha. 

Saí na mesma direção que eles e percebi que ela me aguardava ao lado de um carro com motorista, fazendo um gesto para que eu entrasse junto com eles, o que só poderia ser uma piada de mau gosto.  

- Eu não vou a lugar nenhum em um carro que não seja o meu. – Falei e deixei transparecer em minha voz, toda a irritação que estava sentindo. 

Acredito que ela percebeu que eu não aceitaria realmente compartilhar o carro com ela e o seu pai, pois conseguiu convencê-lo a ir sozinho com o motorista, enquanto ela me seguiu até o meu. 

Durante todo o caminho até o restaurante, ela se mostrou como a mesma mulher agradável que eu conheci há poucos meses atrás em um evento beneficente no qual eu havia participado para representar a Construtora Alcântara.  

Eu gostaria de ter terminado tudo entre nós naquele carro mesmo e não ter que ir a esse jantar armado por ela. Eu não sabia o que ela esperava conseguir de mim, mas sabia que tinha algo por trás de sua insistência para que eu fosse até o restaurante com ela e o seu pai. 

Durante todo o caminho, tentei conversar com ela, dar início ao que eu pretendia fazer quando aquele jantar terminasse, mas ela não me deixou falar, justificando seu descaso para comigo.

- Eu tenho trabalhado muito nesses últimos dias, e mesmo aqui no Brasil, não consegui ter nenhum pouco de tempo para dedicar a você, meu amor. – Ela falava em um tom meloso, enquanto me tocava, me causando mais repulsa que qualquer outra coisa. – Eu prometo que a partir de agora, vou ficar a sua disposição, querido.

- Eu não desejo que você fique a minha disposição, Natasha. Não espero isso de ninguém. – Falei de maneira dura. – Mas você ainda não me explicou por que mentiu para o seu pai, contando essa história de noivado.

- Papai anda muito doentinho e está preocupado comigo, pois você sabe que não tenho mãe. Então eu apenas inventei essa mentirinha, para que ele fique mais tranquilo, sabendo que eu vou me casar.

- Mas nós não vamos nos casar e tampouco seu pai me parece com alguém doente, Natasha. – Rebati.

Continuamos essa discussão sem fim, até que chegamos até o local indicado por ela, aonde estavam uma dezena de repórteres na frente do prédio. Questionei do que se tratava todas aquelas pessoas e ela então me contou que era a inauguração do restaurante de um grande amigo de seu pai, Scott Newman, um famoso internacional, que tinha uma cadeia de restaurantes espalhados pelos Estados Unidos e que agora decidira investir no Brasil.

O nome não me trouxe nenhuma recordação, mas logo que entramos no luxuoso restaurante, percebi que se tratava do mesmo ator que estava com ela em uma matéria publicada em um site recentemente. Aquilo me incomodou sobremaneira, e a vontade que eu tinha era de simplesmente deixa-la com seu pai e ir embora, mas não o fiz.

Eu esperei durante toda a noite por um momento a sós com ela, para que pudéssemos conversar com calma e sem expectadores, como eu havia imaginado a princípio, mas a oportunidade não surgiu até que saímos do restaurante, mais de três horas depois.  

- Querido, irei embora com o papai. Estou muito cansada. - Natasha falou, parando ao lado do seu pai, quando já estávamos fora do restaurante, aguardando os seus respectivos carros. 

- Eu preciso conversar com você, Natasha. 

- Amanhã. - Ela falou, já fazendo menção de entrar no carro. 

- Eu preciso falar hoje. Não vou esperar até amanhã. 

Ela pareceu nem ouvir minhas palavras e entrou de vez no carro.  

- Amanhã você conversa com ela, meu rapaz. - O senhor Romulo falou, entrando também dentro do carro. 

Fiquei parado no meio da calçada, sem acreditar que a Natasha havia me feito de palhaço mais uma vez, ao que parece.  

Fui até o meu carro e, ao receber as chaves do manobrista, entrei batendo a porta com força, tão grande era a minha irritação. Eu não esperaria até amanhã de forma alguma. Eu tentei fazer da forma correta, conversar com ela pessoalmente e terminar tudo entre nós, em um jantar, de maneira delicada, mas sendo o mais honesto possível com ela. 

Mas como não consegui, eu aguardei apenas chegar em casa, para ligar para seu celular. Ela não atendeu, mas eu já esperava por algo assim, então mandei mensagem, que ela também não respondeu. Se ela pensava que isso iria me fazer desistir, não mesmo. Eu iria agir como o canalha que ela estava me forçando a ser. Mandei mais uma mensagem, dessa vez terminando tudo entre nós e aguardei mais uma vez um retorno, que não veio, é claro. 

Eu fui dormir com a consciência tranquila, pois tentei dar um fim naquilo de forma amigável e honesta, mas ela não me permitiu. Para mim estava tudo terminado agora, e eu não me importaria mais com as atitudes da Natasha, pois elas não mais me diziam respeito. 

Acordei me sentindo muito bem, quase feliz mesmo, pois agora estava totalmente livre para começar a conhecer melhor a Laila e tentar conquistar aquela garota. Pretendia colocar em prática todos os sonhos que tive com ela, pensei sorrindo enquanto dirigia até o escritório.

- Bom dia, Helen. - Cumprimentei, passando por minha secretaria em direção a minha sala.

- Bom dia, senhor Nicolas. Seu irmão está ao seu aguardo. - Ela me informou e eu apenas assenti com um gesto, seguindo meu caminho

- A que devo a honra do meu irmão estar à minha espera tão cedo? - Falei para o Henrique, que estava sentado em uma cadeira em frente à minha mesa, mexendo em seu celular.

Segui até a minha cadeira e coloquei a pasta que trazia comigo em cima de um pequeno aparador que ficava ao meu lado.

- Pensei que você estava pretendendo terminar sua relação com a Natasha. - Ele comentou, enfim levantando a cabeça e me olhando.

- E terminei. - Falei, já me sentindo desconfortável, pois pressenti que sua pergunta tinha uma motivação maior que apenas curiosidade.

- Não é o que diz aqui nas reportagens que eu vi hoje.

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