Capítulo VI

Nicolas

Eu havia decidido terminar minha relação com a Natasha, mas estava sendo bem difícil, uma vez que eu não estava conseguindo falar com ela pessoalmente, desde que chegou ao Brasil, há três dias. Parecia até mesmo que ela estava fugindo de mim, algo que eu não conseguia compreender.

Mas hoje à noite eu pretendia por fim aquilo de uma vez por todas e seguir o que meu coração pedia, desde que conheci a Laila.

Cada dia mais, eu tinha certeza que não era apenas uma atração passageira o que eu estava sentindo por aquela garota. Ela não me saia da cabeça e eu pretendia começar, seja o qual for o envolvimento que nós viermos a ter, da forma correta.

Já era noite quando saí do meu escritório e estava chegando próximo ao elevador quando percebi que a Laila estava dentro dele e que as portas estavam prestes a se fecharem. Pedi para que ela segurasse o elevador para mim e quando entrei no mesmo, me senti inquieto por estarmos os dois sozinhos dentro de um espaço tão pequenoTodas as vezes que a via, me sentia ansioso, desejando ter uma conversa mais pessoal com ela, saber sobre a sua vida, realmente conhecê-la. Mas não queria tentar uma aproximação estando ainda ligado a Natasha. Não seria o correto.

Também fiquei preocupado com a Laila saindo da empresa tão tarde, e acabei me expressando de forma brusca ao perguntar o motivo por ela sair tarde daquele jeito, uma vez que seu expediente se encerrava às dezessete horas e já passava um pouco das dezenove.

Não deixaria que ela fosse sozinha para a parada de ônibus aquele horário e ofereci uma carona, pois assim também teria um pouco mais de tempo com ela, sem que eu me sentisse um traidor. Apesar de parecer indecisa, ela acabou aceitando o meu oferecimento.

- Está com medo de mim? – Perguntei, pois, seu olhar intenso estava me deixando aflito.

Não podia acreditar que enquanto eu estava praticamente caindo de amores pela Laila, ela estava sentindo medo de mim, parecia até temer entrar no meu carro, mas sua resposta me deixou mais tranquilo.

Mas o fato de ela acreditar que eu queria ficar livre de distrações para dirigir, me deu vontade de soltar uma sonora gargalhada, pois se ela soubesse que mesmo sem a sua presença, ela estava sendo uma distração constante na minha vida.

Sorri comigo mesmo, ao pensar em qual seria a sua reação, caso eu dissesse algo desse tipo.

- Eu gostaria de conversar, ajuda a chegar mais rápido, você concorda? – Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça. – Me fale um pouco sobre você. Mora com seus pais?

Eu não poderia iniciar qualquer envolvimento entre nós, ainda sendo namorado, pelo menos oficialmente, da Natasha. Mas eu poderia aproveitar essa oportunidade para conhecer melhor a garota que estava invadindo os meus sonhos e me deixando desnorteado só em vê-la.

- Eu gosto muito de conversar e acho que o senhor ficará cansado de me ouvir, caso eu comece a falar aqui sobre a minha vida. – Ela respondeu, dando a entender que era muito falante, algo que eu ainda não havia conseguido perceber.

O escritório era na avenida paulista e ela morava na Vila Mariana, e o transito aquele horário era um pouco menos intenso, mas não queria dizer que fosse rápido, então eu teria bastante tempo para ouvi-la falar e não me incomodava nenhum pouco.

- Eu gostaria de ouvir, sim. Pode começar. – Eu falei sorrindo de maneira despreocupada.

Ela pareceu pensativa, mas depois começou a falar sobre a sua família, e parecia gostar muito da avó e da irmã, mas sobre a mãe ela não contou praticamente nada, apenas que moravam juntas as quatro mulheres. Ou seja, nada de referências masculinas em sua vida, acredito que por este motivo ela era tão desconfiada sobre tudo, pois isso eu já havia percebido sobre a Laila.

- Você falou pouco sobre sua mãe, mas não vou perguntar qual a relação entre vocês, por que acho que você vai me dar uma resposta atravessada e eu vou merecer. – Ainda a questionei, pois queria saber tudo sobre a Laila.

Apesar da invasão da sua privacidade, ela acabou sorrindo da minha pergunta audaciosa e eu a acompanhei e continuamos a conversar durante todo o caminho, apesar de ela realmente não ter falado mais nada sobre a mãe.

A conversa foi muito agradável, parecia até que já nos conhecíamos, pois me senti muito à vontade com ela, como se ela sempre tivesse estado comigo e isso só confirmava que aquela garota era a mulher que eu tanto desejei para mim.

Quando chegamos à frente da sua casa, que apesar de pequena, era uma boa casa e ela havia dito que era uma casa própria, falou isso com muito orgulho e não parecia se envergonhar de sua vida, e nem deveria. Ela era jovem, mas não tinha em momento algum, entrado em assuntos supérfluos.

- Eu agradeço bastante por ter me trazido até me casa. – Ela falou, já segurando na maçaneta da porta.

Eu a olhei, querendo ficar mais algum tempo em sua companhia, chegar mais perto daquela morena maravilhosa e dar um beijo naquela boca linda, que estava nos meus sonhos todas as noites, mas eu não faria algo assim agora, de forma alguma. Não era certo com a Laila e nem com a Natasha, apesar de que ela não merecia muita consideração de minha parte, pois isto era algo que eu não vinha recebendo da pessoa dela.

- Eu jamais poderia deixa-la vir para casa sozinha, tão tarde. – Eu falei, e estava falando a verdade. – Mas por falar nisso, gostaria que não saísse tão tarde da construtora, está bem? – Eu pedi, pois mesmo que a pessoa na situação que encontrei no elevador, saindo tarde da construtora por estar trabalhando, eu ainda assim teria oferecido uma carona, ou se fosse o caso, pagaria um táxi para deixa-la em sua casa.

- Claro. Não irá se repetir.

- Eu não estou te chamando a atenção como chefe, e sim como alguém que se preocupa com você. – Deixei claro, para que ela já fosse tomando conhecimento que era importante para mim, não enquanto uma funcionária da Alcântara, mas como alguém muito mais especial.

Laila

Não esperei nem mesmo ele falar mais alguma coisa e já fui fechando a porta do carro e me virando para ir em direção a minha casa.

Antes que eu pudesse dar um passo, ele abriu o vidro da janela do carro e falou de forma que eu o ouvisse: - Até amanhã, Laila!

Esse homem queria me matar, só pode!

Entrei em casa me sentindo eufórica pelos últimos acontecimentos. Encontrar com o Nicolas na saída do escritório, dentro do elevador, era algo que eu vinha fantasiando desde que o vi pela primeira vez e havia acontecido ainda melhor que em meus delírios, pois ele simplesmente se ofereceu para vir me deixar em casa. Era demais para mim.

- Está parecendo uma adolescente apaixonada. – Larissa falou e a olhei sem entender.

Eu havia chegado do trabalho e a vovó já estava muito preocupada comigo e enlouquecendo a Larissa, pois queria saber por que eu não havia chegado até então. Minha irmã me ligou algumas vezes, mas eu só percebi ao chegar em casa. Acredito que estar ao lado do Nicolas, dentro do seu carro, vindo para casa em todo aquele conforto, tenha me deixado completamente nas nuvens, pois nem senti o celular vibrando dentro da bolsa.

- Desde que chegou do trabalho, não para de suspirar. Já estou ficando curiosa, pois parece suspiros de amor. – Ela falou sorrindo.

Eu também sorri, pensando que ela tinha toda a razão, mas não confessei a ela os motivos para tantos suspiros, e disse apenas que estava bastante cansada.

- A próxima vez que você for chegar mais tarde, procura m****r uma mensagem para avisar a gente. Sabe que a vovó é paranoica, pensa logo o pior. - Larissa falou de maneira delicada.

A vovó conseguia deixar qualquer paranoico também, com as histórias que ela assistia nos noticiários diariamente e que ela ficava contando e recontando para nós.

Larissa era uma garota muito centrada, não costumava sair de casa e as únicas amizades eram aquelas do cursinho, mas nada muito próximo. Ela era muito tímida e até agora nunca havia se envolvido com nenhum rapaz. Seu sonho era conseguir entrar em uma universidade pública e se formar em Jornalismo. Ela queria ser corresponde internacional.

- Acredito que isso não vai se repetir, pois o senhor Nicolas me pediu para não sair tão tarde da construtora.

- Mas o seu chefe não seria o Henrique? Acho que me confundi, não é?

- É Henrique mesmo. Mas ele nem percebeu a hora que saí, pois saiu a tarde para almoçar com uns investidores e não voltou mais para o escritório.

- E o Nicolas viu? – Ela perguntou, sem entender.

Expliquei para ela toda a situação, contando que estava tão absorta no que estava fazendo, que acabei não percebendo o horário e que encontrei o Nicolas no elevador. Omiti o fato de ele ter vindo me deixar em casa. Bastava eu mesma com expectativas em cima de alguém tão fora do meu alcance.

Nós conversamos mais um pouco, e ela logo voltou a se concentrar nos estudos. Seu cursinho era a tarde, mas ela estudava até tarde da noite mesmo assim.

Eu logo fui dormir e sonhei novamente com o Nicolas. Já estava me acostumando a ter ele, pelo menos nos meus sonhos.

Estava no ônibus, aproveitando o percurso até o trabalho para olhar minhas redes sociais, ver a vida das celebridades e a dos amigos também, é claro. Não estava conseguindo me concentrar no meu livro atual, pois estava me sentindo muito ansiosa, e eu sabia bem qual era o motivo.

Uma matéria em um site de fofoca me chamou a atenção e logo cliquei no link para ver melhor.

"De volta ao Brasil, a modelo internacional Natasha Brito sai para jantar com o seu noivo, o empresário da construção civil, Nicolas Alcântara"

Não entendi a sensação arrasadora que se apoderou de mim naquele momento. Eu sabia que ele deveria ter uma namorada e nós não temos nada um com o outro. Não é como se ele estivesse me traindo, apesar de a matéria falar que eles eram noivos, algo que eu não esperava de forma alguma.

Mas pensar racionalmente era uma coisa e o coração aceitar aquilo era outra totalmente diferente.

Cheguei no trabalho me sentindo triste e passei todo o meu expediente fazendo o possível para não ver o Nicolas, exatamente o oposto do que eu fazia desde que comecei a trabalhar na Alcântara.

- Gostaria que você levasse esses contratos para o Nicolas, pois estou precisando de sua assinatura o mais breve possível. – O Henrique pediu, e eu fiquei imediatamente tensa.

- Claro, Henrique.

Ele me entregou os contratos e eu saí da sala, indo diretamente até a Barbara, que estava sentada a sua mesa, ao lado da minha.

- Barbara, eu gostaria que você fosse até a sala do senhor Nicolas. – Pedi, pois eu não queria estar frente a frente com ele hoje, por que eu era uma boba.

- Laila, o Henrique me pediu para concluir esses memorandos antes das dezesseis horas e se eu for, não conseguirei. – Ela falou se desculpando.

Fiquei me sentindo encurralada, mas depois de me sentar e analisar bem a situação, decidi ir. Eu tinha que fazer o meu trabalho da melhor forma possível e não poderia deixar me abalar por algo totalmente sem sentido.

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