Capítulo I

Nicolas

Dois anos antes

Minha reunião demorou mais que o esperado e acabei não podendo participar da última etapa do processo seletivo para a escolha da minha secretaria. Algo que eu realmente gostaria de ter feito, pois trabalhar diariamente com alguém, em um cargo que exigiria contato constante, fazia necessário pelo menos simpatizar com a outra pessoa. E esse tipo de coisa a gente só sabe, vendo a outra parte. Currículo e fotos nada diziam sobre isto.

Como percebi que não chegaria a tempo, decidi ligar para a Esmeralda e liberá-la para iniciar as entrevistas sem mim. Iria assim que possível.

Todo o processo foi feito por uma agência contratada por nossa empresa, porém, essa última etapa seria aqui em nossa construtora.

Ao termino da minha reunião, segui em direção ao elevador, pois iria ao vigésimo andar, participar pelo menos das últimas entrevistas. Dei uma checada em meu iPhone e vi que tinham algumas mensagens da minha atual namorada. Estava saindo com uma modelo internacional já há algumas semanas, mas acreditava que não duraria muito, assim como todos os meus outros relacionamentos antes dela.

Sua agenda era muito apertada e eu estava em busca de um relacionamento sério e estabilidade. Queria algo como o que meus pais tinham. Completaria vinte e cinco anos no próximo mês, e eu era um cara tranquilo, que gostava de programas mais familiares. Nada de baladas e festas. Totalmente o inverso da minha atual namorada. E de outras que vieram antes dela.

As mulheres que me cercavam sempre me tinham por uma pessoa diferente do que eu realmente era. O que elas acreditavam que um solteiro milionário deveria ser, não tinha nada a ver com a pessoa que eu era, e isso sempre causou muitos problemas e, consequentemente, o fim dessas relações. Não estávamos em sintonia e não tínhamos os mesmos objetivos.

Não respondi a Natasha, minha namorada. Já faziam dias que eu tentava falar com ela e estava chateada demais para respondê-la tão facilmente assim. Estava pensando em terminar nosso relacionamento, que não era nem mesmo para ter começado, quando as portas do elevador se abriu e me deparei com uma garota que chamou minha atenção de imediato. Era uma jovem muito bonita e estava sentada em um dos sofás da pequena recepção, lendo algo em seu celular, com a pontinha da unha entre os lábios e levantou a cabeça rapidamente, acredito que para ver quem havia chegado. Ficou então me olhando sem nenhum pudor, fazendo meu coração acelerar sem explicação alguma, e mexeu com meu íntimo de uma forma como nunca antes havia sentido por nenhuma outra mulher. 

Por alguns segundos, nós ficamos olhando um para o outro sem dizer nenhuma palavra, mas o clima não era de desconforto. Eu me senti estranhamente excitado apenas em ver aquela garota ali, vestida de maneira formal e apropriada para o ambiente corporativo.

Ela aparentava ter em torno de vinte anos, vestia uma calça social preta, com uma blusa verde claro por dentro de um blazer azul marinho. Era baixinha, comparando-se a meu 1,88, ela não devia chegar a 1,65 de altura, mas me deixou completamente encantado, pois era uma morena da cor de canela, com um corpo escultural, algo que a roupa comportada não conseguia esconder, mas eram os seus olhos que mais chamaram a minha atenção, pois eles eram verdes, algo não muito comum para o seu tom de sua pele, e eram grandes e expressivos que me fascinaram ao me olhar tão abertamente.

A cumprimentei com apenas um bom dia, não sabia que outra coisa poderia falar para ela e temia falar algo que denunciasse a forma com aquela linda garota me deixou, apenas por estar ali, parada me olhando. Ainda estava um pouco atordoado e acredito que a minha fala a fez perceber o que estava fazendo, e ela se retraiu, ficando com a postura ereta. No estado de estranhamento em que me encontrava, acabei sendo brusco com ela, algo que me arrependeria assim que conseguisse pensar de forma coerente.

Quando a questionei se ela era uma das selecionadas para participar da entrevista e ela confirmou, percebi que a criatura mais encantadora que eu havia visto na vida e pela qual estava babando igual a um adolescente cheio de hormônios, poderia ser a minha futura secretaria, e fiquei imediatamente tenso. Saí da sala apressadamente, sem nem ao menos me despedir de maneira cordial, como seria o correto, e fui em direção ao local aonde deveria estar acontecendo as entrevistas com a Esmeralda.

Eu tinha que evitar que a jovem fosse a selecionada para ser a minha secretaria, mas claro que não a prejudicaria de forma alguma. Como também não iria beneficiar tampouco, uma vez que independente da reação que tive ao vê-la, era um cargo de extrema importância para mim, como também para a empresa e eu não colocaria alguém que não estivesse qualificado para exercer a função.

Isso tudo passou por minha cabeça em apenas poucos segundos, mas eu consegui encontrar a solução de maneira rápida também, tal qual estava acostumado a fazer sobre tudo em minha vida, tanto a profissional, quanto a pessoa. Pensei em uma forma de não deixar que ela chegasse a ser a minha secretaria, mas também não perdesse a oportunidade de trabalhar na Alcântara.

Bati na porta e rapidamente entrei na sala sem esperar resposta. Havia uma jovem de pé, aparentemente se despedindo de Esmeralda, que se encontrava por trás da mesa, também de pé, e as duas davam-se as mãos.

Ao me verem entrar na sala, as duas viraram-se para mim, a minha funcionária do setor de Recursos Humanos com uma expressão questionadora e a outra jovem aparentemente confusa com minha entrada intempestiva.

Era uma garota bonita também, alta e com um belo corpo, tal qual a jovem que deixei na recepção, longos cabelos loiros, cheio de grandes cachos, e encantadores olhos azuis, mas que diferente da outra garota, não me fizeram sentir nada.

- Olá, Nicolas! – Cumprimentou Esmeralda. – Estava terminado a entrevista com a senhorita Helen Carvalho. Ela é uma das candidatas que passaram para essa última fase do processo. - Se virou para a jovem e falou - Helen, este o senhor Nicolas Alcântara. Caso você seja selecionada, será a secretaria do Nicolas. Ele é uma pessoa muito gentil e tenho certeza que você irá gostar muito de trabalhar aqui. 

A candidata então me olhar com um brilho diferente nos olhos. Apesar disso, me senti muito à vontade com a jovem e gostei do seu jeito.

- Te desejo sucesso Helen! Entraremos em contato com um retorno sobre o resultado. – Falei em tom de despedida e ela logo compreendeu que se tratava de sua deixa para sair da sala.

Mais um ponto para ela.

- Muito obrigada, senhor Nicolas. Tenham um bom dia. – Falou, já saindo da sala com um aceno de cabeça.

- Gostei bastante desta jovem, mas ainda tem uma última para a entrevista. Vai participar? – Esmeralda me perguntou, voltando-se a sentar em sua cadeira por trás da mesa.

Pensei bem no que iria falar e resolvi que seria o ideal.

- Esmeralda, o que achou das candidatas que você já entrevistou hoje?

- Como te falei, ainda falta uma. Só gostaria de me posicionar de forma definitiva depois que conversar com todas. - Ela falou pensativa. 

Ela era a gerente de recursos humanos da empresa já faziam alguns anos. Antes mesmo que eu e meu irmão fizéssemos parte do quadro de funcionários e eu confiava bastante em seu julgamento. Sempre acertava em suas escolhas.

- Mas percebo que há algo mais por trás desta sua pergunta. Me diga, qual o problema?

- Decidi que não vou me posicionar sobre a escolha de minha secretaria. Só peço que você escolha dois nomes, e não apenas um, como seria o correto nesse caso.

- Mas por quê dois nomes? - Perguntou intrigada.

- Como você sabe, meu irmão logo irá precisar de uma assistente também.

- Estou ciente do fato, mas havíamos decidido fazer um novo processo, pois iriamos escolher alguém da área financeira, especificamente.

- Não será necessário. Vamos escolher logo as duas pessoas, pois soube que a mãe da Luciana deseja se mudar o mais rápido possível e como você sabe, o ideal é que a própria Luciana treine essa nova funcionária para assessorar o Henrique.

Luciana era a secretaria do Henrique, meu irmão mais novo e diretor financeiro da Construtora Alcântara. Ela havia pedido demissão da empresa, pois sua mãe iria morar em outro estado, por questões familiares e a Luciana decidiu ir junto. Para a função da Luciana, realocamos uma outra funcionária da própria empresa, mas o Henrique decidiu que também estava precisando de uma assistente, para ajudá-lo com as atribuições da função de diretor financeiro de uma construtora com tantos negócios e investimentos.

- Tenho que concordar com você neste ponto. Façamos como deseja. Mas somente se eu concluir que há realmente duas opções com os requisitos necessários para assumir as funções que lhes seriam delegadas, em caso de uma contratação.

- Está ótimo. - Falei e já estava prestes a sair quando lembrei de um outro ponto importante e voltei-me para ela novamente. - Não esqueça de primeiro me apresentar os currículos das duas selecionadas. Eu decidirei qual delas será a minha secretaria e qual será a nova assistente do Henrique.

Desta forma, eu poderia analisar melhor e com mais calma o que senti pela jovem e quem sabe, se a gente chegasse realmente a ter algum tipo de envolvimento um com o outro, ela ser a assistente do meu irmão não seria empecilho para nós, tal qual como seria caso ela fosse a minha secretaria.

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