IX - O assustador poder do Sexy Notes

Após Ângela e sua equipe deixarem a residência, Sky subira para o quarto e se agarrara ao Sexy Notes. Passara a chamar aquele estranho caderno pelo nome de seu antigo blog, pois a única coisa que restara do que havia feito tinha sido o título com letras douradas na capa.

A ruiva mordia o lábio inferior de leve, nervosa, curiosa, pensativa. Fechara os olhos e ficara assim por mais de trinta minutos com o livro colado ao peito em um abraço. Se dizia todo o tempo que não estava louca. Era uma mulher jovem e saudável, plenamente no controle de suas faculdades mentais.

Não havia dúvidas, ela sabia que tinha escrito grande parte da cena junto de Ricardo naquele caderno. O encontro, a transa, tudo correra perfeitamente até a equipe do FBI surgir em sua casa. Agora, tudo que restava era a certeza de que havia transado com um assassino serial.

A confusão em sua mente se dava quanto ao poder daquele caderno. Tudo o que havia escrito tinha acontecido. Contudo, mais do que havia escrito também tinha acontecido. Se as palavras no caderno refletiam a realidade, quanto desse poder ela tinha sob controle? Não havia sonhado com nada daquilo, quando vira Ricardo pela primeira vez na imagem da câmera de segurança, sabia de quem se tratava. Ele era exatamente a pessoa em sua mente ao escrever aquela cena para Celeste. Tão charmoso e sedutor quanto imaginara.

Não apenas isso, cada pequeno detalhe daquela foda deliciosa que provara tinha sido escrita antes de acontecer. Suspirara recordando.

Ironicamente, tudo que escrevera desaparecera magicamente das páginas e o caderno em seu abraço agora tinha apenas folhas em branco. O porquê suas palavras haviam desaparecido permanecia um mistério, mais uma entre tantas outras perguntas sem respostas plausíveis.

Sky apertara o caderno contra o peito, ponderando os acontecimentos mais uma vez. Se havia algo pior que os pensamentos de uma pessoa normal, eram os pensamentos de escritores. Escritores eram uma mistura de psicólogo, louco e filósofo em um único ser. E essa não era uma boa receita.

Entre seus devaneios, a escritora ponderava até onde seus atos tinham sido relevantes nos acontecimentos. Se ela não tivesse escrito que receberia um lindo homem naquela madrugada, ele teria vindo? Ângela dissera que o homem viera até ali para se livrar do corpo de sua última vítima e que o encontro entre eles não passava de coincidência. Contudo, ela sabia que a presença de Ricardo não havia sido um acaso. Pior que isso, ela tinha o perfil das vítimas do assassino.

Teria atraído um assassino para si?

Não gostava dos rumos que essa linha de pensamentos tomava.

Cansada, decidira não pensar mais naquilo. Se não estava louca, a chance de ficar parecia promissora. Abrira a gaveta do criado mudo e guardara o Sexy Notes novamente. Retirara a blusa e a calça de moletom que usava e as lançara para o lado da cama, ficando apenas com a lingerie.

Felizmente, diferente do exterior, o interior da casa era bem aquecido e tudo agora estava novamente trancado e com os alarmes ligados. Não abriria a porta nem mesmo se o Papa aparecesse a chamando por seu nome de batismo. Uma exceção, talvez, se visse Jeffrey Dean Morgan, afinal, toda vez que via aquele homem atuando em algum filme ou série de TV, sua calcinha se encharcava.

Fechara os olhos e esboçara um sorriso enquanto começava a adormecer. Independentemente dos fatos, sua inspiração para a escrita estava voltando.

Exatamente ao contrário do que planejava, Sky dormira profundamente até além das vinte horas. Acordara na mesma posição em que dormira, com o corpo doendo e morrendo de fome. Levantara sem pensar no que havia acontecido e fora direto para o banheiro. Não conseguiria fazer nada sem um bom banho.

A noite fora simples e prática. Como não conseguiria resolver nada indo até a cidade àquela hora, Sky decidira se organizar e passar o dia seguinte em prol de si e da nova casa. Fizera uma longa lista de compras e enviara mensagem para Lecter, cabeleireiro e proprietário de um salão de beleza próximo ao porto, agendando um horário para o dia seguinte.

Finalmente se sentia mais calma. Algumas horas de sono tinham o poder de fazer milagres. Decidira deixar o Sexy Notes de lado temporariamente e se focar no que realmente importava, fixar seus laços à nova casa e à nova comunidade.

Ficara até tarde espionando redes sociais e botando a conversa em dia com amigos e amigas. Logan, um escritor de romances eróticos gays que conhecera na época do lançamento de seu livro ficara quase duas horas falando sobre sua nova obra e a convidara para uma noite de autógrafos. Melody, sua mãe, lançara tantas perguntas sobre a cidade e a nova casa que parecia um interrogatório.

Joana Sinclair era curiosa, até mesmo intrometida em tudo, sobre todos. Sky, por sua vez, acabava sempre sendo seu alvo principal. O fato era que a ruiva de olhos verdes nunca tivera segredos com sua mãe. Desde pequena, Sky vira na mãe a imagem de alguém em quem poderia confiar para se confessar e buscar por conselhos. Até hoje, aos vinte e sete anos, isso não havia mudado.

Até hoje.              

A longa conversa com Melody incluíra detalhes acerca da linda cidade, das poucas pessoas que Sky conhecera até aquele momento e a belíssima casa que agora possuía. Por duas horas a ruiva falara com a mãe enquanto evitava pensar e falar sobre Ricardo e o FBI lhe fazendo companhia logo em sua primeira manhã no novo lar. Melody ouvira tudo e opinara sobre tudo também.

Por fim, concordara em visitar a filha dentro de duas semanas para a ajudar a organizar o que ainda pudesse estar fora do lugar na casa. Quando desligara a ligação, a escritora suspirara pensando em como se sentia mal. Era a primeira vez que omitira algo de Melody e não se sentia bem com isso.

E de alguma forma, sentia que Melody sabia que estava escondendo coisas.

Virando a face na direção do abajur próximo à cabeceira, pensara em como poderia falar sobre o Sexy Notes, fosse com a mãe ou qualquer outra pessoa. A verdade era que ninguém acreditaria nela. Ela mal acreditava.

A segunda noite na casa fora serena e tranquila. Sky falara com os amigos até que a maioria adormecesse e quando se vira sozinha, fizera suco e assara pizzas no micro-ondas, se sentando na cama para comer enquanto assistia aos últimos episódios da terceira temporada do seriado Westworld.

 Torcera os lábios ao ver o final da temporada, claramente insatisfeita. Como autora de diversos livros e contos e leitora compulsiva na adolescência, Sky se julgava uma ótima crítica quando o assunto era continuidade de tramas. E séries de TV eram seus alvos preferidos. Enquanto assistia, devorara seis mini pizzas e bebera um litro de suco. Ao se dar conta do farto ataque à geladeira, decidira que era hora de dormir e se preparar para o dia seguinte.

Sky despertara com o som da banda Sugar Ray, Mean Machine, tocando no alarme do rádio relógio. A cacofonia musical invadira o ambiente em segundos, fazendo com que a garota saltasse da cama para baixar o volume.

Apenas quem já ouviu Mean Machine ou Tap Twist Snap, da mesma banda, de perto, sabe como essas músicas são boas para acordar pessoas pela manhã – costumava dizer a ruiva, viciada em rock dos anos 1980.

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