II - Amor e outras drogas

Sky saíra do armazém abraçada às duas garrafas que havia ganhado. Tinha de admitir que aquilo parecia um sinal de boa sorte, conhecer gente simpática e ganhar presentes logo que chegara na cidade. E teria de voltar ali para provar a comida de Elliott ou fosse lá quem cozinhasse naquele lugar.

Porém, nem tudo parecia ser sorte. A garota mal dera dois passos e pisara em falso, desequilibrando para a frente. Antes mesmo que soltasse as garrafas para tentar se equilibrar de volta, sentira quando uma sombra a envolvera. Mãos fortes e quentes a seguraram com firmeza pelos ombros, a mantendo em pé até que recuperasse o equilíbrio.

Do fim da longa avenida abaixo, uma lufada vento soprara, esvoaçando seus cabelos e carregando diversas folhas secas pela calçada.

—Essa foi por pouco – dissera a ruiva, apertando as duas garrafas contra os seios com o braço esquerdo enquanto levava a mão direita até a face para mover a mecha de cabelos cor de fogo que o vento colocara sobre seus olhos.

—Tudo bem com você? – indagara a voz firme e penetrante perto dela.

Quando erguera os olhos verdes, Sky dera de cara com um sujeito grande e forte a encarando. Os olhos azuis como o céu em um dia limpo de primavera lhe encantavam e traziam recordações que ela preferia esquecer.

Por um instante, Sky ficara sem palavras, algo bem incomum para ela, uma escritora criativa e falante. Dando um passo atrás para se desvencilhar do abraço do sujeito, a ruiva esboçara um sorriso envergonhado.

—Eu… é… obrigada – dissera, abraçando as garrafas com os dois braços – Acho que pisei em falso, iria ser um tombo daqueles. Vamos dizer que fui salva por você dessa vez – emendara, se esforçando para memorizar cada traço da face daquele homem maravilhoso.

O rapaz tinha cabelos negros penteados para a esquerda e aparentava estar na casa dos trintas anos, embora a garota soubesse que as aparências enganam em muitos casos. Tinha o queixo quadrado e o olhar severo, misterioso, talvez até mesmo sombrio, mas aquilo era sexy.

O porte também era atraente. Tinha o peito definido e o abdômen sarado, o tipo de homem que conquistaria qualquer mulher. E embora Sky não fosse uma mulher que se deixava apaixonar mais tão facilmente, não podia negar que sexo era algo que ainda amava acima de todas as coisas.

—Jordan Lewis – dissera o sujeito esticando a mão para a cumprimentar.

Sky esticara a mão direita e sorrira, o cumprimentando enquanto o devorava com os olhos. Enquanto o rapaz movia os lábios para falar com a escritora, ela imaginava que aquilo era um convite para beijar aquela boca deliciosa.

—Serenity Sinclair – dissera ela em resposta.

Pensara em dizer que ele poderia a chamar de Sky se quisesse, mas queria evitar a chance de alguém por ali a reconhecer pelo escândalo de anos antes. A mudança para aquela cidade tinha como meta um recomeço em sua vida. Não pretendia reviver o passado explicando sua versão dos fatos às pessoas.

—Serenity… – comentara o sujeito sorrindo para ela – É um nome bastante incomum, mas devo dizer que é um lindo nome. Nova na cidade?

Sky suspirara. Chamava mais atenção do que desejava, como sempre.

—Está tão evidente assim? – sussurrara fazendo charme.

—Camden é uma cidade pequena – explicara o sujeito – Se não for um rosto conhecido, é uma turista ou uma nova moradora. E turistas normalmente andam em grupos e não vem para esse lado. Além disso, se já morasse por aqui, eu me lembraria de você, com certeza.

Galanteador – pensara Sky. O típico conquistador, o tipo de homem perfeito para uma noite e nada mais. Seria solteiro? A última coisa que precisava em sua vida naquele momento era outro casado cruzando seu caminho.

—Um homem observador – elogiara a ruiva pensando em alguma forma de acabar logo aquela conversa e voltar para o interior aquecido de seu Renegade. Por mais gostoso que fosse aquele sujeito, o clima frio e úmido de Camden no inverno e Sky não combinavam – Mora por aqui há muito tempo?

Ótimo – pensara a moça após fazer a pergunta. Para quem desejava acabar uma conversa, lá estava ela prolongando o assunto. Nunca conseguiria resolver seus problemas de curiosidade.

—Me mudei para cá há dois anos. Faço vários trabalhos na cidade, limpeza de piscinas, manutenção de ar condicionado, entre outros. Se precisar, estou em um barco ancorado no porto. Vou deixar um cartão com meu telefone – dissera o sujeito enfiando a mão dentro da blusa para apanhar a credencial.

Sky apanhara o cartão surpresa e ao mesmo tempo decepcionada por não receber um convite para o visitar. Claro que se faria de difícil, mas não perderia a oportunidade de descobrir como era aquele homem na cama. Certamente iria construir um caminho entre eles para que aquela oportunidade surgisse.

—Estou me mudando hoje, então ainda não sei como está a casa realmente. Me dê algumas semanas e garanto que o chamarei para consertar muitas coisas por lá. Vai ser muito bom poder contar com a sua assistência – você nem imagina o quanto, pensara a garota.

—Onde está morando? – indagara o sujeito.

—Em uma casa ao sul da Bald. Acabei de descobrir que o antigo proprietário faleceu há alguns meses, então creio que deve haver muita coisa precisando de manutenção – respondera a ruiva – Quando elaborar uma lista com as reformas, entro em contato – ou antes, refletira.

Jordan erguera as sobrancelhas, aparentemente surpreso.

—Então você é a nova proprietária da casa do velho Ben? – comentara – Eu cuidava da manutenção da piscina, embora ninguém nunca a usasse. E conheço bem a casa. Pode me chamar quando quiser.

—Parece que todos conheciam o antigo proprietário. Logo vai ser meu nome que ficará conhecido por me mudar para aquela casa – dissera a moça, torcendo os lábios com a ideia de ser associada a um escritor alcoólatra falecido.

Seria pior quando descobrissem que ela também era escritora.

—Ben foi uma espécie de celebridade pela região por algum tempo. Nasceu aqui mesmo e dizem que quando criança, não saía da biblioteca. Ficou famoso e rico com alguns livros de terror que escreveu. Pelo que o conhecia, era um tipo de nerd que vivia entocado em casa, cuidando de seus trabalhos.

Ao menos Jordan não mencionara a relação do escritor com a bebida, como Norman e Elliott haviam feito. Outra onda de ar frio passara pela calçada onde os dois conversavam e dessa vez Sky sentiu um calafrio subindo pela espinha, como se falar dos mortos invocasse fantasmas.

—É melhor eu ir. Ainda tenho um bocado de coisa pra descarregar do carro antes de tomar um banho, comer e poder relaxar um pouco – dissera a garota, voltando a abraçar as duas garrafas à frente dos seios – Foi uma viagem longa e cansativa e tenho mais uma hora de direção pela frente. Obrigada pela ajuda. Ligo assim que tiver organizado a lista de consertos.

Jordan acenara se despedindo e indicando que iria entrar no armazém. Sky seguira de volta para o Renegade ansiosa por sair daquele clima frio. Não sabia como as pessoas por ali não congelavam.

Ao se ver aquecida dentro do veículo, Sky retirara o cachecol cor-de-rosa do pescoço e suspirara. Girara o espelho retrovisor e fitara seus olhos no pequeno espelho. Não tinha olheiras e estava bem, apesar das quase dez horas dirigindo. Já havia retocado a maquiagem diversas vezes e estava perfeita.

Antes de dar a partida, abrira o zíper da calça e escorregara os dedos para dentro da calcinha. Estava encharcada. Ficara completamente excitada ao falar com Jordan. Em algum momento teria de transar com aquele homem.

Já fazia uma semana que Sky não transava com ninguém e dificilmente esse tempo se estendia. Desde que terminara seu romance secreto com Robert e sua vida particular tivera as partes mais excitantes vazadas para a mídia, a garota fora procurada por todo tipo de homem interessado em suas qualidades.

Sabendo que a maioria só queria sexo, a ruiva selecionara os que eram de seu agrado e passara a fazer casualmente o que mais gostava além de escrever, transar. Contudo, depois que o empresário partira seu coração, a garota jamais se rendera aos encantos de outros homens no que tocasse a amor.

Qualquer um que insistisse em avançar a linha vermelha era descartado e não tinha nenhuma chance de uma segunda transa. Por outro lado, o vício em sexo apenas crescia cada dia mais. A garota adotara o lema de que gozar era essencial, amor e outras drogas não.

Logo a escritora estava seguindo pela Rodovia Hosmer Pond em direção à Barnestown e dali a vinte minutos estaria em sua nova casa. Finalmente a moça sentia a certeza de que havia feito a escolha certa. Diferente da barulhenta Nova York com seus milhares de prédios altos e ruas repletas de gente, o que Sky via naquele instante, dos dois lados da rodovia, eram centenas de árvores com suas copas verdes e o cheiro de natureza por toda parte.

Sky reduzira ao ver a passagem à margem da estrada, com seus dois pilares de madeira e o arco no alto, onde a inscrição entalhada dizia Dreamfield. Era o nome de sua nova morada, uma propriedade particular cercada de abundante natureza e paz por todos os lados.

Pagar por aquele lugar custara boa parte de sua fortuna, mas valeria a pena. Teria ali privacidade para receber os amigos que desejasse, afinal, não tinha os vizinhos indesejáveis de apartamentos de Nova York. Melhor que isso, quando quisesse apenas desfrutar de paz e descanso, ninguém a incomodaria.

Com sorte, sua inspiração voltaria e em breve estaria escrevendo de novo.

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