CAPÍTULO 7

“Vivi, você sabe... Você é a coisa mais próxima de uma mulher que eu tenho na minha vida...”

“Eu não sou uma coisa próxima de uma mulher, Gabriel. Eu SOU uma mulher...” Interrompeu, rindo dele.

“Você entendeu, vai?” Retrucou, impaciente.

“Uhum.” Ela voltou a misturar suas frutas e cereais matinais, enquanto ele passava geléia no waffle que ela tinha preparado especialmente para ele.

“Eu pediria à minha mãe, mas ela mora longe e...”

Gabriel... Quer falar logo?” Estava ansiosa para saber qual era a missão feminina que ele teria para ela.

“Eu preciso de ajuda para comprar umas coisas... Roupas e... Essas coisas.” Ela o olhou, balançou a cabeça, positivamente, e voltou a atenção para as frutas. “Principalmente para essa tal festa...”

“Ai, eu to tão animada! Você não tá?” A animação de Viviam era não somente genuína, como perceptível e contagiante. “É claro que nós vamos ao shopping! Eu também preciso comprar um vestido novo. Eu tenho que ir bem bonita, à altura... Afinal, você vai ser o foco das atenções, hum?” Sorriu para ele, que devolveu o gesto.

A partir desse momento, ela falou e falou e falou um pouco mais, sobre a ida deles ao shopping, tudo que eles iriam comprar, como seria a festa, o fato de que ela precisaria marcar hora no salão. Ele, todavia, não estava prestando mais nenhuma atenção. Só olhava, encantado, hipnotizado, aquela mulher que estava preocupada em comprar uma roupa nova, para ficar bonita, à altura dele, sem se dar conta do quanto era LINDA, deslumbrante, perfeita a seus olhos.

As compras, alguns dias depois, foram uma diversão só. Gabriel não gostava de ir ao shopping, de escolher, experimentar, ficar em fila, aguentar bajulação de vendedor, e sempre fugia desse tipo de “passeio”, quando convidado pela mãe e o irmão mais novo. Contudo, ao lado de Viviam, uma tarde inteirinha entrando e saindo de lojas, e tendo como resultado uma porção de sacolas para ele carregar, tinha sido surpreendentemente agradável.

Enquanto Viviam estava na última loja em que ela queria adquirir alguns itens, a Victoria Secret, Gabriel ficou sentado em um banco, no corredor, secretamente imaginando a falsa esposa em um conjunto de calcinha e sutiã exposto em um manequim, na vitrine. Perdido em seus devaneios, nem viu quando alguém se aproximou.

“Gabriel, cara! Quanto tempo!”

“E aí, brother?” Disse, levantando e abraçando o amigo.

“Não aparece mais pra ver os pobres, hein! Desse jeito, eu quase acredito que você deu o golpe do baú, como o Matt fala, cara.” Os dois riram. “Por falar nisso, foi mal não ter ido ao casamento. A agência me mandou fazer uma fotos na Califórnia. Foi de última hora.”

“Sem problemas. Casamento é meio chato, bom mesmo é a lua de mel.” Deu um risinho safado. Seu amigo mais pegador nunca poderia saber que ele não transou com a própria mulher na noite de núpcias. E em nenhuma outra noite. Estava há meses sem sexo!

“E cadê a sortuda, hein? Eu preciso conhecer essa gata tão foda, que colocou você na coleira de dedo... E rápido pra cacete!”

Nesse momento, os dois ouviram um grito, que os fez olhar na direção da loja.

FELIPO?” Viviam veio correndo e largou as sacolas, atirando-se nos braços de Felipo, que a pegou no colo e rodopiou com ela.

“Spice-Vivi?” Ele a colocou no chão e os dois se olharam, sorridentes. “Você tá linda! Mais linda! Cara, quanto tempo! Uns... Cinco anos?”

“É... Por aí, uns cinco, seis anos.” Os dois riram e se abraçaram de novo, apertado. Gabriel se sentia confuso, surpreso, mas principalmente ignorado.

“Caraca! Que saudades, minha spice-Vivi mais apimentada de todas.” Acrescentou, maliciosamente.

“É...” Limpou a garganta. “Felipo, você conhece o Gabriel?”

Ela se deu conta de que jamais uma mulher poderia deixar alguém falar com ela, daquele jeito, na frente de seu marido e, como não tinha certeza se Felipo deveria saber que o casamento era falso, então ela não poderia deixar que ele a tratasse como sua spice-Vivi na frente de Gabriel. Se deu conta também do fato de que os dois estavam conversando antes de ela chegar, então certamente se conheciam, o que ela não sabia se era bom ou ruim.

“Claro! Gabriel é meu amigo, moramos juntos e tudo! Você...” A ficha dele caiu. “Cara, a sua mulher é a Viviam Lavigne?”

“Obviamente, não! Ela não é mais Lavigne. O nome dela é Viviam Oliveira.”

“Ah, cara, foi mal por usar o apelido que eu dei a ela na nossa adolescência. Eu nunca poderia adivinhar...”

“Tá tudo bem, Felipo...”

Não estava nada, nada bem, mas ele não ia perder o amigo por causa de uma mulher que nem era mulher dele realmente. Nesse momento, ele só queria entender de onde vinha essa intimidade toda, o que não foi difícil, porque Viviam convidou Felipo para jantar com eles, uma vez que era justamente isso que os dois tinham combinado de fazer quando ela saísse da loja.

Os três sentaram em um restaurante com opções vegan, já que Viviam seguia esse tipo de dieta, quase sempre, e, além de comer, conversaram por algumas horas. Viviam ficou sabendo que Felipo agora era fotógrafo de uma agência de modelos e ele soube que ela tinha voltado a estudar há pouco tempo, que estava começando a fazer testes para peças de teatro, e que ainda tinha envolvimento com o coral do colégio.

Gabriel, por sua vez, não ficou nada feliz ao saber que Felipo tinha sido o primeiro namorado de Viviam, com quem ela tinha ficado por dois anos, enquanto ele era jogador de futebol e ela a capitã das líderes de torcida.

Eles não entraram em tantos detalhes assim na conversa, mas o fato é que o namoro só tinha acabado porque ela optara por ficar no coral e deixar a torcida organizada, e ele não aceitara bem a decisão dela. Ela saíra de coração partido da história, porque acreditava que os dois ficariam juntos, pelo menos até cada um ir para sua faculdade, se um deles fosse sair de NY. Ele tinha sido o primeiro namorado dela, seu primeiro homem e, na verdade (isso nem ele sabia), o único, já que Leandro, depois de ter saído do armário, sequer entrava na conta.

Mais tarde, os dois tinham ficado amigos e ele mesmo acabara fazendo parte do coral, depois de ter sido expulso do time por transar com a namorada do quarterback. Só tinham perdido o contato porque ele tinha ido estudar fora de NY realmente, mas ambos estavam felizes em se encontrar.

Com certeza, não se perderiam de vista de novo, como afirmaram, inúmeras vezes, durante o jantar. Nenhum dos dois percebeu, dentro da bolha que acabaram criando, o quanto aquilo estava incomodando a terceira pessoa ali presente.

“Você lembra quando você quase foi expulso da aula do professor Cohen, por colar chiclete no cabelo da Helga...” Viviam quase não conseguia terminar, de tanto rir, e Felipo ria tanto quanto ela. “... Mas a garota era tão maluca por você, que disse pra ele que tinha colado, ela mesma, o chiclete sem querer?” Os dois continuavam às gargalhadas.

Alguns dias depois do encontro inesperado no shopping, Viviam tinha convidado Felipo para jantar com ela e Gabriel, na casa dos dois. Depois do jantar, tinham ido todos para a sala de TV, para tomar cervejas e ver um filme, mas o ex casal conversava sem parar e nenhum filme tinha sido sequer escolhido ainda.

Gabriel, que tinha ido buscar cervejas para os três, voltou para a sala de estar, onde os ex namorados recordavam mais uma das muitas histórias de sua adolescência juntos, sentados lado a lado, no chão, encostados no sofá. Ele entregou as garrafinhas long neck aos dois e sentou no outro sofá, em frente a eles, observando os dois aos risos. Seu mau humor era crescente, mas não era percebido por nenhum deles.

“A Helga era maluca! Ela nem era feia, mas eu nunca iria ficar com ela, porque depois ela não ia mais me deixar em paz. Lembra quando ela deu uma calcinha pro Jacob, pra tentar evitar que ele colocasse no blog que eu tinha ficado com a Mia?” Viviam soltou outra gargalhada, encostando a cabeça no ombro de Felipo, enquanto Gabriel se contorcia no sofá, tentando controlar a irritação que tomava conta dele.

“Pior! Ela deu uma calcinha enorme... Nem a minha avó usava uma calcinha tão grande!”

Os risos não paravam nunca e Oliveira virou toda a cerveja, indo buscar outra, só pra sair dali. Passou alguns minutos na cozinha, encostado na bancada. Não sabia o que estava incomodando mais. Se era a proximidade física dos dois, o receio de que ainda existisse uma atração entre eles, ou se era o fato de, para todos os efeitos, ele ser o marido dela e, mesmo assim, estar sendo praticamente ignorado pelos dois.

“Escuta essa, Gabriel.” A garota falou, quando ele voltou, finalmente, à sala, ocupando novamente um lugar no sofá. “O seu amigo aqui fala que não ficaria com a Helga Levy porque ela era maluca... Mas ele ficou com a Mia Katz, a namorada do David Boldin... Do quarterback... O maior jogador do time e o mais adorado pelos outros jogadores!”

“Essa história, não, Viviam...”

“Essa história, sim, Felipo! Gabriel, a garota era hipócrita e perigosa! Ela era do clube do celibato e transou com o Felipo, logo na primeira vez, nada mais nada menos do que no vestiário masculino... Na escola! Ela frequentava a igreja com os pais, toda princesinha, mas participava de pega com os meninos, usava drogas. No último ano, ela foi até presa... Com cocaína!”

“Tá, ok, Viviam! Eu não tinha juízo... Eu andava com as pessoas erradas. Mas, porra... Eu também tinha um lado bom, vai.”

“Tudo bem... É verdade... É... Você era... Um bom dançarino.” Lembrando-se de algo, ela se animou. “Meu Deus, eu nem me lembrava mais!” Levantou-se, enquanto os dois homens na sala olhavam um para o outro e perguntavam o que ela ia fazer.

Viviam colocou um DVD e logo se viu na tela uma festa. O local do baile era um ginásio e havia uma faixa com o ano escrito, portanto não era difícil perceber que se tratava de uma festa do colégio.

“É a festa de que ano, B?”

“Do nosso primeiro ano... É a única que eu tenho. Eu não fui às outras. Saí com o pessoal do coral.”

“Tem a nossa coroação, então.” No mesmo momento em que Felipo perguntou, os dois apareceram na tela, dançando juntos. Gabriel, que até então prestava atenção como eles, desviou o olhar da tela, o que não passou despercebido pelo amigo.

“Já é tarde, Viviam. Vai demorar pra aparecer a coroação... Então... Vamos deixar pra ver outro dia, ok?”

Felipo levantou-se do chão, ao mesmo tempo desligando a TV. Estava sem jeito. Eram ele e a mulher do amigo dançando. Tinha sido há muitos anos, mas seu brother não parecia nada confortável e ele não queria ser a razão de nenhum problema.

“Poxa, Felipo, eu tava vendo...” Falou, fazendo bico, sem entender por que o rapaz tinha resolvido ir embora de repente e, ainda por cima, desligado a TV sem nenhuma educação.

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