Capítulo 02

Dançamos e bebemos muito até a madrugada, o som da música e o álcool no sangue me deixou eufórico, tive várias vezes a impressão de estar dançando com a Isis e não com a Karen. Tudo já estava rodando ao meu redor quando sai da festa acompanhado por ela, entramos em casa e nos jogamos no sofá. Eram umas três e meia da manhã e ainda havia gente dançando lá fora. Eu estava bêbado admito, mas consciente.

— Me diz por que não demos certo mesmo? — Ela falou olhando para o nada, jogada no sofá. 

— Não é que não demos certo. — Falei procurando uma resposta quando eu só queria dizer que eu não sou um mortal como ela. 

— Ah lembrei, você só tinha tempo para os seus livros. Eu gostei muito de você Ozzy, e acho muito bom esse seu dom para a escrita, mesmo! — Ela me olhou e sorriu.

— Você é muito especial Kah, merece alguém que compreenda isso. Não gosta mais? — Sorri e deixei minha cabeça cair no ombro dela. 

— Não, acho que hoje só te vejo como um amigo! Talvez um pouco colorido; mas, nada mais. — Ela ironizou tentando não embaralhar as palavras. — Já faz muito tempo que não ficamos bêbados juntos né? — Ela riu. 

— Já tinha esquecido qual era a sensação. Amigo colorido é? — Eu ri. Aquilo parecia ser um jogo e sinceramente eu já estava fora da realidade, não era como um dos meus portais, mas era divertido.

       Minha cabeça estava ficando pesada, mas isso não me impediu de levantar e olha-la nos olhos, eu não sei se estávamos muito perto ou se foi o álcool, mas quando percebi já estávamos nos beijando loucamente. No meio de todo aquele clima lembrei da Isis, talvez ela e a Kah parecessem um pouco, talvez a Kah fosse a porção do amor que me salvaria de todo medo, eu não era apaixonado por ela, mas poderia me apaixonar facilmente. Ela sempre foi um encanto de mulher, talvez se eu abrisse meu coração ela poderia me moldar, poderia me ajudar e me curar de todos os meus conflitos. Se eu aceitasse o peso que a imortalidade me traz.

Talvez a Isis deveria ter alguém para cuidar, alguém para curar todas as dores e conflitos. Talvez ela devesse ter alguém que a amasse independente do que ela fosse, ou alguém igual a ela. SIM! Alguém que fosse igual a ela, mas que fosse tão doente que só poderia ser curado pelo seu amor, alguém que não tivesse outra escolha e que pudesse ensiná-la a amá-lo. 

— Você é inspiradora sabia? — Eu sorri interrompendo o beijo. 

— Não me iluda mais com seus fascínios Ozzy. — Ela fez um biquinho malicioso e voltou a me beijar.

Eu até poderia ir para casa correndo alternando entre álcool e consciência para escrever, mas eu merecia comemorar minha ideia, e nada melhor que ser com a mulher que me inspirou. Seria uma longa e bela noite!

 Acordo e olho ao redor, o quarto está uma bagunça enorme e ela está dormindo nua e linda ao meu lado, minha cabeça parece querer explodir a qualquer momento, tateio o chão em busca do meu celular e olho as horas. Já são dez da manhã e eu preciso mesmo ir para casa! Passei toda a noite alternando entre sonhar com a Isis e transar com a Kah, ela tinha um desejo insaciável e foi uma noite completamente intensa atrapalhada apenas por uma outra mulher vagueando em minha mente. Me levanto da cama na pontinha do pé e pego minhas roupas, me visto e vou para o carro. O caminho para casa é rápido, ao chegar vejo minha mãe sentada no sofá assistindo ao noticiário.

— Olha só quem chegou. Bom dia meu bem! — Ela me olhou e sorriu. 

— Bom dia, a senhorita dormiu bem? — Sorri e beijei sua testa. 

— Dormi sim, mas você pelo visto não dormiu né. — Ela riu descontraidamente. 

— Dona Aradia, dona Aradia. Vou tomar um café, minha cabeça vai explodir. — Me virei rindo e fui para a cozinha. 

— Vai me apresentar a bela moça que deixou meu filho tão machucado? — Ela olhou para o noticiário rindo disfarçadamente. 

— Que? — Olhei para meu peito aonde a camisa estava aberta e vi os arranhões, não havia notado acho que foi o sono e a ressaca. — Sabe, todo mundo tem segredos. 

Me sentei no sofá e tomei meu café da manhã, quando terminei fui diretamente para o notebook escrever minhas ideias… Decidi que o nome do cavalheiro que ganhará o coração da plena Deusa será Philipus, ele será um mago da Profecia que usa o dom da natureza para fins medicinais, ele curará e ajudará pessoas até que ficará muito doente e precisará do amor da deusa para se curar, então ele terá que lutar para conquistá-la até que ela o ame. Passei horas e horas escrevendo o enredo da trama e quando me dei conta já tinha passado da hora do almoço, cai em mim quando meu celular apitou avisando que havia chegado mensagem. Dei uma olhada e vi que era a Kah. 

“Fugiu de mim antes que minha consciência retornasse? hahaha amei a noite.”

Eu ri e respondi. 

“Eu tinha alguns compromissos e não queria acordar a bela dama dormindo tão plena ao meu lado. Também gostei muito da noite.”

Desliguei o celular, fechei o notebook e fui para a cozinha preparar meu almoço, a Aradia estava cochilando no sofá. Passei a tarde assistindo a alguns filmes e vendo alguns comentários no meu site sobre meus livros lançados recentemente. Tinha muitos comentários bons e aquilo me animou muito, tirando um ou dois comentários ruins eu estava no caminho certo! A noite logo caiu e eu voltei a me dedicar ao meu livro. Cada capítulo uma nova descoberta, um novo fascínio. Cada palavra escrita me surpreendia, essa sempre será a melhor parte de ser um escritor! Escrever coisas que você jamais imaginaria, dedicar seu tempo a imaginar o que levaria as pessoas a ficarem presas e intrigadas com as suas palavras é um dom fascinante. 

Os dias estão se passando rapidamente e o livro está fluindo muito bem. Decidi que vou fazer uma viagem, conhecer novos lugares podem me inspirar na continuação da trama. Vou fazer um tour pela cidade de Heidelberg e logo depois pela cidade de Kassel, são lugares que darão ênfase ao meu enredo, lugares que imagino a Isis e o Philipus morando. A mamãe não poderá ir comigo porque o vovô virá passar uma temporada aqui para avaliar o desempenho do jornal, ainda bem que dá tempo de eu ir e ainda passar uns dias com ele quando voltar. Instantaneamente lembrei da Kah e do quanto essa cidade combinaria com ela, mas não terei tempo para dar atenção então prefiro esquecer o assunto. 

Arrumei minha mochila num piscar de olhos, peguei poucas roupas e meu notebook, coloquei no carro e peguei a estrada. As paisagens pelo caminho são fascinantes, vale a pena passar algumas horas dentro do carro para ver as paisagens naturais que a Alemanha carrega. Uma energia boa e positiva me acompanha nessa pequena viagem…

Quando cheguei já era noite, me hospedei num hotel bem discreto, coloquei minhas coisas no quarto e desci para o jantar. Chegando ao bar pedi um vinho ao garçom, o restaurante estava muito cheio me fazendo esperar por uma mesa. Notei uma bela mulher sozinha bebendo a dois bancos de mim. Ela é clara, com cabelos desgrenhados preso num grande coque e um vestido longo e justo que destacava sua silhueta. Desviei o olhar. Me perdi em pensamentos sobre o livro!! 

Quando percebi que a mesa demoraria resolvi comer fora, saí e comecei a notar as ruas da linda cidade, as luzes acesas destacando as casas e estabelecimentos davam um ar de autenticidade e romantismo genuíno. Imaginei a Isis andando por ali em algum lugar perdida em sonhos enquanto o Philipus seu fiel cavalheiro ajudava pessoas sem saber de sua sina. Estava passando por uma rua deserta em busca de um restaurante vazio e simples quando notei uma moça sentada no asfalto, eu iria passar direto, mas percebi que ela estava chorando então me aproximei. 

— Oi? — Me sentei ao seu lado, notei que era a mesma moça que havia visto no bar. 

— Oi. Está me seguindo? — Ela suspirou e limpou a maquiagem. 

— Não, eu estava passando e. Você está bem? — Eu disse a encarando. 

— Ah estou sim, vi você no bar. Parecia impaciente e perdido. Meu nome é Chloe. — Ela falou sorrindo timidamente. 

— Prazer Chloe, meu nome é Merlin. Ah sim, não tinha mesas. — Falei fingindo estar chateado.

— Você já comeu? Se quiser posso mostrar um restaurante que não esteja tão cheio. — Ela deu de ombros e sorriu educadamente. 

— Ah claro, no momento é tudo que eu preciso, já estava quase desistindo. — Levantei e dei a mão para que ela pudesse levantar. 

Nós seguimos pelas ruas daquela pequena região, ela ainda meio tímida me olhava de vez em quando como se fosse falar algo e desviava o olhar. Chegamos a frente de um pequeno restaurante. 

— Eu não reparei se você já comeu, se quiser pode ficar e jantar comigo. — Sorri educadamente. 

— Não quero atrapalhar sua noite. Muito obrigada. — Ela olhou para as ruas e olhou para mim. 

— Não, você não atrapalhou, acredito até que tenha sido minha salvação no desconhecido. Por favor aceite meu convite. 

— Se for assim, tudo bem.

 Ela me acompanhou até uma mesinha afastada para dois, eu arrastei a cadeira para que ela se sentasse e me sentei a sua frente. 

— Então Chloe, você mora aqui mesmo? — Falei tentando puxar assunto. 

— Não desde sempre. Escolhi fazer faculdade aqui por causa de uma pessoa. — Ela olhou ao redor e respirou fundo tentando esconder a frustração. 

— E deu certo? — Falei impressionado com tamanha coragem.

 O garçom apareceu e perguntou o que iríamos querer, nós escolhemos vinho Riesling com duas porções de Strudel de quark acompanhado com creme. 

— No começo sim. Parecíamos ter nascido um para o outro sabe, eu poderia ter ido para Harvard, mas decidi vir por causa dele. — Ela suspirou mais uma vez e forçou um sorriso. 

— Como vocês se conheceram? — Eu sempre acreditei na conversa terapêutica.

— Olha não quero mesmo falar sobre isso. — Ela desviou o olhar. 

— Quando eu era pequeno, eu era muito frustrado com algumas coisas em minha vida, e meus pais sabiam o que era, mas me faziam falar sobre todos os meus problemas, eles sempre me diziam que aliviava e depois das conversas eu realmente ficava mais leve. Sabe Chloe eu não te conheço, mas talvez nosso encontro tenha sido planejado pelo destino para uma via de mão dupla em ajuda. — Eu sorri. 

— A gente se conheceu pela internet, ele morava na mesma cidade que eu, então marcamos de nos encontrar e deu tudo certo. Mas logo ele veio embora para cá! Meus pais nunca gostaram do nosso relacionamento, mas ele parecia ser uma pessoa tão boa sabe, então continuamos virtualmente por um ano até que surgiu a proposta da faculdade. Ele disse que eu poderia tentar aqui para ficarmos mais perto um do outro. Meu sonho era Harvard, mas eu entendi que ele me amava e queria estar comigo, o que é uma faculdade perto do amor, não é? — Ela falou meio pensativa. 

— E por que não deu certo? — Falei a observando. 

— Sabe, pouco depois que cheguei ele começou a mudar comigo, queria sair toda noite, beber com os amigos e ele sabe que não sou assim. Mas me dizia que eu estava sendo chata, quando eu pedia para nos encontrarmos ele nunca tinha tempo ou já estava de compromisso — Ela suspirou. — Eu era só um troféu de exibição e acabei descobrindo que ele me traia com minha colega de quarto. 

— Descobriu isso naquela hora? Lá no bar? — Falei triste por ela.

— Sim. — Ela segurou as lágrimas. — Ele havia marcado de se encontrar comigo. Esperei e nada, tentei ligar e alguém desligou então depois de uns minutos recebi uma foto dele dormindo na cama com ela, ela nunca me engoliu disso eu já sabia, só não precisava ser tão baixa. — Ela falou mostrando um pouco de raiva. 

— Olha sei que é infeliz essa situação. Mas acredito que algumas coisas em nossas vidas servem para aprendizado. — O garçom apareceu com os pratos que havíamos pedido. — Sabe acredito que ele não merece você, mas estar aqui pode te ensinar muitas coisas, você é jovem; linda, não chore por alguém que não vale nada. Minha mãe sempre me disse que o Caráter é o mais essencial em alguém, e se a pessoa não o tem não vale a pena tê-la em sua vida. 

— Você é uma pessoa muito boa Merlin, o que te fez vir até aqui? — Ela sorriu. 

— Sou escritor, as vezes viajo a procura de lugares novos, isso me ajuda a se inspirar na construção dos meus enredos. — Bebi um gole do vinho. 

— Olha só de onde vem palavras tão bonitas. — Ela falou bebendo o vinho. 

— Então qual sua área? — Perguntei curioso. 

— Agronomia. — Ela sorriu. — Estar em contato com a natureza me faz um bem sem igual. E você? Sobre o que está escrevendo agora? 

— Nossa. Eu estou conhecidamente escrevendo uma história de amor entre dois deuses da natureza, minha deusa Ísis tem o poder de extrair emoções da natureza passando assim vibrações positivas para o corpo e expulsando tudo de ruim que nele há. Já seu cavaleiro tem o dom de usar a natureza para fins medicinais, ele pode transferir as emoções e passar através da natureza a emoção ruim das pessoas para ele. — Eu disse muito animado por estar falando com alguém sobre minha mais nova trama. 

— Que interessante, mas assim ele não ficará doente? — Ela falou claramente interessada em saber mais.

— Sim, mas aí é que entra o amor! Ele ajuda as pessoas a se curarem e por isso ficará doente, o amor pela profissão. Mas, encontrará alguém que pode o curar através do amor elos. Ele terá que conquistá-la para que seja curado, é o que faz a trama ficar envolvente, quero que as pessoas se perguntem como ele fará isso? E se ele conseguirá.

— Adorei, espero mesmo ler esse livro um dia. 

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