De volta para casa
De volta para casa
Por: MS Mendes
Capítulo 1

Havia rastros de nuvens no céu...

            Anoitecia lentamente, e estrelas bem pequeninas começavam a surgir, tímidas, despontando na escuridão.

            Havia rastros de esperança no coração de Viviane. Eram como frágeis fagulhas de um fogo já extinto, que pouco a pouco começava a deixar apenas poeira em seu lugar.

            Tinha plena noção de que era senhora de suas próprias escolhas. Não que essas escolhas tivessem sido sempre as mais corretas, mas tinha as cicatrizes para lembrar de cada uma delas. E por mais que merecesse todas as consequências, por mais que desistir soasse tão tentador, havia uma criatura angelical, adormecida no banco de trás do carro, que merecia ao menos uma vida decente. Algo que Viviane não estava sendo capaz de proporcionar.

            A estrada à sua frente seguia quase deserta. Estavam no meio de um feriado, e Serenia não era exatamente o destino preferido dos turistas. Sabia que precisava continuar dirigindo, caso quisesse chegar cedo pela manhã, mas sentia-se cansada e suja. Tudo que queria era um banho e cama. Então, teria que acalmar sua pressa e parar um pouco.

            O primeiro motel com uma aparência apresentável foi sua escolha. Parou o carro no pequeno estacionamento e dirigiu-se à recepção, carregando a filha e uma pequena bolsa de viagem nos braços, que era tudo que tinha. Uma vida inteira estava resumida a poucas peças de roupa, materiais básicos de higiene e alguns documentos. E Lúcia, que era a razão de tudo.

            Dirigiu-se ao balcão da recepção, pagou pela noite em dinheiro e pegou a chave de seu quarto.

            Como uma bênção, Lúcia permaneceu adormecida por mais meia hora, o suficiente para que pudesse se demorar um pouco mais no chuveiro. Um luxo ao qual não se permitia há algum tempo.

            Realmente se sentia suja. Mais do que isso... sentia-se imunda. Sua alma estava maculada por sombras de um passado que levaria muito tempo para esquecer. Se é que algum dia esqueceria. Sentia como se suas mãos estivessem manchadas, como se nas linhas de suas palmas fosse possível ler cada um de seus pecados.

            Com os longos cabelos molhados e cheirando a xampu barato, deu uma breve olhada em Lúcia, que ainda dormia, embora parecesse um pouco mais inquieta em seu sono, e dirigiu-se à pequena varanda que havia no quarto.

            A vista não era a mais linda que já tinha contemplado, mas ao menos conseguia fitar as estrelas.

            Com os olhos fixos em uma delas, ousou fazer um pedido. Pedia por uma luz. Uma última luz que a guiasse pelo caminho certo daquela vez; que a levasse a fazer melhores escolhas, por mais que odiasse a única opção que lhe restava. Apesar disso, seria capaz de fazer qualquer coisa pela filha, até mesmo engolir seu imenso orgulho e pedir ajuda a quem lhe negara tudo.

            — Mamãe? — uma vozinha doce e sonolenta a livrou de seus pensamentos mórbidos. — Já chegamos?

            — Não, querida. Estamos em um hotel. Mamãe estava muito cansada para continuar a dirigir. Se quiser, pode voltar a dormir.

            — Não quero mais dormir. Posso ficar aqui com você?

            — Está frio. Vai acabar se resfriando.

            — Por favor, só um pouquinho. — Aquele tipo de pedido sempre a convencia de qualquer coisa. Até porque, Lúcia quase nunca lhe pedia nada, muito menos coisas que fossem difíceis de conceder.

            — Se pegar um casaco e prometer que vai entrar assim que começar a sentir frio, eu deixo que fique aqui.

            — Prometido! — com seu jeitinho meigo e infantil, Lúcia cruzou os dedinhos sobre a boca e os beijou, selando a promessa, como se fosse muito importante.

            E antes que pudesse dar oportunidade para uma mudança de ideia, a menina correu para dentro para pegar seu casaquinho e voltou para perto dela, subindo no colo da mãe com um pouquinho de dificuldade, passando a olhar o céu assim como ela.

            Para Viviane não havia nada mais sublime do que momentos como aquele. Ter sua criança nos braços, em um raro instante de paz, tendo o silêncio para embalar suas respirações, era o paraíso. Nada mais importava; o mundo podia desabar ao seu redor, podia chover fogo ou neve, que ela sequer perceberia.

            — Como é mesmo o nome da cidade para onde vamos?

            — Serenia.

            —Nunca ouvi falar. E olha que a professora já me ensinou o nome de um moooonte de cidades — Lúcia fez uma pausa. — Por que vamos para lá?

            — Porque a mamãe conhece uma pessoa que pode nos ajudar.

            — Tá legal — Lúcia não parecia lá muito animada com aquela perspectiva, especialmente porque Viviane não lhe disse muita coisa sobre a tal cidade. — Mamãe... — ela chamou outra vez, depois de terem ficado um tempo caladas.

            — Diga, Moranguinho...

            — Tem crianças em Serenia?

            — Claro...

            — Que bom. De repente vou fazer alguns amigos desta vez.

            Viviane sentiu uma pontada no coração, e um bolo na garganta se formou. Havia solidão no tom de voz de Lúcia. Ao lado do arrependimento, a solidão era, com certeza, o sentimento mais amargo que tivera que experimentar.

            — Espero que faça muitos, querida — e estreitou mais os braços ao redor da filha.

            Lúcia não gostava de silêncios. Era uma criança falante, mas sabia o momento em que um assunto deveria ser interrompido. E aquele era um desses momentos... As duas olharam ao mesmo tempo para as estrelas, naquela sucessão de movimentos ensaiados que apenas almas irmãs são capazes de realizar.

            Viviane nunca acreditara em magia, embora tivesse passado sua vida toda no meio dela. Ou pelo menos era o que diziam; mas a verdade era que nunca tivera real interesse em constatar os fatos. Apesar disso, olhando para o céu naquele exato momento, soube que, em algum lugar, havia, sim, esperança. A vida não podia ser tão ruim quando podia testemunhar noites como aquela.

            Foi então, com esse pensamento, que uma brisa agradável açoitou seu rosto, fazendo cócegas em seus olhos, e que ela percebeu que uma pena branca tinha caído exatamente em seu colo, pouco abaixo de seu pescoço.

            Poderia pertencer a qualquer pombo ou pássaro, mas ela preferiu acreditar que algum anjo a enviara, como o sinal que ela tanto esperara.

            Então, sorrindo, Viviane olhou para a pequena Lúcia e percebeu que ela tinha adormecido, também com um sorriso nos lábios. Satisfeita pela primeira vez em muitos anos, abraçou a si mesma para amenizar o frio, e pensou que finalmente tentaria ser feliz.

***

“BEM-VINDO A SERENIA – NÃO SE ASSUSTE COM AS TEMPESTADES, APROVEITE OS DIAS DE SOL”

           

Aquela estúpida placa ainda estava ali, mesmo depois de anos de existência; tão enferrujada quanto Viviane se lembrava. Em dias de ventos mais fortes, ela balançava de um lado para o outro, rangendo como a porta de uma casa mal assombrada, como se quisesse obrigar a todos a lerem sua mensagem de duplo sentido. As tempestades de Serenia, mencionadas ali, eram tanto as precipitações climáticas, constantes em qualquer época do ano, quanto os pandemônios emocionais que assolavam cada um dos habitantes daquele lugar. Os dias de sol, em ambos os casos, eram raros. E Viviane, por sua vez, teria que aprender a aproveitar os seus.

A tal Serenia ficava na divisa entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo apelidada por seus habitantes de "cidade híbrida", pois carregava um pouco de cada um dos estados. Algumas pessoas possuíam sotaque mineiro e comiam pão de queijo como se não houvesse amanhã, enquanto outras tocavam samba de raiz em cavaquinhos na praça, até o sol raiar e adoravam uma boa malandragem carioca.

            E também havia outra peculiaridade em Serenia: nuvens cinzentas eram uma característica quase constante no céu daquela cidade esquisita. Elas se posicionavam de forma estratégica, formando um elo, como se dançassem uma ciranda, movimentando-se devagar, no embalo do vento letárgico que batia. Ao suspirar, olhando para elas, Viviane teve a certeza, sem nem precisar se esforçar para pensar muito, que havia uma pessoa capaz de decifrar exatamente o que aquelas nuvens queriam dizer.

            Porque elas sempre diziam alguma coisa. E na maioria das vezes não era nada muito bom.

            E não era apenas a placa velha e barulhenta que não tinha mudado naquela cidade. Nada... absolutamente nada parecia estar diferente. Mesmo depois de oito anos longe, conseguia ver as mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas, nos mesmos lugares. Algumas tinham apenas umas rugas a mais na testa, mas nada mais que isso. Chegava a ser assustador. Era como se os anos não tivessem passado; como se ela tivesse entrado em uma máquina do tempo e voltado ao passado, à sua adolescência problemática e ao caos que era sua vida naquela época.

            Mas não dizem que todos surgem do pó e acabam voltando a ele, mais cedo ou mais tarde? Ela estava voltando um pouco cedo demais.

            A casa, tal qual a cidade, estava exatamente do jeito que ela se lembrava. Parecia em ruínas, coberta por poeira, cheirando a madeira gasta e naftalina. Na verdade, ela cheirava a memórias. Cada um daqueles velhos odores proporcionavam recordações indesejadas. E Viviane conseguia sentir o gosto de cada uma delas na ponta da língua. Elas eram responsáveis pela mulher que ela se tornara, por cada um de seus fracassos. Ou pelo menos era nisso que gostava de acreditar.

            Parando diante da propriedade, olhou de relance para o banco de trás e percebeu que Lúcia ainda dormia. Permitiu-se admirar a filha por um breve momento, mas logo respirou fundo e saltou do Voyage, ano 92, que parecia tão arruinado quanto a casa para onde olhava.

Esfregando as mãos na calça jeans, demonstrando todo seu nervosismo, Viviane começou a caminhar, aproximando-se da porta. Durante todo o caminho de        Belo Horizonte até ali, ensaiou o que deveria dizer; tentou encontrar as palavras certas, o tom de voz adequado, mas nada parecia ser apropriado. O que dizer para uma pessoa de quem você fugiu há oito anos e com quem jamais tivera um diálogo decente? O que explicar para alguém que jamais compreendera? Um estranho com quem convivera durante toda a vida...

O estranho que teria que salvar sua vida...

Com o punho fechado, bateu à porta.

E nada...

Ela sabia que ele estava em casa... sempre estava. Jamais colocava os pés na rua e não era possível que exatamente aquilo pudesse ter mudado.

Certos hábitos também nunca mudavam... Sem o menor pudor, Viviane se afastou da porta e se dirigiu à janela mais próxima para espiar dentro da casa. Estava tudo fechado, como sempre; os vidros estavam sujos e embaçados, e ela pôde enxergar que lá dentro nada estava muito melhor. A sujeira era visível mesmo àquela distância, e a bagunça se assemelhava ao resultado de um furacão em uma cidade. Mas, apesar disso, não viu ninguém.

Olhando para o carro para verificar se Lúcia ainda estava dormindo, tentava pensar em um plano B. O que faria caso ninguém viesse atendê-la? Para onde iria? Não tinha aquela resposta.

E foi então que um vento forte soprou em sua direção. Por uma força do hábito, Viviane olhou para o firmamento. As nuvens já tinham se modificado novamente, passando de baixas e escuras para uma camada uniforme que parecia cobrir todo o firmamento. A cidade não parecia muito disposta a lhe dar boas-vindas. E nem a pessoa parada à sua frente, que segurava um bom punhado de lenha e sustentava uma expressão carrancuda no rosto.

Ele havia envelhecido. Muito mais do que seria aceitável para aqueles oito anos. Se o tempo tinha parado para Serenia, parecia não ter sido muito bom para Aldo Nogueira. Além disso, ele parecia muito mais alto do que Viviane se lembrava. Talvez fosse por isso que entendia tanto de nuvens... ele praticamente conseguia tocá-las se esticasse um pouco as mãos. Não havia nada de mágico em sua aparência, a não ser que fosse comparado a um ogro. Os cabelos, que antes eram loiros, estavam grisalhos; sua pele ainda guardava o mesmo bronzeado de sol, porém, havia mais marcas de expressão. A boca parecia uma linha reta que nunca sorria, os olhos eram pequenos e azuis escuros. Poderiam ter sido bonitos, se não parecessem sempre tristes, desconfiados. Era possível que ele não confiasse nem em si mesmo.

Naquele momento, portanto, os minutos pareceram parar. Aldo fixou os olhos nela com a mesma expressão de sempre. Ele parecia nunca aprovar o que via; era como se a achasse um erro... como se a considerasse muito indigna. Bem, ele finalmente estava certo. Viviane tinha se tornado uma mulher muito pior do que ele jamais poderia imaginar.

E, somente para quebrar o silêncio, ela foi a primeira a proferir qualquer coisa...

— Oi, pai...

Enquanto ele a estudava, daquela forma irritantemente soturna, com o cenho franzido, Viviane se perguntava se ele já sabia que ela iria chegar, uma vez que sempre sabia de tudo.

Aldo ficou calado por uma eternidade. Daquela vez, Viviane não tinha coragem de falar nada... preferiu também observar e esperar. Nunca fora muito paciente, mas precisava aprender a respeitar o tempo; precisava saber que cada segundo poderia valer o preço de uma vida, poderia ser o último. E ali, na sua frente, no homem que ela jurara odiar para o resto de sua existência, estava sua salvação. Era a maior prova de que o mundo dava voltas e que o relógio nunca parava.

— Venha, vamos entrar... — Aldo falou, com sua voz que mais parecia um dos trovões que ele tanto adorava, e lhe deu as costas, exatamente como nas vezes em que ela cometia uma travessura e ele aparecia para livrá-la da enrascada, sem nunca lhe passar um sermão, sem sequer comentar sobre o pequeno delito. E costumavam ser muitos.

Vê-lo simplesmente começar a caminhar, sem fazer perguntas, sem elevar a voz, sem confrontá-la para saber por que fugira ou por que voltara, fez o sangue de Viviane ferver. Ela não queria esmolas, não queria que ele a enxergasse como a filha pródiga que retornava à casa por não ter nenhum outro lugar para ir. Embora essa fosse exatamente a história.

— Eu não estou sozinha.

Não queria soar tão suplicante ou frágil, mas temia que ele simplesmente não aceitasse uma terceira pessoa na casa. Viviane o viu virando o corpanzil em sua direção lentamente, como se quisesse prolongar uma tortura. Sabia que seus olhos deveriam estar denunciando todo seu desespero e ansiedade, mas, naquele exato instante, ela não se importava. Lúcia era o único pensamento latente em sua cabeça... faria qualquer coisa por ela, abdicaria de qualquer orgulho pela menina que tanto amava.

Quem está com você? — a conotação da palavra "quem" fazia crer claramente que ele achava que Viviane estava com um homem.

— Minha filha.

Para um homem que não esboçava muitas reações, foi fácil perceber que ele tinha ficado surpreso.

Confuso...

Comovido...?

— Cadê a menina? — em instantes, sua expressão voltou à seriedade e à indiferença de sempre.

— No carro.

Ele não disse nada mais, apenas largou no chão a lenha que ainda carregava, como se depositasse um cristal sobre a areia, com todo cuidado que um homem daquele tamanho poderia ter, e começou a caminhar na direção do velho Voyage.

Ainda em silêncio, abriu a porta do automóvel e tirou Lúcia de lá, começando a voltar para casa, carregando a menina nos braços, que parecia ainda menor em seu colo.

— O que está fazendo? — foi uma pergunta impulsiva. Ele podia ser seu pai, mas vê-lo carregando Lúcia, tão pequena e indefesa, lhe despertava instintos maternos muito selvagens.

— Estou levando a menina para casa. Está chegando um temporal. — Simples. Como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Então vai nos deixar ficar?

— A casa é sua, Viviane. — Pela primeira vez ela sentiu uma pontada de tristeza em seu tom de voz.

— Sem condições, sem regras?

Ele continuava caminhando, com suas pernas longas e as passadas firmes; então, Viviane teve que dar uma pequena corridinha para poder acompanhá-lo e ouvir a resposta que valeu por uma dezena de bofetadas.

— Apenas me avise quando resolver ir embora desta vez.

E quando os três entraram em casa, fechando a porta atrás de si, o primeiro trovão anunciou que o prólogo daquela nova história começava a ser escrito.

***

Nimbostratus

O céu estava coberto delas. Pintavam tudo de cinza e anunciavam chuvas.

Mas isso qualquer idiota que estudasse meteorologia poderia saber. O que ele sabia era um pouco mais do que isso. Sabia que aquelas nuvens pesadas, baixas e escuras eram o prelúdio de uma grande discórdia.

Viviane sempre vivera rodeada por elas. Para qualquer lugar que ela fosse, as malditas a perseguiam. Assim como as escolhas erradas. Era perita nelas. Então, quando o céu de Serenia se encheu de Nimbostratus, ele soube que ela voltaria. Foram dias e dias cinza, com  promessas de temporais que nunca chegavam.

Mas ela chegou. E, com ela, o caos.

Aldo simplesmente não a conhecia. Na verdade não a compreendia, mas qualquer pessoa com um pingo de bom senso na cabeça perceberia que estava perturbada. Que estava fugindo de algo. Outra vez.

Porém, havia a menina...

Por mais que tivesse a cara de um anjo, também cheirava a problemas.

Exatamente o que ele não queria. Não depois de tê-los evitado por vinte e seis anos.

Enquanto preparava dois bons copos de leite com chocolate, pensava no que faria com elas dali em diante. Passara os últimos oito anos completamente solitário, acompanhado apenas por seus livros e filmes de faroeste, sem precisar se preocupar com ninguém além de si mesmo. Aquela casa não era ambiente para se alojar uma criança. Ainda mais uma tão pequena.

Quando chegou na sala, a menina ainda dormia, deitada no sofá. Viviane a tinha coberto com uma manta pesada e, no momento em que ele surgiu, colocava um ursinho de pelúcia nos bracinhos pequenos, como se a menina precisasse daquilo para dormir. Ao menos ela parecia gostar da filha.

— Está com fome? — ele estendeu o copo de leite para Viviane, deixando o outro, que tinha feito para Lúcia, sobre a estante de mogno.

— Sim, obrigada.

— Não tenho muita coisa na geladeira. Vou na mercearia comprar alguns mantimentos e frutas...

— Não — ela o interrompeu. — Eu mesma faço questão de ir e comprar o que estiver precisando. E vou procurar um emprego e uma escola para Lúcia também.

Então o nome da garotinha era Lúcia. Um belo nome para uma bela menininha.

— Bem, você que sabe — falou, desanimado. — O seu quarto ainda está vago. Acho melhor ficarem por lá.

E ele subiu as escadas, fazendo os degraus rangerem a cada passada, tornando este o único som presente na casa. Simplesmente não sabia mais o que dizer.

Viviane, por sua vez, ficou observando-o, enquanto ele se retirava, totalmente abismada com a reação. Esperava qualquer coisa, menos aquela total inércia, aquele descaso. Era como se nunca tivesse ido embora, como se pouco importasse se ela desaparecesse, que partisse sem qualquer explicação. Ele a abrigaria por pura obrigação, uma vez que era sua filha, sangue do seu sangue; mas não significava nada mais que um estorvo.

Para o inferno com o que ele pensava! Ao menos Lúcia tinha um teto para morar. Teria, claro, que deixar aquela casa em plenas condições de higiene, mas poderia respirar aliviada. Estava longe de seu maior medo... Era isso que realmente importava.

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