3. Lua de sombras

Quando o sol surgiu, Bara observava o céu enquanto refletia sobre o sonho, ou seja lá o que for que tenha acontecido durante a noite. Ela arrumou-se para o dia que se iniciava e foi tomar o café da manhã, onde encontrou Jõo indo fazer o mesmo.

– Bom dia Rainha Jõo!

– Bom dia Bara.

– A senhora já está arrumada tão cedo? – perguntou Bara ao perceber as vestes de viagem da Rainha.

– Sim minha cara. – respondeu a Rainha – Assim que eu e meus aprendizes terminarmos o café, partiremos de volta para Kyuden. Teríamos partido ontem se não tivéssemos ficado tão cansados.

– Compreendo – Bara ria de leve – fico feliz de saber que aproveitaram bem a festa.

– Bom dia a todas! – cumprimentou Mahotsukai ao vê-las conversando.

– Bom dia papai!

– Bom dia majestade.

– Vocês... tiveram alguma discussão ontem quando juntos? – questionou Bara estranhando a resposta de Jõo, observando a ambos.

– Não minha filha. Eu e a Rainha Jõo não tivemos nenhuma discussão desde a chegada dela.

– Pelo menos até agora. – completou Jõo ironicamente e quase disfarçada.

– Mas isso é ótimo papai! – disse contente – E um bom começo também. Quem sabe isso não ajuda vocês a ficarem um pouco mais... próximos!

– Menina, não peça o impossível. A amizade entre nossos reinos já está de bom tamanho.

– Concordo. – completou Mahotsukai – Só com o milagre de você deixar de ser tão laica para sermos mais amigos.

Jõo começa a mudar de expressão e Bara interveio antes que começassem a discutir pra valer.

– Pode até ser... – Bara abraçava a ambos – mas ainda tenho esperanças para com vocês dois.

E seguiram todos para o desjejum.

Tomaram o café, Bara e seu pai acompanharam a Rainha Jõo e sua comitiva até a hora da partida (junto dos demais convidados que haviam ficado). Durante o almoço, Bara começou a falar com seu pai.

– Paizinho, posso lhe pedir um favor?

– Diga minha filha. – respondeu ele reconhecendo pelo jeito de Bara que ela lhe pediria algo no mínimo, complicado.

– Será que poderia reformar o teto de meu quarto na Torre Kendrada?

– Reformar o teto?!? – ele acertará em cheio.

– Sim papai. – Bara começava a temer um “não” como resposta.

– Claro, mas... porque? Surgiram goteiras ou coisa parecida?

– Não. É que, eu queria ser capaz de observar a lua sem ter que sair da minha cama. Independente de onde ela esteja no céu, só isso.

Ela bebia um gole de sua agua para disfarçar o leve temor. O rei começou a rir instantes após ela terminar de explicar.

– Ué? – ela não esperava aquela reação – Porque está rindo papai? O que foi que eu disse?

– Não minha filha, me desculpe. – ele recuperava a calma – É que você me fez lembrar de sua mãe.

– Da mamãe? – não era comum ele falar da mãe de Bara sem que ela o questionasse antes, e isso a surpreendeu.

– Sim! – Mahotsukai começou a se explicar – Quando Mahina era viva, amava observar a lua, quando era lua cheia então... Chegava a dormir nos telhados para se manter sob o luar.

– Sério?! – aquela era uma informação nova para Bara, nunca havia ouvido algo parecido, nem de sua ama.

– Oh... Se bem que era como um segredinho nosso. Nem quando estava esperando você ela deixava de fazer isso!

– Caramba... – Bara assimilava a nova informação e retomou o assunto após outro gole d’agua – Mas o senhor vai m****r fazer a reforma?

– Por favor! – disse ele chamando um dos criados que os serviam – Mande uma mensagem para os melhores pedreiros e vidraceiros do reino, para efetuarem a reforma que minha filha deseja. Se possível, vou querer que fique pronto em até uma semana.

– Sério papai! – exclamou Bara aliviada e feliz ao mesmo tempo.

– E porque não? Se você realmente tiver começando a puxar sua mãe neste assunto, quanto mais rápido melhor (vivia me preocupando com Mahina por causa disso).

– Obrigada papai! – ela o abraçava alegremente.

Em menos de três horas, as reformas do teto da Torre Kendrada tiveram início. Bara ficou no jardim à procura de lugar para dormir sobre o luar (como sua mãe provavelmente faria se não pudesse subir nos telhados) enquanto recordava do rapaz com quem “sonhara”.

– Bara, o que há com você? – Acnarepse estava junto de Bara.

– Como assim Ac?

– Ora como assim, toda vez que falo com você está distraída! E essa rosa, de onde ela surgiu?

Bara carregava a rosa que recebeu de Nemuru, observou-a e respirou fundo para explicar.

– Essa rosa, eu ganhei ontem como presente de aniversário...

– De quem se eu fiquei ao seu lado o tempo todo.

– Teve um momento em que fiquei sozinha Ac! E foi nesse momento que a ganhei.

– Tá! Vou fingir que acredito. Ao menos é uma bela rosa.

Houve um momento de silêncio entre elas que foi cortado pela Acnarepse.

– Então o motivo de sua distração é a pessoa que lhe deu a rosa?

– Talvez. – respondeu Bara tentando não prolongar o assunto (ainda).

– Você realmente pretende dormir no jardim hoje? – questionou Acnarepse mudando de assunto ao perceber as intenções de Bara.

– Se eu achar o lugar ideal...

– Ideal para quê?

– É que quero dormir hoje meio que da mesma forma que dormi ontem, e pra isso precisarei do lugar certo.

– Entendi.

Depois de umas duas horas mais ou menos, Bara ergueu acampamento entre a principal fonte do jardim e o labirinto de roseiras.

Bara esperou que Acnarepse pegasse no sono primeiro (já que ela recusou-se a deixá-la sozinha), tendo ocorrido, ela passou a admirar a lua cheia junto do camafeu igual à noite anterior, como Nemuru lhe pediu. Em pouco tempo Bara estava caminhando no mesmo jardim de antes, no seu sonho.

– Você veio. – disse Nemuru ao ver Bara aproximar-se.

– E porque não viria?! – respondeu ela sentando-se ao lado de Nemuru debaixo de uma cerejeira florida.

– Pensei que teria medo de voltar depois da forma com que a mandei ir embora.

– Pelo contrário, me deixou curiosa. E acho que já lhe mencionei que sempre cumpro minhas promessas.

 – Sério?! – Bara acenou positivamente com a cabeça – Então sempre voltará quando quiser?

– Tenha certeza que sim. – respondeu ela confiantemente.

Nemuru sorriu feliz, houve uma pausa de silêncio entre os dois que foi quebrada por Bara perguntando:

– O que eram aquelas nuvens escuras que vimos ontem?

O sorriso de Nemuru sumiu.

– O aviso de uma péssima visita. – respondeu ele com o olhar distante e a voz seca.

– Péssima visita? Como assim? – Bara tentou ser cautelosa.

– Só lhe digo uma coisa, – Nemuru inclinou a cabeça para trás de olhos fechados e a voz triste – ...desde meus sete anos que recebo esta visita indesejada, e minha mãe sofre por conta dela. – ele voltou o rosto para Bara – Não queira conhecê-lo.

– Está bem. Não vou mais falar sobre isso já que o entristece tanto.

– Fico muito grato.

Os dois ficaram conversando sobre outras coisas, se conhecendo melhor. Nemuru tomava o cuidado de não revelar quem sua mãe era, mas não viu problema em deixá-la saber que era um nobre.

Tudo ia bem até ressurgirem as nuvens tempestuosas. Nemuru mandou Bara ir embora com um pouquinho mais de gentileza, porém com a mesma urgência e sem tirar os olhos das nuvens. Ao invés de ir como da outra vez, curiosa como era, Bara escondeu-se atrás de algumas cercas vivas a uma distância segura e ficou observando Nemuru.

De repente caiu um raio bem diante de Nemuru, a figura de um ancião apoiado numa espécie de cajado e vestes sinistras surgiu logo em seguida. Ela viu que conversavam algo que, de acordo com suas expressões, alegrava ao ancião e irritava o Nemuru. Do nada, sem ninguém tocar em ninguém, com o erguer de uma das mãos do ancião para Nemuru, uma espécie de energia começou a ser arrancada de Nemuru para o ancião. Em meio a uma expressão de dor, Nemuru caiu com tudo no chão ao ser libertado da drenagem, enquanto o ancião agora não parecia ter mais que uns vinte ou trinta anos de idade.

Nemuru estava quase inconsciente no chão. O ex-ancião aproximou-se dizendo-lhe algo ao ouvido e desaparecendo como uma duna de areia soprada pelo vento. Após tudo isso, o jardim começou a perder a cor, ficando tudo cinza, e a se desfazer da mesma forma que o feiticeiro.

Bara ficou tão surpresa, assustada e confusa com o que assistiu que, no primeiro impulso de querer ir embora, despertou.

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