1. Começa a aventura

Em uma terra longínqua, havia um reino chamado Heiwa. Um reino onde o conhecimento sobre a magia prosperava apesar de só ser utilizada naquilo que fosse essencial, como proteções por exemplo, já que um escudo forjado com o auxílio de magia era muito mais resistente que um forjado sem ela, mas em contra medida, o alimento cultivado sem magia era muito mais saboroso que aquele cultivado com o uso dela. Este reino era governado por um Rei-Mago de nome Mahotsukai Kuroshy: justo, sábio e poderoso, de todos os magos foi ele o eleito mais poderoso em poder de conhecimento. Ele tinha uma filha chamada Bara, uma donzela inteligente de incrível beleza – tanto no físico quanto no coração.

Quase vizinho a este, havia outro reino chamado Kyuden. Este era avançado na alquimia, arte e filosofia. Medicina, física, química, conhecimentos científicos em geral, tecelagem, esculturas, pinturas, compreensão lógica, não havia um país que fosse mais avançado ou aprimorado que este em todas as áreas que lhe dava fama. Por sua vez era governado por uma bela Rainha chamada Jõo A****n, mais conhecida como Jõo, a Sábia A****na. Uma verdadeira guerreira alquimista, já que ninguém conseguia-lhe vencer em batalha ou superar-lhe os conhecimentos de alquimia, em especial a medicinal. Jõo tinha um filho de nome Nemuru do qual pouquíssimos tinham conhecimento de sua existência (vivo, pelo menos).

Ambos os reinos conviviam em paz, mas sem um motivo justificável, seus governantes, Jõo e Mahotsukai, não conseguiam se encontrar sem terem pelo menos uma discussão – muitas vezes por razões tolas – uma vez que um é movido pelo misticismo e o outro pela lógica.

Bara tinha uma ama e guardiã chamada Acnarepse, que também era sua amiga e “irmã”, uma companhia para toda e qualquer hora. Ambas passavam os dias, tardes e noites juntas, como duas cúmplices planejando algo. De vez enquanto, elas se disfarçavam e dirigiam-se à cidade e aos campos de Heiwa, na intenção de ajudar aos outros; fosse trabalhando em alguma plantação ou servindo um prato de comida.

Bara gostava de deixar de ser servida de vez enquanto para servir os outros. As pessoas que eram ajudadas por elas só descobriam suas presenças depois delas partirem, isso porque toda planta que Bara tocava ficava mais forte, viçosa e produtiva, e Acnarepse sempre deixava um saquinho de ouro ou uma pedra preciosa escondida em algum canto da casa que as recebiam; e como elas nunca repetiam seus disfarces, era difícil saber de antecedência quem eram elas. Se bem que Mahotsukai sempre lhes vigiavam com o auxílio de seu poder místico.

Nemuru por sua vez, era solitário. Ao menos uma vez a cada dois dias era visitado em seu quarto por sua mãe. Aos sete anos de idade, Nemuru foi atingido por uma doença desconhecida e como não se achava uma cura, temendo por sua segurança, Jõo decidiu declará-lo morto. Há 10 anos que Nemuru se encontrava numa espécie de coma, parecia sempre estar em um sono profundo e apesar de nunca acordar, reagia de diferentes formas, segundo o tipo de conversa ou leitura que Jõo tinha com seu filho.

O quarto de Nemuru era vigiado e cuidado por guardas e servos mudos ou em que outrora havia jurado voto de silêncio, para evitar que inimigos descobrissem tudo sobre Nemuru e tivessem a ideia de chantagear sua mãe, a Rainha, que por sua vez estava em uma constante busca da cura para o mal de seu filho.

Sendo assim, o único contato que Nemuru tinha com o mundo, eram as coisas que sua mãe lhe descrevia durante os momentos que ficavam juntos, e os objetos que Jõo lhe colocava nas mãos, para que pudesse senti-las.

Bara nascera no despertar da primavera, embora sua mãe falecesse ao dar a luz, esta agora seria a sua décima quinta primavera, faltava-lhe apenas dois dias para o completar de anos. Nessas épocas era sempre um alvoroço em todo o reino, principalmente porque Bara fazia questão que a celebração fosse aberta para todos no castelo.

– Essa tem de ser a melhor festa de todas!

Disse Bara conversando com sua ama.

– Com certeza será Bara. Você pessoalmente se encarregou de cuidar dos jardins nessas últimas semanas. Eles nunca estiveram tão lindos!

Acnarepse e Bara eram tão íntimas que realmente pareciam irmãs (ou em alguns casos, Mãe e filha).

– Eu sei Ac. – Ac era a forma como Bara sempre se referia à sua ama – E eu quero que saia tudo o mais perfeito possível. Ah, Ac... se você soubesse o quanto sonhei com este dia...

– E eu sei meu amor. Seu vestido já está pronto, o castelo pré-arrumado, os ingredientes do banquete armazenados, os músicos afinados, as brincadeiras das crianças arranjadas...

– E os convites enviados há mais de mês, e sabe-se lá mais o quê.

– Certamente Bara.

Enquanto as duas riam, Mahotsukai aproximou-se.

– Filha!?

– Sim papai, precisa de alguma coisa?

– Majestade. – cumprimentou Acnarepse com uma leve referência que o rei retribuiu com um leve aceno de cabeça.

– Gostaria de conversar com você minha filha. A sós se possível.

– Claro, como o senhor desejar. Eu te vejo mais tarde Ac.

Acnarepse assentiu com a cabeça e tanto Bara como o Rei deixaram o jardim em que estavam. No quarto de Bara (que ficava no alto da mais alta torre, conhecida como Kendrada, e que dava visão para quase todo o reino) onde ambos estavam sozinhos, o Rei começou:

– Estava reavendo mais uma vez a lista de convidados dos reinos vizinhos que você fez minha filha, e só agora percebi que convidou a Rainha de Kyuden, a Jõo A****n, para sua festa.

– Sim, e o que tem?

– Tem certeza disso? Sabe que ela e eu nunca nos damos muito bem. E será uma data especial!

– Eu sei papai. Mas é que... Eu queria tanto que vocês dois se entendessem... Nossos reinos são tão amigos! Só vocês dois é que discutem por migalhas, se me permite dizer. Ia gostar tanto de receber como presente um dia sem discussão entre vocês...

Bara ficou olhando para o pai; houve um momento de silêncio enquanto Mahotsukai refletia. Ele respirou fundo e disse enquanto colocava suas mãos suavemente no rosto de Bara:

– Bara minha filha, você é realmente uma moça de ouro! Farei o possível para dar este presente ao seu coração.

O Rei beijou-lhe a testa e a deixou sorrindo. Quando fechou a porta, Bara pôs-se a observar o reino e a grande alegria que o povo exalava diante da proximidade do grande dia.

Enquanto isso, em Kyuden, a Rainha Jõo se encontrava no quarto de seu filho, ao lado de sua cama conversando com ele.

– Nemuru querido, resolvi atender ao convite de Bara, Princesa de Heiwa. Apesar de eu e aquele pai dela não nos entendermos, eu gosto dela. Ele pode não saber o que é alquimia de verdade mas... sabe criar bem uma filha. Ela sempre foi esperta, bondosa, gentil e educada. Sem mencionar muito bela... como a mãe era.

Jõo segurou-lhe a mão e continuou.

– Acredito que ela esteja agora só um pouco menor que você Nemuru. O aniversário dela é só daqui dois dias, mas tenho de partir hoje para poder chegar a tempo. E quem sabe esta viagem me fornece uma pista para tirá-lo deste estado, ou o que o causou.

Jõo suspirou e sussurrou-lhe ao ouvido:

– Prometo tentar trazer-lhe um pedaço de bolo. – Nemuru sorriu – Isso se estiver bom o bastante, é claro. – disse ela apôs retomar a postura – E também lhe conto como estava a festa. Sabe filho, vou dar a ela aquele camafeu que você usava quando menino. Já que é o antigo emblema da nossa família e há muito tempo que não é usado mais; um bom símbolo de amizade. Espero que não se importe meu querido.

Jõo beijou-lhe a mão e se levantou dizendo:

– Tenho que ir agora meu tesouro, volto assim que eu puder.

E ela o deixou sorrindo, mas antes que terminasse de fechar a porta, despediu-se de Nemuru enquanto jogava-lhe um beijo dizendo:

– Tchau Joia de minha vida.

Fechada a porta, Jõo ordenou a todos os guardas que vigiavam o quarto de Nemuru com atenção dobrada (como sempre), uma vez que ela estaria ausente do palácio, e em pouco tempo a Rainha encontrava-se deixando a cidade – com o olhar fixo na direção da janela de seu filho.

Ela partiu por volta das duas da tarde e só chegou aos portões de Heiwa ao por do sol do dia seguinte.

– Rainha Jõo A****n, seja bem vinda! Que bom que atendeu ao convite de minha filha.

O Rei Mahotsukai recebia os convidados enquanto Bara averiguava pessoalmente os últimos preparativos.

– Os convites vindos da princesa são mais fáceis de atender que os seus, majestade. E... como o convite é de aniversário; tentarei não discutir com o senhor.

– Isto seria ótimo! Já que foi este o presente que prometi a minha filha.

– Só isso!?!

– Foi minha filha Bara quem me pediu isso. – Mahotsukai se segurava para não ficar e muito menos se demonstrar nervoso.

– Nesse caso então, tentarei não ser a quem provoca.

– Lhe seria muito grato. Por favor! – disse ele voltando-se à dois homens que desciam a bagagem de Jõo. – Acompanhe a Rainha Jõo e seus acompanhantes até o quarto da torre noroeste.

– Muito agradecida, majestade. – respondeu Jõo enquanto saía atrás dos servos com sua comitiva logo atrás.

– Tenham um bom descanso.

– Obrigada e... igualmente.

“Manter a calma com essa mulher por perto não me será muito fácil...” – pensou Mahotsukai consigo mesmo ao perceber que ela “se segurava”.

20 minutos depois, Jõo se encontrava nos aposentos da torre noroeste, onde se tinha visão para uma parte do reino e para a torre Kendrada.

– Aquela torre... é a Kendrada não é? A que contém os aposentos de nossa aniversariante. – perguntou Jõo aos servos que traziam sua bagagem enquanto apontava para a torre.

– Sim senhora. E a torre Kendrada recebeu este nome por ficar exatamente no centro do reino.

– E não tem como a princesa se tornar alvo fácil ali?

– Não senhora. A Kendrada não só é a torre mais alta (podendo ser vigiada por qualquer um do reino que a enxergue) como também é a de mais difícil acesso.

– Mais difícil acesso por que...

– Somente a princesa, sua guardiã e o Rei possuem a chave de acesso à torre; vários guardas ficam de vigília constante sobre ela e, apenas quartos como este é que conseguem ficar mais próximos dela (que por sinal ainda é meio longe).

– É... realmente aquela torre se mostra ser o lugar mais seguro do castelo.

– E todo o povo reza para que continue assim.

– Só mais uma pergunta.

– Senhora?

– Bara ainda foge do castelo?

– Sim.

– Mas então?...

– Sua majestade, o Rei, está sempre vigiando sua filha e os disfarces que ela usa para misturar-se ao povo sempre foram muito bons. Ah! E sem esquecer que ela nunca está sozinha, Acnarepse (sua ama e guardiã) está sempre ao lado dela.

– Entendo.

– A senhora precisa de algo mais?

– Não. Pode deixar que nós nos viramos agora.

– Como desejar majestade. – dizendo isto em meio a uma reverência, os servos saíram fechando a porta em seguida.

– Zul, Zula, Zuline e Zunol, deixem as coisas arrumadas o mais rápido possível para que possamos jantar e descansar um pouco. – ordenou Jõo para sua comitiva.

Zul, Zula, Zuline e Zunol são quatro irmãos, servos e aprendizes diretos da Rainha e que estavam sempre ao seu lado para o que der e vier, sendo Zul o mais velho e Zunol o mais novo; Zula e Zuline, gêmeas idênticas, eram as do meio.

Os pais deles cuidavam de Nemuru, portanto os quatro tinham pleno conhecimento do filho de Jõo. Assim como o pai Padra Soamri (que era um dos guardas da Área do Silêncio enquanto sua mãe, Mom Soamri, muda de nascença e por isso se comunicava através de kineas, a linguagem de sinais daquela região, era uma das amas de Nemuru) os quatro fizeram voto de silêncio que, por serem aprendizes da Rainha, tinham autorização para quebrá-lo apenas nos momentos em que eles se encontravam completamente sozinhos com ela (com exceção de seus pais e do próprio príncipe). E eles sempre evitavam a falar sobre Nemuru, ao menos se referindo a ele como príncipe.

Mas não foi só os seus pais que os tornaram protegidos da Rainha.

Zul era extremamente habilidoso com armas de projétil; Zula e Zuline formavam uma ótima equipe em toda e qualquer área sendo que Zula se destacava na tradução de línguas antigas e a Zuline se destacava na montaria; Zunol, finalmente, tinha uma capacidade memorial impressionante (até para a Rainha), nenhum detalhe lhe escapava.

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