Capítulo 2

Capítulo 2.

O jantar.

03 de março, 2018.

Aquilo era para ser um jantar romântico, não era?

Todavia, estava sendo exatamente o contrário. O jantar que deveria estar sendo romântico, entre Marina e Júlia, havia tomado um rumo absurdamente diferente, do qual a loira tinha pensado e planejado durante toda semana para ter com a sua noiva. E para completar a situação já chata e desagradável, a sócia de Marina apareceu do nada no mesmo restaurante, e a ruiva não pensou duas vezes em convidá-la para acompanhá-las. Por fim, Ana Júlia acabou sendo jogada de escanteio e esquecida pela outra, no segundo instante em que a elegante Roberta se sentou na cadeira ao lado da sua futura esposa.

Após um ‘’oi’’ seco acompanhado de um sorriso falso de Roberta, Júlia ficou em silêncio o tempo todo e apenas concentrou-se em bebericar a sua coca. Como ela desejava se levantar e ir embora daquele lugar sem olhar para trás. O seu coração e o resto da sua dignidade imploravam por isso, no entanto, ela não queria fazer a sua noiva passar vergonha na presença da sócia e, muito menos, ficar como sendo a sem educação da história.

Ana se encontrava em uma sinuca de bico.

Oh, Mari! — Roberta soltou uma risada, de alguma coisa que Marina contara, e colocou a mão no braço da outra, deixando-a lá como se fossem íntimas demais. — Só você mesma para me fazer rir, querida. — Comentou, com um sorriso misterioso e sensual nos lábios pintados de vermelho carmesim, e sorveu um pequeno gole do seu vinho tinto. — E como anda o trabalho, Ana Júlia? — Ela perguntou, virando-se para a loira com um falso interesse na sua vida.

Júlia piscou, algumas vezes, e focou os seus olhos na sócia da sua noiva, processando a pergunta inesperada. Ela se encontrava tão absorta nos próprios pensamentos que não havia percebido que a mão de Roberta ainda permanecia no braço de Marina, assim como que ela havia a chamado de Mari. Algo no seu íntimo se contorceu. A verdade era que a ruiva nunca permitiu que própria noiva a chamasse por esse apelido, pois sempre alegava que era brega demais. Franziu a testa de leve, esperando que uma onda de ciúmes lhe tomasse, porém nada sentiu além de tédio.

Ela só estava cansada de tudo aquilo, e não era apenas daquele jantar desastroso.

— Maravilhoso, dona Roberta. — Ela respondeu dando o seu melhor sorriso. A outra mulher, no auge dos seus 35 anos, ficou bastante séria ao ouvir o dona, obviamente, dito em tom de deboche. — Adoro estar no meio dos animais do que na presença de algumas pessoas. — Alfinetou-a, para em seguida ficar calada e tomar mais um gole da coca.

Essa pequena alfinetada havia deixado Júlia satisfeita e com menos tédio, pois, nas pouquíssimas vezes em que a viu, Roberta sempre ostentava um ar debochado e arrogante na expressão ao dirigir curtas e rápidas palavras para si. O que seria essa mínima alfineta mediante as provocações veladas da mais velha? Nada. Todavia, a fisionomia séria de Marina deixava bem claro o quão estava irritada, assim como também não havia gostado nenhum pouco da resposta debochada sua.

Quer saber, Marina? Eu não me importo nenhum pouco, pensou Júlia ao desligar o dedo pela tela do celular e abrir na sua conta do I*******m.

— O que será que está acontecendo lá, gata? — Laura indagou, curiosa, para a namorada, sem tirar os olhos verdes da mesa que estava a alguns metros de distância da delas. — Não consigo ver o rosto da Jú. Porém... — Interrompeu-se para dar uma risadinha.

Diana a fitou, com a testa franzida.

— Porém o que, amor? — Questionou, esquecendo o seu jantar por alguns minutos.

— Olha com atenção para a expressão tanto da Dra. Ranço eterno quanto da dona gostosona, Di. — Pediu, apontando com discrição para a mesa da amiga, onde a dupla mencionada sentada com expressões de raiva e irritação. — Parece que ambas chuparam limão com sal, mor. — Comentou, rindo.

Após as quatro saírem do apartamento de Marina, o clima ficou tão pesado e desconfortável dentro do carro, na trajetória que teria aproximadamente por volta de 15 minutos até o restaurante, que Laura achou melhor sentar-se com a namorada um pouco afastada do outro casal.

Havia sido a melhor escolha sua.

Diana, por estar de costas virada para a mesa de Júlia, virou a cabeça sobre o ombro e olhou de esguelha na mesma direção. Ela riu e se sentiu levemente vingada ao ver as expressões de Marina e Roberta. A noiva de Júlia estava carrancuda, enquanto a sócia parecia que voaria no pescoço de alguém a qualquer momento. Por outro lado, Ana Júlia parecia estar bem, uma vez que a sua postura relaxada era o oposto da última vez em que Diana tinha olhado.

— Nossa garota está bem, amor. — A loira mais alta comentou, despreocupada, voltando a fitar a namorada. — O que acha de passarmos o restante da noite em um hotel? — Sugeriu, esticando o braço sobre a mesa, e segurou a mão da mulher da sua vida com a sua. — A Jú vai ficar com Dra. Ranço eterno de qualquer forma.

Laura abriu seu costumeiro sorriso de coelho, do qual Diana havia se apaixonado na primeira vez que o viu, e assentiu com entusiasmo.

— Não precisa perguntar duas vezes, gata. — Ela piscou com malícia. — Que tal irmos agora mesmo, Diana?

— Não precisa perguntar duas vezes, gata. — A loira brincou, repetindo a frase da namorada. — Garçom, a conta, por favor! — Pediu para o rapaz, que prontamente foi atendê-las. — Obrigada! E pode ficar com o troco. — Murmurou, com um sorriso, deixando 30,00 a mais para a gorjeta do simpático jovem que as atendera muito bem durante todo o jantar.

— Oh! Muito obrigado! — O rapaz agradeceu, animado e surpreso pela gentileza. — Tenham uma ótima noite, senhoritas! — Desejou, antes de ir atender a outra mesa do outro lado.

— Então, vamos? — Laura se levantou e ajeitou a bolsa no ombro. — Você está bem? Sua mão está suada, amor. — Murmurou, confusa e preocupada, quando pegou a mão de Diana.

A loira deu um sorriso nervoso, pois estava com vontade vomitar naquele momento, afinal, tinha medo de ouvir um não de Laura.

— Estou sim, Laura. Vamos nos despedir de Júlia? — Desconversou rápido demais.

Laura arqueou uma sobrancelha escura e cravou os olhos no rosto de Diana, que estava pálida e parecia suar frio, porém nada disse.

— Claro. — Concordou, por fim. — Já estamos indo, Júlia, e passaremos a noite em um hotel. — Ela avisou ao parar ao lado da amiga e encará-la com um sorriso. — Você quer uma carona, amiga?

— Ela vai comigo, Laura. — Marina rebateu, séria e friamente, sem dar chance que a sua noiva dissesse algo em resposta. — E também estamos indo. — Completou, seca.

— Isso. — Júlia sussurrou, sem graça.

Roberta abriu um sorriso em contentamento, que fora encoberto pela taça de vinho, pelo jeito frio que a ruiva agiu. No entanto, Laura percebeu de imediato e fitou a namorada de esguelha, achando que ela também havia visto o mesmo.

— Diana, você está se sentindo bem de verdade? — A morena insistiu, ficando mais preocupada com outra. — Você está quase da minha cor. — Comentou, séria.

E era verdade mesmo. Diana sempre teve uma bela pele bronzeada com os longos cabelos loiros, enquanto Laura era tão branca como uma folha A4. Mas, naquele instante, a loira estava quase no mesmo tom da namorada.

— Eu... eu... eu... — Gaguejou e olhou em desespero para Júlia, que segurava o riso. — Estou sim, mor. — Afirmou com um fio de voz. — Então, vamos? — Insistiu, apressada, enquanto o seu nervosismo e a ânsia de vômito só aumentavam.

Não era todo dia em que Diana pedia Laura em casamento.

— Vamos. — Laura concordou, com os olhos verdes semicerrados e curiosa que a namorada estivesse lhe escondendo algo, pois a própria sempre fora um livro aberto para si. — Até amanhã! — Desejou sem parar de fitar rosto de Diana. — Qualquer coisa é só ligar, Júlia. — Murmurou, séria, encarando-a em seguida.

— Tenham uma boa noite, meninas. — Júlia desejou, sabendo muito bem o motivo do nervosismo e palidez da outra amiga.

Marina resmungou uma resposta qualquer e Roberta não se deu ao trabalho de dizer algo. O clima na mesa delas voltou a ficar tenso e incomodo, todavia, pela primeira vez em muito tempo, Júlia não se importava.

— Vamos também, Marina? — A loira comentou, levantando-se, e ajeitou a bolsa sobre o ombro. — Está tarde e esses saltos estão moendo os meus pés. — Comentou, distraída, enquanto guardava o celular e pegava o seu cartão.

Marina tirou a mão da sócia da sua coxa com certa brutalidade, que estava próxima da sua virilha por debaixo da mesa, e levantou-se. Roberta estranhou o ato e fitou-a com uma sobrancelha arqueada, mesmo na frente de Júlia.

— Guarde seu cartão, amor. — A ruiva murmurou, seca. — Eu pago a conta toda. Garçom, por favor! — Pediu.

Júlia deu de ombros e guardou o cartão sem insistir como faria se fosse em uma outra época.

Naquela noite, apesar de desagradável, algo dentro de Ana Júlia, enfim, começou a mudar.

— Tenham uma ótima noite! — O mesmo garçom agradeceu e foi atender mais outra mesa.

— Vamos, Júlia. — Marina mandou no mesmo tom anterior. — Até segunda, Roberta. — Murmurou, sem olhá-la.

A ruiva entrelaçou os dedos nos de Júlia e saíram do restaurante sem olhar para a sócia, novamente. Roberta fitou o casal se afastar enquanto terminava o seu vinho. Ela estava com raiva e a sua mente maquinava um jeito de separá-las, pois desejava ter Marina apenas para si.

— Mais uma taça de vinho, por favor! — A bela e sensual morena pediu para o garçom.

Ela, sendo a mulher bem vivida e experiente que era, sabia com exatidão o que fazer para separar sua bela ruiva da coisinha sonsa e sem graça que Marina tanto insistia em chamar de noiva. E não, jamais jogaria limpo, afinal, não construiu um império sendo boazinha.

O seu sorriso maldoso apenas tornou-se maior.

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