O Clube dos Garotos Bonitos
O Clube dos Garotos Bonitos
Por: Victor Pacheco
Capitulo 1

        Pedro deu mais uma olhada no espelho e tratou de convencer a si mesmo que estava bonito, não era uma tarefa fácil visto que nunca se sentira dessa forma, contudo visto que iria ingressar em uma nova escola, uma das melhores do país a qual ele conseguira através de fazer uma pontuação perfeita em um difícil processo seletivo, se tornara aluno do Instituto George, prestes a conhecer pessoas desconhecidas, havia decidido que tentaria mudar aquela situação e todas as outras que lhe oprimiam.

     Seguindo o conselho de sua mãe de se adequar optou por fazer um relaxamento em seus cachos e retirar boa parte de sua barba, o uniforme alinhado combinava com a suave fragrância do perfume da sua mãe; o qual ele despejou um pouco em si mesmo, colocou um pouco de seu pai também, com a ideia de agradar todos os públicos, treinou um pouco seu sorriso de apresentação, no entanto concluiu que seus dentes tortos poderiam dificultar sua aceitação, então decidiu que evitaria sorrir, seguiu seu caminho, enquanto fantasiava com altas expectativas sobre como seria sua vida na nova escola, o sol dava a sua pele já bronzeada um aspecto reluzente.

(...)

     A lado ruim de ter um belo sonho é o momento em que você acorda, assim tem que encarar a realidade, a qual não é nada bela...O despertar para Pedro ocorreu assim que ele colocou o primeiro pé dentro da escola, todo lugar a sua volta soara assustador, os olhares que ele recebeu indicava estranhamento e desaprovação, o que fez com que ele engolisse seco, não se deu por vencido e tentou se enturmar com os três garotos que estavam parados em frente ao banheiro masculino.

-Olá pessoal.-Pedro deu o seu melhor sorriso.-Hoje é meu primeiro dia e eu não sei onde fica minha sala.

     Os três encararam a Pedro com um ar de superioridade e o mesmo tremeu, em seguida o garoto que estava no meio soltou uma gargalhada e depois disse:

- De onde saiu essa merd*?-Os companheiros dele o acompanharam nas risadas.

-Dá pra esconder um celular nesse Bombril que você chama de cabelo.-Acrescentou o segundo.

-Vocês repararam esses dentes? Parece um tubarão, quando ele começou a falar fiquei com medo de que ele fosse nos dar uma mordida.-O terceiro lhe atingiu no que faltava, e antes que pudesse perceber as lágrimas já haviam começado a cair.

      Os insultos continuaram por segundos. Ele não se moveu e nem teve coragem de responder, já o haviam quebrado por dentro, assim que conseguiu controlar suas lágrimas começou a procurar sua classe.

(...)

     Se as coisas estavam ruins, elas acabaram tornando-se piores, Pedro desejou com todas as forças de seu peito que estivesse errado, chegou a piscar freneticamente com a esperança de que tudo não passasse de um pesadelo, contudo teve que prosseguir e aceitar a realidade de que aqueles três seriam seus colegas de turma. Para completar a desgraça o único lugar vago era justamente próximo aos três, um estava na cadeira a frente, outro sentado atrás dele, e o último a se encontrava a sua direita.

-Bom dia pessoal, meu nome é André e serei seu professor de matemática esse ano, não irei perder tempo com apresentações longas e falando sobre mim, ao invés disso quero ouvir sobre vocês.

     A cada aluno que se apresentava o coração de Pedro acelerava com mais força no peito, queria que algo o impedisse de se apresentar visto que odiava falar em público, no entanto nada aconteceu, e mesmo que até o último minuto ele tenha pensado em fugir, acabou indo a frente como os outros.

-Bom dia, meu nome é...-Os olhares de todos pareciam lhe atingir como facadas, sua voz desaparecia na garganta.-Meu no-nome é...é.-A turma gargalhava.

-Peixe morto!-Gritou Paulo um dos garotos que havia lhe comparado a uma merd* anteriormente.

-De onde tirou isso?-Questionou Gérson, o qual comparara seus dentes aos de um tubarão, rindo em coro com toda turma em seguida.

-Não vê esses olhos esbugalhados e essa cara de morto? Peixe morto.-Paulo deu uma risada cruel e Pedro se controlou para não chorar.

-Você é brabo man.-Disse David dando leves tapinhas nas costas do amigo.

-Já chega!-Gritou o professor em um tom colérico.-Eu não vou admitir esse tipo de comportamento em minha sala de aula.

-O senhor saber quem é meu pai?-Perguntou Paulo em um tom debochado.

-Não sei e não me importo.-Respondeu o professor André em um tom desafiador, mesmo sabendo sua coragem poderia custar seu emprego.

-Tome cuidado professor.-Disse Paulo se calando depois.

-Pode simplesmente dizer seu nome?-Disse André para Pedro em um tom neutro.

-Eu me chamo Pedro.- Falou em um tom quase inaudível e sentou -se segurando as lágrimas.

     Ele até tentou se concentrar na aula, no entanto levar contínuos tapas  na nuca e com frequência ser acertado por bolinhas de papel era algo que lhe tirava a concentração.

   Já estava quase no fim da aula quando seu foco migrou para outro lugar, uma bela garota atravessou a porta, tinha longos cabelos pretos, seus olhos azuis e seu batom roxo lhe dava um aspecto de atriz de cinema, Pedro não conseguiu tirar os olhos dela.

-Posso entrar professor?-Ela disse as palavras de forma mais natural possível.

-Você não pode entrar na aula a hora que quiser, temos regras aqui, precisa se dedicar, aprender e participar.-Ela o olhou como se fosse a coisa mais absurda que alguém poderia lhe dizer, Pedro esperou uma resposta debochada, porém a garota se conteve.

-O meu carro quebrou professor, e o meu chofer só chega às oito.

-Você podia ter vindo de Uber, ônibus...-Disse o professor para receber uma gargalhada como resposta.

-Tudo bem profê, já passamos do limite, vai me deixar entrar ou não?-Falou com um olhar de soslaio.

-Pode entrar Júlia.-Falou suspirando, ele se perguntara qual motivo de que ela ainda aparecia ali, mesmo tendo repetido de ano, não pareceu se importar, a mesma sentou-se e passou a tirar repetidas selfies, sua presença na aula não durou cinco minutos, pois logo o alarme tocara anunciando o fim da aula.

-Até a próxima aula professor, não esquece de colocar minha presença.-Disse para depois sair da sala, seguida por um grupo de garotas, algumas estavam na sala e outras que esperam do lado de fora, deixando Pedro extasiado, a ponto de só perceber que precisava sair para o intervalo quando era o único que restava na sala.

(...)

    Pedro era uma pessoa positiva, e sempre tentava arranjar um lado bom em cada situação, um exemplo foi quando percebeu que não tinha amigos, consolou-se com a ideia de que não precisava oferecer seu lanche a ninguém, odiava dividir comida, além disso após todos as piores coisas que ele pensava que poderia acontecer, terem acontecido, ele concluiu que as coisas não poderiam ficar pior.

    Pobre Pedro nunca o disseram que tudo sempre pode piorar, e ele teve que descobrir sozinho.

-Ei cara sinto muito por tudo que meus amigos lhe fizeram passar.- Disse David, um dos garotos o qual estava cometendo bullying com ele antes, a atitude o surpreendera tanto que ele esquecera de engolir sua comida e a manteve imóvel em sua boca, enquanto processava a informação.

-É tudo bem...-Disse de boca cheia, e desviando o seu olhar para o seu prato, por mais que a atitude soasse boa, a presença daquele garoto o incomodava e ele queria que o mesmo se afastasse logo.

-Eu não ligo para o que meus amigos dizem, eu acho você top, posso ser seu amigo?-O olhar dele tinha um entusiasmo que lhe arrepiara, tal como um predador se aproximando de sua presa.

-Seria legal.-Por mais que uma vozinha gritasse dentro dele "cilada" Pedro começara a acreditar, afinal as pessoas erram e pode melhorar não é mesmo?-Quer almoçar comigo?

-Hum eu já acabei de almoçar, mas amanhã com certeza sim, me dá um abraço?-Disse abrindo os braços e chamando a atenção de todos no refeitório, Pedro não era muito fã de demonstrações públicas de afeto, mas não pareceu muito legal ignorar seu único amigo, por isso levantou-se para dar-lhe um breve abraço.

     Contudo David o envolveu em um abraço forte e demorado, chegando a esfregar-lhe as costas, Pedro chegou até mesmo a se emocionar com o ato, e se surpreender ao concluir o quão carinhoso seu novo amigo poderia; mau sabia ele que acabara ganhar um verdadeiro abraço de cobra.

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