A Casa da Vovó

No dia vinte de dezembro chegaram a casa da mãe de Alice, onde passariam o natal e provavelmente o ano novo, uma senhora com feições delicadas e cabelos coloridos pelos anos, ela não tinha o rosto enrugado como a maioria das avós, tinha apenas os cabelos com mechas já brancas, essa mesma senhora vinha até a entrada receber a filha e os seus.

Daniel ficou apreensivo, não queria sair de sua zona de conforto, porem seu irmão vinha com um sorriso amável lhe esticar a mão o convidando a sair de dentro do carro.

— Venha conhecer sua avó, ela prepara biscoitos muito saborosos e sempre deixa a gente pegar alguns antes do almoço, vem irmão vai ser legal, não tenha medo eu estarei com você o tempo todo. — a voz de Evan lhe inspirava confiança, ele saiu do carro segurando a mão do mais velho.

Guiado por Evan, ele se aproximou da senhora, seus olhos castanhos um pouco assustados logo ganharam um novo brilho, ela tirou as mãos de suas costas, aonde escondia duas sacolas de papel, entregando uma para cada um.

Richards em meio o sorriso incentivou Daniel a abrir o conteúdo, o menino olhou para seu irmão, para seus pais e para a senhora.

— Obrigado... — A ele ainda não tinham dito o nome de sua avó, e isso o obrigou a não ser formal a chamando de avó. — Vovó...

— Como é lindo, tão lindo quanto Evan, parabéns meus filhos, acharam uma joia preciosa, tenho certeza de que ele lhes dará muito orgulho no futuro. — Agnes comentou animada abraçando os dois netos ao mesmo tempo enquanto direcionava o olhar para os pais do garoto.

Daniel e Evan abriram as embalagens e lá tinha um suéter para cada um com as iniciais de seus nomes, D.F e E.F, o que deixou o mais novo confuso, e ele se viu obrigado a corrigir o erro.

— Senhora... meu nome é Daniel Diaz... — deixou sua fala morrer ao sentir que não deveria ter falado nada.

— Ah, querido, seu sobrenome mudou quando entrou para a família Foster, é muito novo para entender certas coisas, mas seu sobrenome agora é Foster, Diaz é muito bonito, porem ao ser adotado eles acabam trocando. — Explicou Alice um pouco sem jeito, imaginando que o menino fosse um pouco apegado ao seu nome.

— Mamãe, desculpa eu não sabia, Foster é muito mais bonito. — com inocência de seus sete anos fez a mesma coisa que Evan, vestiu o suéter, era um verde e um vermelho, o vermelho para Daniel e o verde para Evan, as letras desenhadas no centro estavam com a cor branca, na barra de cada suéter algumas renas e flocos de neve, a mesma neve que começava a se fixar no chão. 

As crianças foram levadas ara dentro da enorme casa, Alice e seus dois irmãos tinha sido criados ali durante toda a vida, cada corredor tinha traços de que uma criança arteira havia passado pelo local, alguns rabiscos no papel de parede foram deixados como lembrança de quando três crianças destruíam a casa com suas peraltices. 

A casa de campo era uma mini fazenda, tinham muitos animais, e certamente Evan levaria Daniel, para ver cada um desses animais mais tarde.

Como tinham chegado próximo a hora do almoço a comida já estava pronta e esperando por eles, em cima da mesa estavam os alimentos dispostos, e ao lado de uma travessa de carne assada estava uma bandeja com donuts, todos com confeitos coloridos, nesse momento Evan sentiu Daniel tocar sua perna por baio da mesa.

— O que foi Daniel. — perguntou de forma doce.

— Aquilo, no canto da mesa ao lado da carne, é aquilo que tinha vontade de comer, você sabe o nome? E não conta para os adultos eu tenho vergonha. — Falou baixinho quase sussurrando no ouvido do irmão mais velho, o que o fez ficar muito sem graça.

— Donuts, eu vou pegar dois, mas é doce, só poderemos comer depois do almoço... — Evan olhou para sua avó e guiou seu olhar para o doce e em seguida para Daniel.

— Queridos, devem ter viajado muito, comam um donuts cada um, isso não vai lhes tirar o apetite, e se tirar podem comer mais tarde, aqui não temos regras, estão na casa da vovó. — Agnes recebeu o olhar indignado de sua filha e um sorriso sem graça de Richards ao falar aquelas palavras, porem pode ver o brilho nos olhos do garotinho que ficou completamente vermelho ao receber das mãos de sua avó um pequeno prato com o donuts, a calda de chocolate branco ainda estava fresca, e os confeitos coloridos se soltavam para dentro do prato.

As crianças se lambuzaram com o doce e isso não tirou o apetite, porem se tivesse tirado comeriam tudo o que estava no prato mesmo com certa dificuldade, o olhar de seus pais não parecia muito agradável.

Aquela tinha sido então a primeira vez que Daniel, Evan e Agnes praticaram um ato criminoso, doce antes do almoço, e aquele fato foi o motivo de risos dos adultos pelo resto da tarde, enquanto os dois meninos iam explorar a fazenda os adultos ficaram na varanda bebendo algo quente, de longe podiam ver os dois correndo de um lugar a outro para ver os animais.

— Daniel! — Evan Chamava o irmão mais novo. — Venha ver, nasceram filhotes e coelho, olha, eles são bem pequenos. 

Daniel entrou dentro do cercado com seu irmão mais velho e pegou um dos filhotes no colo, eram todos mansos e corriqueiros, não fugiam dos humanos. 

Evan carregou a mãe os coelhinhos, e ficaram os dois ali com os filhotes, logo a mãe vendo que estava escurecendo levou seus bebes para dentro da toca que havia ali no cercado. 

— Já está ficando tarde, deveríamos entrar? — Daniel perguntou tímido.

— Não, só se quiser entrar ou se eles chamarem, o que você quer fazer agora? — Evan inqueriu sorrindo.

— Eu... — Daniel olhou a sua volta, e já tinham visto quase todos os animais do lugar. — podemos entrar? Eu tenho medo de ficar aqui no escuro. 

— Bom, então vamos, tem um quarto pra gente, lá tem muitos brinquedos, a vovó sempre deixa as coisas prontas pra gente. 

Daniel não conseguia acompanhar o pique do irmão que a todo momento tinha uma nova ideia e brincadeira nova, ele não era acostumado a toda essa agitação.

Perto do horário do jantar Daniel, já estava com os olhos pequenos e indicava cansaço, tomou um banho e quase não estava sentindo vontade e ir jantar, ele estava sonhando com o momento em que poderia finalmente dormir, sua vida no orfanato era sempre regrada e com horários, de certa forma tinha se habituado.

Depois de jantar ele pediu para Evan o levar ao quarto, ainda não tinha decorado o caminho.

— Está com sono já? Mas é cedo demais irmão, quer mesmo dormir? — Evan não se sentia tão cansado, por essa razão não entendia o sono do irmão, na cabeça de Evan não tinham feito nada o dia todo. 

— Irmão, eu não estou acostumado a brincar o dia todo, eu limpava os quartos e ia dormir, me sinto cansado, desculpa... — Sua voz infantil e cheia de manha fez Evan ficar ainda mais sem graça.

— Tudo bem, então eu vou com você, vamos dar boa noite para o papai, a mamãe e a vovó. 

Eles deram boa noite aos adultos e seguiram para o quarto que Agnes, lhes tinha separado, naquele dia Evan, descobriu que sua missão em fazer Daniel seu fiel companheiro estava precisando de reajustes, uma das primeiras coisas que ele teria e aprender era de que não podia ultrapassar os limites de Daniel, ou ele iria se cansar e dormir bem mais cedo.

Apesar de ter camas para os dois ali, Evan, ficou com seu irmão amedrontado pelas sombras das arvores nas janelas, eram apenas sombras, porem para Daniel pareciam monstros assustadores tentando entrar dentro do quarto. 

— Certeza de que são arvores? — Perguntou abraçando o irmão com mais força.

— Daniel, são arvores, as luzes da varanda ficam acesas e tem os pisca-pisca, por isso faz sombra e reflete aqui dentro, quando o vento bate nas arvores elas balançam e suas sombras mudam de forma e parecem monstros tentando entrar, mas não tem perigo lá fora. 

— Eu sou um bobo não é? — Perguntou tímido.

— Não é bobo, eu as vezes também sinto medo, sentir medo é normal, mas basta saber que nossos pais sempre vão estar protegendo a gente, independente do que aconteça, e é claro eu também vou estar aqui pra te proteger, é meu dever e irmão mais velho. — Evan falou e beijou o topo a cabeça do mais novo.

Daniel ficou sem graça e bastante envergonhado ali, porem a segurança que as palavras e seu irmão lhe passavam, lhe fez dormir tranquilamente a noite toda, Evan por mais que não sentisse também estava cansado e acabou dormindo junto do irmão mais novo quase que no mesmo momento.

Naquela mesma noite os adultos foram ver as crianças dormindo e acharam graça na cena infantil, Daniel encolhido nas costas de Evan, que tinha uma lanterna ao lado da cama.

— Eles vão se dar muito bem, Evan é um garoto bonzinho, ele gostou da ideia de ter um irmãozinho. — Agnes comentou colocando a mão no ombro de sua filha mais nova Alice. 

— Gostaria que Berenice e Oscar não viessem nesse natal, depois que se casou com aquele homem minha irmã se tornou uma mulher muito dura e cheia de preconceitos. — A voz de Alice era baixa, ela não queria estar falando aquilo da própria irmã, e tão pouco acordar os pequenos. 

— Já conversamos sobre isso querida, não deixaremos o Daniel, perto da prima Delfim, ela herdou as mesmas características do pai, então é bom manter distância, Daniel tem traços mexicanos, eles vão tentar rebaixar o valor dele dentro da família. — A voz de Richard mesmo em tom baixo era grave, e ele tinha razões para se preocupar com o bem estar dos filhos, principalmente com o mais novo.

Tão lentamente quanto abriram a porta eles a fecharam, continuaram o assunto já próximo a lareira na sala de estar.

— Berenice pode ser minha filha mais velha, mas não a deixarei ser indelicada, ela já sabe da adoção e ela não vai ofender meu neto. — Agnes podia ter uma certa idade, mas quando ficava brava não deixaria de dar uma bronca em seus filhos.

— Ele é tão quieto, já chama o Evan de irmão, eles já criaram um laço, mesmo tendo apenas nove anos, Evan demonstrou muita sabedoria. — Orgulhoso de seu filho, Richards bebeu um gole generoso de licor de mel. 

— Pelo que eu entendi, eles vão chegar no dia do natal, e logo de manhã vão partir, Delfim tem que estar em um acampamento esse ano, aparenta as notas dela não estão boas e participar vai dar uma certa vantagem. — Alice falou satisfeita, já que as notas de seu filho mais velho estavam em ordem.

— Bom, não vamos ficar ansiosos com eles, Arthur e a esposa não podem vir esse ano, ele prometeu que no ano novo vai estar aqui, o natal dele vai ser com a família da esposa, e eu quero as cartinhas deles, o senhor Murfhin vai se vestir de papai Noel e vir aqui no natal para deixar os presentes. — Agnes esticou a mão na direção da filha e do genro para pegar os envelopes.

Ela abriu primeiro a de Evan. 

" Querido papai Noel

Esse ano eu me comportei, ganhei meu presente ontem, meu irmão Daniel, ele tem muita vergonha de pedir as coisas, mas queria que ele pudesse provar a comida que ele não sabe o nome, queria também um abajur para por no nosso quarto, ele tem medo do escuro, ele quer um urso bem grandão, mas isso o senhor vai ver na cartinha dele.

Como já ganhei o meu presente, quero pedir por ele, um patins e uma bola, quero levar ele pra andar no quarteirão e jogar bola com ele no quintal.

Obrigado papai Noel pelo meu presente adiantado. " 

A carta emocionou Agnes, ela seria a única a ler, como todos os anos, porém naquele ano deu a carta para sua filha Alice e seu genro, queria compartilhar das Lágrimas de emoção com eles 

— Que menino gentil, ele realmente não pediu absolutamente nada esse ano, eu pensei que ele pediria algo, mas pelo visto estava tão ansioso para a chegada de Daniel quanto nós. — Alice falou com voz fina e embargada.

— Vou amanhã cedo ao centro, compro as coisas e as deixo na casa do senhor Murfhin, e vou passar no meu tabelião, acrescentar o nome do meu Daniel ao meu testamento. — A senhora falou rindo.

— Mamãe não acha que está muito nova para falar de testamento? Queremos a senhora bem viva, não se atreva a partir dessa pra melhor, sei que sente saudades do papai, porém acredito que ele saiba esperar um pouco mais. — Alice a repreendia e brincava ao mesmo tempo, uma maneira de não deixar o assunto pesar.

Eles beberam mais um pouco ali na frente da lareira, perto das duas da manhã foram para seus quartos, deixando a árvore de natal sozinha.

Uma das coisas que podiam ser admiradas dentro daquela família era a união deles, Agnes aprendeu isso muito cedo quando perdeu seus entes queridos, era a única de sua família quando se casou com o senhor Benjamin Green, herdou o sobrenome deste, porém suas duas filhas mudaram ao se casarem, Berenice era agora Berenice Smith. Agora tentava passar os mesmo valores de união e igualdade aos filhos, Arthur era como Alice, gentil e generoso, todavia a mais velha acabou adquirindo traços dos desvios de caráter do marido Simon Smith.

Tudo começou quando Daniel chegou, e tudo girou em torno dele e de Evan, eles iriam se defender e se proteger de qualquer um.

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