Capítulo 2

Mesmo que não trouxesse boas energias para seu dia, Amélia amava admirar Jade cantando, era como observar os anjos cantando no céu, com belas nuvens branquinhas e um lindo céu azul, límpido e vivo.

A forma como seus lábios dançavam a cada nota proferida, o balançar suave de seus quadris desejosos ao avançar da música, o agraciar de seus cabelos sedosos a cada movimento dado em sua dança particular, o verdadeiro paraíso.

Ela adorava tudo aquilo, era, definitivamente, um dos melhores momentos da sua vida. Jade era como uma obra de arte viva, a autêntica Monalisa, tão bela quanto os quadros de Vincent Van Gogh, de Pablo Picasso ou Leonardo da Vinci.

Era a sua própria Adele Bloch-Bauer ou Suzanne Valadon. Era sua verdadeira musa, sua bela arte. Uma explosão de cores e sentimentos no céu.

Como William Shakespeare dizia: “O amor não se vê com os olhos mas com o coração. O amor é como a criança: deseja tudo o que vê. Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia. É muito melhor viver sem felicidade do que sem amor.”

Amélia estava perdidamente apaixonada, enxergando sua amada como o ser mais perfeito de todo o mundo. Era surreal sentir aquilo, tão gostoso e temeroso. Sentia medo e uma vontade devastadora de ter mais disso.

Ela era apenas uma telespectadora sortuda demais por ter tal beleza tão perto de si, disponível livremente para seus olhos e ouvidos, para o seu coração. Talvez não tão perto ou livre quanto gostaria, mas aquilo teria que servir, já se sentia abençoada demais por ter o seu próprio paraíso morando debaixo do mesmo teto que si. Portanto, teria que servir por enquanto, pelo menos.

— Bom dia, linda flor.

Essa era outra coisa que amava. A criatividade doce da garota de sempre presenteá-la com carinhosos apelidos. Toda manhã Amélia ganhava um novo pseudônimo temporário, se sentindo cada vez mais amada e adorada por sua musa. Era como um sonho envolvendo seu corpo e a levando para um universo perfeito.

— Bom dia, minha deusa.

Gostava de entrar nas doçuras de seu amor, sendo o mais gentil possível, mostrando para Jade, todos os dias, que merecia nada menos que o melhor do mundo.

Após um café da manhã reforçado e um belo banho quentinho para acordar os ânimos, as duas se arrumaram como sempre e logo estavam na faculdade. A grande estrutura clássica e moderna, ao mesmo tempo, surgia em suas visões, rodeada por alunos de todos os tipos de cursos possíveis. Havia literatura, medicina, matemática, administração. Cada segmento possuía seu bloco próprio, havendo uma organizada divisão para todos. O vento esvoaçava os cabelos castanhos de Jade, que balançava como pequenas fadas, dando-lhe um ar angelical. Não que a garota precisasse, mas o universo adorava contribuir para que tal coisa se tornasse cada vez mais real e avassaladora. 

Sem surpreender Amélia, de repente todos estavam perto de Jade, querendo sua atenção. Eram seus colegas de curso ou amigos da faculdade, pessoas que entraram na sua vida logo que chegaram à Nova York, alguns anos atrás.

Eram relativamente populares na escola, conhecendo um bom número de pessoas. Mesmo sendo estudiosas e dedicadas aos seus futuros, adoravam ir a festas e baladas, curtir a vida e conhecer novos lugares, aproveitar os momentos. Eram fiéis parceiras de aventuras, sempre juntas em tudo. E tão rápido quanto um redemoinho, haviam se tornado conhecidas pelos outros estudantes.

Amélia não se importava tanto com a atenção. Até gostava, na verdade. Era sempre bom ter companhia e alguém para conversar, colocar o papo em dia, passar o tempo. Não via problema nisso. A situação desconfortável eram os olhares direcionados a sua melhor amiga, maliciosos ou desagradáveis.  Estava mais preocupada em esconder Jade de todos aqueles asquerosos do que socializar ou dar atenção às pessoas ao redor.

Distraída com sua árdua missão, não percebeu que já haviam chegado em seus respectivos blocos, em direções opostas.  Amélia cursava Letras. Adorava ler e escrever, mergulhar no universo da literatura e conhecer novos mundos fantásticos. Portanto, possuia planos para o seu futuro. E Jade estava na arquitetura. A garota era fascinada por edificações e interiores desde bem pequena, seu passatempo era planejar casas diversas ou decorar em programas de criação. As duas amavam os cursos, mas infelizmente, por serem tão diferentes, tinham pouquíssimas aulas, quase nulas, juntas. Passando a maior parte dos seus tempos separadas, em ambientes distantes. 

Aquela definitivamente não seria uma de suas raras aulas compartilhadas. Isso destruía Amélia, apertava seu coração ter que ficar longe de sua amiga, de sua companhia doce e gentil.

Imaginar seu anjo só em uma sala cheia de olhos gulosos e escrotos com segundas intenções, deixava-a enojada e com vontade de guardar Jade em um potinho. Entretanto, não podia fazer aquilo. Sua amada era livre e ela não tinha direito de interferir de tal forma em sua vida. Por isso, contentava-se em apenas lamentar-se por tal infortúnio durante seus horários separados.

Se despediram para, então, Jade partir, em direção ao seu mundo e seu desejado futuro.

Ela não sabia, mas havia levado uma parte de Amélia consigo para a aula, assim como sempre fazia quando ia embora. A parte mais importante para o ser humano.

O coração.

E mesmo assim, a mais velha não se importava com isso, era impossível se preocupar, lutar ou intervir.

A garota poderia destruí-lo quantas vezes achasse conveniente, destroça-lo e jogar fora. Amélia não se importava. Já não era mais seu há muito tempo e, mesmo que quisesse, não poderia fazer nada. 

Estava completamente perdida e apaixonada por Jade.

Não havia brechas, era isso e ponto. Assim como tudo na terra, Amélia havia desistido de resistir, mudar o destino. Porque, para ela, amar sua amiga era como seu destino, sua alma-gêmea. Talvez, em alguma outra vida, tenha a sorte de possuí-la para si, como sua amada, como o seu amor. Era uma batalha perdida e, pela primeira vez na vida, não se importou, de forma alguma, em perder.

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