Ventos e vendaval

           Depois deste evento na escolinha da pequena vila de ribeirinhos, foi dado um tempo de recesso para todos ali e o ato social foi para avaliações gerais de saúde, havia uma pandemia de hanseníase e outras doenças atípicas e foi então dado a necessidade de prevenções e cuidados se caso preciso for para quem acaso precisar.

           Foram cinco dias em casa, um tempo muito bom para Maria descansar e pôr suas leituras em dia e visitar seus amigos vizinhos, ela ao se tornar assistente na escolinha não teve mais tempo para seus deleites e isso a incomodava um pouco. Ela esperava uma chance para um dia estudar Serviços Sociais em uma faculdade próxima e ela se preparava lendo e se preparando para quando sua chance chegar.

           Quando o fim de semana chegou, as ruas de areia e as dunas nunca tinham recebidos tantas pessoas estranhas visitando e os moradores desavisados não esperavam por isso. A Vila onde Maria mora fica próximo da cidade de Rosario e bem depois de travosa e por lá se brinca dizendo que é onde o vento faz a curva. Então era um tanto inquietante para todos os moradores aceitarem aquele movimento de gente estranha.

          Mas para Maria que sempre sonhou com novos ares e de conhecer o mundo inteiro e sua gente, era sem dúvida alguma, uma chama para seus olhos e ela ao abrir sua janelinha velha se assustou com as pessoas se atolando nas areias da rua. Eram os índios da cidade grande com suas camisas coloridas e pasta branca no rosto, tinha gente com seus celulares apontados em toda direção, fazendo suas poses inertes.

         Quando ela se deparou com essas cenas logo se espantou, mas ao passar do tempo ela ia se desmanchando por dentro de tanto sorrir com as tolices que olhava e as quedas de uns e quando um desatento ou outro fincava seus pés na areia já quente e fina e dali não conseguia sair e gritando por ajuda vinha todo um grupo de piadistas no acolhimento da ajuda. Enfim, Maria se sentiu então soberana e sua gula por conhecimento e desbravamento se fez latente em seu peito. Mas nem demora muito, chegava se segurando na cerquinha velha e quase caída da casa de Maria a sua amiga Lya, ela se apoiava nos enferrujados e retorcidos de tantos remendos, era como se ela estivesse com medo do que olhava nas ruas e assustada ela tentava se proteger das pessoas estranhas e suas estranhezas.

           Maria olhou sua amiga e ficou se perguntando do porquê de tudo aquilo por parte da sua amiga e ficando seu olhar na Lya, ela vigiava cada passo dela até o momento em que Lya adentra correndo o terreiro da casa e passando como um vento cruza a porta e se joga para dentro da casa, batendo com força a porta e não se demorando logo esmurra a porta de seu quarto. Maria sempre esperava o resultado das reações das pessoas em sua volta e sempre fez assim por toda sua vida, era como se ela estudasse até os movimentos e dali era tirava suas próprias conclusões de tudo e de todos.

   Mas de sua amiga e confidente Lya, a Maria se surpreendeu naquele dia e nunca havia percebido esse jeito medroso dela, uma vez que sempre ouviu de sua boca avisos e orientações de superações. Mas tudo bem, para tudo se tem uma primeira vez! – ela pensou consigo mesma, ao somar os atos de sua amiga Lya. Maria vai até à porta e destrava uma tranca feita de um pedaço de madeira pregada na porta e que ao girar topava com um vergalhão chumbado na parede rústica de cimento borrado da parede e assim lhe dava um pouquinho de segurança e privacidade.

          Maria ao abrir a porta que era freneticamente espancada por Lya, ela passa como uma aluvião para dentro do quarto de Maria e Lya se mostrando assustada fecha a janela e puxa sua amiga para se sentar na beirada da cama, as duas na cama Lya olha nos fundos dos olhos de Maria e diz:

- Maria minha amiga, você viu lá fora? Eu nunca vi tanta gente estranha andando pelas e nas dunas assim, olha que eu nasci aqui e há trinta e cinco anos que este lugar sempre foi um deserto só!

   Lya mesmo sendo mais velha do que Maria, sendo ela uma professora do interior e companheira confidente dos sonhos de devaneios de Maria. Ela sempre se mostrou uma pessoa sensata e cheia de coragem na vida, mas ao se ver invadida talvez por aquele vendaval de pessoas estranhas assim do nada sem aviso algum, ela talvez não estando preparada se viu no mato-sem-cachorro e se entregou ao pânico do novo milênio.

     Maria tenta ser forte e buscar palavras de conforto para tentar acalmar sua amiga, então ela segura nas mãos de Lya e com toda paciência do mundo lhe diz:

- Minha amiga o que é isso tudo com você? Você sempre me aconselhou coisas como ir para cidades grandes e conhecer o mundo todo lá fora!

Não estou entendo seu comportamento agora, você está me assustando com isso tudo, pare e respire por favor minha amiga: - então Lya ouvindo sua amiga, decide fechar os olhos e por alguns minutos respira compassadamente! Dados três minutos e finalmente a Lya se acalma ao ponto de parar a tremulação em suas mãos e de cair tanto suor de seu corpo. Maia acalenta sua amiga com um longo abraço e a questiona do motivo dela ter ficado assim nesse estado todo de nervosismo!

       Lya não soube nem mesmo explicar como que ela chegou na casa da Maria e nem como tudo começou naquela manhã e nem se ela fechou direito a sua própria casa. Tudo que ela sabe é que ao se levantar logo cedo e ir para o quintal de sua casa, viu uma procissão inteira de desajustados pela trilha de acesso à Duna das Neves e já algumas daquelas motos loucas correndo e voando.

  O certo é que ela relatou seu espanto e que se lembra de se encontrar ali rastejando na cerca e com o pensamento centrado na Maria. As duas foram para a cozinha e a Dona Justa já se encontrava pondo à mesa o café da manhã com leite natural, café bem pretinho, bolo de fubá e suco de cajá. As três tomaram o desjejum e comentando sobre o murmurinho do dia lá ´fora, elas decidem encarar e irem até à Duna das Neves e ver o que se passava por lá.

     Já era dez horas da manhã e quando as três chegaram no pé da duna, olharam não uma duna em si, mas viram uma casa de formigas. Simplesmente era o que parecia, um monte formado por formigas devoradoras de areia, onde a força do vento e o movimento de tantos pés levantando a areia da duna, criavam redemoinhos de areia e se estava incômodo observar tudo aquilo para quem nasceu e sempre cuidou da natureza do lugar.

      De repente os nativos do vilarejo ficaram em suas casas trancados e sem entender o que estava acontecendo na pacata e doce vila de ribeirinhos! Na segunda-feira bem cedo antes que as portas da prefeitura se abrissem, já se encontravam por lá um bom número de moradores da vila e que queriam saber o que levou do nada, o vilarejo ser invadido por tantas pessoas estranhas.

    Uma pequena comissão de cinco membros foi montada e adentraram ao gabinete do prefeito antes que ele começasse seus afazeres administrativos e uma hora e meia depois, esse povo sai e chama o restante da gente, para que fossem logo para o galpão de pescadores da vila e que lá eles teriam de repassar um comunicado não tão bom para todos os moradores.

    Já pela parte da tarde, marcou-se uma reunirão com todos e às dezessete horas em ponto, a maioria dos moradores já se encontravam. Os cinco membros da comissão que falaram com o prefeito da cidade, iniciaram e relataram todo o assunto da pauta e de resumo disseram:

- o prefeito havia se reunido com os secretário da cultura e do Turismo e juntos conectaram empresas e parceiros que toparam trazer para toda aquela região de barreirinhas e santo amaro e adjacências, um novo foco de renda para os moradores e assim produzir além de renda, mostrar para o mundo os pontos turísticos e naturais. Que na verdade, avisos foram dados sim, mas como a vila onde eles moram é bem afastada da tecnologia atual e ninguém por ali possui celulares e televisão, não houve há tempo uma real forma de comunicar sobre as novidades municipais e que naquele período de férias para boa parte do mundo, os próximos três meses seriam carregados de estrangeiros dos quatro cantos do mundo e que não haveria nada a ser feito para que impedisse ou controlasse o fluxo de pessoas por toda a região, mas que guias contratados seriam responsáveis por guiar grupos e manter a proteção de todo o habitat natural.

     Ouviram tudo o que foi dito na sala do prefeito e repassaram para todos os moradores e obviamente que nem todos aceitaram com boa vontade. Para os mais antigos isso foi uma facada nas costas, mas para Maria e poucos jovens, foi na verdade um meio de conhecimento e aventuras naturais que eles nunca tinham vivido antes.

       Na quarta-feira já reiniciariam as aulas na escolinha, depois do recesso dado devido ao último evento social que proveria os cuidados de saúde e ao retornarem para as atividades escolares Maria, Lya e todos os alunos da escolinha tiveram que se adaptar com o vai-e-vem de tantas pessoas, motos, triciclos e de palavras diferentes sem entendimento para eles; sim, eram os falados gringos e esses de outros países que se expressavam à toda hora e na cidadezinha os nativos ouviam estranhando e sorrindo algumas vezes.

    As horas se passaram, os dias se passaram e até mesmo as dunas se passaram mais rápidas que nunca. Claro que com tanta gente pisando, correndo e atropelando as areias com suas máquinas infernais não se daria outra coisa se não fosse a erro de tudo e do tempo!

   Mas como topar contra a máquina do governo?

        Os ribeirinhos tentavam levar suas vidas da melhor forma possível, mas nem para todos as novidades foram bem vindas e para os mais anciãos a coisa foi pior, por outro lado, os mais novos que em suas conversas sempre ansiavam pelo novo as mudanças foram de fato uma alavanca para sonhos e quem sabe, realizações.

        Maria e Lya, agora já com tantos relatórios para serem entregues devido às novas diretrizes municipais, quase não se falavam e quando tinham um tempinho qualquer já buscavam assuntos aleatórios para não ficassem sem se encontrar, mas ambas tão cansadas da nova rotina apenas conseguiam tecer papo de professoras. Tudo bem, a vida tem dessas coisas mesmo, há tempo da mudança e é claro que elas sentiram o peso de novas responsabilidades, mas elas se amavam como irmãs que eram e sempre que podiam se encontravam para conversar e confidenciar seus pensamentos.

    Em uma dada hora e dado dia, da semana que se prosseguia Lya se toca de um detalhe e pergunta para sua amiga Maria se ela havia recebido os seus resultados de exames: - Maria minha filha, agora que me lembrei! Já tem dois dias que eu recebi os meus resultados dos exames que fizemos naquela ação social na escola, se lembra? Você já recebeu também?

Marai pegou o dela neste mesmo dia e ainda não havia se dado conta e não abriu o envelope, então ela respondeu:

- Meu Deus, é mesmo! Sim eu peguei hoje de manhã e nem abri ainda, espere aí eu volto já. Ela se levantou da cadeira e foi até o seu quarto e vasculhando seus objetos encontra o envelope e o leva para Lya abrir e ler para ela. Tome aqui, eu peguei, mas eu não entendo os textos de medicina e sei que você já gosta de ler e entende boa parte das palavras que esses médicos escrevem. Elas se olharam neste momento e sorriram do comentário da Maria.

   Assim foi, Maria entrega o resultado nas mãos de Lya, ela abre o envelope e começa a ler o maço de papéis e depois de alguns instantes lendo minuciosamente o batalhão de resultados, o semblante da Lya começa a mudar do alegre para o sisudo e Maria percebendo isto, pergunta:

- Amiga está tudo bem por aí?

- Você ficou séria de repente!

      Lya tenta esconder algo da Maria e responde tentando disfarçar algo que ela leu e não gostou muito, lhe falando:

- oi amiga, eu acho que você errou ao dizer que eu sou “expert’’ nessa leitura de médico, é que aqui já tem palavras que eu acho que são chamamentos, ela diz! Elas se olham novamente e outra vez sorriem juntas de tudo aquilo.

        Lya devolve os resultados para sua amiga e ainda tentando se esquivar de comentar algo com Maria, ela diz para sua amiga que já ia para sua casa e que ainda tentar pesquisar em seus livros o significado de alguns termos que ela leu naqueles papéis e então elas se despedem com um longo abraço.

         Lya e Maria do lado de fora da cerca se despedem afinal, Lya segue seu caminho dentro da noite indo para sua casa, mas em sua cabeça de amiga e professora que ela sempre foi, iam quilos de preocupações que ela havia tomado para si, ao ler trechos do resultado nos exames de sua grande amiga Maria e sim, ela realmente foi correndo para sua casa na ânsia de pesquisar sobre aquilo que ela leu e que um pouco ela entende sobre doenças hereditárias e miomas e seus afins.

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