Cinco

Eu não conseguia me mexer. Quem diria respirar.

Ver aquele homem ali, na minha frente, fazia todo o meu sangue se esvair do meu corpo.

Ele matou a minha irmã.

Matou a minha pequena Tiffany.

— Mad? — Gabi me sacudia. — Vamos sair daqui.

Eu nem respondo. Apenas deixo que ela me puxe para longe daquele homem.

Caminhamos para o outro lado do salão e eu fico parada ao lado de um poste de pole dance. Gabi diz que vai dar uma passeada, antes que Marta cisme com ela.

Olho tudo à minha frente. Eram várias as mesas, com um tecido verde e um desenho de cartas. Em todas elas, havia pelo menos quatro homens. Todos gritavam muito. Boa parte estava bêbado e com uma mulher sentada em sua perna.

Eu olhava rosto por rosto em busca dele. Quem sabe ele não gostasse desse tipo de jogo. Mas pelo que eu via, ele não se encontrava hoje. Será que ele volta?

— Tiffany? — ergo meu olhar, e olho para Marta. — O que faz parada aí?

— Apenas observando.

— Então sua hora de observar acabou. Tem um homem que me ofereceu um bom dinheiro para dormir com você!

Fico ereta e sorrio, sem nenhuma emoção.

— Quem é o cavalheiro? — pergunto e deixo a taça que estava em minhas mãos, na mesa ao lado.

Ela vem para o meu lado.

— Olhe naquela mesa, onde está a Taci.

Forço meus olhos para enxergá-lo.

— Não. — sussurro.

— O que?

— Por favor. — a olho, com a voz tremula. — Ele não.

— É um cliente. Você não tem escolha.

— Mas...

— Maddie, eu sou muito boa com você aqui dentro. — diz. — Mas quando eu mando você ir para o quarto e fazer sexo com alguém, você me obedece. Estamos entendidas?

— Mas ele é...

— É o homem que quer você essa noite e vai ter!

Minha voz não era a única coisa tremula em mim. Eu estava tremendo por inteiro agora.

— Suba e o espere. — ela diz, firme. — Em minutos ele estará lá. E pegará muito mal se VOCÊ não estiver.

Ela passa a mão no meu rosto, sorrindo de um jeito bem falso e se afasta.

Eu não sabia o que fazer. Na verdade, sabia. Eu queria correr para bem longe dali e daquele homem inescrupuloso. Mas eu não podia ir a lugar algum. Não se eu quisesse ter onde morar.

Respiro do jeito mais fundo que consigo e me encaminho para as escadas. Tento encontrar Gabriella, mas ela não estava mais pelo salão.

Subo as escadas sem olhar para trás. Assim que alcanço o corredor, eu corro para o meu quarto e fecho a porta. Começo a andar de um lado para o outro, sem saber o que fazer.

Estava apavorada só de imaginar aquele homem encostando em mim... de novo.

Duas batidas são dadas na porta e meu coração para.

— Olá.

Fecho os olhos e respiro fundo mais uma vez, antes de me virar.

— Oi. — tento sorrir.

Ele continuava tão horrendo quanto eu lembrava. Ele era alto, tinha uma barba vagabunda e mal feita. Os olhos eram negros e sem vida. Hoje ele vestia um terno, mas dava para ver que não era nenhum Armani. Em seu rosto havia uma cicatriz bem feia.

— Sou Donald.

Eu sei.

— Tiffany.

Seu sorriso nojento se fecha.

— Tiffany? — ele pisca.

— Sim. Algum problema?

Eu fazia de tudo para que minha voz saísse normal.

— Você... nossa... — ele ri e balança a cabeça negativamente.

— O que foi?

— Já não basta você me lembrar alguém, ainda tem que ter nome parecido.

Gelo.

— Mas ela já não está mais entre nós. — ele sorri de lado. -- O que é uma pena. Ela era tão... deliciosa.

Eu queria socar a cara dele. Aquele ser grotesco estava falando da minha irmã! Estava falando da criança que ele matou e ainda sorri.

— E então? — ele se aproxima de mim. — Vamos ao trabalho?

A partir desse momento, eu ajo como uma boneca inflável.

Não deixo que ele me beije. Não depois de Liam ter me beijado. E se ele me beijasse, acho que eu não iria aguentar. Iria acabar vomitando.

Ele tocava todo o meu corpo como se nunca tivesse feito aquilo antes. Minha pouca roupa havia sido rasgada. O sexo com ele, havia sido tão podre quanto antes. A única diferença, foi que daquela vez eu chorei e fui forçada o tempo todo. Dessa vez, eu só fui forçada.

Quando ele termina, eu puxo o lençol para cima de mim, cobrindo parte do meu corpo nu. Eu estava tentando não chorar, pois vê-lo ali na minha frente, remetia memórias que eu todo santo dia, lutava para esquecer.

Fico olhando para o teto, enquanto aquele homem pegava suas roupas e as vestia.

— Vou embora. — informa. — Mas um dia eu volto.

Não respondo. Ao menos sorrio.

Ele abre a porta e sai.

Assim que me encontro sozinha, jogo o lençol para cima e corro para o banheiro. Abro o chuveiro e entro embaixo da água gelada sem cerimônia. Pego uma bucha e a esfrego pelo meu corpo com força. As lagrimas desciam com intensidade, enquanto eu me limpava, a fim de tirar a podridão daquele homem de mim.

— Ele nunca mais — passo a bucha com força pela minha barriga — vai encostar em mim. Nunca mais!

Passar aquela bucha era dolorido. Mas não mais do que a dor que preenchia meu coração.

Tive que fazer sexo com o homem que me estuprou e tirou a minha virgindade. Tive que me entregar, como se estivesse amando aquilo, para o homem que matou a minha pequena irmã.

A pequena garota que naquela noite não me deixou ser usada por aqueles idiotas.

Um dia com certeza, irei me vingar. Ainda não sabia como, mas que ele iria sofrer como nunca, isso ele iria.

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