De Maddems

Um mundo novo, em tempo e espaço indefinido, marcado pelos contrastes naturais de lugares, temperaturas e habitantes, um lugar místico em pleno desenvolvimento natural, onde a simplicidade predomina no mais inimaginável local, um planeta onde não houve economia emocional em sua criação, pois todos os detalhes são imensos, seja de seres viventes ou inertes. Maddems foi criada e idealizada para ser o paraíso de descanso de seu criador, um lugar colorido, onde se pode respirar vida, onde o amor é tão intenso em todos os cantos e lugares que quase se pode tocá-lo.

            Um planeta criado para não existir fome, raiva, desprezo, inveja, arrogância, ganância, ódio, soberba, miséria, um lugar feito com a essência da pureza e com a máxima dedicação para evitar a existência daquilo que é o causador da destruição de qualquer mundo, o Mal, algo que não se defini com uma palavra, mas com várias, é um coletivo desprezível de tudo o que não é  bom, é inodoro, incolor, porém é totalmente arrasador e destruidor.  Após o nascimento de Maddems, seus criadores puderam constatar que o Mal é algo impossível de se negar a uma civilização, ele pré existe até mesmo antes de qualquer existência, o Mal faz parte da vida e permite o crescimento dos seres espiritualmente, sem ele não existe o bem, e sendo assim, não existiria nada.

            O mundo de Maddems cresceu e se desenvolveu, as criaturas humanas, humanoides e animais evoluíram povoando o planeta em todo seu território disponível e possível. Após a magia da criação os continentes se formaram, aos poucos se assentaram em seus respectivos lugares de direito, suas características se estabilizaram e um mundo cheio de riquezas estava pronto para ser explorado e usufruído em todas as suas estâncias, tudo que era vivo passou a vivenciar a grande roda da vida, no início, no meio até o fim.

            Como tudo que é novo, esse planeta ainda jovem e em pleno desenvolvimento, foi vivenciando um pouco de tudo, em doses homeopáticas, seus habitantes foram conhecendo suas próprias vidas, limites e inteligência no mesmo ritmo, e por muitos anos, este lento e natural desenvolvimento deu a impressão de que em Maddems não existia coisas ruins, mas o Mal estava a caminho, e em dado momento, ele chegou.

            Edafir é o continente mais populoso de Maddems, possui oito cidades, Zamorra, Shares, Goles, Tusida, Tenish, Semish, Beleron e Gerbraden, muitos dizem que é o continente mais bonito, pois possui uma grande diversidade geográfica e por consequência, um ecossistema variado. É um lugar pacífico, com uma população igualmente amistosa, os moradores construíram suas residências um pouco afastadas do centro da cidade, onde são fixados os estabelecimentos comerciais. Seus maiores rendimentos são oriundos da caça e do comércio de tecidos, existem profissionais com muita prática em tecelagem, seus tecidos são exportados para todos os continentes e cidades de Maddems, a região comercial é um centro nervoso de negócios, muito agitado e com o movimento de muitos humanos de todos os continentes que frequentam o local a fim de realizar um comércio próspero.

            Neste continente existe um lugar místico que impressiona por sua beleza, importância e grandiosidade, é Gerbraden, a Cordilheira dos Dracos, é algo fascinante, sendo possível avistá-la de Tomii, sua extensão é de vinte quilômetros de irregularidades e sua encosta é de aproximadamente quatro mil e novecentos metros de altura, realmente gigantesca, há algumas trilhas, contudo, o terreno tanto na escalada como nas planícies que se encontram ao longo do caminho são muito irregulares, por isso pouquíssimas pessoas tentaram desbravá-la e quase todos fracassaram. Após os dracos passarem a habitar a Cordilheira, nenhum humano voltou a se aventurar na escalada, mesmo após um tratado de que humanos não seriam mais atacados por dracos, ninguém teve coragem de se aventurar, o mais próximo que chegam é da encosta, que fica á oeste, onde há três cachoeiras, sendo duas gigantescas, impossíveis de se aproximar, a terceira é de tamanho médio onde as pessoas tem o costume de se banhar. As cachoeiras chamam a atenção pelo tamanho e impressionam pela beleza, ao redor há muito verde contrastando com rochas e o colorido de flores diversas, a paisagem transmite tranquilidade e paz.

            Há também, rios cristalinos sendo que um deles, o maior de Edafir, o rio Lágrima de Cristal, na língua local chama-se Aamitaru, nasce ao norte, atrás de Gerbraden e segue serpenteando todo o lado Leste até se encontrar com o mar ao sul do continente, o rio é tão extenso que seu ponto menos largo é de aproximadamente dois quilômetros, é fundo e serve de habitat para muitos peixes e criaturas, sendo algumas até desconhecidas; umas poucas pessoas, moradores próximos do rio, relataram ter visto dracos aquáticos passando e mergulhando, em uma cadência como a dos golfinhos que conhecemos.

            Na cordilheira há centenas de cavernas que foram feitas pelos dracos para eles mesmos habitarem, cavernas imensas e profundas, é um verdadeiro conjunto habitacional de dracos. Á dez metros do topo está à última e maior caverna, a moradia de Karbeth. O acesso ao planalto é restrito, permitido a presença apenas dos dracos que o mestre seleciona; atualmente somente dois deles tem tal permissão, Kummus e Alley, seus conselheiros. O primeiro é de uma linhagem próxima aos dracos do fogo, é muito resistente ao calor, consegue sobreviver por vários dias sem comida e sem água, cospe fogo, mas não é um poder forte, é de uma estrutura óssea pequena, por isso ele é muito ágil, as suas asas são menores que as da maioria dos dracos proporcionando agilidade também durante o voo, seus olhos são negros, possui poucas barbatanas na cabeça, suas escamas são alaranjadas algumas chegando ao tom de magenta, ele é muito esperto e agitado. Seu maior poder é o urro, alcança vibrações estridentes, podendo matar um ser humano, nos dracos, os deixa atordoados e vulneráveis ao seu ataque, sempre que solicitado sua presença senta-se ao lado esquerdo de Karbeth.  Alley é oriundo da ilha de Kummodu, é um legítimo draco aquático, por ser fiel a Karbeth, este pediu a ele que residisse em um local mais próximo e lhe ofereceu a cachoeira maior e mais alta da cordilheira, onde Alley criou sua caverna e vive há muitos anos. Possui olhos verdes na cor esmeralda, brilhantes, sua estrutura óssea também é menor que a dos dracos do fogo, com asas menores, possui escamas igualmente aos olhos, na cor esmeralda, e barbatanas enormes, duas saem do maxilar, outras por todo o corpo, suas patas possuem membranas especiais que lhe proporcionam muita agilidade no nado, consegue manter contato com criaturas marinhas e normalmente consegue manipulá-las. É certo que o draco visto por humanos cruzando o rio de Aamitaru seja Alley. Quando solicitado sua presença, senta-se ao lado direito de Karbeth.

Em Gerbraden estima-se haver por volta de cinquenta e cinco dracos, todos obedientes a seu mestre Karbeth, entre eles há os instintivos que instintivamente por se alimentarem de carne tornam-se um perigo aos humanos, porém estes dracos que vivem em Gerbraden seguem as leis de seu mestre de não se alimentarem de humanos e até o momento esta regra tem sido muito bem obedecida e respeitada.

O continente está sempre em festa e em plena harmonia, o clima predominante é o calor moderado, durante todo o ano há flores de várias espécies, os bosques estão sempre verdes e robustos assim como os campos, o que favorece a biodiversidade e consequentemente há muitas espécies de animais silvestres para a caça, por isso torna-se uma região propícia para este tipo de comercio.                                            

            É o lar de grande parte da raça dos dracos, porém com desenvolvimento natural da evolução do planeta muitas espécies migraram para outros continentes onde tiveram uma melhor adaptação, sendo assim, podemos encontrá-los em outros seis continentes existentes em Maddems, Verstagas, Islena, Palenog, Tomii, Maops Tiomma e Telano. Sendo Verstagas, ao sudeste de Edafir, um grupo de três ilhas, é o continente mais afastado do restante. Os dracos visitam as ilhas com regularidade, porém não existe nenhuma raça nativa do local. Lá, os humanos se tornaram exímios navegadores, conhecedores de quase todos os mares existentes em Maddems; Ao longo de sua história, seus habitantes construíram barcos cada vez maiores e mais resistentes com maior capacidade de carga. Seus navios possuem grande fama, sendo quase impossível encontrar algum humano em qualquer continente que nunca tenha ouvido falar das Ilurres, os grandes navios dracos. A proa possui o formato da cabeça de um draco, todo o corpo do navio é talhado de forma que ao longe se tenha a impressão que um enorme draco está deslizando por sobre as águas; por fim a popa termina com uma grande cauda. Essa foi a maneira encontrada por aquele povo para homenagear aos dracos por toda ajuda recebida ao longo de séculos. A população de Verstagas, que são chamados de Verstaguianos por outros povos, vai uma vez a cada dois meses até uma grande feira de negócios que ocorre em Edafir para comprar alguns alimentos que não conseguem cultivar nas ilhas e também algumas especiarias, mas principalmente carne, visto que não há muitos animais de grande porte para alimentar a todos satisfatoriamente.

            Na menor ilha de Verstagas, chamada lyzvala, foi construído o maior de todos os faróis que existem em Maddems; durante o dia é possível vê-lo a uma distância superior a quarenta quilômetros da costa, mas há quem diga ser possível enxergá-lo mais além. No entanto, é durante a noite que o farol faz jus ao seu nome, Svessa Zemens, que em nosso idioma significa, “luz do mar”; a luz do farol brilha tão forte quanto o brilho de uma estrela, toda a baia de Lyzvala fica iluminada quase como se fosse dia, ou ainda, de uma forma como se o dia estivesse nas primeiras horas da manhã. É uma construção gigantesca, tão alto que parece tocar as nuvens, nas suas entranhas existem tochas robustas que produzem chamas intensas, é como um caldeirão estilizado, colocadas em espiral até dez metros antes do topo onde em formato circular está disposto um gigantesco painel de diamantes que absorve toda a claridade e potencializa cem vezes mais forte a claridade, que é expelida através de aberturas retangulares lançando uma luz de raios cintilantes. O brilho do farol pode ser visto ao longo de todos os portos ao sul de Islena, de Edafir e de Telano como se fosse uma estrela amarela piscando na linha do horizonte. Todos os marinheiros em Maddems possuem um grande carinho por Svessa Zemens, pois avistá-lo por si só já é saber o caminho de casa. Para manter tamanha grandeza em funcionamento existem cinquenta homens, oriundos de Lysvessa e Lyszems, eles vivem em Lysvalla com o único propósito de manter Svessa Zemens em perfeito funcionamento, a população das outras ilhas os mantém abastecidos de todas as necessidades, o combustível primordial das chamas é um minério escuro encontrado em Islena, que muitos concluem ser resquício de um material do vulcão local.

            Islena é o segundo maior continente de Maddems, ela fica ao norte e muitas lendas pairam sobre esse lugar, entre elas a maior é a existência de uma gigantesca Fênix negra que habita a região; essa lenda é muito forte entre os habitantes de Maddems, porém nenhum humano já cruzou o mar rumo à Islena e os dracos nunca falam sobre o assunto.

            O que mais alimenta as histórias sobre o continente de Islena é o fato dos habitantes não viajarem até Edafir para comprar ou trocar mercadorias como ocorre com os povos de Verstagas e Palenog. O povo de Edafir desconhece o que os humanos em Islena cultivam, imagina-se que tenham aprendido a cultivar praticamente de tudo, possuem animais de corte e aprenderam a fazer tecidos de vários tipos.

            Islena e Edafir possuem um ecossistema semelhante, portanto se os Islenenses quisessem poderiam servir de entreposto tanto quanto se faziam em Edafir; porém isso não era feito, justamente para manter a paz existente no lugar. O norte de Islena é a parte mais fria do lugar, possui uma grande cadeia de montanhas altíssimas que vem do oeste e ao chegar ao norte se encontra com um vulcão que estava há alguns milênios em inercia. A neve cobriu todo o lugar deixando á mostra apenas o cume do vulcão, que pelo tamanho pode-se concluir que ele é gigantesco.

Poucos são os que saem de Islena e os que o fazem, partem em direção à Verstagas ou passam semanas navegando pelos mares a procura de boa pesca, estes são considerados os guardiões dos mares, mas só aportam em Islena. E este é o motivo pelo qual tantas lendas se criaram em Maddems a cerca do povo e do lugar. É de conhecimento de todos, que alguns dracos viajam até Islena de tempos em tempos, mas nunca falavam sobre o lugar; nem mesmo diziam se era verdade ou não a lenda sobre a Fênix negra, que diziam ser um animal muito feroz e violento com seus inimigos, porém, possuía um poder especial, curar as pessoas de bom coração de qualquer enfermidade. A maior parte dos dracos que habitam o local são de Edafir, partiram em busca das regiões frias, das montanhas geladas e das nevascas.

            O continente de Palenog fica a oeste de Maddems distante cerca de mil e quatrocentos quilômetros, é uma região tropical e a parte leste é a mais habitada. Os povos de Palenog e Edafir possuem uma relação estreita de amizade. Uma grande parte da população é costeira e por isso quinzenalmente partem dos portos de Palenog rumo às cidades de Beleron e Tenish em Edafir, a fim de comprarem mantimentos, tecidos e ferramentas. Palenog possui três cadeias de montanhas; a primeira chamada de Tesvir começa na costa oeste e segue por cinquenta quilômetros acima margeando o continente, após a densa Floresta Sombria chamada de Shaman, tem inicio a segunda cadeia de montanhas de nome, Tusida, que se estende por toda a faixa norte; a terceira cadeia de montanhas é também a menor delas, é chamada de Tesnir, fica à oeste de Palenog e abriga a maior parte dos dracos, porque seus conjuntos de montanhas possuem muitas cavernas e grutas, o lugar onde os dracos se sentem mais confortáveis.

Ao norte de Maddems, fica o deserto de Maopus Tiomaa, um deserto desabitado devido ao calor intenso, inclusive os dracos evitam passar pelo deserto, exceto um, Karbeth o ancião, pois reza a maior de todas as lendas de Maddems que em Maopus Tiomaa vive um draco de proporções gigantescas em tamanho e poder, solitário, sempre a espera de vitimas para saciar sua fome; no entanto os pais não conseguem responder quando seus filhos perguntam por que a tal criatura nunca ataca a cidade, pois em seus corações temem pela resposta. Até mesmo entre os dracos há discussões sobre a veracidade dessa lenda, na prática, os dracos ao viajarem evitam este continente.

Na região central de Maddems está localizado o continente de Tomii, uma região habitada por exímios pescadores. A população costeira é muito alegre, festiva e comunicativa, sendo o único lugar em toda Maddems que tem contato com os povos vindos de Edafir, Islena e Verstagas; todo esse contato acaba se refletindo na aparência local, o que torna comum ocorrerem casamentos entre os povos estrangeiros com os habitantes locais, dando uma característica física diferenciada e rica em cultura.

            Telano é o continente ao sul de Maddems, local desabitado por ser considerado amaldiçoado, durante centenas de anos vários pontos deste continente foram usados para festas de magia negra, onde aconteciam oferendas de crianças e animais á supostas entidades pagãs. A região é formada por uma floresta densa, de difícil locomoção, os dracos também não se interessam pelo lugar, tornou-se uma região sem vida, mórbida como a pequena ilha de Nikromus que fica á Leste entre Telano e Verstagas.

            É comum alguns feiticeiros praticarem a necromancia, um feitiço que dá vida aos mortos tornando-os zumbis, no estado catatônico os necrófilos são capazes de responder perguntas sobre o futuro, após um período aproximado de trinta minutos o feiticeiro perde o controle sobre o morto-vivo e este passa a ser violento e ter movimentos descontrolados, tornando-os dispensáveis e inúteis, os zumbis são deixados na ilha de Nikromus. A ilha tem odor fétido, é escuro e pantanoso, um lugar realmente asqueroso.

            Acima de tudo, Maddems é um lugar místico, em sua própria concepção foi banhada em magia, misticismo e amor, e como tudo que é bom atrai seu contraponto, a atenção de gananciosos sem pudor, sem respeito ao próximo e a vida, desperta o pior de pessoas e criaturas sem alma, dispostas a tudo para alcançar uma fortuna lúdica e sem precedentes, que na verdade é algo comum e que todos os seres vivos já nasceram com ele, algo concebido no ato da criação por Cerdoc, que fez questão absoluta de que todas as criaturas vivas nascidas e criadas por ele e por seu Vahem Midris, Lunor, tivessem como característica primordial, o amor.

            Um mundo que apesar de seus milhares de anos de existência ainda está em plena formação e evolução, onde os caminhos deixaram de serem traçados exatamente conforme a vontade de seu criador e passou a seguir com as próprias “pernas”, tornando-se o reflexo de seus habitantes. Esse é o risco pelo qual Cerdoc alertou Lunor, era como soltar uma criança que acabou de aprender a andar e deixa-la seguir por sua conta e risco. O fato de Lunor passar a fazer parte deste mundo era um alento, pois ele podia participar intensamente da continuidade da evolução, ser fator decisivo nos caminhos a seguir pelos habitantes, a dúvida de Cerdoc era se ele, Lunor, estaria realmente preparado para desempenhar esta função de liderança, pois trataria diretamente de emoções e sentimentos diversos, de milhares de seres vivos com infinitas necessidades e desejos. A maior preocupação era manter a harmonia neste mundo belo criado por Lunor, pois a sombra da maldade já se tornara ameaçadoramente realidade, eram humanos, e criaturas que tinham em seu íntimo a pré-disponibilidade do mal, seres que haviam se tornado mercenários e conquistadores em busca de algo maior, que satisfizesse suas ambições, seus desejos de poder. Quando estes mercenários e conquistadores descobrirem que o amor é a verdadeira riqueza, Maddems poderá finalmente descansar, em seu eterno esplendor de tranquilidade e paz conforme fora idealizado por Cerdoc e Lunor.

                                             

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