Capítulo 4 – Voltando

      Isabelli

Não posso dizer que estou completamente animada, sinto o meu corpo cansado e o sono parece me consumir enquanto permaneço sentada no banco do ônibus só idealizo a minha cama e tento de alguma forma cochilar, mas nunca consigo.

Aguardo alguns minutos com os olhos fechados desejando que isso seja um sonho e eu acorde na minha cama, mas não é isso que acontece. Quando abro os olhos vejo o ônibus cheio e uma senhora em pé.

Observo os jovens dormindo no banco preferencial, sei que estão cansados por que eu também estou, mas isso não justifica e eu considero essa atitude muito desrespeitosa.

Decido levantar e ceder o lugar para ela, não é o que eu queria tenho que ser honesta, mas isso é o justo, afinal ninguém quer ver um amigo ou familiar nessa situação e imagino que para ela ficar de pé é pior do que para mim.

Chamo-a e permito que ela sente em meu lugar. Ela me lança um olhar compreensivo e eu sorrio lhe dando espaço. Afasto-me e fico próxima à porta, alguns minutos depois chego ao meu destino.

Entro na empresa e vou para a mesa guardar minha bolsa, após fazer isso vou para a lanchonete tomar café, chegando lá vejo o Rafa e a Sam, admiro-os por um tempo, observando como são felizes.

As coisas mudaram muito rápido, eles eram grandes amigos e agora estão casados. Eu sempre pensei que ele ficaria com o Maicon ou o Marcos, mas não foi desta forma. Acho que no fundo eu sempre soube que ele a amava, só não pensei que fosse esse amor.

Vejo a forma que sorri quando a encara e como conversam coisas que só eles entendem isso me anima de alguma forma, pois realmente faz com que o amor signifique algo a mais.

A barriga dela esta enorme e linda, eu nunca vi tanta felicidade nos olhos dela e o amor que emana deles é capaz de alcançar e acalmar qualquer pessoa. Posso afirmar que nunca vi um amor tão explicito assim.

Fico observando-os por um tempo, mas algo me surpreende. Eu não preciso me virar para saber quem é e por outro lado quero mesmo é que vá embora, porém ele não vai.

Sua respiração fica cada vez mais forte em meu pescoço, quanto mais a sinto mais sei que ele pode controlar o meu corpo mesmo que eu não queira. O ar que vem dele para mim é tão quente, mas causa um calafrio tão forte em meu corpo que me deixa arrepiada, entregando a ele o que não quero. Talvez eu não possa confiar em mim mesma agora.

Continuo parada e me recuso a encará-lo, minha respiração começa a me trair e fica ainda mais rápida quando sinto sua mão em meus cabelos, faço menção de me afastar, porém sou impedida com suas mãos em meus braços.

Ele me segura não forte o suficiente, mas eu não posso fazer uma cena por conta disso, sinto-o me puxar e me virar encaro os seus olhos querendo demonstrar mais raiva do que o que estou sentindo, aparentemente falho nisso também.

Ele me encosta na parede e fica ainda mais próximo a mim, agradeço por estarmos longe da visão de todos.

Ficamos em silêncio por um tempo presos em lembranças que podem ser tão boas, mas que seria melhor se não tivesse acontecido. Bom eu tenho essa opinião, mas ele... É complicado explicar.

— Isa...

— Renato.

— Eu queria saber como você esta. – Murmura fazendo o meu corpo estremecer.

— Já sabe como estou. – Digo tentando disfarçar o efeito que causa em mim.

— Não parece o suficiente. – Informa.

Seus dedos passeiam pela minha pele fazendo com que uma sensação maravilhosa surja dentro de mim. Ignoro essa sensação o máximo que consigo e encaro os seus olhos tentando demonstrar frieza.

— Era só isso? – Indago e sinto suas mãos se afastarem e seu rosto ficar mais próximo ao meu.

— Pare de negar Isabelli, posso sentir a forma que a deixo e me sinto dessa mesma maneira. Não minta para nós. – Diz deixando-me nervosa.

— Não estou mentindo, você deveria parar de criar ilusões em sua mente. – Afirmo e me afasto deixando-o sozinho.

Recuso-me a sentir isso, era apenas uma noite e parece que não vai mais passar. Ele não desiste e essa situação esta me deixando cada vez mais confusa. Vou para a lanchonete percebendo que estou perdendo o meu horário de café.

Percebo que as surpresas não vão acabar quando vejo Maicon sentado com Rafa e Sam, parece que o dia será ainda mais longo.

— Bom dia Isa. – Cumprimenta Samanta e eu me aproximo lhe dando um beijo e acariciando sua barriga.

— Bom dia, como esta minha afilhada? – Pergunto mais animada.

— Com muita fome. – Diz e começamos a rir.

— Você esta cada vez mais linda. – Assumo e seu sorriso aumenta.

— Muito bom mais alguém dizer isso, pois ela não esta acreditando em mim. – Comenta Rafa.

— Você é suspeito Rafa. – Fala Samanta divertida.

— Não sou querida. Você ainda é a mulher mais bela que já vi. – Afirma e eles se encaram por um tempo.

— Esse excesso de amor esta me dando alergia. – Brinco e todos riem.

— Não fique com ciúmes, tem amor para você também. – Ouço Rafa dizer e não consigo deixar de sorrir.

— Vocês são incríveis. – Murmuro e as risadas recomeçam.

Escolho algumas coisas para tomar café e peço ao atendente, quando ele retorna com o que pedi o meu estômago parece comemorar. Começo a comer alegremente e ignoro a presença do outro ser que eu não desejava que estivesse ali.

Fico tranquila por algum tempo, conversamos sobre as coisas para o bebê e falo com a Sam sobre o chá de frauda, o assunto deixa tudo leve, mas ainda não é o suficiente, ignoro tudo o que ele fala.

Meus amigos terminam de comer e saem da mesa, eu continuo afinal acabei de começar a tomar café acredito que ficarei sozinha, porém para minha infelicidade ele não levanta e no fim estou sozinha com quem eu menos gostaria.

— Bom dia para você também. – Diz sério.

— Tomara que o seu dia seja bom. Não preciso que me deseje nada. – Afirmo sem olhar para ele.

— Uma hora teremos que conversar sobre o que aconteceu. – Assume deixando-me tensa.

— Não temos nada para conversar. Isso já passou. – Digo.

— Tem certeza disso? – Questiona.

— Tenho sim. – Exclamo tentando conter a insegurança em minha voz.

— Então por que não consegue ficar perto de mim como uma pessoa normal? – Indaga parecendo estar se divertindo.

Esse comentário me prova que estou falhando em tentar esconder algumas coisas, encaro-o pela primeira vez em dias.

— Eu consigo sim. – Afirmo.

— Não é o que parece. – Diz.

— Para de achar que você causa algo em mim, por que esta enganado. – Informo e ele me encara, seus olhos negros e brilhantes que conseguem ver minha alma.

— Para de negar Belli. – Murmura.

Sinto o meu rosco corar. Este apelido me lembra de muitas coisas... Recordações que eu já deveria ter apagado, eu deveria vencer isso. Ele não pode mexer comigo desse jeito, isso parece tão errado.

Desisto do café não vou conseguir terminá-lo de qualquer forma e eu preciso sair daqui antes que ele perceba ainda mais o efeito que esta lembrança tem em mim. Inclino o meu corpo para frente e olho em seus olhos desejando ser firme.

— O meu nome é Isabelli. – Exclamo e antes que eu tenha alguma resposta levanto e começo a andar.

Esse efeito em mim é surreal, poderia me perder neles e me encontrar da mesma maneira.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo