Capítulo 3 – Fora de controle

Maicon

Acerto com força esse saco mais uma vez, preciso descarregar a energia que tenta me consumir, mas esta ainda mais difícil. Cada vez que começo a lutar, cada coisa que faço no meu dia, me lembra ela.

Parece que eu não terei um minuto de paz, seu fantasma me atormenta. Se eu soubesse que teria isso de volta não teria ajudado o Marcos, ele que iria enfrentar a merda que fez, mas vindo para cá tive que enfrentar os meus demônios e eles são grandes.

O saco vem em minha direção e o acerto com tanta força que meu punho dói, mas isso não faz diferença, nada esta diminuindo o que sinto e isso só me atormenta. Estou há mais de seis meses em São Paulo e ainda não consegui me envolver com ninguém, quem diria que após tantos anos ela ainda mexeria comigo desta forma.

Conforme suas lembranças voltam a minha mente começo a bater ainda mais forte, a forma doce que se entregou a mim, sua pele macia por baixo de minhas mãos posso senti-la ainda e isso esta acabando comigo.

Nunca me entreguei a alguém dessa maneira e sei que ela também não. Recordo-me de seus olhos me encarando enquanto nos amávamos e eu sei que isso marcou sua vida assim como a minha, então não compreendo por que ela me rejeita tanto.

Sento no chão cansado e bebo um pouco de água, o suor toma conta do meu corpo e minha respiração esta irregular, mas isso não é o suficiente, ainda não é. Levanto e volto a bater neste saco que nada fez para mim, mas no momento só tem ele para que eu possa descontar a minha raiva.

Começo descontroladamente, soco e chutes são depositados com toda a força que tenho com a intenção de fazê-la desaparecer de minha mente, sinto o meu corpo fraquejar, mas não desisto não agora que ela esta sumindo.

Vou mais rápido, cada vez mais rápido ele volta e me acerta, mas eu sou melhor nisso e revido com toda a força. Sinto-o acertar o meu corpo e rapidamente estou no chão, porém não tenho forças para levantar.

Adormeço no lugar que caí e quando acordo já está escuro, levanto lentamente sentindo muita dor no corpo, encaro o saco e digo a ele que não venceu, teremos uma revanche.

Vou imediatamente para o banheiro, ligo o chuveiro e permito que a água quente domine o meu corpo, gosto da água muito quente, como se fosse capaz de me queimar, sinto-me bem com ela assim.

Não sei por quanto tempo fico embaixo do chuveiro, mas só saio quando o meu corpo esta pelando. Pego a toalha e me seco, a enrolo em minha cintura e vou para a cozinha preparar algo para comer.

Moro no apartamento em que o Marcos estava, ele é espaçoso e posso dizer que gosto daqui, se não fosse por essa mulher em minha cabeça eu já teria encontrado alguém para aproveitar e utilizar todo esse espaço.

Este pensamento é o suficiente para que uma leve ereção comece a aparecer, preciso parar de pensar nela antes que volte a ficar completamente fodido, existe um motivo para eu ter ido embora e não quero mais um.

Penso em me resolver com ela e voltar para a cidade que adotei, não posso ficar aqui dessa forma, não suporto ficar tão perto e longe dela ao mesmo tempo, principalmente por conta do idiota que esta achando que pode ter algo com ela, posso me encrencar caso ele insista.

Faço um macarrão com molho branco e abro um vinho, esse era o nosso prato preferido... Parece que estou no inferno revendo tudo o que tenho para me arrepender nesta vida.

Enquanto estou jantando recebo uma foto do Marcos, ele esta viajando e me envia fotos de cada cidade que passa. Ele é realmente um irmão para mim não posso negar isso.

Parece bom ai. Deveria ter me convidado.” – Envio a mensagem e volto a comer, ele me avisou que havia pedido demissão somente quando ela foi efetivada por isso já estava longe.

Alguém tinha que fazer o meu trabalho para eu poder me demitir.” - Respondeu fazendo-me rir e amaldiçoá-lo. Eu estou realmente vivendo em um inferno, só pode ser isso.

Logo ele fica sem sinal, isso sempre acontece e deixamos para conversar em outro horário, volto a comer e quando termino limpo a cozinha rapidamente. Gosto de fazer isso, de certa forma já me acostumei a ser sozinho.

Fico no sofá tentando relaxar, afinal amanhã terei que trabalhar quando começo a dormir ouço o meu telefone tocando, não conheço o número, mas atendo mesmo assim.

— Sim. – Digo sonolento.

— Achei que não voltaria mais. – Diz a moça do outro lado da linha. Eu reconheceria essa voz, não importa o tempo que passasse.

— Não tenho motivos para não voltar. – Afirmo e a ouço respirar fundo.

— Você continua orgulhoso. – Comenta.

— Acho que ter consciência de que não fiz nada de errado, não faz de mim uma pessoa orgulhosa. – Afirmo.

— Como pode ter tanta certeza que não foi você? – Indaga.

— Por que nós sabemos quem foi e a justiça também sabe. – Informo.

— Não tenho mais tanta certeza. – Fala deixando-me irritado.

Realmente isso é um pesadelo quem diria que ela me acharia. Sento-me no sofá e aguardo para ver se ela tem algo importante para falar ou se apenas quer me tirar do sério.

Conforme o silêncio se prolonga percebo que ela continua perdida como antes e por um momento sinto pena dela, provavelmente ainda esta sozinha esperando um milagre, mas eles não acontecem.

— Era só isso que queria? Eu tenho que desligar agora. – Falo quebrando o silêncio.

— Maicon, eu preciso de você. – Exclama e percebo a emoção em sua voz.

— O que houve? – Questiono.

— Eu não consegui me reerguer e a Elie só tem quatro anos. – Confessa permitindo que eu escute os soluços.

— Podemos tentar arrumar um emprego para você, mas apenas isso. Eu não posso ficar. – Confidencio e sei que ela compreende.

— Eu sei disso, sei que você só vai ficar se for por ela, mas eu aceito a ajuda. – Diz parecendo mais calma.

— Vocês precisam de dinheiro? – Pergunto.

— Não, eu quero o emprego. Preciso ser alguém pela Elie. – Afirma e eu me sinto mais aliviado.

Combinamos que vou tentar encontrar algo e ligo para ela, falamos sobre os anos em que estive fora e como a pequena cresceu, quando desligamos as ameaças parecem que não foram feitas e ela não me culpou mais por um erro que não foi meu.

Quando finalizo resolvo ir para a cama, já esta tarde e o dia seguinte é cheio de promessas. Ainda estamos aguardando o retorno de um grande projeto, é um grande passo para todos nós.

 Tiro a toalha e vou para debaixo das cobertas, não vejo necessidade de colocar roupa para dormir, na realidade acho isso um desperdício, então fico nu e permito que a maciez do cobertor aqueça o meu corpo.

Pego o celular e verifico minhas mensagens, procuro por uma resposta que nunca vem, faz meses que aguardo ansioso por algo que talvez nunca tenha, mas não posso e não quero perder a esperança.

Observo tudo o que já enviei e percebo que pareço desesperado em todas elas e talvez eu realmente esteja desesperado, mas isso não faz diferença quando a resposta que pode acalmar o meu coração parece não querer chegar.

Pego no sono segurando o celular, não aparece nenhuma mensagem nova, mas eu ainda acho que logo terei a minha resposta.

Tudo estava no limite e quando a vi novamente, perdi o tinha construído, tudo por ela.

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