Capitulo 4 - Hospício e Malucos

A nova perspectiva morava em uma mansão

Não, eu não estou brincando

A casa era enorme e ficava localizado no Upper East Side, a mansão tinha uma elegante entrada com portões de ferro que abriam automaticamente quando a visita fosse permitida.

Mas o mais legal?

O jardim tinha as mais diversas rosas, de todas as cores, de todos os formatos, era basicamente como entrar em um livro de romance de época e fingir ser a mocinha em busca de aventuras. Ou seja, eu estava em uma área muito conhecida.

Estaciono o carro na entrada e saio do carro com minha bolsa, averiguo pela milésima vez minha camisa social branca e minha saia preta justa, suspiro aliviada quando não vejo nenhuma mancha. Maravilha, passei dessa fase.

Sorrio para o que parece ser uma funcionária da mansão e a acompanho até o escritório. Cacete, aquilo era um quadro de Jackson Pollock?

Arregalo os olhos e aperto ainda mais a bolsa em meu ombro, se minha bolsa topasse em algum canto e quebrasse eu estava muito ferrada. A funcionária abre a porta para mim e eu entro suspirando aliviada quando encontro uma mulher mais velha me esperando por trás de uma mesa de mogno escuro.

- Boa tarde – ela diz e eu sorrio me aproximando

- Boa tarde, espero que eu não esteja atrasada

- Não, chegou bem na hora – ela aperta minha mão de leve – Meu nome é Agatha Saeger, sou administradora de Pietro Vince, por isso estou fazendo a parte das entrevistas. Sente-se por favor srta. Fontaine

Me sento e alivio a postura tentando não parecer tensa. O que me faz me sentir ainda mais nervosa.

- Olhei a sua pasta, e os seus cursos – ela diz suavemente e eu sorrio – É um ótimo currículo

- Obrigada

- Posso saber porque você foi demitida do último emprego?

- Estão reorganizando o hospital, problemas no gerenciamento ou algo assim – eu falo e ela sorri olhando para a pasta à sua frente

- Suas referencias são muito boas e sinceramente eu a acho perfeita para o cargo, já que você lidava constantemente com pessoas mais velhas. Estou certa?

- Sim, está – eu pauso um instante e pergunto de uma vez – A senhora disse que eu sou perfeita para o cargo, mas eu senti que estava a ponto de dizer um “mas”.

Ela sorri e uni suas mãos em cima da mesa com delicadeza. Acho que ela também tem medo de quebrar alguma coisa.

Mas pode ser só impressão, é claro

- Você está certa quanto a isso – ela pigarreia e continua – O senhor Vince ele é um tanto exigente sabe? As vezes pode até ser rigoroso, mas quem o conhece sabe que é só uma fachada.

- Acho que sei como é. Uma das minhas pacientes era bem impaciente, e gostava de falar quando sabia que não estava sendo ouvida por alguém de fora.

Agatha olha para mim de repente curiosa e se inclina por sobre a mesa.

- E como você lidou com ela?

- Não sei direito – eu dou de ombros e falo com um sorriso de desculpas antecipadas – Eu as vezes posso ser bem insistente – ela arqueia uma sobrancelha perfeitamente delineada e eu sorrio – Ou irritante se preferir.

Ela ri baixinho e eu suspiro aliviada, essa entrevista está estranhamente relaxante.

- Eu não fiz isso com os outros entrevistados, mas acho que podemos tentar uma abordagem diferente – ela se levanta e eu fico confusa por um instante – Vamos conhecer Pietro Vince.

Ah bom, porque não? Aquela entrevista acabou de se tornar tensa de novo.

....................................

Pietro Vince estava deitado no chão do quarto.

Não, ele não estava morto. Mas por alguns segundos eu e Agatha achamos que sim e por isso corremos na direção dele.

Então ele abriu um olho e fez uma careta para nós duas antes de fechar os olhos de novo e voltar para sua posição do início.

- O que pensa que está fazendo Vince? – Agatha pergunta e eu olho ao redor.

Cortinas fechadas, cama de dossel enorme, televisão tomando quase uma parede inteira e remédios espalhados por todo lugar.

Bem organizado.

- O que você acha que eu estou fazendo? – ele pergunta em um resmungo e eu sorrio antes de sussurrar baixinho ainda olhando o seu corpo jogado no chão

- Que você está vendo como vai ficar quando morrer?

O sr. Vince abre os dois olhos e me encara estreitando os olhos, o observo de volta.

- O que disse?

- Nada – eu falo e ele resmunga revirando os olhos

- Eu não sou surdo – ele faz uma pausa e depois continua – Pelo menos ainda não.

- Que ótimo

- Está sendo sarcástica?

- Nunca faria isso – eu falo solenemente e ele me olha mais atentamente

- Você disse algo, eu sei disso

- Talvez eu conte se você se levantar do chão

Fazendo uma careta para mim, ele se vira de lado e tenta se sentar, Agatha e eu o puxamos para cima com cuidado e ele rapidamente se afasta passando a mão por sobre a roupa um tanto amassada.

- Agora mocinha, o que você disse?

- Falei que o senhor parecia estar vendo como pareceria quando estivesse morto

Agatha se afasta imperceptivelmente e eu continuo olhando para o senhor em minha frente fazendo uma expressão de irritação.

Segundos depois sua expressão se suaviza e ele dá de ombros antes de se sentar na cama.

- Talvez eu estivesse fazendo isso mesmo

- Vince! – Agatha fala com ultraje e eu sorrio com a expressão dela – Eu quase tive um surto com a visão sua no chão e você fez de propósito?

- Fiz, e você parecia péssima ao meu lado – Vince estira suas pernas na cama relaxando e sorri para a sua administradora – Quando for o dia do meu enterro, use algo mais alegre

- Mais é um enterro – eu falo confusa – A regra não é usar preto? Ou cinza?

- É o meu enterro, podem usar a cor que eu quiser – ele responde e eu arqueio uma sobrancelha

- Que você quiser? Ou que eles quiserem?

- Não complique minha explicação – ele funga irritado – E é claro que quem escolhe a cor sou eu

Sorrio animada e olho para Agatha que parece ainda estar em choque com o que Vince falou. Pigarreio e ela pisca os olhos voltando para mim.

- Vince essa é Katherine Fontaine, ela é enfermeira e....

- Eu sei, ela parece ser meio maluca mesmo – ele fala e eu faço uma careta me virando para ele de novo.

- Maluca?

- Sim, vi pelos seus olhos – ele diz como se fosse alguma grande explicação e olha de novo para Agatha – Pode contrata-la, se é isso que está querendo perguntar

Olho para Agatha e a vejo tão perdida quanto eu, então dou de ombros suspirando e olho em direção ao homem sem juízo a minha frente.

- Parabéns mocinha, acabou de ser aceita no hospício – ele diz e eu sorrio estendendo a mão para ele.

- Que bom que eu sou maluca então

Ele inclina a cabeça e eu posso ver a sombra de um sorriso antes dele estender a mão e apertar a minha com força.

É isso

Acabei de ser contratada

Deus me ajude.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo